domingo, 31 de julho de 2011

XXV DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


«Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos»





LEITURA I – Is 55,6-9

Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.

LEITURA II – Filip 1,20c-24.27a

Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal é útil para o meu trabalho, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.

EVANGELHO – Mt 20,1-16a

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um proprietário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meio da manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’ Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que eu quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’ Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos».

REFLEXÃO

A parábola refere-se, portanto, a um dono de uma vinha que, ao romper da manhã, se dirigiu à praça e chamou os seus “clientes” para trabalhar na sua vinha, ajustando com eles o preço habitual: um denário. O volume de tarefas a realizar na vinha fez com que este patrão voltasse a sair a meio da manhã, ao meio-dia, às três da tarde e ao cair da tarde e que trouxesse, de cada vez, novas levas de trabalhadores. O trabalho decorreu sem incidentes, até ao final do dia.
Ao anoitecer, os trabalhadores foram chamados diante do senhor, a fim de receberem a paga do trabalho. Todos – quer os que só tinham trabalhado uma hora, quer os que tinham trabalhado todo o dia – receberam a mesma paga: um denário. Contudo, os trabalhadores da primeira hora (os “clientes” habituais do dono da vinha) manifestaram a sua surpresa e o seu desconcerto por, desta vez, não terem recebido um tratamento “de favor”.
A resposta final do dono da vinha afirma que ninguém tem nada a reclamar se ele decide derramar a sua justiça e a sua misericórdia sobre todos, sem excepção. Ele cumpre as suas obrigações para com aqueles que trabalham com ele desde o início; não poderá ser bondoso e misericordioso para com aqueles que só chegam no fim? Isso em nada deveria afectar os outros…
Muito provavelmente, a parábola serviu primariamente a Jesus para responder às críticas dos adversários, que O acusavam de estar demasiado próximo dos pecadores (os trabalhadores da última hora). Através dela, Jesus mostra que o amor do Pai se derrama sobre todos os seus filhos, sem excepção e por igual. Para Deus, não é decisiva a hora a que se respondeu ao seu apelo; o que é decisivo é que se tenha respondido ao seu convite para trabalhar na vinha do Reino. Para Deus, não há tratamento “especial” por antiguidade; para Deus, todos os seus filhos são iguais e merecem o seu amor.
A parábola serviu a Jesus, também, para denunciar a concepção que os teólogos de Israel tinham de Deus e da salvação. Para os fariseus, sobretudo, Deus era um “patrão” que pagava conforme as acções do homem. Se o homem cumprisse escrupulosamente a Lei, conquistaria determinados méritos e Deus pagar-lhe-ia convenientemente. Segundo esta perspectiva, Deus não dá nada; é o homem que conquista tudo. O “deus” dos fariseus é uma espécie de comerciante, que todos os dias aponta no seu livro de registos as dívidas e os créditos do homem, que um dia faz as contas finais, vê o saldo e dá a recompensa ou aplica o castigo.
Para Jesus, no entanto, Deus não é um contabilista, sempre de lápis na mão a fazer as contas dos homens para lhes pagar conforme os seus merecimentos; mas é um pai, cheio de bondade, que ama todos os seus filhos por igual e que derrama sobre todos, sem excepção, o seu amor.
A parábola foi, depois, proposta por Mateus à sua comunidade (provavelmente a comunidade cristã de Antioquia da Síria) para iluminar a situação concreta que a comunidade estava a viver com a entrada maciça de pagãos na Igreja. Alguns cristãos de origem judaica não conseguiam entender que os pagãos, vindos mais tarde, estivessem em pé de igualdade com aqueles que tinham acolhido a proposta do Reino desde a primeira hora. Mateus deixa, no entanto, claro que o Reino é um dom oferecido por Deus a todos os seus filhos, sem qualquer excepção. Judeus ou gregos, escravos ou livres, cristãos da primeira hora ou da última hora, todos são filhos amados do mesmo Pai. Na comunidade de Jesus não há graus de antiguidade, de raça, de classe social, de merecimento… O dom de Deus destina-se a todos, por igual.
Conclusão: A parábola convida-nos a perceber que o nosso Deus é o Deus que oferece gratuitamente a salvação a todos os seus filhos, independentemente da sua antiguidade, créditos, qualidades, ou comportamentos. Os membros da comunidade do Reino não devem, por isso, fazer o bem em vista de uma determinada recompensa, mas para encontrarem a felicidade, a vida verdadeira e eterna.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Esdras 1, 1-6

No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor pronunciada por Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, o qual mandou publicar em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, o seguinte decreto: 2«Assim fala Ciro, rei da Pérsia: ‘O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, cidade de Judá. 3Quem de vós pertence ao seu povo? Que o seu Deus esteja com ele. Suba a Jerusalém, que fica na terra de Judá, e construa o templo do Senhor, Deus de Israel, o Deus que reside em Jerusalém. 4Todos os sobreviventes, onde quer que habitem, sejam providos pelos habitantes das localidades onde se encontram, de prata, ouro, cereais, gado e ofertas voluntárias para o templo do Deus que reside em Jerusalém.’» 5Assim, os chefes das famílias de Judá e de Benjamim, os sacerdotes e levitas e todos aqueles a quem Deus movera os corações, prepararam-se para ir reedificar o templo do Senhor que está em Jerusalém. 6Todos os que viviam nas redondezas ajudaram-nos, dando-lhes prata, ouro, bens diversos, gado, cereais e coisas preciosas, além de outras ofertas voluntárias.

Evangelho: Lucas 8, 16-18

Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 16«Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. 17Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz. 18Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.»

REFLEXÃO

Para entrarmos em comunhão com Deus, para acolhermos o seu projecto de amor sobre nós, há uma condição: escutar a sua Palavra. É a Palavra do Senhor que nos permite enfrentar condições difíceis e empreender novos caminhos. Foi a Palavra do Senhor que moveu os exilados a porem de parte os interesses consolidados em Babilónia para regressarem a Jerusalém e iniciarem a reconstrução do templo, da cidade e do povo de Deus.
«Vede como ouvis», diz-nos o Senhor (Lc 8, 18). Tudo começa por uma boa escuta da Palavra de Deus e pela obediência a essa Palavra. O Senhor e a sua Palavra são causa digna à qual dedicar tudo o que somos: «Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado» (Mt 13, 12). Se escutarmos a Palavra de modo adequado (escuta integral, constante e obediente, aderente à existência) experimentamos a luz do evangelho e tornamo-nos testemunhas eficazes. Há que escutar e aprofundar a Palavra. Há que acolhê-la com todo o coração.
Na reconstrução do templo, lemos a profecia da morte e da ressurreição de Cristo: o templo destruído, ressurge. A ressurreição é a verdadeira reconstrução do Templo de que, também nós, fazemos parte.
No édito de Ciro há um pormenor que nos toca de perto. É verdade que o novo templo de Jerusalém é reconstruído pelos Judeus. Mas também os pagãos são chamados a colaborar: «Todos os sobreviventes, onde quer que habitem, sejam providos pelos habitantes das localidades onde se encontram, de prata, ouro, cereais, gado e ofertas voluntárias para o templo do Deus que reside em Jerusalém» (v. 4). Esta ideia é retomada por Paulo, quando fala da oferenda dos gentios (cf. Rm 15, 16). Mas, quando a palavra de Deus se realiza, a realização ultrapassa sempre o que se tinha entendido num primeiro momento: a oferenda dos gentios é, na verdade, a oferenda de si mesmos, como pedras para a construção do novo templo. Nós, que não éramos povo de Deus, fomos aceites para formar o templo de Deus, com os Apóstolos e os Profetas (cf. 1 Pe 2, 5.10).
Reconhecemos nesta página a nossa própria história, o privilégio que temos em participar na construção do templo de Deus, não só com ofertas materiais, mas com a oferta da nossa pessoa, unida à oferta do Senhor Jesus.
Podemos descobrir a convergência profunda entre a nossa espiritualidade dehoniana e o apostolado missionário nos ensinamentos do Vaticano II. O decreto Ad Gentes, propõe-nos três razões para fundamento da actividade missionária. Ora essas razões são características da nossa espiritualidade: a vontade do Pai, que quer que todos os homens se salvem e participem na salvação realizada por Cristo Jesus; a exigência de amor, de caridade que anima a Igreja, Corpo de Cristo; a constituição de todo o género humano no único Povo de Deus, a sua reunião no único corpo de Cristo, a sua edificação no único templo do Espírito Santo”... À convergência profunda entre o apostolado missionário e a nossa espiritualidade deve corresponder um adequado estilo de vida missionária.


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Esdras 6, 7-8.12b.14-20

Naqueles dias, Dario, rei da Pérsia, escreveu às autoridades da província ocidental do Eufrates, dizendo: 7«Deixai continuar os trabalhos do templo de Deus e que o governador dos judeus e seus anciãos o reconstruam no seu lugar. 8Também ordeno como se deve proceder para com esses anciãos dos judeus a fim de que seja reconstruído o templo de Deus: das receitas reais, provenientes dos impostos, pagos na outra margem do rio, pague-se integralmente a esses homens, para que a obra não sofra interrupção; 12bEu, Dario, dei esta ordem. Que ela seja pontualmente executada.» 14Os anciãos dos judeus prosseguiram com êxito a reconstrução do templo, segundo as profecias de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ido. Terminaram a construção, segundo a ordem do Deus de Israel e segundo a ordem de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, reis da Pérsia. 15Concluiu-se o edifício no terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado de Dario. 16Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e os demais repatriados celebraram com júbilo a dedicação do templo de Deus. 17Ofereceram, para esta dedicação, cem touros, duzentos carneiros, quatrocentos cordeiros e doze bodes, como vítimas expiatórias pelos pecados de todo o Israel. 18Distribuíram os sacerdotes segundo as suas classes e os levitas segundo as suas divisões, para celebrarem o culto de Deus em Jerusalém, conforme as prescrições do livro de Moisés. 19Os repatriados celebraram a Páscoa no dia catorze do primeiro mês. 20Os sacerdotes e os levitas, sem excepção, purificaram-se e, assim, todos estavam puros. Imolaram a Páscoa por todos os repatriados, pelos seus irmãos sacerdotes e por eles mesmos.

Evangelho: Lucas 8, 19-21

Naquele tempo, 19sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. 20Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» 21Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.»

REFLEXÃO

Uma das problemáticas mais prementes da sociedade actual é a relacionada com a família, onde emergem graves dificuldades, por causa da falta de valores e da clivagem das relações. As consultas sócio-psicológicas e as intervenções legislativas são insuficientes para ultrapassar o mal-estar. É preciso regressar à mensagem evangélica sobre a família.
Jesus reconhece o valor da família, enquanto radicada na intenção original do Criador. Mas também lhe relativiza a importância. O valor da família, como nos recorda o evangelho de hoje, é inferior e subordinado ao da nova família do Reino. A urgência do apelo à conversão e ao acolhimento do Reino explica certas exigências de Jesus.
A primeira leitura fala da «casa de Deus», e o evangelho fala da família de Jesus. Na Bíblia, o termo casa tanto significa edifício como família. Quando se fala da «casa de David», tanto se entende a habitação como a estirpe de David.
De acordo com as palavras de Jesus, se escutamos a Palavra de Deus, e a pusermos em prática, tornamo-nos seus irmãos, e até sua mãe. Formamos a família de Jesus. Tornamo-nos «casa de Deus», isto é, sua família e seu templo. Realiza-se, desse modo, o projecto de Deus em habitar com os homens. Não só no meio deles, mas neles, para os unir numa aliança que os faz um único edifício, uma única família e, até, um só corpo, o corpo de Cristo.
Todas as nossas acções devem tender para este fim: formar o templo de Deus, o corpo de Cristo. Para isso, é essencial escutar a Palavra de Deus, acolher a Palavra de Deus que nos transforma, fazendo de nós pedras vivas que podem entrar na construção da casa de Deus. A Palavra de Deus é poder de Deus e é capaz de nos assimilar ao seu projecto para que, de verdade, possamos «santificar o seu nome», sendo família do Senhor, corpo de Cristo.
Reencontramos, assim, o ideal que os profetas Ageu e Zacarias procuravam infundir no povo dos exilados regressados a Jerusalém, e incomodados com as dificuldades da empresa. Escutar, como Maria, a Palavra, pô-la em prática como Ela, e viver a consequente bem-aventurança, não significa entrar numa atmosfera de felicidade intimista, mas tornar-se activos colaboradores do sonho de Deus: formar uma família de filhos e filhas, grande como a humanidade inteira.


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Esdras 9, 5-9

Na hora da oblação da tarde, levantei-me da minha aflição, com as minhas vestes e o meu manto rasgados; e, então, caindo de joelhos, estendi as mãos para o Senhor, meu Deus, 6e disse: «Meu Deus, estou envergonhado e confuso, ao levantar a minha face para ti, meu Deus; porque as nossas iniquidades acumulam-se sobre as nossas cabeças, e os nossos pecados chegam até ao céu. 7Desde o tempo dos nossos pais até ao dia de hoje, temos sido gravemente culpados; e, por causa das nossas iniquidades, fomos escravizados, nós, os nossos reis e os nossos sacerdotes, entregues à mercê dos reis dos outros países, à espada, ao cativeiro, à pilhagem e à vergonha que nos cobre ainda o rosto nos dias de hoje. 8Entretanto, o Senhor, nosso Deus, testemunhou-nos a sua misericórdia, deixando subsistir um resto do nosso povo e concedeu-nos refúgio no seu lugar santo. O nosso Deus quis, assim, fazer brilhar aos nossos olhos a sua luz e dar-nos um pouco de vida no meio da nossa servidão. 9Porque nós somos escravos, mas o nosso Deus não nos abandonou no nosso cativeiro. Ele concedeu-nos a benevolência dos reis da Pérsia, conservando-nos a vida para reconstruirmos a morada do nosso Deus e reerguermos as suas ruínas, e prometeu-nos um refúgio seguro em Judá e em Jerusalém.

Evangelho: Lucas 9, 1-6

Naquele tempo, Jesus, 1tendo convocado os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curarem doenças. 2Depois, enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os doentes, 3e disse-lhes: «Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. 4Em qualquer casa em que entrardes, ficai lá até ao vosso regresso. 5Quanto aos que vos não receberem, saí dessa cidade e sacudi o pó dos vossos pés, para servir de testemunho contra eles.» 6Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia, anunciando a Boa-Nova e realizando curas por toda a parte.

REFLEXÃO

O Evangelho é anúncio do desígnio eterno de Deus, manifestado em Cristo, de convocar um povo que experimente a sua proximidade, a força de um amor que transforma todas as situações e faz brilhar os nossos olhos porque, como aos exilados em Babilónia, Deus nos liberta da escravidão do nosso pecado, do deserto do nosso desespero.
A construção da casa de Deus não é obra humana. Só Jesus tem esse poder, e o transmite aos Doze: «Tendo convocado os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curarem doenças» (Lc 9, 1). Mas, para que ficasse claro que a obra, a que foram chamados, não é obra humana, Jesus pediu-lhes que não se preocupassem com nada, nem com o que parece indispensável: «Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas» (Lc 9, 3).
A primeira leitura mostra-nos que a construção do Povo de Deus é obra divina, que havemos de preparar com a humilde confissão dos nossos pecados «Meu Deus, estou envergonhado e confuso, ao levantar a minha face para ti, meu Deus; porque as nossas iniquidades acumulam-se sobre as nossas cabeças, e os nossos pecados chegam até ao céu» (v. 6). Este reconhecimento do pecado pessoal e do pecado colectivo é condição para «reerguer a casa de Deus» e «restaurar as ruínas». Sem a humilde e o arrependimento dos pecados, a obra divina não pode realizar-se. Mas, sobre os fundamentos da humildade e do arrependimento, Deus pode construir, e fá-lo com a abundância da sua misericórdia. É por isso que um antigo padre do deserto afirmou: «o primeiro degrau para subir à santidade é reconhecer o próprio pecado». Também o melhor meio de contribuirmos para a edificação da Igreja é oferecermos o nosso arrependimento e a nossa dor por causa dos nossos pecados, confiando sempre na misericórdia divina.
Aceites com o mesmo amor de Cristo, os nossos sofrimentos e a nossa própria morte, tornam-se tempos de «união à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens» (Cst 6), são, no mistério do Corpo Místico e da Comunhão dos Santos, um eficaz apostolado (cf. Cst 31). Somos, deste modo, sacerdotes e vítimas em Cristo Sacerdote e Vítima; somos Eucaristia viva do Senhor: «Correspondemos, assim, a uma exigência da nossa vocação reparadora (cf. Cst 6.22.24.26.27). Na adoração eucarística, queremos aprofundar a nossa união ao sacrifício de Cristo para a reconciliação dos homens com Deus (Cst 83); somos «Oblatos, Sacerdotes do Coração de Jesus» que, conforme a vontade do Pe. Dehon, unem «de forma explícita, a sua vida religiosa e apostólica à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens» (Cst 6).


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ageu 1, 1-4

No segundo ano do reinado de Dario, no primeiro dia do sexto mês, a palavra do Senhor foi dirigida, por intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Joçadac, Sumo Sacerdote, nestes termos: 2«Eis o que diz o Senhor do universo: Este povo diz: ‘Não chegou ainda o momento de reedificar o templo do Senhor.’» 3E a palavra do Senhor foi dirigida por meio do profeta Ageu, nestes termos: 4«É então tempo para vós habitardes em casas confortáveis, enquanto esta casa está em ruínas?»

Evangelho: Lucas 9, 7-9

Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que se passava; e andava perplexo, pois alguns diziam que João ressuscitara dos mortos; outros, 8que Elias aparecera, e outros, que um dos antigos profetas ressuscitara. 9Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar, mas quem é este de quem oiço dizer semelhantes coisas?» E procurava vê-lo.

REFLEXÃO

O livro do profeta Ageu, apesar de não ter para nós, novo povo de Deus, a importância que teve para o antigo povo de Deus, conserva ainda aspectos de grande actualidade. A mensagem do profeta está centrada na reconstrução do templo, habitação de Deus no meio do seu povo.
Como lemos no livro de Esdras, Ciro permitiu o regresso dos exilados a Jerusalém. Passados muitos anos, já no tempo de Dário, o povo vivia em boas casas, mas tinha descuidado a reconstrução do templo, a morada do Senhor. Surge, então, o profeta Ageu, que clama: «É então tempo para vós habitardes em casas confortáveis, enquanto esta casa está em ruínas?» (v. 4). Esta advertência do profeta é uma boa ocasião para fazermos um exame de consciência e verificarmos se não caímos, também nós, na tentação de nos interessarmos primeiro pela nossa “casa”, deixando ao abandono a casa de Deus. A casa de Deus, hoje, é a Igreja. Também ela precisa de cuidados, de serviços feitos com zeloso e coragem, de testemunhos entusiastas e perseverantes. O aviso do profeta, que encontrou eco no coração de tantos santos e santas, por exemplo, em Francisco de Assis, continua actual: «Subi à montanha, trazei madeira e reedificai a casa; ela me será agradável e nela serei glorificado» (1, 8).
Há que trabalhar na Igreja, para que, cada vez mais, resplandece no mundo como sinal e instrumento da salvação realizada por Jesus Cristo. Trabalhar pela Igreja, segundo os carismas e os ministérios de cada um, não é tarefa fácil. Mas é, sem dúvida, apaixonante. Dá sentido à vida. Por isso, tantos irmãos e irmãs se entregaram e entregam a ela, muitas vezes a vida inteira. Pensemos nos sacerdotes, nos religiosos e religiosas, nos missionários e missionárias, em tantos leigos e leigas comprometidos ao serviço do povo de Deus. Infelizmente, talvez sobretudo nos países de antiga tradição cristã, são ainda muitos aqueles que se contentam com uma religiosidade descomprometida, que apenas procura o sensacionalismo, que não passa de conversa inútil e superficial, semelhante à de Herodes Antipas.
Seguir Jesus implica compromisso pessoal para que se realize o seu projecto de reunir o povo de Deus para o tempo da salvação. Peçamos ao Senhor a graça de um zelo ardoroso em servi-lo. Que não nos limitemos a buscar os nossos interesses.
«Longe de nos alhear dos homens, a nossa profissão dos conselhos evangélicos torna-nos mais solidários com a sua vida. Na nossa maneira de ser e de agir, pela participação na construção da cidade terrena e na edificação do Corpo de Cristo, devemos testemunhar eficazmente que é o Reino de Deus e a sua justiça que se devem procurar antes de tudo e acima de tudo (cf. Mt 6,33). «E não se julgue que os religiosos, pela sua consagração, se alheiam dos homens ou se tornam inúteis à sociedade terrena. Pois, embora algumas vezes não se ocupem directamente dos seus contemporâneos, têm-nos presentes, de modo mais profundo, nas entranhas de Cristo e colaboram espiritualmente com eles, a fim de que a edificação da cidade terrena se alicerce sempre no Senhor e para Ele se oriente, não suceda trabalharem em vão os construtores» (LG 46) (Cst 38).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ageu 1, 15b – 3, 9

No segundo ano do rei Dario, no vigésimo primeiro dia do sétimo mês, a palavra do Senhor fez-se ouvir por meio do profeta Ageu, nestes termos: 2«Fala ao governador de Judá, Zorobabel, filho de Salatiel, ao Sumo Sacerdote Josué, filho de Joçadac, e ao resto do povo: 3Quem é que resta entre vós que tenha visto este templo na sua glória passada? E como o vedes agora? Não vos parece que não é nada? 4Mas agora coragem, Zorobabel! Coragem, Josué, Sumo Sacerdote, filho de Joçadac! Coragem, povo todo do país! Mãos à obra! Pois Eu estou convosco - oráculo do Senhor do universo. 5Segundo a aliança que fiz convosco quando saístes do Egipto, o meu espírito permanece no meio de vós. Não temais. 6Porque assim fala o Senhor do universo: Ainda um pouco de tempo e Eu abalarei o céu e a terra, os mares e os continentes. 7Sacudirei todas as nações para que afluam os tesouros de todas as nações e encherei de glória este templo - diz o Senhor do universo. 8A prata e o ouro me pertencem - diz o Senhor do universo. 9O esplendor futuro deste templo será maior que o primeiro - oráculo do Senhor do universo, e neste lugar Eu darei a paz» - diz o Senhor do universo.

Evangelho: Lucas 9, 18-22

18Um dia, quando Jesus orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» 19Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.» 20Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.»

REFLEXÃO

«Coragem, Zorobabel! Coragem, Josué, Sumo Sacerdote, filho de Joçadac! Coragem, povo todo do país! Mãos à obra! Pois Eu estou convosco… o meu espírito permanece no meio de vós. Não temais» (v. 4). Como devem ter sido encorajantes estas palavras para os desanimados reconstrutores do templo e da cidade de Jerusalém. Os Judeus tinham regressado à pátria com grandes sonhos e projectos. A reconstrução do templo era, sem dúvida, uma tarefa prioritária. Mas surgiram muitas dificuldades, seja pela falta de meios para uma tão grande obra, seja por causa dos comentários dos saudosos do antigo templo, que sessenta e tantos anos antes tinham contemplado a sua magnificência e o esplendor das suas liturgias. O actual parecia-lhes pouca coisa. Nesta situação de desânimo, ecoa a Palavra do Senhor: «coragem… Eu estou convosco… o meu espírito permanece no meio de vós. Não temais» (v. 4).
Para sabermos as condições em que o Senhor trabalha connosco, precisamos de dar atenção às duas leituras de hoje. A. Vanhoye diz que elas lembram as regras de S. Inácio para os momentos de desolação e de consolação: quando nos sentimentos consolados, cheios de coragem e de optimismo, havemos de pensar nas dificuldades que hão-de vir, na desolação que há-de chegar e preparar-nos para ela. O evangelho vai nesse sentido. É um evangelho de consolação, porque é revelação do Messias. Jesus provoca a declaração entusiasta dos seus discípulos: «Tu és o Messias de Deus» (v. 20). Mas, logo a seguir, proíbe-lhes falar disso e, pelo caminho, fala-lhes do sofrimento e da morte que O esperam em Jerusalém. A mesma regra de S. Inácio diz que, no tempo da desolação, é preciso pensar na consolação que há-de vir, saber que não durará muito, que Deus nos ajudará, ou melhor, que já nos está a ajudar e que, por isso, podemos avançar com confiança e perseverança.
O Evangelho dá-nos outra pista para bem compreendermos o oráculo de Ageu, segundo o qual o templo tinha de ser reconstruído com humildade e com uma certa angústia. De facto, Jesus diz aos discípulos: «O Filho do Homem tem de sofrer muito» (Lc 9, 22). É uma necessidade. Jesus tinha de ser recusado e morto, para ressuscitar no terceiro dia. N´Ele realiza-se verdadeiramente a profecia de Ageu, porque o seu corpo é o verdadeiro templo de Deus. No corpo de Cristo podemos encontrar a Deus. No corpo de Cristo, podemos todos formar o verdadeiro templo de Deus.
Na nossa vida pessoal, e na vida da Igreja, não podemos esquecer estas realidades. Precisamos de períodos de sofrimento, e até de humilhação, para que o nosso espírito seja purificado, e a nossa oferta seja digna de Deus. Em vez de desanimarmos nas provações, temos que aumentar a nossa confiança, porque elas são sinal que Deus trabalha em nós.


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Zacarias 2, 5-9.14-15a

Levantei os olhos e tive uma visão: Era um homem que tinha na mão um cordel de medir. 6Eu disse-lhe: «Para onde vais?» Ele respondeu-me: «Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual é o seu comprimento.» 7Então o anjo que falava comigo mantinha-se imóvel, quando veio ao seu encontro outro anjo 8que lhe disse: «Corre, fala àquele jovem e diz-lhe: ‘Jerusalém ficará sem muros, por causa da multidão de homens e de animais que haverá no meio dela. 9Mas eu serei para ela - oráculo do Senhor - como um muro de fogo à sua volta e serei no meio dela a sua glória.’» 14Rejubila e alegra-te, filha de Sião, porque eis que Eu venho para morar no meio de ti - oráculo do Senhor. 15Naqueles dias, muitas nações se unirão ao Senhor e serão meu povo.

Evangelho: Lucas 9, 43b-45

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: 44«Prestai bem atenção ao que vou dizer-vos: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.» 45Eles, porém, não entendiam aquela linguagem, porque lhes estava velada, de modo que não compreendiam e tinham receio de o interrogar a esse respeito.

REFLEXÃO

As leituras de hoje lembram os dois aspectos do mistério de Cristo, que celebramos na Eucaristia. O evangelho lembra-nos o sofrimento de Cristo: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens» (v. 44). Os Apóstolos não conseguem aceitar este aspecto, porque é contrário aos seus sonhos de glória sem sofrimentos. Mas esses sonhos andam longe do plano de Deus. Deus glorifica o homem através da provação que o transforma e conduz à união com Ele. A primeira leitura lembra-nos a glória. Zacarias, como Ageu, pregou a reconstrução do templo e da cidade de Jerusalém. É preciso reconstruir o templo. Mas também é preciso reconstruir a cidade, que tem no templo o seu centro, o seu coração. Para Zacarias, Jerusalém reconstruída, com o templo reedificado, será uma cidade maravilhosa, uma cidade grande, a cidade de Deus: «Jerusalém ficará sem muros, por causa da multidão de homens e de animais que haverá no meio dela. Mas eu serei para ela - oráculo do Senhor - como um muro de fogo à sua volta e serei no meio dela a sua glória.’» (v. 8s.). O Senhor está dentro e fora de Jerusalém. Está em todo o lado, na cidade que é sua. Esta imagem da nova Jerusalém irá concretizar-se de vários modos no Novo Testamento.
O profeta diz à nova Jerusalém: «Rejubila e alegra-te, filha de Sião, porque eis que Eu venho para morar no meio de ti - oráculo do Senhor» (v. 14). A profecia de Zacarias evoca a maternidade divina de Maria e, ao mesmo tempo, a sua maternidade humana. Maria é Mãe da Igreja e Mãe dos fiéis: «Muitas nações se unirão ao Senhor e serão meu povo» (v. 15). Nós somos parte dessas numerosas nações. Habitamos a nova cidade que Cristo construiu com a sua ressurreição, a Igreja, cidade cheia de glória. O Senhor está no meio dela.

Ricardo Igreja

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