quinta-feira, 21 de julho de 2011

XIX DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO
 
 
«Tu és verdadeiramente o Filho de Deus»




LEITURA I – 1 Reis 19,9a.11-13a

Naqueles dias, o profeta Elias chegou ao monte de Deus, o Horeb, e passou a noite numa gruta. O Senhor dirigiu-lhe a palavra, dizendo: «Sai e permanece no monte à espera do Senhor». Então, o Senhor passou. Diante d’Ele, uma forte rajada de vento fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, sentiu-se um terramoto; mas o Senhor não estava no terramoto. Depois do terramoto, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se uma ligeira brisa. Quando o ouviu, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e ficou à entrada da gruta.

LEITURA II – Rom 9,1-5

Irmãos: Eu digo a verdade, não minto, e disso me dá testemunho a consciência no Espírito Santo: Sinto uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. Quisera eu próprio ser separado de Cristo por amor dos meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, que são israelitas, a quem pertencem a adopção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas, a quem pertencem os Patriarcas e de quem procede Cristo segundo a carne, Ele que está acima de todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos. Amen.

EVANGELHO – Mt 14,22-33

Depois de ter saciado a fome à multidão, Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-l’O na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão. Logo que a despediu, subiu a um monte, para orar a sós. Ao cair da tarde, estava ali sozinho. O barco ia já no meio do mar, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar, assustaram-se, pensando que fosse um fantasma. E gritaram cheios de medo. Mas logo Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo: «Tende confiança. Sou Eu. Não temais». Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas». «Vem!» – disse Jesus. Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas, para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento e começando a afundar-se, gritou: «Salva-me, Senhor!» Jesus estendeu-lhe logo a mão e segurou-o. Depois disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» Logo que saíram para o barco, o ventou amainou. Então, os que estavam no barco prostraram-se diante de Jesus, e disseram-Lhe: «Tu és verdadeiramente o Filho de Deus».

REFLEXÃO

Depois de despedir a multidão e de obrigar os discípulos a embarcar para a outra margem, Jesus “subiu a um monte para orar, a sós”. Mateus só se refere à oração de Jesus por duas vezes: aqui e no episódio do Getsemani (cf. Mt 26,36): em ambos os casos, a oração precede um momento de prova para os discípulos.
Enquanto Jesus está em diálogo com o Pai, os discípulos estão sozinhos, em viagem pelo lago. Essa viagem, no entanto, não é fácil nem serena… É de noite; o barco é açoitado pelas ondas e navega dificilmente, com vento contrário. Os discípulos estão inquietos e preocupados, pois Jesus não está com eles…
O quadro refere-se, certamente, à situação da comunidade a que Mateus destina o seu Evangelho (e que não será muito diferente da situação de qualquer comunidade cristã, em qualquer tempo e lugar). A “noite” representa as trevas, a escuridão, a confusão, a insegurança em que tantas vezes “navegam” através da história os discípulos de Jesus, sem saberem exactamente que caminhos percorrer nem para onde ir… As “ondas” que açoitam o barco representam a hostilidade do mundo, que bate continuamente contra o barco em que viajam os discípulos… Os “ventos contrários” representam a oposição, a resistência do mundo ao projecto de Jesus – esse projecto que os discípulos testemunham… Quantas vezes, na sua viagem pela história, os discípulos de Jesus se sentem perdidos, sozinhos, abandonados, desanimados, desiludidos, incapazes de enfrentar as tempestades que as forças da morte e da opressão (o “mar”) lançam contra eles…
É aí, precisamente, que Jesus manifesta a sua presença. Ele vai ao encontro dos discípulos “caminhando sobre o mar” (vers. 26). No contexto da catequese judaica, só Deus “caminha sobre o mar” (Job 9,8b; 38,16; Sal 77,20); só Ele faz “tremer as águas e agitarem-se os abismos” (Sal 77,17); só Ele acalma as ondas e as tempestades (cf. Sal 107,25-30). Jesus é, portanto, o Deus que vela pelo seu Povo e que não deixa que as forças da morte (o “mar”) o destruam. A expressão “sou Eu” reproduz a fórmula de identificação com que Deus se apresenta aos homens no Antigo Testamento (cf. Ex 3,14; Is 43,3.10-11); e a exortação “tende confiança, não temais” transmite aos discípulos a certeza de que nada têm a temer porque Jesus, o Deus que vence as forças da morte e da opressão acompanha a par e passo a sua caminhada histórica e dá-lhes a força para vencer a adversidade, a solidão e a hostilidade do mundo.
Depois, Mateus narra uma cena exclusiva, que não é apresentada por nenhum outro evangelista: a do diálogo entre Pedro e Jesus (vers. 28-33). Tudo começa com o pedido de Pedro: “se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas”. Pedro sai do barco e vai, de facto, ao encontro de Jesus; mas, assustando-se com a violência do vento, começa a afundar-se e pede a Jesus que o salve. Assim acontece, embora Jesus censure a sua pouca fé e as suas dúvidas.
Pedro é, aqui, o porta-voz e o representante dessa comunidade dos discípulos que vai no barco (a Igreja). O episódio reflecte a fragilidade da fé dos discípulos, sempre que têm de enfrentar as forças da opressão, do egoísmo, da injustiça. Jesus comunicou aos seus o poder de vencerem todos os poderes deste mundo que se opõem à vida, à libertação, à realização, à felicidade dos homens. No entanto, enquanto enfrentam as ondas do mundo hostil e os ventos soprados pelas forças da morte, os discípulos debatem-se entre a confiança em Jesus e o medo. Mateus refere-se, desta forma, à experiência de muitos discípulos (da sua comunidade e das comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) que seguem a Jesus de forma decidida, mas que se deixam abalar quando chegam as perseguições, os sofrimentos, as dificuldades… Então, começam a afundar-se e a ser submergidos pelo “mar” da morte, da frustração, do desânimo, da desilusão… No entanto, Jesus lá está para lhes estender a mão e para os sustentar.
Finalmente, a desconfiança dos discípulos transforma-se em fé firme: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus” (vers. 33). É para aqui que converge todo o relato. Esta confissão reflecte a fé dos verdadeiros discípulos, que vêem em Jesus o Deus que vence o “mar”, o Senhor da vida e da história que acompanha a caminhada dos seus, que lhes dá a força para vencer as forças da opressão e da morte, que lhes estende a mão quando eles estão desanimados e com medo e que não os deixa afundar.
Quando é que os discípulos fizeram a descoberta de que Jesus era o Deus vencedor do pecado e da morte? Naturalmente, após a Páscoa, quando perceberam plenamente o mistério de Jesus (perceberam que Ele não era “um fantasma”), sentiram a sua presença no meio da comunidade reunida, experimentaram a sua ajuda nos momentos difíceis da caminhada, sentiram que Ele lhes transmitia a força de enfrentar as adversidades e a hostilidade do mundo, sentiram que Ele estava lá, estendendo-lhes a mão, nos momentos de fraqueza, de dificuldade, de falta de fé. É esta mesma experiência que Mateus nos convida também a fazer.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira Leitura: Deuteronómio 10, 12-22


Naqueles dias, Moisés falou ao povo, dizendo: 12«Agora, Israel, o que o Senhor, teu Deus, exige de ti é que temas o Senhor, teu Deus, para seguires todos os seus caminhos, para o amares, para servires o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, 13observando os mandamentos do Senhor e os preceitos que hoje te prescrevo, para teu bem. 14Ao Senhor, teu Deus, pertencem os céus e os céus dos céus, a terra e tudo o que nela existe. 15No entanto, foi só a teus pais que o Senhor se apegou com amor. Elegeu a sua descendência, que sois vós, dentre todos os povos, como ainda hoje. 16Circuncidai, portanto, a impureza do vosso coração e não endureçais mais a vossa cerviz, 17porque o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus supremo, poderoso e temível, que não faz distinção de pessoas nem aceita presentes. 18Ele faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário. 19Amarás o estrangeiro, porque foste estrangeiro na terra do Egipto. 20Temerás o Senhor, teu Deus; a Ele só servirás! Apega-te a Ele e não jures senão pelo seu nome! 21Ele é a tua glória; Ele é o teu Deus, que fez por ti essas grandes e prodigiosas coisas, que teus olhos viram. 22Os teus antepassados eram em número de setenta, quando entraram no Egipto; mas agora o Senhor, teu Deus, tornou-vos tão numerosos como as estrelas do céu.».

Evangelho: Mateus 17, 22-27

Naquele tempo, 22estando os discípulos reunidos na Galileia, Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem tem de ser entregue nas mãos dos homens, 23que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.» E eles ficaram profundamente consternados. 24Entrando em Cafarnaúm, aproximaram-se de Pedro os cobradores do imposto do templo e disseram-lhe: «O vosso Mestre não paga o imposto?» 25Ele respondeu: «Paga, sim». Quando chegou a casa, Jesus antecipou-se, dizendo: «Simão, que te parece? De quem recebem os reis da terra impostos e contribuições? Dos seus filhos, ou dos estranhos?» 26E como ele respondesse: «Dos estranhos», Jesus disse-lhe: «Então, os filhos estão isentos. 27No entanto, para não os escandalizarmos, vai ao mar, deita o anzol, apanha o primeiro peixe que nele cair, abre-lhe a boca e encontrarás lá um estáter. Toma-o e dá-lho por mim e por ti.»

REFLEXÃO

A primeira leitura afirma: «O Senhor, vosso Deus é…poderoso e temível» (v. 17). O poder de Deus não o faz prepotente, como acontece, muitas vezes, entre os homens. Ao seu poder, Deus junta uma extrema delicadeza e atenção para com as pessoas, e uma grande preocupação pela justiça: «Não faz distinção de pessoas nem aceita presentes… faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro» (vv. 17-18). Este texto prepara a revelação do Deus generoso, do Deus que é justo e torna justos. É um texto rico de exortações à fidelidade, à docilidade, ao temor e ao amor de Deus, para estar sempre em relação com Ele: «Agora, Israel, o que o Senhor, teu Deus, exige de ti é que temas o Senhor, teu Deus, para seguires todos os seus caminhos, para o amares, para servires o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma» (v. 12).
No meio de todas estas exortações, encontramos apenas um preceito: «Amarás o estrangeiro» (v. 19). Aqui se revela a generosidade divina, e se há-de revelar a nossa: não amar apenas a própria família, os amigos, os vizinhos e conhecidos, mas também o forasteiro, o desconhecido. Um preceito de extrema actualidade para nós e para as nossas comunidades cristãs…
O evangelho mostra-nos a força e a delicadeza de Jesus. Solicitado a pagar a taxa para o templo, sabe que não está obrigado a isso, pois é Filho de Deus: «De quem recebem os reis da terra impostos e contribuições? Dos seus filhos, ou dos estranhos?» (v. 25), pergunta o Senhor a Pedro. O Apóstolo não hesita na resposta: «Dos estranhos» (v. 26). Mas Jesus, com grande delicadeza, dispõe-se a pagar. Quer evitar escândalos. Mas usa o seu poder para obter o dinheiro necessário: «Vai ao mar, deita o anzol, apanha o primeiro peixe que nele cair, abre-lhe a boca e encontrarás lá um estáter. Toma-o e dá-lho por mim e por ti» (v. 27).
As nossas capacidades hão-de servir, não para obtermos vantagens mais ou menos lícitas, mas para ajudar aqueles que precisam. A defesa dos nossos direitos não pode ser feita à custa de outras pessoas. Em tudo havemos de procurar que os outros possam descobrir a bondade e a generosidade de Deus. Lembremos que amar não é só partilhar os nossos bens, o nosso tempo, a nossa cultura, as nossas capacidades. É, sobretudo, revelação e partilha de nós mesmos.
Na vida comunitária, é fundamental a delicadeza e a capacidade de nos darmos a nós mesmos, de não nos apegarmos aos nossos “direitos”. Daí a importância de promover a confiança, o respeito, a estima das pessoas na comunidade. Se as pessoas não se sentirem amadas, cercadas de confiança, de estima, de delicadeza, terão medo e vergonha. Fechar-se-ão em si mesmas, tornando-se estéreis.


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira Leitura: Deuteronómio 31, 1-8

Naqueles dias, 1Moisés dirigiu ainda estas palavras a todo o Israel: 2«Tenho cento e vinte anos; já não posso andar de um lado para o outro. Além disso, o Senhor disse-me: ‘Não atravessarás o Jordão.’ 3O Senhor, teu Deus, passará, Ele mesmo, à tua frente; exterminará esses povos diante de ti e desalojá-los-ás. Josué passará à tua frente, como o Senhor afirmou. 4O Senhor lhes fará, como fez a Seon e Og, reis dos amorreus, e à terra deles, que Ele destruiu. 5O Senhor te entregará esses povos e procederás com eles segundo os mandamentos que te ordenei. 6Sê forte e valente! Não temas, nem te aterrorizes à vista deles. Pois, o Senhor, teu Deus, vai contigo; não te deixará sucumbir nem te abandonará!» 7Depois, Moisés chamou Josué e disse-lhe na presença de todo o Israel: «Sê forte e valente! Porque tu é que vais entrar com este povo na terra que o Senhor jurou dar a seus pais. Tu é que a repartirás entre eles. 8O próprio Senhor irá à tua frente; Ele estará contigo; não deixará que o teu joelho se dobre e não te abandonará. Não temas, portanto, nem desanimes.»

Evangelho: Mateus 18, 1-5.10.12-14

1Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. 4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.» 10«Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de meu Pai que está no Céu. 12Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove no monte, para ir à procura da tresmalhada? 13E, se chegar a encontrá-la, em verdade vos digo: alegra-se mais com ela do que com as noventa e nove que não se tresmalharam. 14Assim também é da vontade de vosso Pai que está no Céu que não se perca um só destes pequeninos.»

REFLEXÃO

A história da salvação é a história da presença de Deus no meio do seu povo, fazendo promessas, mas também fazendo exigências. As promessas de Deus são generosas. Promete estar com o seu povo e particularmente com Josué: «Não temas…o próprio Senhor irá à tua frente; Ele estará contigo… e não te abandonará. Não temas, portanto, nem desanimes» (cf. vv. 6-8). Mas estas promessas são acompanhadas por fortes exigências. Moisés diz aos Israelitas: «Sê forte e valente!» (v. 6). Depois disse a Josué: «Sê forte e valente!» (v. 7). A verdadeira esperança não é passiva. É dinâmica e corajosa.
A presença de Deus, na história da salvação, é uma presença cada vez mais próxima. Da presença de Deus na criação, passa-se à presença de Deus na Arca da Aliança. Deus, cujo nome é Javé, “Deus presente”, “Aquele que precede, segue e acompanha”, é sempre o Deus próximo, o Deus que faz exclamar a Moisés: «Que grande nação haverá que tenha um deus tão próximo de si como está próximo de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que o invocamos?» (Dt 4, 7).
A certeza do povo de Israel, ao atravessar a fronteira da terra prometida, fundamenta-se também na promessa da presença de Deus. Essa presença, quando chegar o tempo, terá sede no templo, no Santo dos Santos. E não cessará com a destruição do templo! O Senhor “emigrará” com o seu povo para o exílio. Mas o vértice da presença de Deus acontecerá com o Verbo Incarnado, a viver entre nós. Ele é a tenda e o templo, Ele é a presença de Deus ainda mais próxima, junto de nós. Mas a proximidade torna-se imanência: «viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 14, 23). Deus, no Verbo incarnado, vem habitar no coração de cada homem que o queira acolher. Por isso, quem acolhe um pequeno do Reino, acolhe Jesus presente nele. O que se faz a um dos mais pequenos, é a Ele que se faz (Mt 25, 40), é a Deus que se faz.
A completa disponibilidade de Maria -“Ecce Ancilla” - tornou presente, na sua vida, mas também na vida e na história do mundo, o Verbo eterno de Deus, Cristo Jesus. Assim também, hoje, cada dehoniano, deve tornar presente, por meio da sua pessoa, na história da Igreja e do mundo, Cristo Jesus, sacerdote e vítima da Nova Aliança.


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira Leitura: Deuteronómio 34, 1-12

Naqueles dias, 1Moisés subiu das planícies de Moab ao monte Nebo, ao cimo do Pisga, que está em frente de Jericó. O Senhor mostrou-lhe toda a terra, desde Guilead até Dan, 2todo o Neftali, o território de Efraim e de Manassés, todo o território de Judá até ao mar ocidental, 3o Négueb, o Quicar, no vale de Jericó, cidade das Palmeiras, até Soar. 4O Senhor disse-lhe: «Esta é a terra que jurei dar a Abraão, Isaac e Jacob. Dá-la-ei à vossa descendência. Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela.» 5E Moisés, o servo de Deus, morreu ali, na terra de Moab, por determinação do Senhor. 6Foi sepultado num vale da terra de Moab, defronte de Bet-Peor, mas ninguém até hoje soube do lugar da sua sepultura. 7Moisés tinha cento e vinte anos quando morreu; a sua vista nunca enfraqueceu e o seu vigor nunca se esgotou. 8Os filhos de Israel choraram Moisés, nas planícies de Moab, durante trinta dias até se completarem os dias de pranto por Moisés. 9Josué, filho de Nun, ficou cheio do espírito de sabedoria, porque Moisés lhe tinha imposto as mãos; os filhos de Israel obedeceram-lhe e procederam como o Senhor havia ordenado a Moisés. 10Nunca mais surgiu em Israel um profeta semelhante a Moisés, com quem o Senhor falava face a face. 11Ninguém se lhe assemelhou em todos os sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fazer na terra do Egipto contra o faraó, contra os seus servos e todo o país, 12nem em todas as acções da sua mão poderosa nem em todas as grandes maravilhas que Moisés realizou na presença de todo o Israel.

Evangelho: Mateus 18, 15-20

Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos: 15«Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. 16Se não te der ouvidos, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. 17Se ele se recusar a ouvi-las, comunica-o à Igreja; e, se ele se recusar a atender à própria Igreja, seja para ti como um pagão ou um cobrador de impostos. 18Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu.» 19«Digo-vos ainda: Se dois de entre vós se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no Céu. 20Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.»

REFLEXÃO

Moisés não pôde terminar a grande empresa divina começada com o êxodo do Egipto. Apesar das suas qualidades, e de todas as graças recebidas, não concluiu a missão. Fez a parte principal, deixando a conclusão a Josué. «Esta é a terra que jurei dar a Abraão, Isaac e Jacob. Dá-la-ei à vossa descendência. Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela», diz-lhe o Senhor (v. 4). O grande condutor de Israel, pode observar a terra prometida, do alto do monte Nebo, mas morre antes de nela entrar. Nada no Antigo Testamento é perfeito, nada é pleno cumprimento do projecto de Deus. Há muitas prefigurações, mas nenhuma delas é perfeita. Moisés na libertação do Egipto e na marcha pelo deserto, e Josué na conclusão dessa marcha e na entrada na terra, prefiguraram, um e outro, um aspecto da obra de Cristo. O mistério de Cristo é tão rico que não pode ser prefigurado por uma só vida humana. Foi o que sucedeu com Abel. Prefigurou o mistério de Cristo porque, morto pelo seu irmão, Caim, manifestou-se vivo depois da morte: a voz do seu sangue clamava… É uma figura imperfeita da ressurreição de Cristo. Isaac, conduzido ao Moriá para ser sacrificado, sai vivo do sacrifício, prefigurando também parcialmente a ressurreição de Cristo, que saiu vivo do seu sacrifício, mas por ter vencido a morte… Na história de José, odiado pelo irmãos que queriam matá-lo, vemos uma prefiguração da paixão de Jesus. Mas José não é morto e, também aqui, estamos diante de uma prefiguração imperfeita. José foi reencontrado vivo no Egipto, sem ter passado pela morte. O mesmo sucede com todas as outras prefigurações do Antigo Testamento, onde vemos um aspecto do mistério de Cristo, mas não o mistério na sua totalidade. O reino de David prefigura o reino de Cristo. Mas David não estava em condições para edificar a casa de Deus. Salomão construiu o templo. Mas é apenas um edifício material, e não a verdadeira “casa” de Deus. O verdadeiro templo, como vemos no evangelho de João, é Cristo ressuscitado. Só Ele é plenitude. Cristo realiza todas as prefigurações, e realiza no seu mistério pascal uma extraordinária síntese de todos os aspectos do plano de Deus.
Cristo é a plenitude da graça. Somos chamados a viver unidos a Ele, na fidelidade aos seus ensinamentos, na comunhão com a sua pessoa, na fidelidade ao seu exemplo, especialmente no que se refere ao amor recíproco. Procurando cada um de nós viver assim, criamos uma atmosfera espiritual cheia da presença de Cristo que une, cheia pela certeza de sermos um lugar habitado, ou um espaço teologal onde vive o Ressuscitado. Essa presença assegura a unidade entre o céu e a terra, a eficácia da oração, a alegria do Pai celeste.
A unidade no nome de Cristo garante também a eficácia do nosso testemunha, a eficácia de missão.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira Leitura: Josué 3, 7-10ª.11.13-17

Naqueles dias, 7o Senhor disse a Josué: «Hoje começarei a exaltar-te na presença de todo o Israel, para que se saiba que, assim como estive com Moisés, assim estarei também contigo. 8Hás-de mandar aos sacerdotes que levam a Arca da aliança: ‘Quando chegardes ao Jordão, deter-vos-eis junto das suas águas.’» 9Então, Josué disse aos israelitas: «Aproximai-vos para ouvir as palavras do Senhor, vosso Deus.» 10E prosseguiu: «Com isto, sabereis que o Deus vivo está no meio de vós e não deixará de expulsar diante de vós os cananeus: 11Eis que a Arca da aliança do Senhor de toda a terra vai atravessar o Jordão diante de vós. 13Mal os sacerdotes que transportam a Arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, tenham tocado com os pés as águas do Jordão, estas hão-de dividir-se, e as que correm de cima amontoar-se-ão, parando.» 14Então, o povo, dobrando as suas tendas, preparou-se para passar o Jordão com os sacerdotes que caminhavam diante dele, transportando a Arca. 15Quando chegaram ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que transportavam a Arca entraram na água da margem do rio - de facto, o Jordão transborda e alaga as suas margens durante todo o tempo da ceifa - 16então, as águas que vinham de cima pararam e amontoaram-se numa grande extensão, até perto de Adam, localidade situada nas proximidades de Sartan; as águas que desciam para o mar da Arabá, o Mar Salgado, essas ficaram completamente separadas.E o povo atravessou o rio em frente de Jericó. 17Os sacerdotes que transportavam a Arca da aliança do Senhor conservaram-se de pé, sobre o leito seco do Jordão, e todo o Israel o atravessou sem se molhar. Permaneceram ali até todo o povo ter acabado de atravessar o Jordão.

Evangelho: Mateus 18, 21-19, 1

Naquele tempo, 21Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» 22Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. 26O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: ‘Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’ 27Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que me deves!’ 29O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: ‘Concede-me um prazo que eu te pagarei.’ 30Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. 31Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. 32O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; 33não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ 34E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia. 35Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.» 1Quando acabou de dizer estas palavras, Jesus partiu da Galileia e veio para a região da Judeia, na outra margem do Jordão.

REFLEXÃO

Na narrativa deuteronomista da passagem do rio Jordão, o protagonista não é Josué, nem o povo, mas a Arca da Aliança, também chamada “Arca de Deus”, “Arca da Aliança do Senhor de toda a terra”. Graças à Arca da Aliança, o povo consegue passar o rio Jordão, em plena cheia, no tempo das ceifas, como ainda agora acontece. Essa Arca, levada em procissão, e que precede a entrada do povo na terra prometida, fala-nos da presença de Deus no meio do povo e do pacto de amor de Deus com o seu povo. Este pacto de amor, esta aliança, é iniciativa da superabundante caridade de Deus. Mas exige uma resposta de fidelidade da parte do povo. Essa fidelidade passa pela observância dos mandamentos do amor a Deus e ao próximo, com o mandamentos das tábuas da lei, encerrados na arca, que são como que a presença da fidelidade de Deus. É diante desta presença de Deus que se renovam os prodígios do êxodo.
O elemento decisivo, para vencermos as dificuldades da vida, não são as nossas forças, a nossa boa vontade, mas esta presença de Deus, e a nossa união com Ele. As crises no cumprimento da aliança, por parte de Israel, aconteceu sobretudo pela negligência em observar, seja o amor de Deus seja o amor do próximo. Mesmo quando o povo permanece fiel a ritos que honram a Deus, os profetas censuram a falta de atenção ao próximo, ao órfão, à viúva, aos pequenos. Deus não pede sacrifícios, mas misericórdia.
No Novo Testamento, as exigências de Deus tornam-se ainda maiores e mais positivas. Jesus resume a lei e os profetas no duplo mandamento: «Amarás o Senhor, teu Deus… Amarás o teu próximo» (cf. Mc 12, 30-31). Mais ainda: «amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo 15, 12). O amor é, de facto, exigente. Não se vive o amor sem aceitar sacrifícios, sem aceitar renúncias. Há circunstâncias em que não é fácil amar. Mas o amor é uma exigência e um dom de Deus. Jesus vem a nós para amar. O seu Coração palpita no nosso coração. Por isso, é possível amar. Santo Agostinho rezava: «Dá-me o que mandas, e mando o que quiseres». Se acolhermos o dom de Deus, não há dificuldades que o amor não ultrapasse. Mesmo perdoar até setenta vezes sete. Escrevem as nossas Constituições: «Na comunhão, mesmo para além dos conflitos, e no perdão recíproco quereríamos mostrar que a fraternidade porque os homens anseiam é possível em Jesus Cristo e dela quereríamos ser fiéis servidores» (Cst 65).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira Leitura: Josué 24, 1-13

Naqueles dias, 1Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém, e convocou os seus anciãos, chefes, juízes e oficiais; todos se apresentaram diante de Deus. 2Então, Josué disse a todo o povo: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitavam ao princípio do outro lado do rio e serviam outros deuses. 3Tomei o vosso pai Abraão do outro lado do Jordão, e conduzi-o à terra de Canaã. Multipliquei a sua posteridade, dando-lhe Isaac. 4A Isaac dei Jacob e Esaú e dei a Esaú a montanha de Seir; Jacob, porém, e os seus filhos foram para o Egipto. 5Depois, enviei Moisés e Aarão e feri o Egipto com tudo o que fiz no meio dele; por fim, tirei-vos de lá. 6Tirei os vossos pais do Egipto e chegastes ao mar. Os egípcios perseguiram os vossos pais com carros e cavaleiros até ao Mar dos Juncos. 7Eles, porém, clamaram ao Senhor, e o Senhor pôs trevas entre vós e os egípcios e fez avançar o mar sobre eles, cobrindo-os. Os vossos olhos viram o que fiz aos egípcios e, depois disto, passastes largo tempo no deserto. 8Levei-vos, em seguida, para a terra dos amorreus que habitavam do outro lado do Jordão. Eles combateram contra vós, mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. Tomastes posse da sua terra, e Eu exterminei-os na vossa frente. 9Balac, filhode Cipor, rei de Moab, levantou-se para lutar contra Israel e mandou chamar Balaão, filho de Beor, para vos amaldiçoar. 10Eu, porém, não quis ouvir Balaão, e ele teve de vos abençoar repetidas vezes, e assim vos tirei das mãos de Balac. 11Atravessastes o Jordão e chegastes a Jericó. Combateram contra vós os homens de Jericó, os amorreus, os perizeus, os cananeus, os hititas, os guirgaseus, os heveus e os jebuseus; mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. 12Mandei diante de vós insectos venenosos que expulsaram os dois reis dos amorreus. Não foi com a vossa espada, nem com o vosso arco. 13Dei-vos, pois, uma terra que não lavrastes, cidades que não edificastes e que agora habitais, vinhas e oliveiras que não plantastes e de cujos frutos vos alimentais’

Evangelho: Mateus 19, 3-12

3Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns fariseus para O porem à prova e disseram-lhe: «É permitido a um homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo?» 4Ele respondeu: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher, 5e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois um só? 6Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» 7Eles, porém, objectaram: «Então, porque é que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio, ao repudiá-la?» 8Respondeu Jesus: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas, ao princípio, não foi assim. 9Ora Eu digo-vos: Se alguém se divorciar da sua mulher - excepto em caso de união ilegal - e casar com outra, comete adultério.» 10Os discípulos disseram-lhe: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» 11Respondeu-lhes Jesus: «Nem todos compreendem esta linguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. 12Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferência dos homens e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender, compreenda.»

REFLEXÃO

Talvez estejamos mais habituados a pedir graças ao Senhor do que a agradecer-lhas. Podemos prestar a Deus a homenagem de lhe apresentar os nossos pedidos. Mas também havemos de agradecer. A Sagrada Escritura apresenta-nos muitos exemplos de oração de acção de graças. A memória agradecida das obras maravilhosas de Deus, na história do seu povo, suscita a oração de louvor, bênção, de acção de graças. A oração de bênção (berahhah) dirigida a Deus é memória, ainda antes de ser súplica ou louvor.
A oração dos hebreus começa por ser narração, conta a história de Deus na história dos homens. Pelo contrário, a oração dos pagãos aos seus deuses era súplica interessada, invocação para obter benefícios, porque pouco tinham para narrar sobre coisas feitas pelos seus deuses, em seu favor. Israel rezava narrando, pondo diante do Senhor e do povo as maravilhas de Deus, as grandes obras feita para Ele. É por isso que o “Credo” de Israel, que hoje escutamos na primeira leitura, é uma narração de obras de Deus. Reunida a assembleia em Siquém, é feita memória das maravilhas de Deus em favor do seu povo, desde Abraão até a tomada de posse da terra. Todas essas obras manifestam a acção de Deus, são sinais da sua fidelidade e do seu amor: «Não foi com a vossa espada, nem com o vosso arco. Dei-vos, pois, uma terra que não lavrastes, cidades que não edificastes e que agora habitais, vinhas e oliveiras que não plantastes e de cujos frutos vos alimentais’» (v. 12-13).
As grandes celebrações da Igreja, são memória, louvor, bênção, acção de graças pelas maravilhas de Deus, sobretudo em Cristo e por Cristo, em nosso favor. Mesmo quando celebramos os santos, celebramos as obras admiráveis de que Deus realizou neles e por meio deles.
As obras de Deus foram e são gratuitas. São fruto do seu amor oblativo. Só a partir do princípio da gratuidade de Deus podemos compreender os ensinamentos do evangelho sobre o matrimónio e sobre a virgindade. Ambos, no desígnio de Deus, são projectos de amor. Não são, em primeiro lugar, opções dos homens, mas projecto de Deus, um projecto complementar de duas vocações. Se fossem apenas resultado de escolhas humanas, estariam sujeitas a deformações e às suas veleidades. Assim, quem vive a graça do matrimónio, único e indissolúvel, aceita e respeita a vocação do próprio cônjuge. E, quem vive em virgindade pelo reino de Deus, não o faz por uma escolha egoísta ou por resignação perante a incapacidade de amar. Vive-a, tal como os que casam, a partir de Deus, como opção de amor e de serviço recíproco na comunidade que Jesus veio fundar.


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira Leitura: Josué 24, 14-29

Naqueles dias, Josué falou ao povo, dizendo: 14temei o Senhor, e servi-o com toda a rectidão e verdade. Afastai esses deuses a quem os vossos pais serviram do outro lado do rio e no Egipto, e servi o Senhor. 15E se vos desagrada servi-lo, então escolhei hoje aquele a quem quereis servir: os deuses a quem vossos pais serviram, do outro lado do rio, ou os deuses dos amorreus cuja terra ocupastes, porque eu e a minha casa serviremos o Senhor.» 16O povo respondeu, dizendo: «Longe de nós abandonarmos o Senhor para servir outros deuses! 17Pois o Senhor nosso Deus é que nos tirou, juntamente com nossos pais, da terra do Egipto, da casa da escravidão, e realizou aqueles maravilhosos prodígios aos nossos olhos; Ele guardou-nos ao longo de todo o caminho que tivemos de percorrer, e entre todos os povos pelos quais passámos. 18O Senhor expulsou diante de nós todas as nações e os amorreus que habitavam na terra: também nós serviremos o Senhor, porque Ele é o nosso Deus.» 19Josué disse, então, ao povo: «Vós não sereis capazes de servir o Senhor, porque Ele é um Deus santo, um Deus zeloso que não perdoará as vossas transgressões nem os vossos pecados. 20Quando abandonardes o Senhor para servir a deuses estranhos, Ele voltar-se-á contra vós e far-vos-á mal; há-de destruir-vos, após ter-vos feito bem.» 21O povo respondeu: «Não. É ao Senhor que queremos servir.» 22Josué disse-lhes então: «Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir.» E eles responderam: «Somos testemunhas!» 23«Tirai, pois, os deuses estranhos que estão no meio de vós, e inclinai os vossos corações para o Senhor, Deus de Israel.» 24O povo respondeu a Josué: «Nós serviremos o Senhor nosso Deus, e obedeceremos à sua voz.» 25Naquele dia, Josué fez uma aliança com o povo e deu-lhe, em Siquém, leis e prescrições. 26Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus e, tomando uma grande pedra, erigiu-a ali como um monumento, sob o carvalho que se encontrava no santuário do Senhor. 27Disse a todo o povo: «Esta pedra servirá de testemunho entre nós, pois ela ouviu todas as palavras que o Senhor nos disse; ela servirá de testemunho contra vós, para que não renegueis o vosso Deus.» 28Então Josué despediu o povo, indo cada um para a sua herança. 29Depois disto, Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos.

Evangelho: Mateus 19, 13-15

Naquele tempo, 13Apresentaram a Jesus umas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nos. 14Jesus disse-lhes: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» 15E, depois de lhes ter imposto as mãos, prosseguiu o seu caminho.

REFLEXÃO

O discurso de Josué ao povo, na assembleia de Siquém, deixa-nos perplexos. Primeiro, ordena-lhes que temam e sirvam o Senhor: «Temei o Senhor, e servi-o… Afastai esses deuses» (v. 14). Depois, deixa ao povo escolher a quem quer servir: «se vos desagrada servi-lo, então escolhei hoje aquele a quem quereis servir» (v. 15). Finalmente, quando o povo já tinha escolhido servir o Senhor, «serviremos o Senhor» (v. 18), Josué, em vez de aprovar a decisão, inicia um discurso dissuasivo: «Vós não sereis capazes de servir o Senhor» (v. 19). Será perigoso servi-l´O, porque, em caso de infidelidade, «voltar-se-á contra vós e far-vos-á mal» (v. 20).
Como se explica esta atitude de Josué? Provavelmente porque quer evitar um compromisso superficial, por parte dos Israelitas, um compromisso que não resistiria à primeira dificuldade.
Aceitar entrar em aliança com Deus não é coisa de pouca monta, não é uma simples formalidade. Tem consequências na vida que não podemos ignorar ou esquecer. É um compromisso que envolve toda a pessoa, em todas as suas actividades, em todos os seus pensamentos, em todas as suas aspirações. O homem é livre de optar por Deus ou por seguir outros caminhos. Deus não impõe compromissos, porque isso seria indigno do homem, e indigno do próprio Deus. Somos livres de escolher. Mas quem se compromete com Deus, deve fazê-lo seriamente. A dignidade da pessoa humana está precisamente na capacidade de assumir compromissos sérios. Assim foi renovada a aliança em Siquém.
Os cristãos são chamados a renovar, cada ano, na Vigília Pascal, os próprios compromissos baptismais. São chamados a acolher a luz de Deus na própria vida, o desejo de Deus sobre a sua existência, o amor de Deus. Somos convidados a fundamentar tudo na nossa relação com Deus, que dá verdadeira liberdade interior, nos torna acolhedores, capazes de relações mais sinceras, mais cordiais com os outros.
O evangelho apresenta-nos Jesus, que, sendo completamente disponível para o amor que provem do coração do Pai, é acolhedor com todos, particularmente com as crianças.
Vivendo os nossos compromissos baptismais, vivendo como filhos de Deus, caminhamos na caridade de Cristo que nos amou e se entregou por nós.

Ricardo Igreja

Sem comentários:

Enviar um comentário