quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

1º DOMINGO ADVENTO

* 1º DOMINGO



«O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!»



LEITURA I – Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7

Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema? Voltai, por amor dos vossos servos e das tribos da vossa herança. Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes! Mas Vós descestes e perante a vossa face estremeceram os montes. Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam. Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos. Estais indignado contra nós, porque pecámos e há muito que somos rebeldes, mas seremos salvos. Éramos todos como um ser impuro, as nossas acções justas eram todas como veste imunda. Todos nós caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento. Ninguém invocava o vosso nome, ninguém se levantava para se apoiar em Vós, porque nos tínheis escondido o vosso rosto e nos deixáveis à mercê das nossas faltas. Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.

LEITURA II – 1 Cor 1,3-9

Irmãos: A graça e a paz vos sejam dadas parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito, pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus. Porque fostes enriquecidos em tudo: em toda a palavra e em todo o conhecimento; e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo. De facto, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vos tornará firmes até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

EVANGELHO – Mc 13,33-37

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!"

REFLEXÃO

O nosso texto está integrado na terceira parte do discurso escatológico. Refere-se directamente ao final dos tempos e à atitude que os discípulos devem ter face a esse encontro último e definitivo com Jesus. O seu objectivo não é transmitir informação objectiva acerca do “como” e do “quando”, mas formar os discípulos e torná-los capazes de enfrentar a história com determinação e esperança.
O Evangelho deste domingo começa com uma parábola – a parábola do homem que partiu em viagem, distribuiu tarefas aos seus servos e mandou ao porteiro que vigiasse (cf. Mc 13,33-34) – e termina com uma admoestação aos discípulos acerca da atitude correcta para esperar o Senhor (cf. Mc 13,35-37). Primitivamente, a parábola contada por Jesus seria dirigida aos discípulos e teria como objectivo recordar-lhes o dever de guardar e fazer frutificar os tesouros desse Reino que Jesus lhes confiou antes de partir para o Pai.
O “dono da casa” da parábola é, evidentemente, Jesus. Ao deixar este mundo para voltar para junto do Pai, Ele confiou aos discípulos a tarefa de construir o “Reino” e de tornar realidade um mundo construído de acordo com os valores do Reino. Os discípulos de Jesus não podem, portanto, cruzar os braços, à espera que o Senhor venha; eles têm uma missão – uma missão que lhes foi confiada pelo próprio Jesus e que eles devem concretizar, mesmo em condições adversas. É necessário não esquecer isto: esta espera, vivida no tempo da história, não é uma espera passiva, de quem se limita a deixar passar o tempo até que chegue um final anunciado; mas é uma espera activa, que implica um compromisso efectivo com a construção de um mundo mais humano, mais fraterno, mais justo, mais evangélico.
Quem é o “porteiro”, com uma tarefa especial de vigilância (vers. 34)? Na perspectiva de Marcos, o “porteiro” parece ser todo aquele que tem uma responsabilidade especial na comunidade cristã… A sua missão é impedir que a comunidade seja invadida por valores estranhos ao Evangelho e à dinâmica do Reino. A figura do “porteiro” adequa-se, especialmente, aos responsáveis da comunidade cristã, a quem foi confiada a missão da vigilância e da animação da comunidade. Eles devem ajudar a comunidade a discernir permanentemente, diante dos valores do mundo, aquilo que a comunidade pode ou não aceitar para viver na fidelidade activa a Jesus e às suas propostas.
Todos – “porteiro” e demais servos do “senhor” – devem estar activos e vigilantes. A palavra-chave do Evangelho deste dia é esta: “vigilância”. Contudo, “vigilância” não significará, para os discípulos, o viver à margem da história, num angelismo alienante, evitando comprometer-se para não se sujar com as realidades do mundo e procurando manter a “alminha” pura e sem mancha para que o Senhor, quando chegar, os encontre sem pecados graves; mas será o viver dia a dia comprometido com a construção do Reino, realizando fielmente as tarefas que o Senhor lhes confiou. Essas tarefas passam pelo compromisso efectivo com a construção de um mundo novo, um mundo que viva cada vez mais de acordo com os projectos de Deus.
O nosso texto assegura aos discípulos, em caminhada pelo mundo, que o objectivo final da história humana é o encontro definitivo e libertador com Jesus. “O Senhor vem” – garante-lhes o próprio Jesus; e esta certeza deve animar e dar esperança aos discípulos, sobretudo nos momentos de crise e de confusão. Mesmo que tudo pareça ruir à sua volta, os discípulos são chamados a não perder a esperança e a ver, para além das estruturas velhas que vão caindo, a realidade do mundo novo a nascer.
Que devem os discípulos fazer, enquanto esperam que irrompa definitivamente esse mundo novo prometido? Devem, com coragem e perseverança, dar o seu contributo para a edificação do “Reino”, sendo testemunhas e arautos da paz, da justiça, do amor, do perdão, da fraternidade, cumprindo dessa forma a missão que Jesus lhes confiou.


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: Is 2, 1-5

1Visão profética de Isaías, filho de Amós, sobre Judá e Jerusalém: 2*No fim dostempos o monte do templo do Senhor estará firme, será o mais alto de todos, e dominará sobre as colinas. Acorrerão a ele todas as gentes, 3virão muitos povos e dirão: «Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor. 4Ele julgará as nações, e dará as suas leis amuitos povos, os quais tansformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suaslanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra. 5Vinde Casa deacob, caminhemos à luz do Senho.»

Evangelho: Mt. 8, 5-11

Naquele tempo:5*entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: 6«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» 7Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» 8Respondeu-lhe o centurião: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 9Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 10*Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encon rei ninguém em Israel com tão grande fé! 11*Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, mui os virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu.

REFLEXÃO

As leituras de hoje abrem horizontes de esperança para todos os povos: Deus «dará as suas leis a muitos povos» (v. 4). Por isso, a nossa oração não pode limitar-se ao nosso horizonte pessoal, mas abrir-se aos desejos e aspirações de todos os homens, para que encontrem plena satisfação em Cristo, o verdadeiro templo a que «acorrerão todas as gentes» (v. 2).
O Advento não é um tempo fictício. É verdade que Cristo já veio. Mas ainda não foi anunciado nem acolhido por todos os homens, por todos os povos, que por Ele anseiam. Também é certo que, Aquele que veio, há-de voltar no fim dos tempos, para completar a obra da salvação oferecida a todos os povos. Abramos, pois o coração a quantos ainda não conhecem o Senhor, ou não O querem conhecer, mas que d´Ele precisam e, no fundo, por Ele anseiam.
O evangelho diz-nos que, em Cristo, que vem ao nosso encontro, podemos descobrir o rosto de Deus que vem visitar a humanidade, que O procura ansiosamente. Mas também nos diz como se vai ao encontro de Cristo que vem. Em primeiro lugar, havemos de ter consciência daquilo que precisamos. O centurião precisa da intervenção de Cristo em favor do servo que sofre. Também nós havemos de estar conscientes das nossas reais necessidades, das nossas misérias… Em segundo lugar, precisamos de humildade, isto é, de reconhecermos que não podemos salvar-nos só por nós mesmos. Em terceiro lugar, a humildade há ser acompanhada pela confiança no Senhor que vem ao nosso encontro para nos conduzir pelos caminhos da vida e da luz. A humildade também leva a reconhecer que, ainda que estejamos em urgente necessidade, não somos dignos, e muito menos podemos exigir, que o Filho de Deus se incomode por causa de nós. Não o merecemos. O que fizer por nós é puro dom da sua misericórdia.
Precisamos também de fé. Sabemos que Deus tem os seus tempos e modos de actuar. Deixemo-lo actuar como e quando quiser. O centurião nada exige e está disponível para aceitar o que o Senhor quiser. Limita-se a crer em Jesus, a amar a sua vontade. E isso é o mais importante, como Jesus acaba por sublinhar.
O episódio narrado no evangelho de hoje também nos mostra que a fé não é monopólio de ninguém. Quem escutar a Palavra e aderir a Jesus Cristo, encontra a salvação. Por isso é que a Igreja continua a evangelizar todos os povos. E o Advento é também um tempo missionário que deve alertar-nos para a necessidade de evangelizar.
Embora o nosso instituto não seja exclusivamente missionário, as missões «ad gentes» fazem parte das opções apostólicas preferenciais da Congregação. Já o Pe. Dehon, em carta ao Pe. Guillaume, em 3 de Outubro de 1910, indicava os motivos dessa opção: fazer conhecer o amor do Coração de Jesus nas terras infiéis; o espírito de sacrifício e, portanto, de imolação, a alegria de Nosso Senhor e da Igreja (AD B 44). A actividade missionária permanece no Instituto como um modo privilegiado de nos inserir no movimento de amor redentor, iniciado com o mistério da Encarnação e desenvolvermos riquezas da nossa vocação e oblatos-reparadores. O Advento é tempo de reavivarmos a consciência da nossa vocação missionária.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura: Is. 11, 1-10

Naquele tempo: 1*brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. 2*Sobre ele repousará o espírio do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimeno, espírito de conselho e de foraleza, espírito de ciência e temor do Senhor. 3Não julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; 4mas julgará os pobres com justiça, e com equidade os humildes da terra;ferirá os tiranos com os decretos da sua boca, e os maus com o sopro dos seus lábios5A justiça será o cinto dos seus rins, e a lealdade circundará os seus flancos. 6Então o lobo habitará com o codeiro, e o leopardo deita-seá ao lado do cabrio; o novilho e oleão comerão juntos, e um menino os conduzirá 7A vaca pastará como urso, as suascrias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi 8A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meeá a mão na toca da serpente. 9Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor, tal como as águas que cobrem a vastidão do mar 10*Naquele dia, a raiz de Jessé, estandarte dos povos, será procurada pelas nações e será gloriosa a sua morada.

Evangelho: Lc. 10, 21-24

21*Naquele tempo, Jesus exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22*Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver pobem revelalho.» 23*Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular:  «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver 24Porque, digo-vos, muitos profetas ereis quiseram ver o que vedes e não o viram ouvir o que ouvis e não o ouviram!»

REFLEXÃO

O Advento é tempo de esperança e de desejo. Esperamos e desejamos a manifestação do Senhor. A liturgia ajuda-nos a manter vivos e a aprofundar esses sentimentos. O conhecimento do Senhor será a nossa felicidade: «Felizes os olhos quevêemo que estais a ver».
Mas Deus actua e revela-Se de modo imprevisível, confundindo a sabedoria humana. Os caminhos de salvação, que nos faz percorrer, são inesperados, como sugere o tema do «rebento do tronco de Jessé». O rebento, que desponta de um tronco cortado, no meio de um bosque devastado, recorda a fidelidade de Deus à sua promessa e o privilégio que, aos seus olhos, têm os humildes e pequenos.
Cada um de nós pode ser um desses privilegiados, se acolher o dom do Espírito que repousa sobre Jesus, o rebento messiânico. E como Jesus, pela força do Espírito, soube discernir nos êxitos controversos da sua missão o plano sábio de Deus, também cada um de nós poderá alegrar-se com a atenção e o carinho que Deus reserva aos pobres e simples. Cada um de nós poderá fruir da revelação do mistério do amor do Pai e entrar numa relação de comunhão e intimidade com Ele. Jesus, o Verbo Incarnado, vem oferecer-me a vida filial, a verdadeira sabedoria, o dom do Espírito com que Deus quer encher-me e encher o mundo inteiro. Portanto, há que acolher Jesus, pois Ele é o verdadeiro sinal do céu que Deus nos envia para nos dar a conhecer o seu amor. E dá-o a conhecer, não por gestos espectaculares, mas na bondade para com os doentes, no cuidado e paciência em explicar as coisas a espíritos pouco abertos, no gosto em permanecer connosco.
Peçamos à Virgem Maria que nos faça compreender cada vez mais o mistério da Incarnação, que nos alcance de Deus «um espírito de sabedoria e de revelação para descobrirmos e conhecermos verdadeiramente a Cristo Senhor e compreendermos a que esperança fomos chamados” (cf. Ef 1, 17-18) (Cst. 77). A nossa “esperança”, que “não desilude” (Rm 5, 5), que é “o único necessário” para nós, é Cristo, e a vida de união com Ele, particularmente na sua oblação (cf. Cst. 26).


* 4ª FEIRA

Primeira leitura: Is. 25, 6-10a

6*No monte Sião, o Senhor do universo prepara para odos os povos um banquee de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. 7Neste monte, Ele arrancaá o véu de luto que cobre todos os povos, o panoque encobre todas as nações. 8*Aniquilará a mortepara sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, e eliminará o opróbrio que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação. Foi o Senhor quem o proclamou 9Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele confiámos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem confiámos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. 10A mão do Senhor repousará sobre este monte.»

Evangelho: Mt. 15, 29-37

29Naquele tempo, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 30Vieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos cegos, aleijados mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31*de sorteque as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar os aleijados escorreitos, os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. 32*Jesus, chamando osdiscípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porquehá já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 33Os discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?»34Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos» 35Ordenou à multidãoque se senasse. 36Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes à multidão. 37*Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram encheram sete cestos.

REFLEXÃO

Todos nós sentimos um forte desejo de felicidade. Foi Deus que pôs em nós esse desejo, para que O procurássemos. Por isso quer satisfazer-nos.
Na liturgia de hoje, Deus promete-nos o fim das nossas penas e muita felicidade. De facto as leituras são uma ilustração coerente do rosto de Deus, que vem curar a humanidade ferida e satisfazer o nosso desejo de salvação. Desejamos essa salvação, mas só Deus no-la pode dar, iluminando os nossos corações ameaçados pelo não conhecimento d´Ele e pelo desânimo. Reconhecemo-nos a nós mesmos no meio da multidão de pobres e doentes que se acotovelam ao redor de Jesus, pois n´Ele descobrem Deus hóspede da humanidade, que cura os doentes e a todos oferece uma refeição, símbolo do banquete eterno para o qual vem convidar todos os homens. Por isso, todos nos sentimentos também convidados a proclamar o poder do Hóspede divino, que vence a dor e a morte, que prepara o banquete para todos os povos, e a contemplar o seu rosto. De facto, a misericórdia divina assume para nós os contornos do rosto e dos gestos de Jesus que cura os doentes e sacia as multidões famintas que O seguem. Na compaixão de Jesus, torna-se visível, para nós, o rosto de um Deus, médico que cura a nossa humanidade cansada e doente. Nele encontramos o divino e generoso Hóspede que nos acolhe à sua mesa e declara quanto somos importantes e preciosos aos seus olhos.
Ao lermos este evangelho no Advento, podemos ver nele alguns símbolos da Incarnação. Jesus fez-se homem porque teve compaixão dos homens e lhes quis dar de comer. Para poder dar-nos a sua carne e o seu sangue, pediu a colaboração da Virgem Maria. Mais tarde pedirá aos Apóstolos para estarem disponíveis, isto é, para darem o que têm para que Ele possa multiplicar o pouco de que dispõem e responder aos grande problemas do mundo.
O mesmo quer continuar a fazer nos nossos dias. Por isso nos mostra as necessidades do mundo de hoje, nos sensibiliza para elas e nos pergunta: «Quanos pães tendes?» Pede-nos para pormos à disposição de todos o pouco que temos, pede-nos disponibilidade, para continuar a sua obra de salvação, de libertação. “A nossa união com Cristo” (Cst. 18), “no seu amor pelo Pai e pelos homens” (Cst. 17) manifesta-se, não só “na escuta da Palavra e na partilha do Pão” (Cst. 17), mas também “na disponibilidade e no amor para com todos” (Cst. 18).
Foi na disponibilidade e no amor para com todos que o Pe. Dehon realizou a sua “solidariedade” afectiva e efectiva com Cristo. Daí o seu apostolado, caracterizado por uma extrema atenção aos homens, especialmente aos mais desprotegidos e pela solicitude em remediar activamente as insuficiências pastorais da Igreja do seu tempo” (Cst. 5). Foi assim que realizou o “carisma profético” de oblato na “oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens” (Cst. 6), fazendo de “toda a sua vida... uma missa permanente” (Cst. 5), um dom para Deus e um dom para os homens.


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: Is. 26, 1-6

1Naquele dia será canadoese cântico na tera de Judá: «Temos uma cidade forte. Para a defender, o Senhor ergueu muralhas e baluates. 2Abri as poras, para que entre umpovo justo, que cumpre com os seus compromissos, 3que tem carácterfirme e conserva a paz porque põe a sua confiança em Deus. 4Coniai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene: 5abateu os habitane das alturas e a cidade soberba; humilhou-a, derrubou-a por terra, reduziu-a a pó. 6Ela é calcada pelos pés dos humildes, pelos pés dos pobres.»

Evangelho: Mt. 7, 21.24-27

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21*«Nem todo o que me diz:‘Senhor Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. 24*«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe empráica é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraam os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não aspõe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia 27Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína»

REFLEXÃO

O Advento é tempo de viver mais intensamente a esperança e de crescer na confiança, porque Deus prometeu e vem efectivamente salvar-nos. «Temos uma cidade forte… o Senhor protege-nos, constrói para nós a paz… é preciso pôr a nossa confiança no Senhor, porque Ele é a rocha segura… É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem… Abri-me as portas da justiça: quero entrar e dar graças ao Senhor». Estes são alguns dos gritos de confiança, que escutamos durante o advento, que nos dão coragem e criam à nossa volta uma atmosfera de tranquilidade e de segurança.
O evangelho diz-nos qual é o verdadeiro fundamento do discipulado e da nossa confiança. Não são as coisas extraordinárias – os exorcismos, as curas, os milagres – mas na Palavra devidamente escutada e posta em prática. Não é suficiente dizer «‘Senhor Senhor’» para ser verdadeiro discípulo. É preciso obedecer à Palavra do Senhor encarnada na vida. Também não posso fundamentar a minha vida no excepcional, no aparente ou na vaidade das minhas realizações efémeras. Com isso só mascaro a inconsistência da minha vida, esquecendo-me de que, mesmo os mais pequenos gestos de bem, que eu possa realizar, são dom da graça, que exigem humildade e reconhecimento. E, se repentinamente me vejo confrontado com a minha fragilidade, deixo-me tomar pelo terror e pelo desespero, como quando cai uma casa, porque verifico que não tenho morada na «cidade forte», habitada exclusivamente por «um povo justo, que cumpre com os seus compromissos» e fundamenta a sua existência no Senhor, rocha eterna.
Diferente será a minha sorte, se apoiar a minha vida na Palavra do Senhor. Ela será para mim solidez e protecção. Talvez até possa esquecer as minhas boas obras, afastando-me de qualquer forma de auto complacência. Então, hei-de experimentar o que escreve o livro do Apocalipse: «Depois, ouvi uma voz que vinha do céu e me dizia:Descansem dos seus trabalhos pois as suas obras os acompanham» (cf. Apoc 14, 13). Quem se gloria unicamente na bondade do Senhor, vê abrirem-se-lhe as portas da «cidade fore». E poderá entrar no Reino do Filho muito amado do Pai.
O Advento é tempo de Maria. Ela é, para nós, modelo de esperança e de confiança em Deus. Ela ensina-nos a fundamentar a nossa vida na Palavra. A nossa preparação para o Natal deve acontecer em união com Maria. Escreve João Paulo II: “Maria apareceu cheia de Cristo no horizonte da história da salvação” (RM 3). “Na noite da espera, Maria é a estrela da manhã”, é “a aurora” que anuncia o dia, o surgir do sol. Maria é espera cheia de esperança e amorosa confiança. É Ela que nos traz Jesus, a Palavra, o Verbo de Deus feito carne, sobre o Qual havemos de fundamentar a nossa vida: “Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha...” (Mt 7, 24). “Rocha”, “Rochedo” são imagens típicas de Deus que exprimem solidez, segurança: “Deus é a rocha da minha defesa...” (Sl 62(61), 3): “Vós sois, meu Deus, a rocha da minha salvação...” (Sl 89(88), 27).


* 6ª FEIRA

Primeira leitura: Is. 29, 17-24

Assim fala o Senhor Deus:17Dentro de muito pouco tempo, o Líbano convertese-á em pomar, e o pomar será como uma floresta.18Nesse dia,os surdos ouvirão aspalavras do livro, e, livres da obscuridade e das revas, os olhos dos cegos verão.19Os oprimidos voltarão a alegrarse no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel. 20Foi eliminado o tirano e desapareceu o cínico, e todos os que buscam a iniquidadeserão exterminados: 21*os que acusam de crime os inocentes, os que procuram enganar o juiz, os que por uma coisa de nada condenam os outros. 22Por isso, o Senho fala aos descendentes de Jacob -Ele que resgatou Abraão: «Daqui em diante, Jacob não será mais envergonhado o seu rosto não mais ficará corado 23Quando os seus filhos virem o que Eu fiz por eles, bendirão o meu nome, bendirão o Santo de Jacob e temerão o Deus de Israel. 24Os espíritos desencaminhados compreenderão, e os que protestavam, aprenderão a lição.»

Evangelho: Mt. 9, 27-31

Naquele tempo: 27*Jesus pôs-se a caminho e seguiram-n`O dois cegos gritando: «Filho de David, tem misericórdia de nós!» 28Ao chegar a casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus disse-lhes: «Credes que tenho poder para fazer isso?» Responderam-lhe: «Cremos, Senhor!» 29Então, tocou-lhes nos olhos, dizendo «Seja-vos feito segundo a vossa fé.» 30E os olhos abriram-se-lhes. Jesus advertiu-os emtom severo: «Vede lá,que ninguém o saiba» 31Mas eles, saindo, divulgaram a sua fama por toda aquela terra.

REFLEXÃO

Isaías anunciou para os tempos messiânicos que, «livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão». Jesus realiza a palavra do profeta curando vários cegos, também os dois de que nos fala o evangelho de hoje. Ao recuperaram a vista, podem contemplar o mundo criado por Deus e as suas belezas. Mas aconteceu neles algo de mais profundo, uma verdadeira transformação, realizada pelo acolhimento da Boa Nova na fé: passaram a ver toda a realidade, e a si mesmos, com olhos novos. Antes de chegarem à fé, tinham uma visão distorcida do mundo, de si mesmos, dos outros e da história. A Boa Nova fê-los darem-se conta da sua cegueira e da necessidade que tinham de ser curados.
Quem julga ver, permanece cego, permanece no pecado, como lembra João (9, 41). O Evangelho abre-me os olhos, faz-me tomar consciência de que não vejo. Mas, se tenho a dita de me encontrar com o Senhor, se acreditar n´Ele e invocar a sua misericórdia para a minha cegueira, recebo d´Ele o dom da vista. É a fé que me abre os olhos, e é a misericórdia de Cristo, isto é, o movimento do seu coração em direcção aos miseráveis, que O leva a fazer o milagre. A liturgia de hoje mostra-nos a relação entre olhos e coração.
Quando chego à fé, começo a ver, inicialmente de modo algo confuso, mas, depois, cada vez mais claramente, a acção do Senhor na minha história e na dos meus irmãos e irmãs. A fé faz-se descobrir os sinais luminosos das visitas de Deus à minha vida, em todos os seus momentos, mesmo naqueles em que, à primeira vista, só vejo trevas e marcas negativas.
Como os cegos do evangelho, vejo-me envolvido na compaixão de Cristo, acolhido na sua casa, tocado pela sua mão misericordiosa. Mas o evangelho também me faz ver, de modo diferente os outros e os acontecimentos, e ensina-me a estimar aquilo que o mundo espontaneamente não aprecia: os humildes, os pobres, os oprimidos.
Lemos nas nossas Constituições: «Sequiosos de intimidade com o Senhor, procuramos os sinais da sua presença na vida dos homens, onde actua o seu amor salvador. Partilhando as nossas alegrias e sofrimentos, Cristo identificou-Se com os pequenos e com os pobres, aos quais anuncia a Boa Nova. "Em verdade vos digo: todas as vezes que fizeses isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes" (Mt 25,40). "O Espírito do Senhor está sobre Mim. enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos cativos, a vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos, a proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-19) (n. 28).
Este número, que nos orienta de maneira esplêndida, para o apostolado dos “pequenos” e dos “pobres”, começa com uma experiência contemplativa: “Sequiosos de intimidade com Senhor”. A fé, leva-nos a haurir o amor oblativo na sua fonte, no Coração de Cristo. Por meio da “oração de intimidade”, reconhecemos (isto é, fazemos experiência de vida) e cremos (isto é, aderimos com todo o nosso ser) “ao amor que Deus tem por nós” (1 Jo 4, 16). E, se a experiência contemplativa for autêntica, sentimos a necessidade de irradiar este amor entre os irmãos, isto é, de viver “a oração perene” (ou caridade perene), de acordo com a exortação de Jesus: é preciso “rezar (= amar) sempre, sem desfalecer” (Lc 18, 1). É a passagem espontânea da contemplação à acção e o regresso da acção à contemplação, naquele único amor oblativo, que anima tanto a acção como a contemplação. É, pois, um desejo espontâneo de amor, que procura “os sinais da presença” do Senhor “na vida dos homens, onde actua o seu amor” (Cst. 28). ..


* SÁBADO

Primeira leitura: Is. 30, 19-21.23-26

19Povo de Sião, que habitas em Jerusalém já não choraás mais, porque o Senhor terá piedade de ti quando ouvir a tua súplica, e, mal te ouça, logo te responderá. 20Embora o Senhor te dê o pão da angústia e a água da tribulação, já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olhos. 21Ouvirás atrás de ti esta palavraquando tivees de caminhar para a direita ou para a esquerda: «Este é o caminho a seguir.» 23Então o Senhor te enviará as chuvas para a sementeira que semeares na terra, e o pão que a terra produzir será nutritivo e saboroso. Naquele dia, o teu gado pastará em amplas pastagens 24Os bois e os jumentos que lavrarem a terra comerãouma forragem salgada remexida com a pá e a forquilha. 25No dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas, haverá torentes de água abundante emtodas as montanhas e colinas. 26No dia em que o Senhor curar a ferida do seu povo, e tratar da chaga que lhe foi infligida, a lua refulgirá como um sol, e o sol brilhará sete vezes mais.

Evangelho: Mt. 9, 35 – 10, 1.6-8

Naquele tempo: 35*Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças 36*Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatidacomo ovelhas sem pastor. 37*Disse, então, aos seus discípulos: «Amesse é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.»1* Depois chamou a Si os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas asenfermidades e doenças 6Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7*Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. 8Curai os enfermos, ressuscitai os moros, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes degraça dai de graça.

REFLEXÃO

No mistério da Incarnação, que nos preparamos para celebrar, tornam-se realidade as palavras de Isaías: «já não se esconderá mais o teu mestre. Tuo veráscom os teus próprios olho» (v. 20). O Invisível torna-se visível: «quem me vê, vê o Pai», diz Jesus. E tudo muda. Deus que antes falava da nuvem, do trovão. A sua presença era visualizada na nuvem que vinha e ia. Agora, Deus torna-se presente no meio de nós, de modo estável, na pessoa de Jesus, verdadeiro Emanuel, Deus connosco.
Isaías lembra-nos que a prece dirigida a Deus é sempre ouvida. Jesus ensina-nos a rezar, não só pelos nossos pequenos interesses, mas pelos interesses do seu coração. Rezamos, não para convencer a Deus, que sempre nos escuta, mas para nos dispormos para o encontro com Ele. Ele quer libertar-nos, renovar para nós as maravilhas do êxodo, fazer-se nosso bom samaritano para nos aliviar os sofrimentos, curar as feridas e reacender a esperança.
Hoje convida-nos particularmente a pedir ceifeiros para a sua messe. E seu grande interesse é que a messe não se perca por falta de trabalhadores: «Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe» (v. 38). As necessidades da evangelização são enormes, e os recursos humanos das comunidades são geralmente muito escassos. Se soubermos ler a situação com os olhos de Jesus, não desanimaremos, mas sentir-nos-emos motivados a corresponder ao convite do Senhor. Perceberemos que a força da missão cristã não está nos recursos humanos, mas na oração confiante e perseverante, e na fidelidade ao mandato recebido. A oração também me ensinará que a missão não é propaganda de ideias e de certos costumes de vida, mas participação no anúncio e na praxe de libertação de Jesus, que torna visíveis no mundo as entranhas de misericórdia de Deus Pai.
Para o Leão Dehon, e para nós, a actividade missionária assume particular importância (cf. Cst. 33); é um modo privilegiado de viver “o nosso carisma profético” que “nos coloca ao serviço da missão salvífica do Povo de Deus no mundo de hoje (cf. LG 12)” (Cst. 27) e nos insere no “movimento de amor redentor” (Cst. 21) “na missão eclesial”, e nos permite, de modo muito especial, “desenvolver as riquezas da nossa vocação” (Cst. 34) de oblatos-reparadores. Por isso, damos a nossa quota-parte no serviço da messe, e estamos todos presentes ao “ministério de evangelização, pelo qual (os missionários) dão aos homens esta prova de amizade: estar no meio deles ao serviço da Boa Nova” (Cst. 33), para que haja Natal no coração de todos os homens e mulheres da terra.

Ricardo Igreja

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