domingo, 7 de agosto de 2011

XXX DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


«Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração,
com toda a tua alma e com todo o teu espírito»
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo»


Leitura do Livro do Êxodo

Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».

LEITURA II - 1 Tes 1,5c-10

Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornaste-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir.

EVANGELHO – Mt 22,34-40

Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».

REFLEXÃO

A resposta de Jesus, no entanto, supera o horizonte estreito da pergunta e vai muito mais além, situando-se ao nível das opções profundas que o homem deve fazer… O importante, na perspectiva de Jesus, não é definir qual o mandamento mais importante, mas encontrar a raiz de todos os mandamentos. E, na perspectiva de Jesus, essa raiz gira à volta de duas coordenadas: o amor a Deus e o amor ao próximo. A Lei e os Profetas são apenas comentários a estes dois mandamentos.
Os cristãos de Mateus usavam a expressão “a Lei e os Profetas” para se referirem aos livros inspirados do Antigo Testamento, que apresentavam a revelação de Deus (cf. Mt 5,17; 7,12). Dizer, portanto, que “nestes dois mandamentos se resumem a Lei e os Profetas” (vers. 40), significa que eles encerram toda a revelação de Deus, que eles contêm a totalidade da proposta de Deus para os homens.
A originalidade deste sumário evangélico da Lei não está nas ideias de amor a Deus a ao próximo, que são bem conhecidas do Antigo Testamento: Jesus limita-Se a citar Dt 6,5 (no que diz respeito ao amor a Deus) e Lv 19,18 (no que diz respeito ao amor ao próximo)… A originalidade deste ensinamento está, por um lado, no facto de Jesus os aproximar um do outro, pondo-os em perfeito paralelo e, por outro, no facto de Jesus simplificar e concentrar toda a revelação de Deus nestes dois mandamentos.
Portanto, o compromisso religioso (que é proposto aos crentes, quer do Antigo, quer do Novo Testamento) resume-se no amor a Deus e no amor ao próximo. Na perspectiva de Jesus, que é que isto quer dizer?
De acordo com os relatos evangélicos, Jesus nunca se preocupou excessivamente com o cumprimento dos rituais litúrgicos que a religião judaica propunha, nem viveu obcecado com o oferecimento de dons materiais a Deus. A grande preocupação de Jesus foi, em contrapartida, discernir a vontade do Pai e a cumpri-la com fidelidade e amor. “Amar a Deus” é pois, na perspectiva de Jesus, estar atento aos projectos do Pai e procurar concretizar, na vida do dia a dia, os seus planos. Ora, na vida de Jesus, o cumprimento da vontade do Pai passa por fazer da vida uma entrega de amor aos irmãos, se necessário até ao dom total de si mesmo.
Assim, na perspectiva de Jesus, “amor a Deus” e “amor aos irmãos” estão intimamente associados. Não são dois mandamentos diversos, mas duas faces da mesma moeda. “Amar a Deus” é cumprir o seu projecto de amor, que se concretiza na solidariedade, na partilha, no serviço, no dom da vida aos irmãos.
Como é que deve ser esse “amor aos irmãos”? Este texto só explica que é preciso “amar o próximo como a si mesmo”. As palavras “como a si mesmo” não significam qualquer espécie de condicionalismo, mas que é preciso amar totalmente, de todo o coração.
Noutros textos mateanos, Jesus explica aos seus discípulos que é preciso amar os inimigos e orar pelos perseguidores (cf. Mt 5,43-48). Trata-se, portanto, de um amor sem limites, sem medida e que não distingue entre bons e maus, amigos e inimigos. Aliás, Lucas, ao contar este mesmo episódio que o Evangelho de hoje nos apresenta, acrescenta-lhe a história do “bom samaritano”, explicando que esse “amor aos irmãos” pedido por Jesus é incondicional e deve atingir todo o irmão que encontrarmos nos caminhos da vida, mesmo que ele seja um estrangeiro ou inimigo (cf. Lc 10,25-37).


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 8, 12-17

Irmãos: somos devedores, mas não à carne, para vivermos de acordo com a carne. 13É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. 14De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. 15Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai! 16Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. 17Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para também com Ele sermos glorificados.

Evangelho: Lucas 13, 10-17

Naquele tempo, 10Ensinava Jesus numa sinagoga em dia de sábado. 11Estava lá certa mulher doente por causa de um espírito, há dezoito anos: andava curvada e não podia endireitar-se completamente. 12Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade.» 13E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus. 14Mas o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado.» 15Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas, não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber? 16E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há dezoito anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» 17Dizendo isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava.

REFLEXÃO

No mundo actual fala-se muito de liberdade, exige-se liberdade. As leituras de hoje levam-nos a meditar sobre esse valor. E é bom que o façamos, para melhor o entendermos, desejarmos, exigirmos, vivermos, respeitarmos. Na primeira leitura, Paulo convida-nos a viver de acordo com o Espírito, a ultrapassar o espírito de escravos, a vivermos na liberdade que nos é dada pelo Espírito, a clamar “Abbá!”, quando nos dirigimos a Deus. De facto, chamamo-nos - «e, realmente, o somos!» - filhos de Deus (1 Jo 3, 1).
No evangelho vemos Jesus libertar uma mulher que «doente por causa de um espírito, há dezoito anos, que andava curvada e não podia endireitar-se completamente» (v. 11). «Mulher, estás livre da tua enfermidade» (v. 12), diz-lhe Jesus, que se indigna com os reparos do chefe da sinagoga, preocupado com a falta de observância do sábado (v. 14).
Deus quer para nós a verdadeira liberdade, aquela de que Paulo indica a condição, à primeira vista contraditória: «todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus» (v. 14). A verdadeira liberdade não é libertinagem, não é espírito de independência, mas docilidade ao Espírito de Deus, na confiança e na simplicidade. Obedecendo ao Espírito de Deus, somos libertados da escravidão do mundo e do pecado.
Podemos ser escravos de muita coisa: da moda, do conformismo, não só quanto ao modo de vestir, mas também de viver. Muitas pessoas não têm coragem de viver como gostariam, e conformam-se ao espírito do mundo, do «homem velho», como escreveu Paulo (Ef 4, 22). Os cristãos são chamados a inventar um modo novo de viver, e a não ser escravos do que se faz ou não se faz, a encontrar caminhos e meios, ainda que inéditos, para fazer o bem, para ser filhos de Deus na liberdade, com imensa confiança no Pai. Podem enganar-se nas suas tentativas. Mas, se actuarem com o Espírito de Deus, o erro não irá longe, será corrigido e tornar-se-á fecundo de bem, conforme ao desígnio de Deus.
Um cristão há-de ser livre, não só diante dos costumes do mundo, mas também no modo como vive a sua condição de filho de Deus. Cada vocação é irrepetível. Não há duas iguais. Mais do que imitar este ou aquele santo, devemos procurar o nosso próprio caminho de santidade, segundo o nosso carisma, isto é, conforme o dom que recebemos do Espírito e as orientações que nos dá. É este o verdadeiro pluralismo cristão.


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 8, 18-25

Irmãos: estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. 19Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus. 20De facto, a criação foi sujeita à destruição - não voluntariamente, mas por disposição daquele que a sujeitou - na esperança 21de que também ela será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. 22Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. 23Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. 24De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? 25Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar.

Evangelho: Lucas 13, 18-21

Naquele tempo, disse Jesus: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? 19É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal. Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos.» 20Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus? 21É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa.»

REFLEXÃO

Paulo abre uma maravilhosa perspectiva de futuro à vida cristã: «estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós» (v. 18). É o dom da esperança que nos ampara, no meio dos sofrimentos e lutas do caminho da vida. «Foi na esperança que fomos salvos», diz o Apóstolo (v. 24). Fomos salvos por Cristo morto e ressuscitado. Mas as consequências da salvação ainda não se manifestaram plenamente em nós. A própria criação «se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus» (v. 19). A vida cristã decorre entre um “já” e um “ainda não”. Entretanto, a acção redentora de Deus continua a realizar-se no mundo, quase sempre de modo discreto, pelo que temos dificuldade em a observar. O modo como o Reino cresce no mundo é descrito por Jesus no evangelho com duas parábolas, uma para o homem e outra para a mulher. Lucas gosta de anotar estas delicadezas do Senhor para com as mulheres. Isso quer dizer que o Senhor convida todos, homens e mulheres, à paciência e à esperança. O Reino de Deus parece coisa pouca, quase nada, mas encerra uma força poderosa. O grão de mostarda mal se vê, mas encerra uma força vital que o faz crescer até se tornar um grande arbusto, onde os pássaros podem poisar. O fermento escondido pela mulher na farinha parece coisa pouca. Mas fá-la fermentar e dá-lhe a capacidade de se tornar pão. O mesmo acontece na nossa vida: devemos acolher o Reino, a Palavra, que é, como palavra, pouca coisa, ar em movimento, mas que é capaz de transformar a nossa vida, desde que tenhamos paciência e confiança. Paciência porque a transformação não acontece de um momento para o outro; confiança porque sabemos que irá acontecer, graças ao poder de Deus em nós. O Reino de Deus foi inaugurado pela presença, pela palavra e pelos actos de Jesus. Mas só se realizará plenamente quando o Filho do homem entregar tudo e todos a Deus, seu Pai. O “Reino de Deus” é uma realidade escatológica, de que Jesus é uma antecipação e uma realização pessoal. Tudo o resto é apenas índice e figura do Reino. Como afirma o Vaticano II, a Igreja é apenas «gérmen e início do Reino de Deus» (LG 5). Aderindo totalmente e com alegria à Pessoa de Jesus, contemplando o Lado aberto do Crucificado e o mistério do Coração de Cristo, testemunhamos o primado do Seu Reino cf. Cst 13).


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 8, 26-30

Irmãos: é o Espírito que vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. 27E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos. 28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. 29Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos. 30E àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.

Evangelho: Lucas 13,22-30

Naquele tempo: Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. 23Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: 24«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. 25Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora e batereis, dizendo: ‘Abre-nos, Senhor!’ Mas ele há-de responder-vos: ‘Não sei de onde sois.’ 26Começareis, então, a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças.’ 27Responder-vos-á: ‘Repito-vos que não sei de onde sois. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.’ 28Lá haverá pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vós a serdes postos fora. 29Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus. 30E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos.»

REFLEXÃO

A primeira leitura leva-nos a contemplar o projecto de Deus acerca do homem: «Àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho» (v. 29). Somos, pois, chamados a tornar-nos semelhantes ao Filho predilecto de Deus, para que nos possa amar com Cristo e n´Ele. Tudo está ordenado para a realização deste projecto: «tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (v. 28), que foram chamados de acordo com o seu projecto de amor. É um pensamento de Deus estabelecido desde sempre: Ele «predestinou-nos». Isto significa que, desde o princípio, fomos destinados a tornar-nos semelhantes ao Filho: «Àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.» (v. 30). Este projecto de Deus deve suscitar a nossa admiração e tornar-se, em nós, uma fonte de confiança e de generosidade constantes. Deus ama-nos, quer que sejamos perfeitos, santos, unidos a Ele em estreitíssima comunhão. É quanto basta para que o seu projecto se torne realidade. Deus pensa sempre nesse projecto e inspira-nos o que havemos de fazer para progredir nesse caminho, dá-nos a força necessária, dá-nos a luz e dá-nos o desejo de corresponder aos seus dons.
Um projecto tão grandioso não está ao alcance das possibilidades humanas. Por nós mesmos, nunca seríamos capazes de nos tornar semelhantes a Jesus. Mas Deus dá-nos esse desejo, e o Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza, para manifestarmos esse anseio: «o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis» (v. 26). Assim quando nos damos conta de que a santidade está para além das nossas capacidades, e deixamos que o Espírito Santo gema em nós, porque somos fracos, porque somos pobres, começa a realizar-se a nossa santidade. E podemos progredir com grande confiança em Deus, que nos predestinou para nos tornarmos semelhantes ao Filho, que quer trabalhar em nós por meio do sofrimento do desejo e, depois, na generosidade da realização.
No evangelho, alguém pergunta a Jesus: «Senhor, são poucos os que se salvam?» (v. 23) Jesus não responde à pergunta, mas acrescenta: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita» (v. 24). O Senhor queria que essa pessoa não ficasse apenas pela especulação, mas assumisse uma atitude de vida. O desejo do Coração de Jesus é que todos se empenhem em entrar no projecto de amor e salvação idealizado por Deus em favor dos homens, projecto tão maravilhosamente descrito por Paulo.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 8, 31b-39

Irmãos: Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? 32Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? 33Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica! 34Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. 35Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? 36De acordo com o que está escrito: Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. 37Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. 38Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, 39nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.

Evangelho: Lucas 13, 31-35

Naquele dia, aproximaram se alguns fariseus, que disseram a Jesus: «Vai-te embora, sai daqui, porque Herodes quer matar-te.» 32Respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Agora estou a expulsar demónios e a realizar curas, hoje e amanhã; ao terceiro dia, atinjo o meu termo. 33Mas hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém.»

REFLEXÃO

Para Paulo, a santidade não é um conjunto de virtudes, mas união com Deus, estar em comunhão com o Deus santo. Deus é santo, é o três vezes santo. «Vós, Senhor, sois verdadeiramente santo, sois a fonte de toda a santidade», reza a Igreja (Oração eucarística II). Deus santo é O totalmente Outro. Para chegar a Ele, precisamos de ser transformados à sua imagem, isto é, de tornar-nos santos. Mas, tornar-nos santos, não é resultado do nosso esforço moral, que jamais nos poderá erguer ao nível de Deus. Para que nos tornemos santos, é preciso que Deus actue e nos torne semelhantes a Ele. A santificação é, antes de mais nada, obra da misericórdia de Deus em nós. É o que diz Paulo. Deus tudo fez para nos levar para junto de Si, para nos pôr em comunhão com Ele, para sermos santos: «nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós; como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?» (v. 32). É por isso que temos confiança, não em nós, mas no amor de Deus que nos ergue até Si, nos santifica, nos dá aquela santidade que nem poderíamos imaginar se, na sua bondade, não nos viesse dá-la. Paulo exclama: «Em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou» (v. 27). A santidade é a maior das vitórias. No Apocalipse está escrito que o prémio é prometido àquele que tiver vencido. Nós somos mais do que vencedores, porque Cristo venceu e nos faz partilhar a sua vitória. Aceitou morrer, e o Pai reussuscitou-O, reconciliou-nos Consigo e deu-nos a possibilidade de nos aproximarmos d´Ele, de partilharmos a sua vida divina. O caminho para a santidade consiste em abrir-nos à acção santificante de Deus, ao seu amor maior que todo e qualquer obstáculo: «nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso», escreve Paulo (v. 38-39). Para progredir na santidade devemos aprofundar constantemente a fé neste amor que Deus nos dá, que tem por nós, que infunde em nós. Os Santos acreditaram neste amor, reconheceram-no em todos os benefícios e em todas as exigências de Deus. As próprias provações, como «a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada», de que fala Paulo (v. 35), foram transformados por Deus, por meio da cruz de Jesus, em manifestações do seu amor por nós, do nosso amor por Ele.


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 9, 1-5

Irmãos: é verdade o que vou dizer em Cristo; não minto, pois é a minha consciência que, pelo Espírito Santo, disto me dá testemunho: 2tenho uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. 3Desejaria ser amaldiçoado, ser eu próprio separado de Cristo, pelo bem dos meus irmãos, os da minha raça, segundo a carne. 4Eles são os israelitas, a quem pertence a adopção filial, a glória, as alianças, a lei, o culto, as promessas. 5A eles pertencem os patriarcas e é deles que descende Cristo, segundo a carne. Deus que está acima de todas as coisas, bendito seja Ele pelos séculos! Ámen.

Evangelho: Lucas 14, 1-6

Naquele tempo: 1Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer uma refeição, todos o observavam. 2Achava-se ali, diante dele, um hidrópico. 3Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da Lei e fariseus, disse-lhes: «É permitido ou não curar ao sábado?» 4Mas eles ficaram calados. Tomando-o, então, pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5Depois, disse-lhes: «Qual de vós, se o seu filho ou o seu boi cair a um poço, 6não o irá logo retirar em dia de sábado?» E a isto não puderam replicar.

REFLEXÃO

O amor de Deus, de que Paulo tanto fala na carta aos Romanos, não exclui ninguém. É um amor oferecido a todos. A caridade do Apóstolo também se dirige a todos, incluindo os seus irmãos de raça, que tanto o fizeram sofrer. Os seus compatriotas fizeram-lhe oposição violenta, perseguiram-no, como vemos no livro dos Actos dos Apóstolos e nas próprias cartas de Paulo. Mas o Apóstolo não alimenta sentimentos de rancor ou de ódio contra eles. Apenas deseja conduzi-los à salvação: «tenho uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração», escreve, porque não crêem em Cristo, estão separados dele. E chega ao extremo: «Desejaria ser amaldiçoado, ser eu próprio separado de Cristo, pelo bem dos meus irmãos» (v. 3). Se estas palavras não estivessem escritas no Novo Testamento, o sentimento que manifestam seria semelhante a um grave pecado. Paulo não diz “desejo”, mas “desejaria”. Desejaria ser amaldiçoado, separado de Cristo, ser anátema, se tal servisse para facilitar a salvação dos seus irmãos. Na verdade, um desejo tão profundo não separa de Cristo, mas une ainda mais a Ele, e aumenta a semelhança com Ele, que aceitou sentir-se abandonado pelo Pai para salvar os seus irmãos pecadores.
No evangelho, Jesus expõe-se à crítica e à condenação para fazer o bem a um homem que sofre. A sua caridade não Lhe permite esperar pelo primeiro dia da semana. Actua, não como se tivesse caído um burro num poço, mas como se tivesse caído um filho. Este e outros actos de bondade e de misericórdia, realizados em favor dos que sofriam, serão a causa da sua condenação.
Encontramos, assim, nas leituras de hoje, dois exemplos de caridade muito profunda: o de Paulo, em favor do seu povo, e o de Cristo em favor de todos nós, que inspira o Apóstolo. A caridade de Cristo não tem limites. A caridade de Paulo, derramada pelo Espírito no seu coração, é idêntica à de Cristo.
Aprendamos a abrir o nosso coração ao amor de Deus, mas também ao amor do próximo. Peçamos ao Senhor que infunda em nós um contínuo sofrimento por causa da sorte de tantos homens, próximos ou longínquos de nós, que não crêem n´Ele, que não percorrem o caminho da salvação. Estamos no mês de Outubro, mês missionário!


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Romanos 11, 1-2ª.11-12.25-29

Irmãos: pergunto então: terá Deus rejeitado o seu povo? De maneira nenhuma! Pois também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. 2Deus não rejeitou o seu povo, que de antemão escolheu. 11Agora eu pergunto: terão eles tropeçado só para cair? De modo nenhum! Pelo contrário, foi devido à sua queda que a salvação chegou aos gentios, e isso aconteceu para que Israel sentisse ciúme deles. 12Ora, se a sua queda reverteu em riqueza para o mundo e a sua perda em riqueza para os gentios, quanto mais não será na plenitude da sua conversão! 25Eu não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que vos não julgueis sábios: deu-se o endurecimento de uma parte de Israel, até que a totalidade dos gentios tenha entrado. 26E é assim que todo o Israel será salvo, de acordo com o que está escrito: Virá de Sião o libertador, que afastará as impiedades do meio de Jacob. 27Esta é a aliança que Eu farei com eles, quando lhes tiver tirado os seus pecados. 28No que diz respeito ao Evangelho, eles são inimigos, para proveito vosso; mas em relação à eleição, são amados, devido aos seus antepassados. 29É que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis.

Evangelho: Lucas 14, 1.7-11

Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer uma refeição, todos o observavam. 7Observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, disse-lhes esta parábola: 8«Quando fores convidado para um banquete, não ocupes o primeiro lugar; não suceda que tenha sido convidado alguém mais digno do que tu, 9venha o que vos convidou, a ti e ao outro, e te diga: ‘Cede o teu lugar a este.’ Ficarias envergonhado e passarias a ocupar o último lugar. 10Mas, quando fores convidado, senta-te no último lugar; e assim, quando vier o que te convidou, há-de dizer-te: ‘Amigo, vem mais para cima.’ Então, isto será uma honra para ti, aos olhos de todos os que estiverem contigo à mesa. 11Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.»

REFLEXÃO

Paulo reflectiu longamente sobre o mistério do seu povo, e sobre o endurecimento e incredulidade do mesmo povo. A queda dos israelitas foi ocasião para fazer entrar em massa os gentios na aliança outrora estabelecida com Abraão, no qual, segundo a promessa, foram realmente abençoadas todas as nações. Mas o Apóstolo sabe que o acolhimento dos pagãos não implica o repúdio de Israel. Não sabemos quando nem como acontecerá o regresso daqueles que foram, e continuarão a ser os “eleitos”. Todos somos convidados ao banquete do Reino, e a sala das bodas não é pequena. Pode acolher-nos a todos, porque tem o tamanho do coração de Deus. O que importa é que o nosso comportamento seja o ditado por Jesus na parábola evangélica. Nós, que agora nos sentimos convidados ao banquete, não devemos entrar com altivez e presunção, colocando-nos no primeiro lugar, mas com a humildade de quem sabe que tudo é graça e dom. A festa só será completa quando Judeus e cristãos realizarmos o desejo de Jesus que veio abater o muro de separação, e a fazer de dois povos um só povo. Pôr-se no último lugar, em relação ao povo Judeu ou a qualquer outro, é uma decisão difícil para o nosso amor-próprio. Mas Jesus faz-nos ver que isso é simples e nos traz a paz. Há que evitar sonhos extraordinários, mesmo no que se refere à santidade, caminhando na humildade, reconhecendo a nossa pequenez e a nossa fraqueza, a nossa imperfeição e, tantas vezes, a nossa infidelidade para com Deus. Tudo isto, sem desanimar, mas louvando ainda mais o Senhor pela sua bondade e pela sua misericórdia. É esse o caminho que nos faz subir até Ele.
Há que unir duas perspectivas: a da nossa vocação à santidade e a da humildade de quem aceita permanecer no último lugar até que o Pai o convide a subir para Ele.
Maria mostra-nos o caminho da santidade. Ela soube unir a extraordinária magnanimidade que o Magnificat nos revela com uma humildade ainda mais extraordinária, uma simplicidade que nos enche de espanto.

Ricardo Igreja

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