domingo, 31 de julho de 2011

XXVI DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO

 
«João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele»


LEITURA I – Ez 18,25-28

Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal o vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abris os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e não morrerá».

LEITURA II – Filip 2,1-11

Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma consolação nos dons do Espírito Santo, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então, completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

EVANGELHO – Mt 21,28-32

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Eles responderam-Lhe: «O primeiro». Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».

REFLEXÃO

A parábola dos dois filhos ilustra duas atitudes diversas diante dos desafios e das propostas de Deus.
O primeiro filho foi convidado pelo pai a trabalhar “na vinha”. A sua primeira resposta foi negativa: “não quero”. No contexto familiar da Palestina do tempo de Jesus, trata-se de uma resposta totalmente reprovável, particularmente porque uma atitude deste tipo ia contra todas as convenções sociais… Enchia um pai de vergonha e punha em causa a sua autoridade diante dos familiares, dos amigos, dos vizinhos. No entanto, este primeiro filho acabou por reconsiderar e por ir trabalhar na vinha (vers. 28-29).
O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: “vou, sim, senhor”. Deu ao pai uma resposta satisfatória, que não punha em causa a sua autoridade e a sua “honra”. Ficou bem visto diante de todos e todos o consideraram um filho exemplar. No entanto, acabou por não ir trabalhar na vinha (vers. 30).
A questão posta, em seguida, por Jesus, é: “qual dos dois fez a vontade do pai?” A resposta é tão óbvia que os próprios interlocutores de Jesus não têm qualquer pejo em a dar: “o primeiro” (vers. 31).
A parábola ensina que, na perspectiva de Deus, o importante não é quem se comportou bem e não escandalizou os outros; mas, de acordo com a lógica de Deus, o importante é cumprir, realmente, a vontade do pai. Na perspectiva de Deus, não bastam palavras bonitas ou declarações de boas intenções; mas é preciso uma resposta adequada e coerente aos desafios e às propostas do Pai (Deus).
É certo que os fariseus, os sacerdotes, os anciãos do Povo, disseram “sim” a Deus ao aceitar a Lei de Moisés… A sua atitude – como a do filho que disse “sim” e depois não foi trabalhar para a vinha – foi irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas, do ponto de vista do cumprimento da vontade de Deus, a sua atitude foi uma mentira, pois recusaram-se a acolher o convite de João à conversão. Em contrapartida, aqueles que, de acordo com o “política e religiosamente correcto” disseram “não” (por exemplo, os cobradores de impostos e as prostitutas), cumpriram a vontade do Pai: acolheram o convite de João à conversão e acolheram a proposta do Reino que Jesus veio apresentar (vers. 32).
Lida no contexto do ministério de Jesus, esta parábola dava uma resposta àqueles que O acusavam de acolher os pecadores e os marginais – isto é, aqueles que, de acordo com as “convenções”, disseram não a Deus. Jesus deixa claro que, na perspectiva de Deus, não interessam as convenções externas, mas a atitude interior. O que honra a Deus não é o que cumpre ritos externos e que dá “boa impressão” às massas; mas é o que cumpre a vontade de Deus.
Mais tarde, a comunidade de Mateus leu a mesma parábola numa perspectiva um pouco diversa. Ela serviu para iluminar a recusa do Evangelho por parte dos judeus e o seu acolhimento por parte dos pagãos. Israel seria esse “filho” que aceitou trabalhar na vinha mas, na realidade, não cumpriu a vontade do Pai; os pagãos seriam esse “filho” que, aparentemente, esteve sempre à margem dos projectos do Pai, mas aceitou o Evangelho de Jesus e aderiu ao Reino.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Zacarias 8, 1-8

A palavra do Senhor do universo foi-me dirigida de novo nestes termos: 2«Assim fala o Senhor do universo: ‘Sinto por Sião um amor ardente, que me provoca ciúme e grande cólera.’» 3Assim fala o Senhor do universo: «Volto a Sião e vou habitar no meio de Jerusalém. Jerusalém será chamada ‘Cidade Fiel’, e a montanha do Senhor do universo, ‘Montanha Santa’.» 4Assim fala o Senhor do universo: «Velhos e velhas sentar-se-ão ainda nas praças de Jerusalém; cada um terá na mão o seu bastão, por causa da sua muita idade. 5As praças da cidade ficarão cheias de meninos e meninas que brincarão nelas.» 6Assim fala o Senhor do universo: «Se isto parece um milagre aos olhos do resto deste povo, acaso será impossível aos meus olhos, naqueles dias?» - oráculo do Senhor do universo. 7Assim fala o Senhor do universo: «Eis que Eu salvo o meu povo dos países do Oriente e dos países do Ocidente. 8Eu os levarei a habitarem em Jerusalém. Eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus em fidelidade e em justiça.»

Evangelho: Lucas 9, 46-50

Naquele tempo, 46veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior. 47Conhecendo Jesus os seus pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si 48e disse-lhes:«Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.» 49João tomou a palavra e disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente connosco.» 50Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós.»

* REFLEXÃO

A Palavra de Deus é sempre viva e penetrante. O texto de Zacarias, que hoje escutamos, é um hino ao poder de Deus, que torna possível o que aos olhos dos homens parece impossível: «Se isto parece um milagre aos olhos do resto deste povo, acaso será impossível aos meus olhos, naqueles dias?» (v. 6). Estas palavras ecoarão, mais tarde no Evangelho: «Aos homens é impossível, mas a Deus tudo é possível» (Mt 19, 26; cf. Mc 10, 16). As palavras do profeta são, pois, um convite à esperança. Deus conduz infalivelmente a realização do seu projecto de salvação. Muitas vezes fá-lo por caminhos e com métodos que nada têm a ver com a lógica humana. É o que sugere o menino que Jesus colocou junto de si (v. 42). O próprio Deus, para nos salvar, se fez Menino simples e pobre, mas rico de amor para com todos.
A fraternidade, que todos desejamos, tem condições. A primeira é, sem dúvida, a humildade. Se nos pomos a discutir sobre quem é o maior, está tudo estragado. Os Apóstolos ainda viviam muito influenciados pela lógica humana. Por isso, «veio-lhes ao pensamento qual deles seria o maior» (v. 46). O desejo de ser grande é natural ao homem e não é um mal. Foi Deus que nos pôs no coração esse desejo, para que façamos por crescer. A questão é que não o façamos à custa dos outros, e saibamos onde está a verdadeira grandeza. Deus não nos repreende por buscá-la, mas ensina-nos o justo caminho para a encontrar: «quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande» (v. 48). A verdadeira grandeza alcança-se pelo serviço amoroso e humilde aos outros. Foi esse o caminho escolhido por Jesus, caminho sintetizado no gesto do lava-pés (Jo 13, 1ss.). O Senhor serviu por amor e com humildade. Foi, por excelência, o servo de Deus e dos homens. Por isso é que Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes (cf. Fl 2, 9). O caminho da verdadeira grandeza passa pelo acolhimento dos pequenos e fracos e pelo serviço que lhes prestamos por amor e com humildade.
A tolerância é outra condição para a fraternidade: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente connosco.» Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós» (vv. 49s.). No seguimento de Cristo, nem todos caminham do mesmo modo, nem tal se pode exigir. Há que respeitar cada um, com as suas capacidades, com os seus carismas, com a sua vocação. Que sentido fazem certas lutas, mais ou menos visíveis, entre comunidades, entre grupos, entre movimentos, na Igreja? Jesus acrescenta uma frase que nos pode parecer contraditória: «quem não é contra vós é por vós» (v. 50). Noutra ocasião tinha dito: «Quem não está comigo, é contra mim» (Mt 12, 30). Mas não há contradição, porque não se trata de Jesus, mas dos discípulos e do modo como O seguem. Os discípulos devem alegrar-se quando virem que outros seguem a Jesus, ainda que de modo diferente do deles. Como estes princípios teriam podido, e podem ainda, evitar tantas discussões, tantas divisões entre os cristãos, e dentro das próprias comunidades!


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Zacarias 8, 20-23

Assim fala o Senhor do universo: «Virão povos e habitantes de grandes cidades. 21E os habitantes de uma cidade irão para outra, dizendo: ‘Vamos implorar a face do Senhor! - Eu também irei procurar o Senhor do universo!’ 22E numerosos povos e nações poderosas virão procurar o Senhor do universo em Jerusalém e implorar a face do Senhor.» 23Assim fala o Senhor do universo: «Naqueles dias, dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela dobra do seu manto e dirão: ‘Nós queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco’.»

Evangelho: Lc 9, 51-56

51Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. 54Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» 55Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 56E foram para outra povoação.

REFLEXÃO

Comecemos por dar atenção às belas palavras de Zacarias: «Naqueles dias, dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela dobra do seu manto e dirão: ‘Nós queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco» (v. 23). Que bom seria que isto continuasse a acontecer hoje com cada um dos membros do novo Povo de Deus, a Igreja. Na Igreja, todos os fiéis deviam ser capazes de fazer sentir que há neles algo de extraordinário: a presença divina, que transforma a vida. Um descrente, ou um simples ouvinte, que entre numa comunidade cristã, vendo o que ali se passa, deveria sentir a necessidade de se prostrar com o rosto por terra, adorar a Deus, e proclamar que Deus está realmente no meio de nós (cf. 1 Cor 14, 24s.), deixando-se atrair para a Igreja. O nosso modo de viver a caridade, a alegria, o Senhor, deve atrair a todos para o caminho da salvação.
O evangelho ajuda-nos a compreender a atitude com que havemos de viver e reagir às dificuldades e oposições. Os discípulos indignaram-se com os habitantes de certa aldeia da Samaria, que não acolheram a Jesus, e propunham uma punição imediata para eles: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» (v. 34). Parecia-lhes justo punir quem não quisesse receber a Jesus. Provavelmente tinham em mente um episódio da vida de Elias. De facto, muita gente dizia que Jesus era Elias que tinha regressado à Terra. Ora, quando o rei Ocozias enviou um grupo de soldados para prender Elias, o profeta invocou o fogo do céu que desceu e reduziu a cinzas esses soldados (cf. 2 Rs 1, 10s.). Os discípulos estavam provavelmente convencidos que a sua reacção era impulsionada pelo Espírito de Deus. Mas Jesus não pensa do mesmo modo e repreende-os. Ele sabe que, sobre os homens que não acolhem a fé, pende a ameaça do castigo. Mas sabe que há tempo para a conversão e tempo para o castigo. Agora é o tempo da conversão! O tempo do juízo será no fim dos tempos. Agora reina a bondade, a misericórdia, a paciência divina. Agora é o tempo da paciência divina (cf. 2 Pd 3, 9ss). E nós devemos participar nessa paciência e não exigir o castigo imediato. Sem a paciência divina, de que Jesus nos dá exemplo, não há verdadeira caridade. Temos que aprender a ser mansos e humildes de coração, como Jesus. Assim suscitaremos nos outros o desejo de se juntarem a nós, porque Deus está connosco.


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Neemias

No mês de Nisan, no vigésimo ano do rei Artaxerxes, como o vinho estivesse diante do rei, tomei-o e ofereci-lho. Ora, jamais eu estivera triste na sua presença. 2O rei disse-me: «Porque tens o semblante tão sombrio? Não estás doente. Portanto, isso só pode ser tristeza do coração.» Eu fiquei muito conturbado, 3e respondi ao rei: «Viva o rei para sempre! Como não hei-de estar triste quando a cidade onde se encontram os túmulos dos meus pais está em ruínas, e as suas portas consumidas pelo fogo?» 4E o rei disse-me: «Que queres?» Então, fiz uma oração ao Deus do céu 5e disse ao rei: «Se aprouver ao rei, e se o teu servo achar graça diante de ti, deixa-me ir ao país de Judá, à cidade onde se encontram os túmulos dos meus pais, a fim de a reconstruir.» 6O rei, junto de quem a rainha se sentara, perguntou-me: «Quanto tempo durará essa viagem? Quando será o regresso?» Aprouve ao rei deixar-me partir, e eu indiquei-lhe a data do regresso. 7Prossegui: «Se o rei achar bem, dêem-me cartas para os governadores da outra margem do rio, de modo que me deixem passar para Judá; 8e também outra carta para Asaf, o intendente da floresta real, a fim de que me forneça madeira para construir as portas da cidadela do templo, para as muralhas da cidade e para a casa que eu habitar.» O rei concordou com o meu pedido porque me favorecia a bondosa mão de Deus.

Evangelho: Lucas 9, 57-62

Naquele tempo, 57Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» 58Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» 59E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» 60Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» 61Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» 62Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.»

REFLEXÃO

A primeira leitura pode levar-nos, mais uma vez, à meditação sobre o dever de cada crente em colaborar na edificação do Povo de Deus e no fortalecimento da sua caminhada na fé. Como discípulos do Senhor, não podemos deixar de sentir uma verdadeira paixão pela sua comunidade, a Igreja.
Mas a primeira leitura e o evangelho também nos podem levar a outra reflexão, sempre importante. As exigências de Jesus, no evangelho, são radicais: «”Segue-me”» … Deixa que os mortos sepultem os seus mortos…Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus». Na primeira leitura, a piedade filial é expressa de modo comovente: Neemias está triste porque a cidade onde estão os túmulos dos seus pais está em ruínas e quer reconstruí-la para que guarde dignamente esses túmulos. A presença de Jesus no meio de nós realiza grandes transformações na nossa vida. Agora, como lemos na Segunda Carta aos Coríntios, estamos no tempo em que «os que vivem, não devem viver mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. De agora em diante, não conhecemos ninguém à maneira humana… Se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que surgiram coisas novas» (2 Cor 5, 15ss.). O desapego que Jesus pede a quem O segue tem em vista esta vida nova, a nova criação que Ele realizou na sua morte e ressurreição. Agora vivemos em Deus, em Cristo Jesus. «Na nossa maneira de ser e de agir, - diz o n. 38 das nossas Constituições - pela participação na construção da cidade terrena e na edificação do Corpo de Cristo, devemos testemunhar eficazmente que é o Reino de Deus e a sua justiça que se devem procurar antes de tudo e acima de tudo (cf. Mt 6,33)». Por isso, o nosso estilo de vida deve ser desapegado de tudo e de todos, sóbrio e simples, denso de fé, e compreendido na caridade. De outro modo, nem ele nem a nossa pregação serão credíveis nem representarão a «Igreja dos pobres».
Peçamos a graça de vivermos como ressuscitados na comunidade dos homens novos, que é a Igreja, contribuindo com a nossa vida desapegada e sóbria, e com nossa dedicação generosa, para a edificação da mesma.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Neemias 8, 1-4ª.5-6.7b-12

Naqueles dias: 1os filhos de Israel já estavam instalados nas suas cidades. Então todo o povo se reuniu, como um só homem, na praça que fica diante da porta das Águas e pediu a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da Lei de Moisés, que o Senhor prescrevera a Israel. 2O sacerdote Esdras apresentou, pois, a Lei diante da assembleia de homens e mulheres e de todos quantos eram capazes de a compreender. Foi no primeiro dia do sétimo mês. 3Esdras leu o livro, desde a manhã até à tarde, na praça que fica diante da porta das Águas, e todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei. 4O escriba Esdras subiu para um estrado de madeira, mandado levantar para a ocasião. 5Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, pois achava-se num lugar elevado acima da multidão. Quando o escriba abriu o livro, todo o povo se levantou. 6Então, Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo respondeu, levantando as mãos: «Ámen! Ámen!» Depois, inclinaram-se e prostraram-se diante do Senhor, com a face por terra 7e os outros levitas explicavam a Lei ao povo, e cada um ficou no seu lugar. 8E liam, clara e distintamente, o livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de modo que se pudesse compreender a leitura. 9O governador Neemias, Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que instruíam o povo disseram a toda a multidão: «Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus; não vos entristeçais nem choreis.» Pois todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei. 10Então, Neemias disse-lhes:«Ide para as vossas casas, fazei um bom jantar, bebei vinho doce e reparti com aqueles que nada têm preparado; este é um dia grande, consagrado a Deus; não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é que é a vossa força.» 11Os levitas exortaram o povo ao silêncio: «Calai-vos! - diziam eles. Este é um dia santo; não vos lamenteis.» 12E todo o povo se retirou para comer e beber, repartir porções pelos pobres e entregar-se a grandes alegrias, porque tinham entendido o sentido das palavras que lhes tinham sido explicadas.

Evangelho: Lucas 10, 1-12

Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós.’ 10Mas, em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: 11‘Até o pó da vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.’» 12«Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade.

REFLEXÃO

A primeira leitura apresenta-nos a comunidade reunida, que escuta a Palavra de Deus e reage. Os que tinham regressado do exílio não tinham um conhecimento adequado da Palavra do Senhor, até porque tinham esquecido o hebraico e tinham começado a falar aramaico. Era preciso ler a Lei, escrita em hebraico, e traduzi-la para aramaico, para que fosse compreendida pelo povo.: «Os outros levitas explicavam a Lei ao povo, e cada um ficou no seu lugar. E liam, clara e distintamente, o livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de modo que se pudesse compreender a leitura» (v. 7s.). A escuta e a compreensão da Palavra de Deus enchem de alegria o povo: «Todo o povo se retirou para comer e beber, repartir porções pelos pobres e entregar-se a grandes alegrias, porque tinham entendido o sentido das palavras que lhes tinham sido explicadas» (v. 12).
Aqueles que estudam a Bíblia têm o dever de tornar possível esta festa, esta alegria. A sua missão é diferente da dos pregadores, que falam directamente ao povo. Os estudiosos preparam a pregação, explicando bem a Palavra de Deus, para que a pregação possa ser mais fiel à Palavra e mais frutuosa. Assim contribuem para a instrução do povo, para a sua alegria. «A alegria do Senhor é que é a vossa força», diz Neemias (v. 10). A força e a alegria vêm da Palavra de Deus, que é alimento e luz, que é a maior consolação que temos na terra.
A escuta da Palavra de Deus provoca, em primeiro lugar, a conversão, que se torna caridade, atenção aos mais carenciados, impulso de partilha e de fraternidade: «Reparti com aqueles que nada têm preparado» (v. 10). O encontro salvífico com Deus, e a caridade para com o próximo, provocados pela escuta livre e acolhedora da Palavra, produzem em nós a verdadeira alegria, que jamais acabará: «Fiéis à escuta da Palavra… somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento» (Cst 17).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Baruc 1, 15-22

Para o Senhor nosso Deus, a justiça; para nós, porém, a vergonha, estampada no rosto, como acontece hoje para os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém, 16para os nossos reis e príncipes, os sacerdotes, os profetas e os nossos antepassados, 17porque pecámos contra o Senhor. 18Desobedecemos ao Senhor nosso Deus, não ouvimos a sua voz nem seguimos os mandamentos que Ele nos deu. 19Desde o dia em que o Senhor tirou os nossos pais da terra do Egipto até hoje, temos desobedecido ao Senhor, nosso Deus e, na nossa leviandade, recusámos ouvir a sua voz. 20Por isso, agora, persegue-nos o infortúnio e a maldição que o Senhor predissera pela boca de Moisés, seu servo, quando tirou os nossos pais da terra do Egipto, a fim de nos dar uma terra onde mana leite e mel. 21Nós, porém, não escutámos a voz do Senhor, nosso Deus, conforme a palavra dos profetas, que Ele nos enviou. 22Cada um de nós, andou segundo as inclinações do seu mau coração, servindo deuses estrangeiros e praticando o mal aos olhos do Senhor, nosso Deus".

Evangelho: Lucas 10, 13-16

Naquele tempo, Jesus disse: 13Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza. 14Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. 15E tu, Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada. 16Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.»

REFLEXÃO

As duas leituras convidam-nos ao arrependimento e à penitência. O cristão, que quiser ser fiel a Jesus, deve sofrer com os seus pecados e com os que se cometem à sua volta, fazendo sua a oração de Baruc: «Para o Senhor nosso Deus, a justiça; para nós, porém, a vergonha, estampada no rosto» (v. 15). Trata-se de uma oração inspirada na catástrofe nacional, que aniquilou o povo judeu e o levou para o exílio. Perante esses factos, os Judeus voltaram-se para a sua vida e para a sua história, reconhecendo a sua infidelidade e o seu pecado: «Pecámos contra o Senhor. Desobedecemos ao Senhor nosso Deus, não ouvimos a sua voz nem seguimos os mandamentos que Ele nos deu» (v. 17s.).
O novo povo de Deus, que é a Igreja, também precisa de olhar para a sua vida e para a sua história, reconhecer os seus pecados e manter uma atitude de contínua penitência e conversão. O duro aviso de Jesus às cidades ribeirinhas do lago de Genesaré também se dirige a nós, que lemos a Palavra de Deus e, particularmente, o Evangelho. Todos corremos o risco de deixar endurecer o coração e de nos fecharmos à escuta da Palavra, à penitência e à mudança de vida que ela cada dia nos sugere. Tanto Baruc como Jesus nos convidam a reconhecer e a confessar os nossos pecados, afirmando, ao mesmo tempo, a fidelidade e a misericórdia de Deus. Mas podemos e devemos pensar também nos pecados do mundo, no ódio que aqui e ali explode ferozmente, fazendo vítimas inocentes, na corrupção que torna possíveis tantos abusos, nos pobres que continuam a ser oprimidos, nos ricos que não querem partilhar os seus bens nem ceder nos seus privilégios, na imoralidade de toda a espécie que, como maré negra, nos cerca destruindo a vida. Há que tomar sobre nós tudo isto, com a solidariedade de quem partilha e quer, com Jesus, tirar o pecado do mundo: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!» (Jo 1, 29).
Escutemos as nossas Constituições, que são fruto da nossa leitura do Evangelho, à luz do nosso carisma: «Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora, pela realização de todas as nossas tarefas, queremos unir-nos a Cristo presente na vida do mundo e, em solidariedade com Ele e com toda a humanidade e a criação inteira, oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (cf. Rm 12,1). «Caminhai no amor segundo o exemplo de Cristo que nos amou e Se entregou por nós a Deus, como oferenda e sacrifício de agradável odor» (Ef 5,2) (Cst 22). A nossa reparação é cooperação na obra redentora de Deus no coração do mundo (cf. Cst 23), que consiste em libertar os homens do pecado e das suas consequências, e em transformá-lo em oblação santa e agradável a Deus.


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Baruc 4, 5-12.27-29

5Coragem, povo meu, que trazes o nome de Israel! 6Fostes vendidos às nações, mas não para serdes aniquilados. Porque provocastes a ira de Deus, fostes entregues aos inimigos. 7Irritastes o vosso criador, oferecendo sacrifícios aos demónios e não a Deus. 8Esquecestes o vosso criador, o Deus eterno, e contristastes Jerusalém, que vos alimentou. 9Quando viu precipitar-se sobre vós o castigo de Deus, disse: «Escutai, nações vizinhas de Sião! Deus enviou-me um grande tormento. 10Vi o cativeiro dos meus filhos e filhas, que o Eterno lhes infligiu. 11Eu tinha-os criado com alegria e despedi-os com lágrimas e tristeza. 12Que ninguém se regozije com a minha viuvez e o meu desamparo! Se estou deserta, é por causa dos pecados dos meus filhos, porque se afastaram da Lei de Deus. 27Coragem, meus filhos, clamai ao Senhor, porque aquele mesmo que vos provou, há-de lembrar-se de vós. 28Se um dia quisestes afastar-vos de Deus, convertei-vos, agora, e procurai-o com um empenho dez vezes maior; 29pois aquele que vos enviou o castigo vos trará a alegria eterna da vossa salvação.»

Evangelho: Lucas 10, 17-24

Naquele tempo, 17os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» 18Disse-lhes Ele:«Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. 19Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.» 21Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque - digo-vos - muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!»

REFLEXÃO

Jerusalém, comparada a uma viúva desamparada e desolada com a sorte dos seus filhos, mas também cheia de esperança na sua recuperação, faz-nos pensar em Maria, mãe da verdadeira Jerusalém, preocupada com os seus filhos, que não seguem o Senhor, mas andam afastados dele por causa dos seus pecados.
De facto, nas suas diversas aparições, a Virgem manifesta sempre a sua materna solicitude pelos pecadores, exortando a rezar e a fazer penitência por eles. Pensemos nas aparições de Fátima, nas palavras de Maria e na seriedade e empenho com que os Pastorinhos as acolheram! Todavia, nas intervenções da Senhora, também há sempre palavras de encorajamento, semelhantes às de Jerusalém: «Coragem, meus filhos, clamai ao Senhor, porque aquele mesmo que vos provou, há-de lembrar-se de vós. Se um dia quisestes afastar-vos de Deus, convertei-vos, agora, e procurai-o com um empenho dez vezes maior; pois aquele que vos enviou o castigo vos trará a alegria eterna da vossa salvação» (v. 27ss.). Maria ama-nos e quer a nossa felicidade e a nossa alegria. Por isso, clama: «Fazei penitência!... Rezai pelos pobres pecadores!» O caminho da alegria e o caminho da conversão coincidem.
A reparação do pecado, que ofende a Deus e prejudica o homem, deve ser um dos nossos principais objectivos como cristãos e como dehonianos: «O Padre Dehon espera que os seus religiosos sejam profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens e do mundo em Cristo (cf. 2 Cor 5,18). Assim comprometidos com Ele, para reparar o pecado e a falta de amor na Igreja e no mundo, prestarão com toda a sua vida, com as orações, trabalhos, sofrimentos e alegrias, o culto de amor e de reparação que o seu Coração deseja (cf. NQ XXV, 5) (Cst 7). «Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora, pela realização de todas as nossas tarefas, queremos unir-nos a Cristo presente na vida do mundo e, em solidariedade com Ele e com toda a humanidade e a criação inteira, oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (cf. Rom 12,1).» (Cst 22).
Voltando-nos para o evangelho, talvez não seja difícil reconhecer-nos nos discípulos que regressam cansados de uma missão cujos resultados não são fáceis de avaliar. Por um lado, não tiverem sucesso com pessoas junto das quais esperavam alcançá-lo; por outro lado, reconhecem o surpreendente acolhimento obtido junto de outras de quem o não esperavam. É o que acontece com todos aqueles que se dedicam ao anúncio do Evangelho. Então, é preciso voltarmos a escutar Jesus que dá graças ao Pai e rejubila no Espírito pelos seus imperscrutáveis desígnios que revelam o mistério do Reino aos últimos, aos humildes, e o escondem «aos sábios», aos soberbos, aos que contam com a sua presumida justiça. E, mais uma vez, nos podemos lembrar dos Pastorinhos e de tantos outros “pequenos e humildes” a quem Deus revelou por meio da Virgem Maria importantes mistérios do Reino.

Ricardo Igreja

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