sexta-feira, 22 de julho de 2011

XXIV DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


«Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu»


LEITURA I – Ex 32,7-11.13-14

Naqueles dias, O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se. Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’». O Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação». Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo: «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos prometi’». Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.

LEITURA II – 1 Tim 1,12-17

Caríssimo: Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen

EVANGELHO – Lc 15,1-32

Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximaram-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um pecador que se arrependa». Jesus disse-lhes ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: Enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».

REFLEXÃO

As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a “lógica de Deus” em relação a esta questão.
A primeira parábola (vers. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o espalhafato criado à volta de um facto banal como é o reencontro com uma ovelha que se extraviou… Nesses exageros e nessas reacções desproporcionadas revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola… O “deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida” mostra a preocupação de Deus com cada homem que se afasta da comunidade da salvação; o “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que necessitam de cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que se afastou da comunhão com Ele.
A segunda parábola (vers. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. O amor misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do pecador que volta.
A terceira parábola (vers. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu orgulho e da sua auto-suficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna. Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus e escribas (os “filhos mais velhos”) que, a propósito dos pecadores que tinham abandonado a “casa do Pai”, professavam uma atitude de intolerância e de exclusão.
O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai… Preocupa-se com eles, vai ao seu encontro, solidariza-Se com eles, estabelece com eles laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-Se e faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus actuar em relação aos seus filhos, sem excepção; e é essa atitude de Deus que Jesus revela ao acolher os pecadores e ao sentar-Se com eles à mesa. Por muito que isso custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os “filhos de Deus” devem acolher esta lógica e actuar da mesma forma.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: 1 Timóteo 2, 1-8

Caríssimo: recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, 2pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade. 3Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, 4que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. 5Pois, há um só Deus,e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus, 6que se entregou a si mesmo como resgate por todos. Tal é o testemunho dado para os tempos estabelecidos. 7Foi para isto que fui constituído arauto e apóstolo - digo a verdade, não minto - mestre das nações, na fé e na verdade. 8Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, erguendo as mãos puras, sem ira nem altercação.

Evangelho: Lucas 7, 1-10

Naquele tempo, quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm. 2Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. 3Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo. 4Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, 5pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.» 6Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que 7nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 8Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 9Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» 10E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.

REFLEXÃO

De acordo com as promessas divinas, Jesus foi enviado a pregar a Boa Nova ao povo eleito. Mas o Senhor sabia que, por meio do povo de Israel, Deus queria abençoar todos os povos da terra. O mistério pascal de Cristo tornou possível essa bênção. Mas, episódios como o que hoje escutamos no evangelho, fazem-na prever: o centurião manifesta a sua fé em Jesus e na sua capacidade de lhe curar o servo. Este pagão nem quer causar grande incómodo ao Senhor, pedindo-lhe que vá a sua casa curar o servo. Pede-lhe apenas uma ordem, à distância: «Diz uma só palavra e o meu servo será curado» (v. 7). Esta manifestação de fé mostra que a graça já trabalhava no coração dos pagãos, com bons resultados. De facto, Jesus afirma: «Nem em Israel encontrei tão grande fé» (v. 9).
As exortações de Paulo, que escutamos na primeira leitura, pressupõem e confirmam a abertura universal do amor de Cristo: «façam-se preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens» (v. 1). A comunidade cristã não pode fechar-se em si mesma. Ainda que saibamos que o Espírito também trabalha no coração dos pagãos, e essa convicção possa libertar-nos da ansiedade que outrora pesava na alma de tantos missionários, a Igreja é chamada a ser portadora de graças para todos.
Paulo aconselha os cristãos a rezarem de modo especial pelos governantes: «pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade» (v. 2). Os governantes carregam uma importante e pesada responsabilidade. Se podemos ser exigentes com eles, também devemos rezar para que cumpram com seriedade e honestidade a sua função, e não caiem nas tentações a que estão particularmente sujeitos. Como disse um pensador, «o poder corrompe». O poder absoluto corrompe absolutamente. Em qualquer situação, há sempre o perigo de que, quem detém o poder, abuse dele em seu favor, ou em favor daqueles que os apoiam. E assim se cometem injustiças mais ou menos graves e lesivas dos direitos, liberdades e garantias de todos os cidadãos.
A liturgia da Palavra, também nos ensina a importância da oração litúrgica, a oração da Igreja «por todos os homens», porque Deus «quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (v. 4). A oração litúrgica intercede, onde quer que a Igreja se encontre, junto do Mediador Jesus Cristo, e cura das iras e das contendas, «a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade» (v. 2).
O cristão deve ter este sentido da oração universal, abrir o coração às necessidades do mundo inteiro, não se preocupando apenas com os próprios interesses, com as próprias necessidades, ou as daqueles que lhes são caros. É, sem dúvida bom, rezarmos pelos que nos são ou estão próximos. Mas, para estarmos unidos a Cristo, a nossa oração deve alargar.


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: 1 Timóteo 3, 1-13

Caríssimo: é digna de fé esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja um excelente ofício. 2Mas é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar; 3que não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; 4que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos, com toda a dignidade. 5Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará ele da igreja de Deus? 6Que não seja neófito, para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação do diabo. 7Mas é necessário também que ele goze de boa reputação entre os de fora, para não cair no descrédito e nas ciladas do diabo. 8Do mesmo modo, os diáconos sejam pessoas dignas, sem duplicidade, não inclinados ao excesso de vinho, nem ávidos de lucros desonestos. 9Guardem o mistério da fé numa consciência pura. 10Sejam também eles, primeiro, postos à prova e só depois, se forem irrepreensíveis, exerçam o diaconado. 11Do mesmo modo, as mulheres sejam dignas, não maldizentes, sóbrias, fiéis em tudo. 12Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, capazes de dirigir bem os filhos e a própria casa. 13Pois aqueles que cumprirem bem o diaconado adquirem para si uma posição honrosa e autoridade em questões de fé, em Cristo Jesus.

Evangelho: Lucas 7, 11-17

Naquele tempo, Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. 13Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» 14Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» 15O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. 16O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» 17E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.

REFLEXÃO

As exigências apresentadas por Paulo na primeira leitura àqueles que se dispunham a exercer o “ministério” da autoridade na Igreja podem resumir-se a uma: fidelidade no testemunho e no serviço. Essa fidelidade baseia-se na obediência à Palavra, como demonstram as missões proféticas do Antigo e do Novo Testamento, maximamente no profeta Jesus de Nazaré. Não é possível exercer a autoridade na Igreja sem a obediência dos “ministros” à Palavra de Deus. Só essa obediência garante que não governam a Igreja segundo critérios pessoais ou mundanos. Mas a vontade de Deus há-de ser procurada de modo unívoco e concorde, tanto pelos pastores como pelo rebanho, embora as suas funções sejam diferentes.
O episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim revela-nos duas atitudes de Jesus: a sua compaixão e o milagre que realiza. Somos naturalmente levados a dar maior importância ao milagre. Mas a compaixão de Jesus é algo de muito maior e mais importante. Revela-nos o Coração do Senhor, capaz de sentir os nossos sofrimentos, de sofrer connosco: «O Senhor compadeceu-se dela» (v. 13). Esta compaixão levou-O a actuar. Dirigindo-se à mulher disse-lhe: «Não chores!». E, aproximando-se, tocou no caixão e disse: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!... E entregou-o à sua mãe» (v. 14s.). Ao ver o sucedido, a multidão exclamou como tinham exclamado os que verificaram a ressurreição do filho da viúva de Sarepta: «Surgiu entre nós um grande profeta» (v. 16) (cf. 1 Rs 17, 17-24). Jesus é um grande profeta, como Elias, como Eliseu. Mas revelar-se-á muito mais do que profeta!
No nosso texto, Lucas chama a Jesus “Senhor”. É a primeira vez que o faz, depois dos relatos do nascimento. A vitória sobre a morte começa a manifestar Jesus como Senhor, Senhor de todas as coisas, Senhor da vida e da morte. Este episódio tem um claro sentido messiânico.
Apenas Lucas refere este milagre, que evidencia a ternura de Jesus para com os humildes e pobres, como tantos outros textos do evangelho lucano, onde particularmente resplandece a misericórdia divina.
Peçamos ao Senhor o seu Espírito, para termos em nós os seus sentimentos, e para que o nosso acto de oblação cultual da manhã, se torne verdadeiro serviço a todos os irmãos no dia a dia; se torne solidariedade especialmente para com os mais pobres, os mais fracos e marginalizados, que muitas vezes não estão longe de nós, mas vivem connosco na comunidade; se torne irradiação de caridade, de alegria e paz; de paciência, bondade, benevolência; de mansidão, humildade, ternura; de misericórdia, perdão, reconciliação nos corações de cada uma das pessoas e das comunidades.


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: 1 Timóteo 3, 14-16

Caríssimo: escrevo-te estas coisas, na esperança de ir ter contigo em breve. 15Porém, eu quero que saibas como deves proceder na casa de Deus, esta Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade. 16Grande é - todos o confessam - o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado no Espírito, apresentado aos anjos, anunciado às nações, acreditado no mundo, exaltado na glória.

Evangelho: Lucas 7, 31-35

Naquele tempo, disse Jesus: «A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? 32Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas às outras, dizendo:‘Tocámos flauta para vós, e não dançastes! Entoámos lamentações, e não chorastes!’ 33Veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: ‘Está possesso do demónio!’ 34Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!’ 35Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.»

REFLEXÃO

A «Igreja do Deus vivo» é, de verdade, «coluna e sustentáculo da verdade», como lemos na primeira leitura (v. 15). Mas acontece com ela o que já aconteceu com Jesus. Perante Ele, muitos adultos tinham atitudes semelhantes às das crianças insatisfeitas, que se negam a manifestar alegria, como seria próprio numa festa de casamento, mas também se recusam a manifestar tristeza e a chorar, como seria próprio de um funeral. Jesus serviu-se de cenas semelhantes, certamente observadas no meio onde vivia, para desmascarar a atitude espiritual de muita gente bem pensante, «os fariseus e doutores da lei», pouco antes mencionados (Lc 7, 30). São pessoas sempre descontentes. Se se apresenta um enviado de Deus, que convida à conversão, põe-se a rir, a examinar o mensageiro, procurando motivos para o criticar, e assim dispensar-se, de consciência tranquila, de acolher a sua mensagem.
Foi o que aconteceu com João Baptista e, logo a seguir, com Jesus. Veio João, homem extremamente austero, e os fariseus souberam encontrar motivos para o criticar e para decretar que o seu modo de viver não era razoável, que não podia ser inspirado por Deus, que era inspirado pelo demónio; veio Jesus, com um comportamento menos fora do comum, pois percorria «as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças» (Mt 9, 35), vivia no meio das pessoas, comia e bebia com elas (Lc 7, 30; 14, 1), sabia que devia «tornar-se em tudo semelhante aos irmãos» (Heb 2, 17), mas nem Jesus foi acolhido de modo positivo. Os fariseus e doutores da lei encontraram motivos para decretar que era uma pessoa demasiado comum e acessível para ser um enviado de Deus: «Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!» (Lc 7, 34).
Não será que também nós, muitas vezes, reagimos como as crianças da praça. Como os fariseus e doutores da lei? Não nos armamos, também nós, em sabedores e críticos perante certas propostas de mudança de vida, que nos vem de Deus, através dos pastores a quem confia o ministério de nos guiar no caminho da fé? Jesus fala de crianças «sentadas nas praças» (v. 32). Provavelmente recusavam toda e qualquer proposta de jogo ou de festa, porque não queriam levantar-se, mexer-se. Assim também, as críticas dos doutores da lei obedeciam a uma táctica para proteger o seu imobilismo espiritual. Não queriam mexer-se, não queriam renunciar à sua posição estável e empreender um novo caminho, em docilidade do Espírito.
Não se usam, na Igreja, tácticas semelhantes para não obedecer, para não actuar, para resistir ao Senhor, que nos fala através dos pastores que põe à frente das comunidades? Quem exerce um ministério na Igreja, também nas comunidades religiosas, está exposto a críticas, por vezes severas e malévolas; corre o risco de ser deixado só, marginalizado. É uma cruz frequente e pesada. Nessas condições, o “ministro” não deve armar-se em vítima. Pelo contrário, deve procurar a força para carregar a cruz, na oração ao Espírito Santo, na convicção de ser verdadeiro oblato, procurando e conduzindo «como o único necessário, uma vida de união à oblação de Cristo» (Cst 26). Diga com S. Paulo: «Alegro-me nos meus sofrimentos por vós e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos (melhor dizendo, "tribulações") de Cristo, pelo Seu corpo que é a Igreja» (Cl 1, 24).


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: 1 Timóteo 4, 12-16

Caríssimo: ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade. 13Enquanto aguardas a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. 14Não descures o carisma que está em ti, e que te foi dado através de uma profecia, com a imposição das mãos dos presbíteros. 15Toma a peito estas coisas e persevera nelas, a fim de que o teu progresso seja manifesto a todos. 16Cuida de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas, porque, agindo assim, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem.

Evangelho: Lucas 7, 36-50

Naquele tempo, um fariseu convidou Jesus para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. 37Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. 38Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. 39Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» 40Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. 41«Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» 43Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. 46Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. 47Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» 48Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» 49Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»

REFLEXÃO

A primeira leitura leva-nos a rezar pelos sacerdotes, para que estejam cada vez mais conscientes do carisma da ordenação sacerdotal, o estimem e o cuidem na intimidade com Deus e no serviço aos irmãos: «Não descures o carisma que está em ti, e que te foi dado através de uma profecia, com a imposição das mãos dos presbíteros» (v. 14). Mas também é importante rezar pelos fiéis, para que prezem o carisma do sacerdócio, apoiem aqueles que o receberam com a sua oração, com a sua amizade, com a partilha dos bens necessários para a sua subsistência.
No evangelho, Jesus, depois de ter curado o servo do centurião e ressuscitado o filho da viúva de Naim, realiza uma cura existencial, dando o perdão a uma pecadora desconhecida. Neste texto, convém sublinhar um ponto em que nem sempre reparamos, porque não compreendemos bem a palavra do Senhor: o amor de Deus chega sempre primeiro de que tudo quanto possamos fazer.
O fariseu Simão está cheio de si. Não reconhece os dons de Deus e até está convencido de que Lhe pode dar alguma coisa. Não ama a Deus. A pecadora, pelo contrário, sabe ter recebido muito, porque a sua dívida era grande. Perdoada por Jesus, pode amar muito. É este o sentido da parábola. Quem é que ama mais? Aquele a quem Deus mais perdoou. Isto não significa, como por vezes se diz, que a pecadora obteve o perdão dos pecados por ter amado muito. É tudo o contrário. O seu amor é sinal de que recebeu o grande dom de Deus, o per-dão. O problema do fariseu era: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» (v. 39). Ora Jesus não reconheceu na mulher apenas «uma pecadora»; reconheceu nela «uma pecadora perdoada», ao verificar o seu grande amor. Antes há o perdão de Deus, que nos faz compreender o seu infinito amor e suscita a resposta do nosso amor. A afirmação, «aquele a quem pouco se perdoa pouco ama» (v. 47), confirma a primeira. Não somos nós que amamos por primeiro, mas é Deus. O nosso primeiro dever é reconhecer o seu amor no perdão e em todos os outros dons que nos faz. Se assim não fizermos, cairemos no erro do fariseu, que pensava ser ele a dar a Deus, sem nos darmos conta do seu amor, e sem O amarmos.
A experiência de fé do Pe. Dehon pode resumir-se a três breves fórmulas: «A presença activa» do amor de Cristo na sua vida (Cst 2); a sensibilidade «ao pecado como recusa do amor de Cristo» (Cst 4); a vontade de dar uma resposta ao «amor não acolhido» com «uma união íntima ao Coração de Cristo que provém da intimidade do coração» (Cst 4-5) . Esta experiência de fé está naturalmente centrada no culto ao Coração de Cristo, no amor oblativo, na reparação, na imolação, no apostolado, com todas as cambiantes, muito importantes, do amor puro, do abandono, da vida de vítima… Mas o fundamento dessa experiência de fé é a «presença activa» do amor de Cristo na sua vida (Cst 2).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: 1 Timóteo 6, 2c-12

Caríssimo: Isto é o que deves ensinar e recomendar. 3Se alguém ensinar outra doutrina e não aderir às sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo e ao ensinamento conforme à piedade, 4é um obcecado pelo orgulho, um ignorante, um espírito doentio dado a querelas e contendas de palavras. Daí nascem invejas, rixas, injúrias, suspeitas maldosas, 5altercações entre homens de espírito corrompido e desprovidos de verdade, que julgam ser a piedade uma fonte de lucro. 6A piedade é, realmente, uma grande fonte de lucro para quem se contenta com o que tem. 7Pois nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele. 8Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isso. 9Mas os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. 10Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições. 11Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas. Procura antes a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. 12Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e da qual fizeste uma bela profissão na presença de muitas testemunhas.

Evangelho: Lucas 8, 1-3

Naquele tempo, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze 2e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; 3Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.

REFLEXÃO

Paulo escreve a Timóteo: «A raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições. Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas» (v. 10s.). As primeiras comunidades cristãs eram pobres, mas livres. Pouco a pouco foi-se introduzindo a servidão dos “bens eclesiásticos”. E a Igreja passou por grandes dificuldades. Muitos homens da Igreja deixaram-se deslumbrar pelas riquezas e pelo poder que elas dão. O clero, que devia usar os bens apenas para o seu sustento, destinando o restante para benefício dos mais pobres, por vezes, e durante muito tempo, esqueceu a pobreza evangélica e o ensinamento de Paulo a Timóteo: «A piedade é, realmente, uma grande fonte de lucro para quem se contenta com o que tem. Pois nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isso» (vv. 6ss.). Pouco antes do Concílio Vaticano II, João XXIII teve que lembrar a todos: «A Igreja apresenta-se como é, e como quer ser, como a Igreja de todos, particularmente a Igreja dos pobres» (01-09-1962: AAS 54 (1962) 676)».
Jesus, e os seus Apóstolos, viviam da generosidade de algumas mulheres que os acompanhavam e serviam com os seus bens. Certamente não «consideravam a piedade uma fonte de lucro».
As leituras de hoje sugerem-nos, portanto, algumas muito boas intenções de oração pela Igreja, pelos sacerdotes e por todos os outros que nela exercem um qualquer ministério. Peçamos ao Senhor para que os apóstolos e os cristãos do nosso tempo saibam evitar todas as contendas, as questões ociosas, que não sejam a verdadeira e sã doutrina. Rezemos para que saibam evitar a tentação do dinheiro. Rezemos por aqueles que pretendem enriquecer a qualquer custo, para que compreendam que o desejo exagerado do dinheiro é a raiz de todos os males. Rezemos para que os apóstolos e os cristãos procurem os verdadeiros bens: a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Peçamos que todos sejam curados dos «espíritos malignos e enfermidades», como as mulheres de que fala o evangelho. Peçamos, finalmente, para que todos possam alcançar a vida eterna a que são chamados.


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: 1 Timóteo 6 13-16

Caríssimo: na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho perante Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, 14recomendo-te que guardes o mandato, sem mancha nem culpa, até à manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. 15Esta manifestação será feita nos tempos estabelecidos, pelo bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o único que possui a imortalidade, que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele, honra e poder eterno! Ámen!

Evangelho: Lucas 8, 4-15

Naquele tempo, como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: 5«Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. 6Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. 7Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. 8Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado.»Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!» 9Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. 10Disse-lhes: «A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» 11«O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. 12Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. 13Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. 14A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. 15E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.»

REFLEXÃO

Hoje vivemos no meio de um furacão de palavras: publicidade, propaganda, discursos políticos… As nossas mentes são como pedras polidas, que não deixam penetrar a água. E todavia a palavra humana é uma coisa maravilhosa, que leva a vida. A mãe, depois de ter dado a vida física ao filho, dá-lhe outra vida por meio da palavra. É a mãe que, pela sua palavra, desperta a inteligência da criança, faz nascer nela, pouco a pouco, os pensamentos e os afectos. É uma verdadeira maravilha. Mas raramente pensamos nela, tão habituados estamos a escutar palavras humanas que nada dizem, que nada dão.
Quanto à Palavra de Deus, ela é incomensuravelmente mais rica, porque nos traz a vida divina. Por isso, havemos de estimá-la, de ter fome dela. Ela é fonte de vida, e garantia de vida para nós: «recebei com mansidão a Palavra em vós semeada, a qual pode salvar as vossas almas», escreve Tiago (1, 21). Salvar as almas é o mesmo que salvar a vida.
A palavra de Jesus purificou os Apóstolos e fê-los seus amigos: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15). Jesus ouviu a palavra do Pai e transmitiu-a a nós. Esta palavra deu uma vida nova, uma vida na amizade de Deus, no seu amor.
Não basta, porém, acolher com alegria a Palavra. É preciso permitir-lhe dar fruto em nós pela paciência, pela perseverança. Não basta escutá-la. É preciso guardá-la, não permitir que o inimigo a sufoque em nós. É preciso meditá-la para que nos transforme e renove a nossa vida. A Virgem Maria guardava e meditava a Palavra no seu coração: «Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra; e o Verbo (a Palavra) fez-se carne». O acolhimento perfeito de Maria, em certo sentido, permitiu à Palavra incarnar para salvação do mundo.
«Fiéis à escuta da Palavra… somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento» (Cst 17).

Ricardo Igreja

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