domingo, 7 de agosto de 2011

XXIX DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


«Então, daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus»




LEITURA I – Is 45,1.4-6

Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».

LEITURA II – 1 Tes 1,1-5b

Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a acção do Espírito Santo.

EVANGELHO – Mt 22,15-21

Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem Te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário, e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-lhes Jesus: «Então, daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

REFLEXÃO

Confrontado com a questão, Jesus convidou os seus interlocutores a mostrar a moeda do imposto e a reconhecerem a imagem gravada na moeda (a imagem de César). Depois, Jesus concluiu: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (vers. 21). O que é que esta afirmação significa? Significa uma espécie de repartição equitativa das obrigações do homem entre o poder político e o poder religioso?
Provavelmente, Jesus quis sugerir que o homem não pode nem deve alhear-se das suas obrigações para com a comunidade em que está integrado. Em qualquer circunstância, ele deve ser um cidadão exemplar e contribuir para o bem comum. A isso, chama-se “dar a César o que é de César”.
No entanto, o que é mais importante é que o homem reconheça a Deus como o seu único senhor. As moedas romanas têm a imagem de César: que sejam dadas a César. O homem, no entanto, não tem inscrita em si próprio a imagem de César, mas sim a imagem de Deus (cf. Gn 1,26-27: “Deus disse: ‘façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança’… Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus”): portanto, o homem pertence somente a Deus, deve entregar-se a Deus e reconhecê-l’O como o seu único senhor.
Jesus vai muito além da questão que Lhe puseram… Recusa-Se a entrar num debate de carácter político e coloca a questão a um nível mais profundo e mais exigente. Na abordagem de Jesus, a questão deixa de ser uma simples discussão acerca do pagamento ou do não pagamento de um imposto, para se tornar um apelo a que o homem reconheça Deus como o seu senhor e realize a sua vocação essencial de entrega a Deus (ele foi criado por Deus, pertence a Deus e transporta consigo a imagem do seu senhor e seu criador). Jesus não está preocupado, sequer, em afirmar que o homem deve repartir equitativamente as suas obrigações entre o poder político e o poder religioso; mas está, sobretudo, preocupado em deixar claro que o homem só pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas mãos de Deus. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 4, 20-25

Irmãos: diante da promessa de Deus, Abraão não duvidou por falta de fé. Pelo contrário, tornou-se mais forte na fé e deu glória a Deus, 21plenamente convencido de que Ele tinha poder para realizar o que tinha prometido. 22Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça. 23Não é só por causa dele que está escrito foi-lhe atribuído, 24mas também por causa de nós, a quem a fé será tida em conta, nós que acreditamos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, Senhor nosso, 25entregue por causa das nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação.

Evangelho: Lucas 12, 13-21

Naquele tempo, alguém do meio multidão disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» 14Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» 15E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» 16Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. 17E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: ‘Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?’ 18Depois continuou: ‘Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. 19Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ 20Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ 21Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»

REFLEXÃO

Na primeira leitura, Paulo retoma a figura de Abraão, que «não duvidou por falta de fé, mas se tornou mais forte na fé e deu glória a Deus» (v. 20), apesar da realização da promessa divina estar bastante longe da evidência, e da falta de garantias visíveis quanto à herança futura. Também o cristão é chamado à fé. Mas, ao contrário de Abraão, já viu realizadas em Cristo as promessas de Deus. Por isso, pode afirmar como Paulo: «sei em quem acreditei!» Em Cristo, encontramos a fonte da vida, da alegria, da paz. Participando no mistério da sua oferta, tornamo-nos cada vez mais capazes de amar, de nos entregar, de darmos glória a Deus.
A atitude do homem rico, de que nos fala o evangelho, contrasta com a de Abraão, de Paulo e, ao fim e ao cabo, de todo o verdadeiro crente. Esse homem fundamentou a sua vida, não na fé e na confiança em Deus, mas nos bens terrenos: «Direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.» (v. 19). Abraão fundamentou a sua vida numa realidade que parecia inconsistente: uma palavra pronunciada por Alguém que não via e cuja veracidade, portanto, não podia avaliar. Mas era palavra de Deus, e foi na relação com Deus que Abraão encontrou a máxima segurança. Sendo também ele rico, e podendo viver tranquilo e seguro por muitos anos, na sua terra, preferiu obedecer a Deus e cumprir a sua vontade, certo de que a verdadeira segurança só se encontra no cumprimento da vontade de Deus.
Na parábola evangélica, Jesus mostra que é Abraão, e todos os que adoptam uma atitude semelhante, que têm razão, e não o rico egoísta: «Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?» (v. 20). O verdadeiro tesouro do homem está na sua relação com Deus e na escuta confiante e obediente da sua palavra.
Se já Abarão soube olhar para além do momento presente, quanto mais nós cristãos e religiosos, invadidos pelo Espírito do Ressuscitado! «Recebemos o dom da fé que dá fundamento à nossa esperança; uma fé que orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para seguir a Cristo; no meio dos desafios do mundo, devemos consolidá-la, vivendo-a na caridade» (Cst 9). «Unidos a Cristo no seu amor e oblação ao Pai (cf. Cst 16-25), somos convidados a «uma abordagem comum do mistério de Cristo» (Cst 16), como fundamento da nossa experiência de fé, da nossa vocação e vida dehoniana, com uma atenção particular ao «Lado aberto do Crucificado, contemplando o Coração de Cristo, símbolo privilegiado do seu amor» (Cst 21).


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 5, 12.15b.17-19.20b-21

Irmãos: tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram. 15Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância. 17De facto, se pela falta de um só e por meio de um só reinou a morte, com muito mais razão, por meio de um só, Jesus Cristo, hão-de reinar na vida aqueles que recebem em abundância a graça e o dom da justiça. 18Portanto, como pela falta de um só veio a condenação para todos os homens, assim também pela obra de justiça de um só veio para todos os homens a justificação que dá a vida. 19De facto, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos se hão-de tornar justos. 20Onde aumentou o pecado, superabundou a graça. 21E deste modo, tal como o pecado reinou pela morte, assim também a graça reina pela justiça até à vida eterna, por Jesus Cristo, Senhor nosso.

Evangelho: Lucas 12, 35-38

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 35«Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. 36Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. 37Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. 38E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles.

REFLEXÃO

Paulo afirma o princípio da solidariedade de todos os homens no mal e no bem: «Tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram. Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância.» (vv. 14-15).
Temos dificuldade em admitir tal princípio, principalmente no aspecto negativo: «Pela falta de um só veio a condenação para todos os homens» (v. 18). Parece-nos um princípio muito injusto, e facilmente somos tentados a fugir a essa solidariedade. Não queremos ser confundidos com os pecadores. Até somos capazes de rezar por eles, mas colocando-nos à distância, numa atitude idêntica à do fariseu da parábola, em relação ao cobrador de impostos e ao «resto dos homens» (Lc 18, 11). Mas, se não aceitarmos esta solidariedade no pecado e na condenação, não receberemos «a abundância da graça». Cristo aceitou essa solidariedade e apresentou-se ao Pai carregado pelos pecados de toda a humanidade, Ele, «santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores» (Heb 7, 26). É um mistério profundo, revelação de um amor que a mente humana nem pode imaginar.
O culto ao Coração de Jesus, introduzindo-nos no mistério da sua oferta solidária com os pecados do mundo, para que, onde abundou o pecado, superabundasse «a graça e o dom da justiça» (v. 17), encoraja-nos a viver com Ele esta solidariedade e a oferecer com amor os pequenos e grandes sofrimentos da nossa vida para que se derrame sobre todos os homens «a justificação que dá a vida» (v. 18). O Padre Dehon sentiu-se particularmente chamado a viver este mistério. Foi o seu carisma e é o carisma que, por ele, receberam os membros da sua congregação: «Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora… queremos unir-nos a Cristo presente na vida do mundo e, em solidariedade com Ele e com toda a humanidade e a criação inteira, oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (cf. Rm 12,1)», dizem as Constituições (n. 22). E continuam: «No seguimento de Cristo, devemos viver em solidariedade efectiva com os homens. Sensíveis a tudo aquilo que, no mundo de hoje, constitui obstáculo ao amor do Senhor, queremos testemunhar que o esforço humano, para chegar à plenitude do Reino, tem de se purificar e transfigurar constantemente pela Cruz e Ressurreição de Cristo» (Cst 29).


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 6, 12-18

Irmãos: que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal, de tal modo que obedeçais às suas paixões. 13Não entregueis os vossos membros, como armas da injustiça, ao serviço do pecado. Pelo contrário, entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos, e entregai os vossos membros, como armas da justiça, ao serviço de Deus. 14Pois o pecado não terá mais domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a Lei, mas sob a graça. 15Então? Vamos pecar, porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo nenhum! 16Não sabeis que, se vos entregais a alguém, obedecendo-lhe como escravos, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado que leva à morte, quer da obediência que leva à justiça? 17Demos graças a Deus: éreis escravos do pecado, mas obedecestes de coração ao ensino que vos foi transmitido como norma de vida. 18E libertos do pecado, tornastes-vos escravos da justiça.

Evangelho: Lucas 12, 39-48

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 39Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. 40Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» 41Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» 42O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? 43Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. 44Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. 45Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’ e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. 47O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. 48Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»

REFLEXÃO

Há em nós uma enorme ânsia de alegria e de privilégios. Mas corremos o risco de errar no caminho para os alcançar. Jesus promete-nos a alegria, e já nos dá muita neste mundo, mostrando-nos o seu amor. Mas o amor de Jesus é exigente. Não podemos descuidar-nos de estar prontos e vigilantes, como talvez pensava Pedro. Depois de ouvir a parábola sobre a necessidade da vigilância, perguntou: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» (v. 41). Não podemos estar tranquilos, nós que somos teus discípulos e colaboradores? O egoísmo tenta sempre infiltrar-se nos nossos pensamentos. Por isso, é preciso dar-lhe luta sem tréguas, para nos libertarmos do pecado e nos colocarmos ao serviço de Deus. Paulo recorda-nos que estamos vivos tendo regressado de entre os mortos (cf. v. 13), habitados pela força e pelo poder de Cristo ressuscitado, sendo chamados a oferecer-nos a Deus com alegria e gratidão em tudo o que fazemos. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor, e nada é estranho a este horizonte de pertença que faz bela e rica a nossa vida. Quanto mais experimentámos em nós, ou nos outros, a verdade de que o pecado escraviza e leva à morte, mais pode o nosso coração dilatar-se em servir a Deus com alegria. Ai de nós se, como o servo da parábola, pensarmos que o «senhor tarda em vir» (v. 44). O nosso amado Senhor e Mestre está connosco para que vivamos, com o auxílio da sua graça, de acordo com a vida nova, que nos deu no baptismo, e nos tornemos santos e imaculados na sua presença no amor. O caminho consiste em obedecer cordialmente aos ensinamentos de Jesus, em unir-nos a Ele e ao seu amor oblativo, para glória e alegria de Deus, e para bem da humanidade. Esse caminho vai da escuta da Palavra ao partir juntos o pão da caridade, ao reconhecer Cristo presente nos pequenos e nos pobres, ao serviço generoso dos irmãos pelos quais todos somos responsáveis. Lemos nas nossas Constituições: «Discípulos do Padre Dehon, queremos fazer da nossa união com Cristo, no seu amor pelo Pai e pelos homens, o princípio e o centro da nossa vida. Meditamos com predilecção nestas palavras do Senhor: "Permanecei em Mim, como Eu permaneço em vós: como a vara não pode dar fruto por si mesma, se não permanecer na videira, assim acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim" (Jo 15,4). Fiéis à escuta da Palavra, e à fracção do Pão, somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento (cf. Ef 3, 17-19). É também na disponibilidade e no amor para com todos, especialmente para com os pequenos e os que sofrem, que viveremos a nossa união a Cristo» (Cst 17-18).
Ser-nos-ão pedidas contas do muito que recebemos. Mas também sabemos que, quem nos julgará, será Aquele que morreu por amor do nosso amor.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 6, 19-23

Irmãos: estou a falar em termos humanos, devido à fraqueza da vossa carne. Do mesmo modo que entregastes os vossos membros, como escravos, à impureza e à desordem, para viverdes na desordem, entregai agora também os vossos membros como escravos à justiça, para viverdes em santidade. 20Quando éreis escravos do pecado, éreis livres no que toca à justiça. 21Afinal, que frutos produzíeis então? Coisas de que agora vos envergonhais, porque o resultado disso era a morte. 22Mas agora, que estais libertos do pecado e vos tornastes servos de Deus, produzis frutos que levamà santificação, e o resultado é a vida eterna. 23É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.

Evangelho: Lucas 12, 49-53

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 49«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! 50Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! 51Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. 52Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; 53vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»

REFLEXÃO

Paulo procura levar os destinatários da sua carta a reflectir sobre a sua condição quando eram escravos do pecado, e sobre aquela em que gora se encontram. Para nós, hoje, a realidade não é tão distinta. Não há um passado de impureza e de desordem absoluto e um hoje de santidade e de justiça. Há, sim, um caminho de conversão em acto para nos tornarmos semelhantes a Deus. Por isso, cada dia havemos de pedir a graça do poder da cruz, havemos de invocar o dom do Espírito Santo. Se verificamos a nossa lentidão no caminho da conversão, dá-nos confiança a certeza de que Deus é paciente e quer unir-nos a Ele de um modo cada vez mais íntimo e profundo, para que possamos saborear a grandeza da liberdade que nos vem de sermos seus. Paradoxalmente, como testemunham os santos, quanto mais somos possuídos por Deus, mais estamos livres de tudo. Isto não é compreensível à razão. Só quem o experimenta e vive o pode reconhecer.
Jesus, no evangelho de hoje, fala do seu desejo ardente de realizar a missão que o Pai Lhe confiou, ainda que saiba muito bem que isso comporta a sua passagem pela cruz. Encontramos estas mesmas disposições naqueles cristãos que alcançaram a verdadeira liberdade, tornando-se voluntariamente escravos de Deus que é Amor.
Peçamos ao Senhor clareza de vistas para sabermos distinguir a verdadeira da falsa liberdade, para servirmos a verdade, ainda que nos seja exigido um alto preço. O autor da carta aos Hebreus convida-nos a correr com perseverança, «tendo os olhos postos em Jesus» (Heb 12, 2). E exorta-nos: «Considerai, pois, aquele que sofreu tal oposição por parte dos pecadores, para que não desfaleçais, perdendo o ânimo. Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado» (Heb 12, 3-4).
A vida cristã, e a vida religiosa, são caminho que havemos de percorrer, de olhos postos em Jesus, lutando contra o pecado, num permanente esforço de conversão. Escrevem as nossas Constituições: «Seguros da indefectível fidelidade de Deus, radicados no amor de Cristo, sabemos que a nossa opção pela vida religiosa, para que se mantenha viva, exige o encontro frequente com o Senhor na oração, a conversão permanente ao Evangelho e a disponibilidade de coração e de atitudes, para acolher o Hoje de Deus» (Cst 144).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 7, 18-25a

Irmãos: eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. 19É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico. 20Ora, se o que eu não quero é que faço, então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. 21Deparo, pois, com esta lei: em mim, que quero fazer o bem, só o mal está ao meu alcance. 22Sim, eu sinto gosto pela lei de Deus, enquanto homem interior. 23Mas noto que há outra lei nos meus membros a lutar contra a lei da minha razão e a reter-me prisioneiro na lei do pecado que está nos meus membros. 24Que homem miserável sou eu! Quem me há-de libertar deste corpo que pertence à morte? 25Graças a Deus, por Jesus Cristo, Senhor nosso!

Evangelho: Lucas 12, 54-59

Naquele tempo dizia Jesus às multidões: 54«Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: ‘Vem lá a chuva’; e assim sucede. 55E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai haver muito calor’; e assim acontece. 56Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?» 57«Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo? 58Por isso, quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te na prisão. 59Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último centavo.»

REFLEXÃO

Tanto Paulo como Jesus nos alertam para a presença do mal em nós. Jesus chama-nos hipócritas. Paulo fala, de modo incisivo e dramático, do mal com que continua a debater-se dentro de si mesmo. A linha de divisão entre o bem e o mal passa pelo nosso coração. Por isso, a luta contra o mal não se trava fora, mas dentro de nós. Se, por um lado, nos sentimos fascinados e atraídos pelo bem, por outro lado, também sentimos o apelo e a sedução do mal. Paulo, que bem conhece essa luta, chega a exclamar: «Que homem miserável sou eu!» (v. 24). Mas não se limita a contemplar o seu drama. Ergue os olhos para o céu e descortina o olhar amoroso de Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Limitar-nos a contemplar a nossa miséria, seria expor-nos à depressão. O crente dá-se naturalmente conta das suas limitações e do seu pecado com uma agudeza superior à de quem não tem fé. É por isso que os santos sempre se julgaram grandes pecadores. Mas também reconheceram, e reconhecem, que o remédio para a sua situação é Jesus, nossa paz e reconciliação, que veio colocar-se no coração da nossa aventura humana. Assim, mesmo no mais profundo abismo, podemos sentir-nos filhos de Deus. Se o cristão faz a experiência dolorosa da sua condição de pecador, também sabe que essa não é a última palavra sobre a sua condição. Por isso, do seu coração, pode brotar sempre a acção de graças, porque toda a nossa existência é agora eucaristia ao Pai, por meio de Jesus Cristo.
Agradeçamos ao Senhor por estarmos conscientes da nossa incapacidade para fazermos o bem, porque ela nos leva a unir-nos cada vez mais a Ele, nosso Salvador e nossa força. «Cristo faz-nos acreditar que, apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção é possível, oferecida e já está presente» no mundo (Cst 12).


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 8, 1-11

Irmãos: agora não há mais condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus. 2É que a lei do Espírito que dá a vida libertou-te, em Cristo Jesus, da lei do pecado e da morte. 3De facto, Deus fez o que era impossível à Lei, por estar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou o pecado na carne, 4para que assim a justiça exigida pela Lei possa ser plenamente cumprida em nós, que já não procedemos de acordo com a carne, mas com o Espírito. 5Os que vivem de acordo com a carne aspiram às coisas da carne; mas os que vivem de acordo com o Espírito aspiram às coisas do Espírito. 6De facto, a carne aspira ao que conduz à morte; mas o Espírito aspira ao que dá vida e paz. 7É que a carne aspira à inimizade com Deus, uma vez que não se submete à lei de Deus; aliás nem sequer é capaz disso. 8Os que vivem sob o domínio da carne são incapazes de agradar a Deus. 9Ora vós não estais sob o domínio da carne, mas sob o domínio do Espírito, pressupondo que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse não lhe pertence. 10Se Cristo está em vós, o vosso corpo está morto por causa do pecado, mas o Espírito é a vossa vida por causa da justiça. 11E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós.

Evangelho: Lucas 13, 1-9

Naquele tempo: apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. 2Respondeu-lhes:«Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? 3Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. 4E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.» 6Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. 7Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ 8Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. 9Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’»

REFLEXÃO

Como é bom escutar o capítulo oitavo da carta aos Romanos. Ecoam nele palavras que esclarecem o mal que há em nós e que, sobretudo, nos abrem à esperança por causa da estupenda libertação do pecado realizada por meio de Cristo Jesus. Já não estamos sob o domínio do mal, mas sob a senhoria do Espírito. E é nesta condição que havemos de viver. O Espírito de Deus actua em nós. Não podemos andar distraídos da sua presença e da sua acção. O Espírito é em nós uma fonte de paz, uma torrente de alegria, uma luz maravilhosa que nos dá uma nova sensibilidade para a palavra e para os caminhos de Deus. Conforme a promessa de Deus, o Espírito põem em acção uma força irresistível e doce que guia para a verdade total e liberta dos vínculos da “carne”. O caminho de conversão, a que somos chamados, passa por uma docilidade cada vez maior ao Espírito. É o que sugere também o texto do evangelho, onde Jesus convida a reflectirmos sobre alguns acontecimentos dramáticos. Tudo deve levar a haurir do Espírito a seiva boa que nos permita produzir frutos de bem para nós e para os outros. Ninguém pode acolher estes convites por nós. Vamos pois para o mar alto da vida, deixando-nos conduzir pelo sopro do Espírito, rumo à liberdade e ao amor.
Hoje, sábado, não podemos deixar de lançar um olhar para Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Peçamos-lhe que nos alcance a graça da fidelidade ao Espírito Santo, para que nos conduza, com força e suavidade, para os braços do Pai e para o Coração de Jesus. «O Espírito aspira ao que dá vida e paz», afirma Paulo (v. 8). Sabemos como flui em nós a paz, quando nos deixamos conduzir pelos desejos do Espírito. Que Maria nos alcance uma constante adesão ao Espírito, na simplicidade e na alegria.

Ricardo Igreja

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