quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

2º DOMINGO ADVENTO

* 2º DOMINGO


     

«Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo»


LEITURA I – Is 40,1-5.9-11

Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados. Uma voz clama: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou». Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém! Levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».

LEITURA II – 2 Pedro 3,8-14

Há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns. Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se. Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão: nesse dia, os céus desaparecerão com fragor, os elementos dissolver-se-ão nas chamas e a terra será consumida com todas as obras que nela existem. Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo! Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz.

EVANGELHO – Mc 1,1-8

Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».

REFLEXÃO

O corpo central do nosso texto apresenta-nos a missão de João Baptista (vers. 2-3), a sua pregação (vers. 4), a reacção dos ouvintes (vers. 5), o seu estilo de vida (vers. 6) e o testemunho de João sobre Jesus (vers. 7-8).
Qual é, pois, a missão de João? De acordo com o nosso texto, é ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, “Filho de Deus” (vers. 2). A propósito da apresentação da missão de João, o autor apresenta uma citação que atribui ao Profeta Isaías mas que é, na realidade, um conjunto de afirmações retiradas do Êxodo (cf. Ex 23,20), de Isaías (cf. Is 40,3) e de Malaquias (cf. Mal 3,1): “Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. A acumulação de citações tiradas da Torah e dos Profetas sugere que João é esse mensageiro de Deus do qual falavam as promessas antigas, e que devia vir anunciar e preparar o Povo de Deus para acolher a intervenção definitiva de Jahwéh na história dos homens.
Em que consistia a pregação de João? João “apareceu no deserto a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados” (vers. 4). De acordo com a catequese judaica, o Messias só chegaria quando Israel fosse, na verdade, a comunidade santa de Deus… Antes de o Messias chegar, o Povo devia, portanto, realizar um caminho de purificação e de conversão, de forma a tornar-se um Povo santo. O “baptismo de penitência” (literalmente, “baptismo de conversão” – ou de “metanoia”) proposto por João deve ser entendido neste contexto e representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade.
Este “baptismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água. Era, inclusive, um rito usado na integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de Deus. Na perspectiva de João, provavelmente, este “baptismo” é um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este “baptismo” passava a viver uma vida nova e aceitava integrar a comunidade do Messias.
A pregação de João é feita “no deserto”. O “deserto” é, no contexto da catequese judaica, o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão. Foi no deserto que os israelitas libertados do Egipto passaram de uma mentalidade de escravos a uma mentalidade de homens livres, de uma mentalidade de egoísmo a uma mentalidade de partilha, de uma atitude descomprometida a uma Aliança com Jahwéh, da desconfiança em relação à proposta libertadora que Moisés lhes apresentou à confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu Povo. A pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido.
Como é que os interlocutores de João reagiam às suas propostas? Marcos diz que “acorria a Ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém” para serem baptizados, confessando os seus pecados (vers. 5). A afirmação de que “toda a gente” acorria ao apelo de João parece manifestamente exagerada… Ao apresentar esta perspectiva ideal da forma como a mensagem foi acolhida pelo Povo, Marcos está, provavelmente, a sugerir o carácter decisivo e determinante da proposta que João faz: não é “mais um” convite à conversão, mas é o último e definitivo apelo de Deus ao seu Povo.
João “vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre”. O estilo de vida de João – sóbrio, desprendido, austero, simples – é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. É a aplicação prática dessa austeridade de vida e dessa renovação de atitudes, de comportamentos e de mentalidade que João pede aos seus conterrâneos. O estilo de vida de João corrobora a mensagem que ele apresenta.
Além disso, o estilo de vida de João evoca o profeta Elias que, de acordo com 2 Re 1,8, se vestia “de peles” e “trazia um cinto de couro em volta dos rins”. O profeta Elias era, no universo da esperança judaica, o profeta elevado para junto de Deus e destinado a aparecer de novo no meio dos homens para anunciar a chegada iminente da era messiânica (cf. Mal 3,22-24). A identificação física de João com Elias significa que a era messiânica chegou e que João é o mensageiro esperado, cuja mensagem prepara a chegada do Messias libertador.
O que é que João diz sobre esse Messias libertador, do qual ele é o arauto e o mensageiro? João fala da “força” do Messias e define a sua missão como “baptizar no Espírito”. Tanto a fortaleza como o dom do Espírito são prerrogativas do Messias, segundo a catequese profética (cf. Is 9,6; 11,2). O Messias terá, portanto, a força de Deus e a sua missão será comunicar esse Espírito de Deus, que transforma, renova e recria os corações dos homens.
Em resumo: João é o mensageiro, enviado por Deus para preparar os homens para a chegada do Messias. A mensagem transmitida por João – com a palavra e com a própria atitude de vida – é um apelo veemente à mudança de vida e de mentalidade, a fim de que a proposta do Messias libertador encontre lugar no coração dos homens. João deixa claro que a missão do Messias é comunicar o Espírito que transforma o homem.


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: Isaías 35, 1-10

1*O deserto e a terra árida alegrar-se-ão, a estepe exultará e dará flores belascomo narcisos. 2Vai cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de alegria. Tem a glória do Líbano, a formosura do monte Carmelo e da planície de Saron. Verão a glóriado Senhor, e o esplendor do nosso Deus.3Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. 4Dizei aos que têm o coração pusilânime: «Tomai ânimo, não temais!» Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa retribuir-vos e salva-vos. 5Enão se abrirão os olhos do cego os ouvidos do surdo ficarão a ouvir, 6*o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo dará gritos de alegria. Porque as águas jorraram no desero e as torentes na estepe. 7A terra queimada mudar-se-á em lago, e as fontes brotarão da terra seca. No covil onde repousavam oschacais, crescerão canas e juncos. 8Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada Nenhum impuro passará por ele; é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se perderão. 9ali não haverá leões, e nenhum animal feroz por ali passará. Apenas passarão os remidos. 10Os que o Senhor libertaé que passarão por ela. Chegarão a Sião entre cânticos de júbilo com a alegria estampada nos seus rostos, transbordando de gozo e de alegria; nos seus corações, não haverá mais tristeza nem aflição.

Evangelho: Lucas 5, 17-26

17*Certo dia, enquanto Jesus ensinava, estavam ali sentados alguns fariseus e doutores da Lei, que tinham vindo de todas as localidades da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor levava-o a realizar curas. 18Apareceram uns homensque traziam um paralítico num cate e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. 19*Não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão subiram ao tecto e através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. 20*Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.»21Os doutores da Lei e os fariseus começaram a murmurar, dizendo: «Quem é este que profere blasfémias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?» 22Mas Jesuspenetrando nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Queestais a pensarem vossos corações? 23Que é mais fácil dizer: ‘Os eus pecados estão perdoados’, oudizer: ‘Levanta-te e anda’? 24*Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem temna terra, o poder de perdoar pecados, ordeno-te -disse ao paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» 25*No mesmo instante, ergueu-se à vista deles pegou na enxerga em que jazia e foi para a sua casa, glorificando a Deus. 26Todos ficaram estupefacos e glorificaram a Deus, dizendo cheios de temor: «Hoje vimos maravilhas!»

REFLEXÃO

É no encontro com Deus que somos salvos. Deus vem salvar-nos, e nós havemos de ir ao seu encontro pelo caminho que Ele mesmo nos prepara: «Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada… é para aqueles que por ele devem andar e os menos esperos não se perderão. Apenas passarão os remidos». Mas, para ir ao encontro de alguém, é preciso caminhar. Por isso, as leituras insistem na cura daqueles que não podem caminhar: «o coxo saltará como um veado»; «Levantae… e vai.».
O Evangelho dá-nos uma lição de optimismo. São muitos os nossos males, as nossas carências. Mas são exactamente eles que nos levam a buscar o Senhor. Se aquele homem não fosse paralítico, talvez nunca tivesse encontrado a Cristo. Foi a sua limitação que o levou a procurar a Cristo. E Cristo correspondeu ao seu pedido, e ofereceu-lhe muito mais: «Homem, os teus pecados estão pedoados». Pode surpreender-nos que Jesus tenha, em primeiro lugar, oferecido o perdão dos pecados, àquele que lhe pedia a cura da paralisia. É que o divino Mestre não faz uma leitura superficial dos males da humanidade. Vai ao fundo dos problemas e faz-nos compreender que a mais urgente necessidade é o perdão, pois o pecado é o pior mal, e a raiz de males que afligem a humanidade. O Reino de Deus manifesta-se, em primeiro lugar, como reconciliação do pecador com Deus, como nova possibilidade, oferecida pela graça, para retomar o caminho, depois da paralisia da sua liberdade provocada pela culpa.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura: Isaías 40, 1-10

1Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz. 2Falai ao coraçãode Jerusalém e gritai-lhe: terminou a vossa servidão, estão perdoados os vossos crimes, pois já recebeu da mão do Senhor o dobro do castigo po todos os seus pecados. 3*Uma voz grita: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus. 4Todo o vale seja levantado, e todas as colinas e montanhas sejam abaixadas, todos os cumes sejam aplanados, e todos os terrenos escarpados sejam nivelados!» 5Então a glória do Senhor manifestar-se-á, e toda a gente a há-de ver ao mesmo tempo. É o Senhor quem o declara 6Diz uma voz:«Proclama!» Respondo: «Que hei-de proclamar?» «Proclama que toda agente é comoa erva e toda a sua beleza como a flor dos campos! 7A erva seca e a flor murcha, quando o sopro do Senhor passa sobre elas. Verdadeiramene o povo é semelhante àerva. 8A erva seca e a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente.» 9Sobe a um alto monte arautode Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levana a voz, sem receio, e diz às cidades de Judá: «Aí está o vosso Deus!10Olhai o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominador; olhai, vem com o preço da sua vitória, e com a recompensa antecipada. 11É como um pastor que apascenta o rebanho, reúne-o com o cajadona mão, leva os cordeiros ao colo, e faz repousar as ovelhas que têm crias.»

Evangelho: Mateus 18, 12-14

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:12*Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove no mone, para ir à procura da tresmalhada? 13E, se chegar a encontrá-la, em verdade vos digo: alegra-se mais com ela do que com as noventa e nove que não se tresmalharam. 14Assim também é da vonade de vosso Pai que está no Céu que não se perca um só destes pequeninos.»

REFLEXÃO

São muitas as razões para andarmos tristes e desanimados. Mas a palavra do Senhor consola-nos e reanima em nós a esperança.: «Consolai, consolai o meu povo!... Aí está o vosso Deus!.. o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominado». A Boa Notícia ecoa pela terra: Deus vem com poder e com doçura semelhante à de um pastor que leva os cordeiros ao colo e conduz devagar as ovelhas que têm crias.
Jesus aplica a si esta imagem bíblica tão sugestiva. «Eu sou o Bom Pastor». Esta expressão sugere a ternura com que olha por nós, e a força com que intervém para vencer os inimigos da nossa liberdade e da nossa dignidade, o cuidado com que nos guia pelos difíceis e atormentados caminhos da vida.
Quantas vezes na vida, individualmente ou em comunidade, experimentámos as consolações do nosso Deus, nos sentimos conduzidos nos seus braços amorosos. Esta experiência deve incitar-nos a procurar aqueles que andam perdidos, que andam afastados de Deus.
Como discípulos, e como comunidade, somos chamados a manifestar a todos o rosto do Pai misericordioso, indo à procura daqueles que, no caminho da vida, perderam a fé e a esperança. Somos consolados, chamados a ser consoladores, tornando-nos companheiros de viagem daqueles que têm o coração aflito e estão sobrecarregados pelo sofrimento ou pela culpa. Podemos fazê-lo com a consciência de que a consolação não vem de nós, mas vem da Palavra de Deus que permanece para sempre.
Cristo revela-nos o Seu amor nos modos mais diferentes, como Verbo de Deus feito carne, como sacerdote misterioso, como vítima pelos nossos pecados, como bom Pastor que dá a vida por nós suas ovelhas. Somos chamados a corresponder a esse amor, deixando-nos encontrar, deixando-nos tratar, deixando-nos conduzir à comunidade, à Igreja, tornando-nos profetas e apóstolos do Foi essa a resposta do Pe. Dehon, que o levou a unir-se e a unir toda a sua vida à oblação de Cristo, a viver o “amor puro” e a lançar-se no seu intenso apostolado social. Foi assim que, de modo muito concreto, realizou a sua vocação de oblato e reparador.
Quem salva o mundo não é o homem, mas Deus, em Jesus Cristo. Mas também é preciso o nosso trabalho, as nossas obras. Mas tudo isso vale para a salvação na medida em que é cristificado, isto é, na medida em que comunica a morte e a vida de Cristo, Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. Essa comunicação não há-de realizar-se só por meio de palavras, mas também pelo dom da nossa vida, à semelhança de Cristo: “Em nós acua a morte, em vós, a vida” (2 Cor 4, 12).


* 4ª FEIRA

Primeira leitura: Isaías 40, 25-31

25«A quem, pois, me comparareis, que seja igual a mim?» -pergunta o Deus Santo. 26Levantai os olhos ao céu e olhai!Quem criou todos estes astros? Aquele que os conta e os faz marchar como um exército. A todos Ele chama pelos seus nomes. Étão grande o seu poder e tão robusta a sua força que nem um só falta à chamada.27*Porque andas falando, Jacob, e murmurando, Israel: «O Senhor não compreende o meu desino, o meu Deus ignoa a minha causa!» 28Porventura não sabes? Será que não ouviste? O Senhor é um Deus eterno, que criou os confins da terra. Não se cansa nem perde as forças. É insondável a sua sabedoria. 29Ele dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco 30Até os adolescentes se cansam e se fatigam e os jovens topeçam e vacilam 31Mas aqueles que coniam no Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer.

Evangelho: Mateus 11, 28-30

Naquele tempo Jesus exclamou: 28«Vinde a mim, todos os que estais cansadose oprimidos, que eu hei-de aliviarvos. 29*Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei demim, porque sou manso e humilde de coração e enconrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»

REFLEXÃO

«O Senhor… não se cansa nem perde as forças; Ele dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco», afirma Isaías. «O Senhor é misericordioso e compassivo, é paciente e cheio de amor», afirma o Salmo 102.
Deus revelou-se a Moisés como um Deus rico de misericórdia e de fidelidade. Ao longo da história, sempre usou de misericórdia para com o seu povo. Puniu-o, mas puniu-o com piedade, para o renovar e conduzir a maior intimidade com Ele.
Mas a misericórdia de Deus revelada no Antigo Testamento é bem pouca coisa, em comparação com a que se revela em Jesus. O Advento é tempo para tomarmos consciência da piedade de Deus, do seu amor misericordioso, manifestado em Jesus. Trata-se de um prodígio tal que jamais o poderíamos esperar ou sequer pensar. O Antigo Testamento fala de uma misericórdia exercida com poder e força. O Novo Testamento fala-nos de uma misericórdia manifestada na mansidão e na humildade de um Deus que se torna semelhante a nós. É a máxima expressão da misericórdia de Deus, que desce até nós para nos elevar à sua intimidade.
Ao ouvirmos o convite de Jesus para irmos a Ele, sentimo-nos exortados a regressar ao grande amor com que Deus nos amou, tornando-nos seus amigos e filhos. Só aproximando-nos do Coração de Jesus podemos compreender a grandeza desse amor, e a graça da filiação divina que o Pai nos concedeu.
Contemplando e escutando Jesus, «manso e humilde de coração», somos libertados de uma religião feita só de méritos, de obras, de deveres, porque em Jesus se revela o rosto amável de Deus, capaz de saciar os nossos mais profundos anseios. A fé torna-se então experiência de sermos revestidos com a força do alto, de caminharmos sem descanso, porque apoiados sobre asas de águia, rumo a um amor que é anterior a nós, que nos precede, e nos ensina a desejar a sua promessa.
A nossa resposta a esse amor misericordioso de Deus concretiza-se na oblação do nosso humilde dia a dia, aceitando com serenidade as cruzes e canseiras; irradiando com espontaneidade simples os frutos do Espírito. E assim realizamos concretamente o convite de Jesus: Quem quiser ser Meu discípulo “tome a sua cruz, dia a dia, e siga-Me” (Lc 9, 23). Assim O seguimos na mansidão e na humildade do coração: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Encontraremos a força e a coragem para irradiar alegria, paz, bondade, para alívio, não só nosso, mas também dos nossos irmãos.


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: Isaías 41, 13-20

13Porque Eu, o Senhor, teu Deus tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!’ 14*Não tenhas medo, pobre vermezinho de Jacob mísero insecto de Israel. Eu próprio te ajudarei. -oráculo do Senhor. O teu redentor é o Santo de Israel. 15Farei de ti uma grade aguçada, nova e armada de dentes; trilharás as montanhas e as trituarás. Reduzirás a palha as colinas. 16Tu as joeirarás e o veno levá-las-á, e o vendaval as espalhará. Exultarás, então, no Senhor gloriar-te-ás no Santo de Israel.» 17Os pobres e os necessitados buscam água e não a encontram. Têm a língua ressequida pela sede. Mas Eu, o Senhor, os atenderei; Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.18Farei brotar rios nos morros escalvados e fontes do fundo dos vales. Transformarei o deserto numreservaório e a terra áida em arroios de água.19Plantarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras. Farei crescer na terra seca o cipreste, ao lado do ulmeiro e do buxo, 20para que vejam e saibam, considerem e compreendam, de uma vez por todas, que é a mão do Senhor que faz estas coisas, que o Santo de Israel as realizou.

Evangelho: Mateus 11, 11-15

Naquele tempo disse Jesus á multidão: 11*Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Bapista; e, no entantoo mais pequeno no Reino do Céu é maior do que ele. 12*Desde o tempo de João Baptista até agora, o Reino do Céu tem sido objeco de violência e os violentos apoderam-se dele à força. 13Porque todos os profetas e a Lei anunciaram isto aé João. 14E, quer acrediteis ou não, ele é o Elias que estava para vir. 15Quem tem ouvidos, oiça!»

REFLEXÃO

«Eu, o Senhor, teu Deus tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei! ‘ Não tenhas medo... Eu próprio te audarei». Estas palavras, ou outras semelhantes são frequentemente repetidas na Sagrada Escritura. São dirigidas a Israel ou a pessoas concretas que Deus escolhe chama para servir o seu povo. «Não tenhas medo; Eu estarei contigo», diz Deus a Moisés, quando o encarrega de ir libertar o seu povo do Egipto. «Não tenhas medo; Eu estarei conigo», diz o Senhor a Josué quando o põe à cabeça de umas tribos nómadas, as de Israel, para conquistar cidades fortificadas. «Não tenhas medo; Eu esarei contigo», diz o Senhor a Paulo em várias circunstâncias da sua vida apostólica e especialmente quando, no cárcere, aguarda a morte.
É esta Presença, que tudo transforma, que esperamos no Natal. Deus vem ao encontro do seu povo e de cada um de nós. Torna-se Emanuel, Deus connosco. Vem na fraqueza da condição humana, para nos socorrer, não pelo poder e pela força, mas pela solidariedade e pela proximidade connosco. Sem esta presença e proximidade de Deus, cada um de nós não passaria de um «pobre vermezinho».
O encontro com Deus, meu redentor, meu go´el, só é possível com a minha colaboração livre. Implica a minha opção de fé, a decisão de me abrir à compreensão profunda das Escrituras que me põem em contacto com a radical novidade do plano de Deus manifestado na vinda de Jesus. Só assim o meu coração se renova.
A figura do Baptista é uma severa provocação a reconhecer a enorme oportunidade que me é oferecida para entrar no Reino e acolher o dom imenso da dignidade de filho de Deus, que ultrapassa toda e qualquer outra dignidade.
O texto termina com um forte convite a não demorar, a não me deixar paralisar pelo medo, mas a ir lesto ao encontro d´Aquele que vem ao meu encontro e do Reino que gratuitamente me oferece.
A presença de Deus, a presença do Filho de Deus, no meio de nós, como libertador e salvador, realiza-se actualmente, de modo muito especial, na Eucaristia. Ela é a nossa Tenda do encontro, o nosso Templo de Jerusalém. Sob os véus eucarísticos, Jesus vive no meio de nós o amor nas suas exigências fundamentais de totalidade e eternidade: tudo e sempre. Também para nós realiza, para além de toda a expectativa, a Sua promessa de não nos deixar órfãos (cf. Jo 14, 18), por meio de tantas presenças, mas nenhuma delas é mais completa e pessoal do que a presença eucarística. Daí a importância da Eucaristia na vida da Igreja, na vida das nossas comunidades, na vida de cada um de nós: «Toda a nossa vida cristã e religiosa encontra a sua fonte e o seu ponto culminante na Eucaristia (cf. LG 11). A celebração do Memorial da morte e ressurreição do Senhor constitui para nós o momento privilegiado da nossa fé e da nossa vocação de Sacerdotes do Coração de Jesus» (Cst 80).


* 6ª FEIRA

Primeira leitura: Isaías 48, 17-19

17Eis o que diz o Senhor, teu redenor, o Sano de Israel: Eu sou o Senhor teuDeus, que te dou lições para teu bem, que te guio pelo caminho que deves seguir. 18Ah! Se tivesses atendido ao que Eu mandava! O teu bem-estar seria como um rio, a tua felicidade como as ondas do mar.19A tua posteridade seria como a areia, comoos seus grãosos frutos do teu ventre. O teu nome não seria aniquilado, nem desruído diante de mim.

Evangelho: Mateus 11, 16-19

Naquele tempo, disse Jesus à mulidão: l6«Com quem poderei compaar esta geração? É semelhante a crianças sentadas na praça, que se interpelam umas às outras, 17dizendo: ‘Tocámos flauta para vós e não dançastes; entoámos lamenaçõese não batestes no peito!’ 18Na verdade, veio João, que não comenem bebe, e dizemdele: ‘Está possesso!’ 19*Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobadoes de impostos e pecadores!’ Mas a sabedoria foi justificada pelas suas próprias obras.»

REFLEXÃO

O Advento ensina-nos a desejar e a acolher o Senhor. Mas é preciso estar disposto a acolhê-lo como Ele se apresentar, e não segundo os nossos sonhos e critérios. Caso contrário, jamais O acolheremos, porque Ele gosta de nos surpreender sempre. Se não Se apresenta como sonhávamos, melhor, porque os nossos sonhos fecham-nos em nós mesmos, enquanto que a Sua presença real e concreta nos faz sair de nós e nos põe em relação com o Pai.
Há que estar pronto para reconhecer a hora de Deus. Isso significa, em primeiro lugar, renunciar a entrincheirar-nos em desculpas que apenas mascaram o nosso desinteresse e a nossa resistência ao convite à conversão, que incessantemente nos é dirigido pela Palavra de Deus. As recorrentes advertências dos profetas exortam-nos a caminhar na justiça e numa fé operante e sincera.
Mas a hora de Deus não é só a da penitência e da mudança de vida. É também a da alegria trazida pelo Evangelho de Jesus. A alegria evangélica nascerá em nós se soubermos reconhecer que Ele não se envergonhou de ser chamado «amigo dos publicanos e dos pecadores» O perdão que nos anuncia não é uma palavra vazia ou uma notícia genérica sobre a boa disposição de Deus em relação a nós. É o evento perturbante da sua vinda, o seu querer fazer festa connosco, pecadores. E não é uma festa que podemos adiar para amanhã, como gostariam de fazer os miúdos caprichosos da parábola evangélica, porque é para nós, hoje!
Que o Senhor que nos livre do espírito de crítica que tudo recusa, que sempre encontra razões para não aceitar, para não acolher a vida como ela se apresenta, as pessoas como são. Que o Senhor nos dê verdadeiro espírito de acolhimento, espírito de benevolência para acolhermos a todos, espírito que nos faça ver em tudo o que é bom, o que podemos aproveitar para o serviço do Senhor, o que nos faz progredir no amor.
Para os cristãos, e particularmente para os religiosos, é um perigo grave encerrar-nos no egoísmo pessoal e comunitário, fechando-nos a Deus e aos irmãos. Essa atitude seria negação do amor e da disponibilidade para acolher a Cristo, onde quer que se manifeste. Muitas vezes manifesta-se nos irmãos, particularmente nos carenciados e oprimidos.
Por isso as Constituições afirmam correctamente: "A comunidade deixa-se interpelar pelos homens no meio dos quais vive" Cst. 61); "A nossa vida religiosa... é constantemente interpelada. Somos obrigados a repensar e a reformular a sua missão e as suas formas de presença e de testemunho... exige o encontro frequente com o Senhor na oração, a conversão permanente ao Evangelho e a disponibilidade de coração e de atitudes, para acolher o Hoje de Deus" (Cst. 144).


* SÁBADO

Primeira leitura: Ben Sira 48, 1-4.9-11

1Levantou-se, depois, o profeta Elias, ardoroso como o fogo; as suas palavas eram ardenes como um facho 2Fez vir sobre eles a fome e no seu zelo, reduziu-os a poucos. 3Com a palavra do Senhor fechou o céu e assim fez cair fogo por três vezes4Quão glorioso te tornaste, Elias, pelos teus prodígios! Quem pode gloriar-se de ser como tu? 9Tu foste arrebatado num redemoinho de fogo, num carro puxado por cavalosde fogo; 10*tu foste escolhido, nos decretos dos tempos, para abranda a ira antes deenfurecer, reconciliar os corações dos pais com os filhos e restabelecer as tribos de Jacob 11*Felizes os que te viram e os que morreram no amor; pois, nós também viveremos certamente.

Evangelho: Mateus 17, 10-13

Naquele tempo, 10ao descerem do monte os discípulos fizeram a Jesus esta pergunta: «Então, por que é que os doutores da Lei dizem que Elias há-de vir primeiro?» 11Ele respondeu: «Sim, Elias há-de vir e restabelecerá todas as coisas. 12*Eu, porém, digo-vos: Elias já veio, e não o reconheceram; trataram-no como quiseram. Também assim hão-de fazer sofrer o Filho do Homem.» 13Então os discípulos compreenderam que se referia a João Baptista.

REFLEXÃO

O elogio a Elias não é feito por um seu contemporâneo, mas por Ben Sirá que viveu muito tempo depois dele. Assim acontece com os profetas. Não se faz caso deles quando vivem. Muitas vezes até são perseguidos e mortos. Só mais tarde são elogiados. Tudo isto porque a sua palavra incomoda, ou não está sempre de acordo com os nossos pontos de vista, ou com as nossas expectativas.
Foi o que aconteceu com Jesus. Os que deviam estar preparados, porque conheciam as Escrituras, usaram-nas para levantar objecções a Cristo: «Não tem Eliasque vir primeiro?» Jesus responde: «Elias já veio, e não o reconheceram; trataram-nocomo quiseram… Então, os discípulos compreenderam que se referia a João Baptista».
A missão do Baptista enfrenta, de modo análogo à de Elias, dois pontos centrais da minha própria vida: a minha relação com Deus (que me pede para regressar a Ele) e a cura das minhas relações com o próximo.
Devo deixar-me interpelar por João Baptista cuja voz proclamava corajosamente, como fizera o profeta Elias, o direito de Deus sobre a nossa humanidade: só a Ele prestar culto, aderir integralmente à Aliança. Neste sentido, João é, como Elias, um fogo irresistível, um profeta cuja palavra ilumina os meus caminhos e os da minha comunidade, e se ergue como juízo severo contra o pecado, contra toda a infidelidade à Aliança.
O facto de, tanto Elias como João, serem perseguidos pelos poderosos, e incompreendidos pelos seus contemporâneos, alerta-me para o risco de, eu mesmo, me tornar obstáculo ao caminho da Palavra divina, às vezes incómoda e inquietante. Por outro lado, também me recorda que, apesar de todas as oposições, acabará por triunfar.
Como dehonianos, somos chamados a ser no mundo de hoje “profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo” (Cst. 7), conforme o desejo ardente do Pe. Dehon, especialmente por meio do culto e da devoção ao Coração de Cristo, por meio da vida de oblação, de reparação, de imolação. Participamos, deste modo, na “na obra de reconciliação” que “cura a humanidade, reúne-a no Corpo de Cristo e consagra-a para Glória e Alegria de Deus” (Cst. 25). Não se trata de uma missão fácil, como não foi fácil a missão de Elias, ou a de João Baptista. Pode ser preciso enfrentar a desconfiança, a oposição, a perseguição ou até a morte. Nessas situações, a nossa oblação tornar-se-á imolação, participação e vivência do mistério pascal de Cristo, para redenção do mundo.


Ricardo Igreja


Sem comentários:

Enviar um comentário