domingo, 7 de agosto de 2011

XXVIII DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


«Na verdade, muitos são os chamados»


LEITURA I – Is 25,6-10a

Sobre este monte, o Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Sobre este monte, há-de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo. Porque o Senhor falou. Dir-se-á naquele dia: «Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação; é o Senhor, em quem pusemos a nossa confiança. Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou. A mão do Senhor pousará sobre este monte».

LEITURA II – Filip 4,12-14.19-20

Irmãos: Sei viver na pobreza e sei viver na abundância. Em todo o tempo e em todas as circunstâncias, tenho aprendido a ter fartura e a passar fome, a viver desafogadamente e a padecer necessidade. Tudo posso n’Aquele que me conforta. No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição. O meu Deus proverá com abundância a todas as vossas necessidades, Segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus. Glória a Deus, nosso Pai, pelos séculos dos séculos. Amen.

EVANGELHO – Mt 22,1-14

Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial. E disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados.

REFLEXÃO

A primeira parábola é a parábola dos convidados para o “banquete” (vers. 1-10). Apresenta-nos um rei que organizou um banquete para celebrar o casamento do seu filho. Convidou várias pessoas, mas os convidados recusaram-se a participar no “banquete”, apresentando as desculpas mais inverosímeis. Mateus chega a dizer (um dado que não aparece no relato de Lucas) que teriam até assassinado os emissários do rei… Trata-se de um quadro gravíssimo: recusar o convite era uma ofensa inqualificável; mas, como se isso não bastasse, esses convidados indignos manifestaram um desprezo inconcebível pelo rei, matando os seus servos. O rei enviou então as suas tropas que castigaram os assassinos (vers. 7. Esta referência não aparece no relato de Lucas… É uma provável interpretação da destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos de Tito, no ano 70. Isso significa que a versão que Mateus nos dá da parábola é posterior a essa data).
O rei resolveu, apesar de tudo, manter a festa e mandou que fossem trazidos para o “banquete” todos aqueles fossem encontrados nas “encruzilhadas dos caminhos”. E esses desclassificados, esse “povo da terra”, que nunca se tinha sentado à mesa de um personagem importante (com tudo o que isso significava em termos de comunhão e de estabelecimento de laços de família e de amizade), celebrou a festa à mesa do rei.
O sentido da parábola é óbvio… Deus é o rei que convidou Israel para o “banquete” do encontro, da comunhão, da chegada dos tempos messiânicos (as bodas do “filho”). Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram continuar agarrados aos seus esquemas, aos seus preconceitos, aos seus sistemas de auto-salvação. Então, Deus convidou para o “banquete” do Messias esses pecadores e desclassificados que, na perspectiva da teologia oficial, estavam arredados da comunhão com Deus e do Reino.
Esta parábola explicita bem o cenário em que o próprio Jesus se move… Ele aparece, com frequência, a participar em “banquetes” ao lado de gente duvidosa e desclassificada, ao ponto de os seus inimigos o acusarem de “comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19; Lc 7,34). Porque é que Jesus participa nesses “banquetes”, correndo o risco de adquirir uma fama tão desagradável? Porque no Antigo Testamento – como vimos na primeira leitura – os tempos messiânicos são descritos com a imagem de um “banquete” que Deus prepara para todos os povos. Ora, Jesus tem consciência de que, com Ele, esses tempos chegaram; e utiliza o cenário do “banquete” para expressar a realidade do Reino (a mesa da festa, do amor, da comunhão com Deus, para a qual todos os homens e mulheres, sem excepção, são convidados). Para Ele, o sentar-se à mesa com os pecadores é uma forma privilegiada de lhes dizer que Deus os acolhe com amor e que quer estabelecer com eles relações de comunhão e de familiaridade, sem excluir ninguém do seu convívio ou da sua comunidade.
Os líderes de Israel, no entanto, sempre reprovaram a Jesus esse contacto com os pecadores e os desclassificados… Para eles, os publicanos e as prostitutas, por exemplo, estavam definitivamente arredadas da comunidade da salvação. Sentá-los à mesa do “banquete” do Reino é algo de inaudito e que os líderes de Israel acham absolutamente inapropriado.
É muito provável que, originalmente, a parábola tivesse servido a Jesus para responder àqueles que o acusavam de ter convidado para o “banquete” do Reino todo o tipo de desclassificados e de pecadores. Jesus deixa claro que, na perspectiva de Deus, a questão não é se tal ou tal pessoa tem o direito de se sentar à mesa do Reino; mas a questão essencial é se se aceita ou não se aceita o convite de Deus. Na verdade, os líderes de Israel recusaram o desafio de Deus, enquanto que os pecadores e desclassificados o acolheram de braços abertos.
Mais tarde, a comunidade cristã irá fazer uma releitura um pouco diferente da parábola e utilizá-la para explicar porque é que os pagãos acolheram melhor do que os judeus a Boa Nova do Reino.
A segunda parábola é a parábola do convidado que se apresentou na festa sem o traje nupcial (vers. 11-14). O rei que organizou o “banquete” mandou, então, lançá-lo fora da sala onde se realizava a festa.
A parábola constitui uma advertência àqueles que aceitaram o convite de Deus para a festa do Reino, aderiram à proposta de Jesus e receberam o Baptismo. Mateus escreve no final do século I (anos 80), quando os cristãos já tinham esquecido o entusiasmo inicial e viviam instalados numa fé pouco exigente. Consideravam que já tinham feito uma opção definitiva e que já tinham assegurado a salvação. Mateus diz-lhes: cuidado, porque não chega entrar na sala do “banquete”; é preciso, além disso, vestir um estilo de vida que ponha em prática os ensinamentos de Jesus. Quem foi baptizado e aderiu ao “banquete” do Reino, mas recusou o traje do amor, da partilha, do serviço, da misericórdia, do dom da vida e continua vestido de egoísmo, de arrogância, de orgulho, de injustiça, não pode participar na festa do encontro e da comunhão com Deus. Deus chamou todos os homens e mulheres para participarem no “banquete”; mas só serão admitidos aqueles que responderem ao convite e mudarem completamente a sua vida.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 1, 1-7

Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus, 2que Ele de antemão prometera por meio dos seus profetas, nas santas Escrituras, 3acerca do seu Filho, nascido da descendência de David segundo a carne, 4constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso; 5por Ele recebemos a graça de sermos Apóstolos, a fim de, em honra do seu nome, levarmos à obediência da fé todos os gentios, 6entre os quais estais também vós, chamados a ser de Cristo Jesus; 7a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos: graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!

Evangelho: Lucas 11, 29-32

Naquele tempo, como as multidões afluíssem em massa à volta de Jesus, Ele começou a dizer:«Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas. 30Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. 31A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! 32Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»

REFLEXÃO

Começamos hoje a escutar a Carta aos Romanos escrita por Paulo, em Corinto, no Inverno de 57-58, quando se preparava para ir a Jerusalém levar as ofertas recolhidas para os pobres. Por essa mesma altura, o Apóstolo projecta ir a Roma e mesmo à Espanha. Na capital do Império, havia uma comunidade cristã iniciada, não sabemos como nem quando, mas antes da vinda de Pedro e de Paulo. Paulo desejava ardentemente conhecer essa comunidade, a quem se dirige com solenidade na carta que lhe escreve. O muito que tem a dizer parece sair-lhe da pena sob pressão, de modo que não é fácil ler e entender o texto. De qualquer modo, notamos o seu orgulho em ser apóstolo de Jesus Cristo: «Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus» (v. 1). Desde que se encontrou com o Senhor, no caminho de Damasco, Paulo já não pode pensar em si mesmo sem ser em relação com Ele. Sente-se “servo” e “apóstolo” de Cristo Jesus, enviado a pregar o Evangelho. O Apóstolo orgulha-se da sua missão e está impaciente por anunciá-lo no mundo inteiro, para que todos os homens possam chegar à obediência da fé, a reconhecer em Jesus Cristo o Enviado do Pai para nossa salvação.
O evangelho falo-nos de um outro enviado, Jonas, o pequeno profeta que não queria pregar aos ninivitas, e que não se apercebeu que era tão importante para o Senhor, para aquele Deus que o perseguia de um lado ao outro do mar, e nas próprias profundidades do abismo. E todavia, o caprichoso arauto da conversão dos ninivitas tem a honra de se tornar o “sinal” por excelência oferecido à «geração perversa» (v. 29), que há em todos nós, o sinal do Crucificado-Ressuscitado, descido, em solidariedade para com os pecadores, às profundidades do inferno. Jesus permanece aí para demonstrar até que ponto somos amados. Doravante não há “lugar” que esteja privado da sua presença amorosa, não há solidão que não seja habitada pela sua proximidade. Abrir-nos a esse dom é fonte de felicidade e faz-nos missionários entre os irmãos.
Tal como aconteceu com Paulo, é impensável que alguém, que tenha encontrado a Cristo, não arda no desejo do O anunciar. E, todavia, dando por adquirida a novidade da vida cristã, é fácil encerrá-la nos nossos preconceitos que nos tornam, como Jonas, juízes de Deus e dos seus desígnios. O Senhor Jesus, misericórdia do Pai, ergue no nosso coração o sinal da sua cruz, para que, vencidos pelo seu amor, nos tornemos seus arautos jubilosos entre os irmãos. Como Paulo, havemos de nos orgulhar da vocação a que fomos chamados.
A nossa experiência de fé, como dehonianos, é apresentada no n. 9 das Constituições, na sua dimensão carismática, como um “dom” recebido, para anunciar a Cristo, para O testemunhar, num mundo cada vez mais marcado pelo secularismo (cf. Rm 10, 9-11). Somos chamados a proclamar «Cristo Senhor» por meio do Espírito, vivendo a fé na caridade. Assim confessamos, com a nossa vida, que «Deus é amor» (1Jo 4, 16) e que nós «reconhecemos e acreditamos» (1Jo 4, 16; Cst n. 9) nesse amor. Assim nos tornamos «profetas do amor» e servidores da reconciliação» (Cst 7).


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 1, 16-25

Irmãos: eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego. 17Pois nele a justiça de Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé. De facto, a ira de Deus, vinda do céu, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens que, com a injustiça, reprimem a verdade. 19Porquanto, o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus lho manifestou. 20Com efeito, o que é invisível nele - o seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras. Por isso, não se podem desculpar. 21Pois, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram nem lhe deram graças, como a Deus é devido. Pelo contrário: tornaram-se vazios nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato. 22Afirmando-se como sábios, tornaram-se loucos 23e trocaram a glória do Deus incorruptível por figuras representativas do homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis. 24Por isso é que Deus, de acordo com os apetites dos seus corações, os entregou à impureza, de tal modo que os seus próprios corpos se degradaram. 25Foram esses que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e que veneraram as criaturas e lhes prestaram culto, em vez de o fazerem ao Criador, que é bendito pelos séculos! Ámen.

Evangelho: Lucas 11, 37-41

Naquele tempo, depois de Jesus ter acabado de falar, um fariseu convidou-o para almoçar na sua casa; Ele entrou e pôs-se à mesa. 38O fariseu admirou-se de que Ele não se tivesse lavado antes da refeição. 39O Senhor disse-lhe: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade. 40Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? 41Antes, dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo.

REFLEXÃO

É espantoso lermos que o «Evangelho é poder de Deus para a salvação de todo o crente» (v. 16). Como pode uma palavra ser poder? Nós acreditamos pouco em palavras. Mas o Evangelho é uma palavra especial, que encerra o poder de Deus. Muitas vezes recebemo-lo como uma qualquer palavra que nos incita a pôr todas as nossas forças ao serviço de um trabalho, de um projecto, de uma acção, como quando escutamos: “faz isto”, “faz aquilo”. Estas palavras não nos dão a força de fazer o que nos é mandado. Ora, com o Evangelho, é diferente. A palavra evangélica é poderosa, e havemos de recebê-la como uma força e não apenas como uma ordem. O Evangelho transmite a fé. E toda a nossa vida é baseada na fé. A nossa força vem-nos da fé e não da confiança que temos em nós mesmos. Pela fé, abrimo-nos ao poder de Deus e fundamos a nossa vida na graça, que nos é dada gratuitamente, e não por causa das nossas obras.
Paulo, no texto que hoje escutamos, anuncia-nos a salvação pela fé: «Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé» (v. 17). O que vem depois está de acordo com este anúncio de Paulo. O Apóstolo escreveu que a justiça de Deus, a que salva, se revela no Evangelho a quem crê (cf. Rm 1, 17). Depois acrescentou: «a ira de Deus, vinda do céu, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens» (v. 17). Fica, assim, anunciada a tese que seguidamente irá desenvolver para demonstrar a necessidade do Evangelho, «poder de Deus».
A humanidade, enredada no pecado, mereceu a ira de Deus. Mas Deus estabeleceu um meio de salvação: a fé em Cristo, e não as obras do homem corrompidas pelo pecado. A missão de Paulo, e de todos os apóstolos, é pregar a fé e, por isso, a salvação como dom gratuito de Deus, como graça.
No evangelho de hoje, Jesus anuncia o mesmo: é preciso mudar de mentalidade, converter-se. É preciso passar de uma religião de pureza exterior a uma religião interior de misericórdia, de humildade, de comunhão. O fariseu, que convidou Jesus para a sua mesa, pôs-se a julgá-lo porque não lavou as mãos antes de começar a comer. Não se tratava de um gesto de higiene, mas de uma prática que pretensamente garantia a pureza diante de Deus. Jesus afasta essa ideia de religião e de pureza, afirmando que o essencial é a pureza interior: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade» (v. 39). O homem pode purificar o exterior, mas não o coração. Só a graça de Deus o pode fazer. Há, pois, que renunciar à pretensão de nos salvarmos a nós mesmos, com as nossas obras. A únicas atitudes que nos salvam são colocar-nos humildemente diante de Deus e, ao mesmo tempo, usar de misericórdia e de benevolência para com os outros. Deus oferece a sua graça a quem está disposto a tornar-se graça para os outros.
É pela fé que Cristo habita nos nossos corações, enraizando-nos e fundando-nos no amor. Assim podemos compreender, com todos os Santos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. Assim, podemos conhecer, experimentar esse amor que excede todo o conhecimento, para sermos repletos da plenitude de Deus, isto é, para nos tornarmos santos e sermos salvos (cf. Ef 3,17-19).


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 2, 1-11

Não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas, por praticares as mesmas coisas, tu que te armas em juiz. 2Ora nós sabemos que o julgamento de Deus se guia pela verdade contra aqueles que praticam tais acções. 3Cuidas, então - tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo - que escaparás ao julgamento de Deus? 4Ou não estarás tu a desprezar as riquezas da sua bondade, paciência e generosidade, ao ignorares que a bondade de Deus te convida à conversão? 5Afinal, com a tua dureza e o teu coração impenitente, estás a acumular ira sobre ti, para o dia da ira e do justo julgamento de Deus, 6que retribuirá a cada um conforme as suas obras: 7para aqueles que, ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade, será a vida eterna; 8para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade e dóceis à injustiça, será ira e indignação. 9Tribulação e angústia para todo o ser humano que pratica o mal, primeiro judeu e depois grego! 10Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu e depois para o grego! 11É que em Deus não existe acepção de pessoas.

Evangelho: Lucas 11, 42-46

Naquele tempo, disse o Senhor: Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de Deus! Estas eram as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas. 43Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e de ser cumprimentados nas praças! 44Ai de vós, porque sois como os túmulos, que não se vêem e sobre os quais as pessoas passam sem se aperceberem!» 45Um doutor da Lei tomou a palavra e disse-lhe: «Mestre, falando assim, também nos insultas a nós.» 46Mas Ele respondeu:«Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo tocais nesses fardos!

REFLEXÃO

A Palavra de Deus é sempre viva e eficaz. Mas há momentos em que ela parece encarniçar-se para pôr diante dos nossos olhos o nosso pecado. As palavras de Paulo são duras: ninguém tem o direito de se gloriar diante de Deus. O Apóstolo dirige-se àqueles que farisaicamente se julgam justos, e pensam não precisar da misericórdia de Deus. Andam iludidos, e essa ilusão vem-lhes do hábito de julgar os outros: «Cuidas, então - tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo - que escaparás ao julgamento de Deus?» (v. 3).
É realmente uma ilusão comum julgar-se justos, ou por causa do permissivismo que tudo invade, ou porque julgamos os outros. O “todos fazem assim” não é um critério de moralidade para quem quer seguir a Cristo. O fazer-se juiz dos outros também não nos livra de sermos julgados. Quando vemos alguém errar, facilmente pensamos que, no seu lugar, faríamos melhor. Na verdade, uma coisa é julgar e outra é fazer. Provavelmente, no lugar do irmão que julgamos, faríamos pior. É o que infelizmente acontece, tantas vezes, no campo moral, espiritual. Quem julga, ainda que em algumas coisas tenha razão, erra gravemente pelo simples facto de julgar, porque, como diz Jesus, descuida o mais importante, que é a justiça e o amor. Quem julga os outros, separa-se deles, pondo-se numa situação de egoísmo e de orgulho. Por isso, não pode agradar a Deus. «Não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas», afirma o Apóstolo (v. 1).
Colocar-se, com humildade e verdade, diante da misericórdia de Deus, é o único caminho de salvação. Judeus e Gregos, cristãos e pagãos, pecadores e justos, devem acolher a graça de Deus, gratuitamente oferecida a todos.
Para viver a fraternidade, na comunidade, havemos de pôr em prática os ensinamentos de Jesus: «Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e ser-vos-á perdoado; dai e ser-vos-á dado; uma boa medida..., porque a medida que empregardes com os outros será usada convosco» (Lc 6, 36-38). Não leiamos superficialmente estas palavras de Jesus. Reflictamos bem sobre elas. Se as pusermos em prática, com a ajuda do Espírito Santo, experimentaremos uma profunda serenidade interior, seremos criaturas de paz, de alegria, de bondade e de mansidão.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 3, 21-30a

Irmãos: foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas: 22a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: 23todos pecaram e estão privados da glória de Deus. 24Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. 25Deus ofereceu-o para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé; foi assim que ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, 26no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus. 27Onde está, pois, o motivo para alguém se gloriar? Foi excluído! Por qual lei? Pela das obras? De modo nenhum! Mas pela lei da fé. 28Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei. 29Será Deus apenas Deus dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, Ele é também Deus dos gentios, 30uma vez que há um só Deus.

Evangelho: Lucas 11, 47-53

Naquele tempo, disse o Senhor aos doutores da lei: Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas, quando os vossos pais é que os mataram! 48Assim, dais testemunho e aprovação aos actos dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós edificais-lhes sepulcros. 49Por isso mesmo é que a Sabedoria de Deus disse: ‘Hei-de enviar-lhes profetas e apóstolos, a alguns dos quais darão a morte e a outros perseguirão, 50a fim de que se peça contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.’ Sim, Eu vo-lo digo, serão pedidas contas a esta geração. 52Ai de vós, doutores da Lei, porque vos apoderastes da chave da ciência: vós próprios não entrastes e impedistes a entrada àqueles que queriam entrar!» 53Quando saiu dali, os doutores da Lei e os fariseus começaram a pressioná-lo fortemente com perguntas e a fazê-lo falar sobre muitos assuntos, armando-lhe ciladas e procurando apanhar-lhe alguma palavra para o acusarem.

REFLEXÃO

Paulo continua a reflectir sobre a condição humana. Infelizmente, nós, homens do século XXI, não nos espantamos com o quadro pintado em tons escuros pelo Apóstolo. Estamos demasiado habituados a ver esse mal entrar-nos pela casa dentro através da televisão e de outros meios de comunicação social, e até a verificá-lo nas nossas próprias famílias, no nosso bairro, na nossa terra… No começo do novo milénio, quando todos nos julgamos evoluídos, cultos e civilizados, assistimos a formas de crueldade e violência impensáveis há apenas algumas décadas… Por isso, não temos dificuldade em repetir como Paulo: «todos pecaram e estão privados da glória de Deus» (Rm 3, 23). E todos havemos também de admitir que precisamos da misericórdia de Deus, sem a qual não conseguimos tornar-nos justos e agradar a Deus. É por isso que, no segundo capítulo da carta aos Romanos, Paulo se dirige a todos aqueles que farisaicamente se julgam justos, e pensam não precisar da misericórdia de Deus.
O mesmo faz Jesus, no evangelho. Ao dirigir-se aos escribas e fariseus, arranca-lhes a máscara com que tentam disfarçar as injustiças que cometem. As mesinhas humanas podem iludir-nos. Mas o mal reaparece continuamente, cada vez mais duro e violento. Só Deus pode curá-lo definitivamente. E fê-lo em Jesus Cristo. Paulo lembra que Deus usou o seu Filho como instrumento de expiação, expondo-O na cruz. Poderia ter-nos justificado de outro modo. Mas o caminho que escolheu, escândalo para uns e loucura para outros, foi o do amor até à consumação total, até ao ponto de receber em Si todos os golpes da nossa inaudita violência. A imensidade do dom faz-nos compreender a malícia do pecado. Não conseguimos avaliar totalmente a grande do amor e o dom de Deus, nem a gravidade do nosso pecado. Mas a mais simples ideia sobre esse amor, e sobre a gravidade do nosso pecado, já é suficiente para abrirmos o coração à gratidão, à acção de graças. Vemos, com efeito, como o homem não pode salvar a si mesmo, e como só a fé em Jesus Cristo, Salvador, o salva efectivamente. Em Cristo, nós os injustos, tornamo-nos justos.
A comunidade religiosa, como a comunidade cristã, há-de ser uma escola de amor, onde todos progridam «alegres no caminho do amor» (LG 43). Esta expressão, recebida do Concílio, realça como, na comunidade, as pessoas devam viver um amor semelhante ao de Cristo, que, para nos salvar, se entregou por nós, até à morte e morte de cruz. Há que aprender esse amor na escuta da Palavra, na contemplação dos Mistérios de Cristo, na oração, e na prática, por vezes difícil, do amor aos irmãos. Então a circularidade do amor torna-se perfeita: o amor vem de Deus e, por meio do amor aos irmãos, regressa a Deus, como escreve S. João: «Caríssimos, se Deus nos amou, também nós devemos amar-nos uns aos outros. Deus permanece em nós e o Seu amor é perfeito em nós» (1 Jo 4, 11-12). Sem o amor fraterno recíproco, o amor de Deus não é perfeito: «Que, com efeito, não ama o irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê. Este é o mandamento que recebemos d´Ele: quem ama a Deus, ama também o seu irmão» (1 Jo 4, 20-21).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 4, 1-8

Irmãos: que havemos de dizer de Abraão, nosso antepassado segundo a carne? Que obteve ele afinal? 2É que, se Abraão foi justificado por causa das obras, tem um motivo para se poder gloriar, mas não diante de Deus. 3Que diz, de facto, a Escritura? Que Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. 4Ora bem, àquele que realiza obras, o salário não lhe é atribuído como oferta, mas como dívida. 5Aquele, porém, que não realiza qualquer obra, mas acredita naquele que justifica o ímpio, a esse a sua fé é-lhe atribuída como justiça. 6Aliás é assim que David celebra a felicidade do homem a quem Deus atribui a justiça independentemente das obras: 7Felizes aqueles a quem foram perdoados os delitos e a quem foram cobertos os pecados! 8Feliz o homem a quem o Senhor não tem em conta o pecado!

Evangelho: Lucas 12, 1-7

Naquele tempo, 1a multidão tinha-se ajuntado por milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos:«Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. 3Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. 4Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. 5Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. 6Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. 7Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros.

REFLEXÃO

A tradição hebraica apresentava Abraão como modelo da obediência da fé, como o justo por excelência, porque não hesitou em oferecer a Deus o sacrifício do seu filho único. Mas Paulo afirma que o Patriarca foi justificado, ainda antes de oferecer Isaac em sacrifício, pela sua fé na promessa de Deus, porque esperou «contra toda a esperança». Só a fé justifica, isto é, nos torna santos diante de Deus, fonte de toda a santidade e justiça. Mas esta fé não é uma atitude passiva. Leva-nos a estar bem vivos, para acreditarmos contra toda a evidência.
Jesus também convida os seus ouvintes a uma atitude de confiança e de abandono incondicional diante de Deus Pai. Ele cuida de nós com uma ternura atenta, a que nenhum pormenor pode escapar. Até os cabelos da nossa cabeça estão contados. Somos pois chamados a contemplar Deus sempre presente e activo na nossa vida e na nossa história. Assim se assume a obediência da fé e se alcança o fruto da paz. Nada nem ninguém pode fazer mal a quem crê. Paulo aproxima ao tema da fé o tema do perdão dos pecados. Ao fim e ao cabo, que é o pecado se não uma tentativa deliberada dos nos pôr à margem do olhar bondoso e amigo de Deus, para, usando mal a liberdade, tentar afirmar-nos? Se o ícone do pecador é o “filho pródigo” que parte para longe do pai, o ícone do crente é Jesus, o Filho muito amado que, no meio dos tormentos da paixão, se agarra confiadamente ao Pai e se entrega nas suas mãos: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46). Só nestas circunstâncias o amor pode cantar a vitória que o torna mais forte do que a morte. O supremo grito de confiança de Jesus na Cruz manifesta a união de amor entre o Pai e o Filho.


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 4, 13.16-18

Irmãos: não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança. 16Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós, 17conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe. 18Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência.

Evangelho: Lucas 12, 8-12

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 8Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. 9Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus. 10E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará. 11Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, 12pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que deveis dizer.»

REFLEXÃO

Paulo continua a insistir na afirmação de que a acção e a generosidade de Deus precedem as nossas obras. Tudo começa com uma promessa de Deus. É o que verificamos na história de Abraão: antes que ele faça qualquer coisa, há uma promessa divina: «Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa», escreve Paulo (v. 13). A lei só veio a ser dada quatrocentos e trinta anos depois de Abraão, como afirma o Apóstolo na carta aos Gálatas (3, 17). A primeira condição, portanto, não é observar a lei, mas acolher a promessa com plena fé. Desse modo, deixamos a Deus total liberdade e pomos a nossa vida à sua disposição. Abrir-nos a Deus é uma atitude simples, mas importante.
No evangelho, Jesus afirma que é preciso confessar a fé, também diante dos homens, para ser recebidos por Deus no céu: «Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus» (v. 8). Mais do que preocupar-nos em adquirir méritos diante de Deus, com as nossas boas obras, havemos de testemunhar decidida e corajosamente a nossa fé em Jesus e em Deus por Jesus Cristo. Mas não devemos precipitar-nos a julgar aqueles que não mostram a sua fé. É o que também lemos no evangelho: «Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará» (v. 10). São dois aspectos da fé. Há uma manifestação exterior, mas a fé é fundada sobre uma manifestação interior do Espírito Santo. Pode suceder que uma pessoa encontre dificuldade em professar publicamente a sua fé, em aceitar as manifestações exteriores da fé no Filho do homem, isto é, a fé cristã. Mas não se pode dizer que tal atitude é imperdoável. Imperdoável é resistir ao Espírito Santo, isto é, não aceitar dentro de nós o testemunho de Deus, que nos impele para o seu Filho. A docilidade a Deus prepara e desenvolve em nós a fé. Quanto há esta íntima relação com o Espírito Santo, chega-se à fé. «Quem é dócil a Deus aproxima-se da Luz», (cf. Jo 3, 21). Numa vida fundada na fé, desenvolve-se o fruto do Espírito, e a fé pode chegar ao testemunho heróico, que admiramos nos mártires. Esse testemunho não é obra humana, mas fruto do Espírito, dom de Deus a quem lhe abre o coração de par em par, e se deixa guiar docilmente pelo Espírito Santo.

Ricardo Igreja

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