quinta-feira, 24 de março de 2011

VIII DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


 «Ninguém pode servir a dois senhores»


LEITURA I – Is 49, 14-15

Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim». Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esqueça, Eu não te esquecerei.

LEITURA II – 1 Cor 4, 1-5

Irmãos: Todos nos devem considerar como servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora o que se requer nos administradores é que sejam fiéis. Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano; nem sequer me julgo a mim próprio. De nada me acusa a consciência, mas não é por isso que estou justificado: quem me julga é o Senhor. Portanto, não façais qualquer juízo antes do tempo, até que venha o Senhor, que há-de iluminar o que está oculto nas trevas e manifestar os desígnios dos corações. E então cada um receberá da parte de Deus o louvor que merece.

EVANGELHO – Mt 6, 24-34

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou de beber, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado».

Reflexão

O “dito” do vers. 24 afirma a incompatibilidade entre o amor a Deus e o amor aos bens materiais (o termo utilizado por Mateus – “mamonas” – personifica o dinheiro como um poder que domina o mundo). Qual a razão dessa incompatibilidade?
Em primeiro lugar, Deus deve ser o centro à volta do qual o homem constrói a sua existência, o valor supremo do homem… Mas, sempre que a lógica do “ter” domina o coração, o dinheiro ocupa o lugar de Deus e passa a ser o ídolo a quem o homem tudo sacrifica. O verdadeiro Deus passa, então, a ocupar um lugar perfeitamente secundário na vida do homem; e o dinheiro – ídolo exigente, ciumento, exclusivo, que não deixa espaço para qualquer outro valor – é promovido à categoria de motor da história e de referência fundamental para o homem.
Em segundo lugar, o amor do dinheiro fecha totalmente o coração do homem num egoísmo estéril e não deixa qualquer espaço para o amor aos irmãos. O homem deixa de ter lugar, na sua vida, para aqueles que o rodeiam; e, por amor do dinheiro, torna-se injusto, prepotente, corrupto, explorador, auto-suficiente…
Na “instrução” (vers. 25-34) que se segue aos “ditos” sobre a riqueza, Mateus procura responder às seguintes questões: como deve ser ordenada a hierarquia de valores dos discípulos de Jesus? Os membros da comunidade cristã não se devem preocupar minimamente com as suas necessidades básicas?
Para os discípulos de Jesus, o “Reino” deve ser o valor mais importante, a principal prioridade, a preocupação mais séria, aquilo que dia a dia “faz correr” o homem e que domina todo o seu horizonte (“procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”).
E as preocupações mais “primárias” da vida do homem: a comida, a bebida, a roupa, a segurança? São valores secundários, que não devem sobrepor-se ao “Reino”. De resto, não precisamos de viver obcecados com essas coisas, pois o próprio Deus Se encarregará de suprir as necessidades materiais dos seus filhos (“tudo o mais vos será dado por acréscimo” – ver. 33). Aliás, quem aceita o desafio do “Reino” descobre rapidamente que Deus é esse Pai bondoso que preside à história humana, que cuida dos seus filhos, que vela por eles com amor, que conhece as suas necessidades: se Deus, cada dia, veste de cores os lírios do campo e alimenta quotidianamente as aves do céu, não fará o mesmo – ou até mais – pelos homens?
O crente que escolheu o “Reino” passa, então, a viver nessa serena tranquilidade que resulta da confiança absoluta no Deus que não falha.
A proposta de Jesus será um convite a viver na alegre despreocupação, na inconsciência, na passividade, no comodismo, na indiferença? Não. As palavras de Jesus são um convite a pôr em primeiro lugar as coisas verdadeiramente importantes (o “Reino”), a relativizar as coisas secundárias (as preocupações exclusivamente materiais) e, acima de tudo, a confiar totalmente na bondade e na solicitude paternal de Deus. De resto, viver na dinâmica do “Reino” não é cruzar os braços à espera que Deus faça chover do céu aquilo de que necessitamos; mas é viver comprometido, trabalhando todos os dias, a fim de que o sonho de Deus – o mundo novo da justiça, da verdade e da paz – se concretize.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 17, 20-28 (gr. 24-29)

Meu filho: O Senhor permite que se arrependam, deixa recomeçar, e conforta os que perderam a perseverança. 25Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados, suplica diante dele e evita as ocasiões de pecado. 26Volta-te para o Altíssimo, afasta-te da injustiça, - pois Ele próprio te conduzirá, das trevas à claridade da salvação - e detesta profundamente o que é abominável. 27Quem louvará o Altíssimo no Hades, em lugar dos vivos, quem o poderá louvar? 28O morto, como quem não existe, já não pode louvar; o homem vivo e com saúde é que louvará o Senhor. 29Como é grande a misericórdia do Senhor, e o seu perdão para com todos os que a Ele se convertem!

Evangelho: Marcos 10, 17-27

Naquele tempo, Jesus ia Jesus pôr-se a caminho, quando um homem correu para Ele e se ajoelhou, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» 18Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. 19Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» 20Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» 21Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» 22Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. 23Olhando em volta, Jesus disse aos discípulos: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» 24Os discípulos ficaram espantados com as suas palavras. Mas Jesus prosseguiu: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» 26Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode, então, salvar-se?» 27Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível.»

Reflexão

A libertação do pecado e das riquezas é fundamental para acedermos a valores superiores. Sem essa libertação não alcançamos à «vida eterna».
Mas não é fácil libertar-nos do pecado, dada a nossa grande fragilidade. Há que estar conscientes dela, para, cada dia, pedir perdão ao Senhor, implorar a sua misericórdia, e estar sempre dispostos a recomeçar. “Hoje começo!”, dizia um santo, cada manhã.
O homem moderno tem dificuldade em pedir perdão, porque, devido aos seus grandes progressos científicos e tecnológicos, se julga auto-suficiente. Fecha-se em si, faz-se medida de si mesmo, tem por bem o que lhe parece bem, se procurar qualquer referência fora de si mesmo. Desse modo, bloqueia o caminho espiritual, ficando impedido de regressar ao Pai.
O evangelho propõe a libertação das riquezas. O homem de que nos fala Marcos quer encontrar o caminho para a «vida eterna». Mas está enredado nas suas riquezas. Jesus convida-o a desfazer-se delas, não destruindo-as, mas dando-as aos pobres, prometendo-lhe «um tesouro no céu». Mas o homem não consegue dar esse passo. Pensa no que deixa e não na riqueza que é seguir Jesus: deixa tudo o que tens; «depois, vem e segue-me» (v. 21). Mais importante do que o que deixamos, é Aquele que seguimos, com quem partilhamos a vida e a missão. A proposta de Jesus consiste em entrar, desde já, no Reino e de ter, desde já, um tesouro nos céus. Mais que tudo, é a proposta de uma vida de intimidade com o Senhor: «vem e segue-me».
As riquezas deste mundo podem tornar-se um obstáculo para escutar Jesus e segui-lo. O Senhor reconhece que, deixar essas riquezas, não é fácil: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» (v. 23). Mas, Ele mesmo, nos aponta o remédio para as nossas dificuldades em desapegar-nos dos bens: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (v. 27). Com a graça do Senhor, tantos cristãos sacrificaram tudo, incluindo a própria vida, para seguir Jesus e Lhe ser fiel nas perseguições. Tantos outros deixaram tudo para se consagrarem na vida religiosa e sacerdotal: «a Deus tudo é possível!».
Com a graça de Deus, podemos libertar-nos do pecado e das riquezas, e seguir Jesus pelo caminho por onde nos quiser chamar.
Cristo, lembram-nos as Constituições (n. 44), «convida-nos à bem-aventurança dos pobres no abandono filial ao Pai» (cf. Mt 5, 3). Viver esta bem-aventurança é permitir a Cristo viver a Sua pobreza em nós, com a sua mansidão, aflição, paz, misericórdia. É deixar «viver... Cristo» em nós (cf. Fl 1, 21), é garantir a posse do «tesouro escondido», e da «pérola de grande valor», que é o próprio Cristo das bem-aventuranças, vividas na nossa vida. Por isso, de acordo com as Constituições (n. 44), «recordaremos o seu insistente convite: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres; depois vem e segue-Me» (Mt 19,21)" (n. 44).


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 35, 1-12

Aquele que observa a Lei faz numerosas oferendas; oferece sacrifício salutar o que guarda os preceitos. 2Aquele que se mostra generoso oferece flor de farinha, e o que usa de misericórdia oferece um sacrifício de louvor. 3Fugir do mal é o que agrada ao Senhor, e quem fugir da injustiça obtém o perdão dos pecados. 4Não te apresentes diante do Senhor com as mãos vazias, porque todos estes ritos obedecem a um preceito. 5A oblação do justo enriquece o altar, e o seu perfume sobe ao Altíssimo. 6O sacrifício do justo é aceitável, a sua memória não será esquecida. 7Dá glória a Deus com generosidade e não regateies as primícias das tuas mãos. 8Faz todas as tuas oferendas com semblante alegre, consagra os dízimos com alegria. 9Dá ao Altíssimo, segundo o que Ele te tem dado; dá com ânimo generoso, segundo as tuas posses, 10porque o Senhor retribuirá a dádiva, recompensar-te-á de tudo, sete vezes mais. 11Não procures corrompê-lo com presentes, porque não os aceitará; não te apoies num sacrifício injusto. 12Pois o Senhor é um juiz, e não faz distinção de pessoas.

Evangelho: Marcos 10, 28-31

Naquele tempo, Pedro começou a dizer-lhe: «Aqui estamos nós que deixámos tudo e te seguimos.» 29Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna. 31Muitos dos que são primeiros serão últimos, e muitos dos que são últimos serão primeiros.»

Reflexão

Uma leitura superficial dos textos bíblicos, que a liturgia de hoje nos oferece, pode induzir-nos em erro e levar-nos a concluir que a nossa relação com Deus é semelhante à que podemos ter com um banco: depositamos determinada soma e, no devido tempo, vamos levantar os juros. Na primeira leitura o rendimento seria sete vezes maior do que o depósito. No evangelho, os ganhos seriam a cem por cento. Mas, obviamente, não estamos a fazer uma boa leitura dos textos.
O Sábio oferece-nos uma catequese completa sobre os sacrifícios. O piedoso israelita não deve descuidar as oblações prescritas na Lei. Os sacrifícios de animais, no Templo, devem ser feitos com generosidade e alegria: «não regateies as primícias das tuas mãos. Faz todas as tuas oferendas com semblante alegre, consagra os dízimos com alegria» (vv. 7b-8). Mas demora-se a explicar que a vida é mais importante do que as vítimas. O mais importante é construir uma relação interior com o Senhor. É esse o objectivo principal da Lei. Mas há que estar atentos ao próximo, porque o bem que se faz aos outros também é sacrifício agradável a Deus. Dar esmolas equivale a um sacrifício de louvor a Deus.
O evangelho mostra-nos os Apóstolos que aderiam a Jesus e O seguem. Também aqui, como no texto de Ben Sirá, se trata de entrar em comunhão com Alguém. O que mais vale é a oferta da nossa vida, na fidelidade à vontade de Deus, na generosidade em seguir os seus ensinamentos. A oferta de um qualquer dom é apenas epifania da oferta de nós mesmos. É o que se passa, por exemplo, na profissão religiosa: não damos a Deus a nossa castidade, a nossa pobreza, a nossa obediência. Damo-nos a nós mesmos, em castidade, em pobreza, em obediência. Também a recompensa do dom, por parte de Deus, que Lhe fazemos, acontece a nível pessoal: é-nos dada «a vida eterna», isto é, a visão de Deus, a comunhão plena e definitiva com a Trindade. Seguir a Cristo, significa entrar com Ele, por Ele e n´Ele, no mistério da Trindade. É este o verdadeiro «cem vezes mais».
Na celebração eucarística, vivemos este mistério. Oferecemos o pão e o vinho, que recebemos da bondade e da generosidade do Criador, para que se tornem, para nós, «Pão da vida» e «Vinho da salvação». Esta é a dinâmica da nossa vida cristã, que nos deve encher de alegria, porque somos, na verdade, envolvidos pela generosidade divina que tudo nos dá, para que o possamos oferecer e receber ainda mais. Trata-se de uma verdadeira exigência do amor, da caridade que anima a Igreja: quanto recebemos do amor de Deus, deve ser partilhado largamente com os outros... Jesus ordena-o aos discípulos, quando os envia em missão: «Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente» (Mt 10, 8). Para nós, mais especificamente, é o desejo de fazer nosso o zelo apaixonado de Jesus pelo Reino, pela pregação da Boa Nova. Para compreender o amor de Cristo, para lhe corresponder, é preciso partilhar as suas opções, as Suas preocupações... «Como poderíamos, efectivamente, compreender o amor que Cristo nos tem, senão amando como Ele em obras e em verdade?» Este texto das nossas Constituições (n. 18) sublinha a nossa disponibilidade para a missão, para a sua urgência, compreendida como dom, como sacrifício, como Cristo a viveu.


* 4º FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 36, 1.4-5.10-17

Tem piedade de nós, ó Senhor, Deus de todas as coisas; olha para nós e espalha o teu temor sobre todas as nações. 4Que reconheçam, como também nós reconhecemos, que fora de ti, Senhor, não há outro Deus. 5Renova os teus prodígios, faz novos milagres. 10Reúne todas as tribos de Jacob, toma-as como tua herança, como no princípio. 11Tem piedade, Senhor, do teu povo, que foi chamado pelo teu nome, e de Israel, que trataste como filho primogénito. 12Tem piedade da cidade do teu santuário, de Jerusalém, lugar do teu repouso. 13Enche Sião do louvor das tuas maravilhas, e o teu povo com a tua glória. 14Dá testemunho a favor daqueles que, desde o princípio, são tuas criaturas, leva a efeito as profecias, em teu nome proferidas. 15Recompensa os que pacientemente esperam em ti, a fim de que os teus profetas sejam acreditados. 16Ouve, Senhor, a súplica dos teus servos, segundo a bênção de Aarão sobre o teu povo, 17e todos sobre a terra reconhecerão que Tu és Senhor, o Deus dos séculos.

Evangelho: Marcos 10, 32-45

Naquele tempo, Jesus e os discípulos iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Estavam espantados, e os que seguiam estavam cheios de medo. Tomando de novo os Doze consigo, começou a dizer-lhes o que lhe ia acontecer: 33«Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. 34E hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará.» 35Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» 36Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» 37Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» 38Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?» 39Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; 40mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» 41Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. 43Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo 44e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. 45Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.»

Reflexão

O povo de Israel, escolhido para ser luz das nações, atraiçoou a Aliança, envolvendo-se em aventuras pecaminosas que o levaram ao exílio. Desse modo, não realizou a sua vocação nem ajudou os outros povos. Na primeira leitura, pela boca de Ben Sirá, o povo reconhece as suas culpas, mostra o seu arrependimento e pede perdão, sem alegar desculpas, pois está consciente das responsabilidades que tem na sua própria falência. Reconhece que a misericórdia de Deus é a sua única tábua de salvação. Por isso, clama repetidamente: «Tem piedade de nós,Senhor» (v. 3ª). A salvação de Israel irá acontecer com a dos outros povos que o Sábio cita na sua oração. Brilha no horizonte um raio de esperança.
O evangelho mostra-se a triste figura dos Apóstolos. Havia tempo que andavam com o Senhor. Mas pareciam não ter aprendido nada, pois andavam empenhados na divisão do poder. Tudo começa com a atitude arrogante dos filhos de Zebedeu, Tiago e João. Mas, se estes erram, também os outros se mostram pecadores, porque se deixam levar por sentimentos de hostilidade contra os dois irmãos: «Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João» (v. 41). E Jesus tem que intervir. Recomenda aos dois irmãos que se ponham nas mãos de Deus, que tudo dispõem como acha melhor. Ensina a todas que a autoridade não é um posto de afirmação pessoal, de busca dos próprios interesses, mas um serviço a exercer com humildade e generosidade. Se for necessário, aquele que preside deve estar disposto a dar a própria vida no exercício da missão que lhe foi confiada. Assim faz o próprio Jesus. No princípio do evangelho, lemos: «o Filho do Homem vai ser entregue» (v. 33). Os verbos seguintes explicam em que consiste essa entrega: ser condenado, escarnecido, flagelado, morto. Depois de todos esses verbos, vêm outros na voz activa: «o Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (v. 45). O Filho do homem veio para ser entregue; o Filho do homem veio para servir e dar a vida. Não basta ser passivos, sofrer os acontecimentos, as situações. Há que ser activo: servir, dar a vida. É realmente admirável quando um cristão aceita um evento negativo, como a cruz, e o torna positivo, fazendo dele um dom de amor. É o caso de Jesus que dá a vida em resgate de todos.
As nossas antigas Constituições (1956) afirmavam que «o fim especial» dos religiosos do Instituto era «professar» uma particular devoção ao sacratíssimo Coração de Jesus (I, 2, parágrafo 2). Ora, «professar» é testemunhar e, na qualidade de testemunhas, “servir” evangelicamente, tal como fez Cristo, testemunha do Pai, «que não veio para ser servido mas para servir e dar a vida por muitos» (Mt 20, 28), caso contrário, a nossa “especial devoção” ao Coração de Jesus torna-se intimismo, devocionismo.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 42, 15-26 (gr. 15-25)

Relembrarei, agora, as obras do Senhor e anunciarei o que vi. Pelas palavras do Senhor foram realizadas as suas obras e segundo a sua vontade realizou-se o seu decreto. 16O Sol que brilha contempla todas as coisas; a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17Os santos do Senhor não têm capacidade para contar todas as suas maravilhas, que o Senhor omnipotente solidamente estabeleceu, a fim de que subsistam na sua glória. 18Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais subtis. Realmente, o Senhor conhece toda a ciência e contempla os sinais dos tempos futuros. 19Anuncia o passado e o futuro e descobre os vestígios das coisas ocultas. 20Nenhum pensamento lhe escapa, não se esconde dele uma só palavra. 21Dispôs em ordem os grandes feitos da sua sabedoria. Ele que existe antes de todos os séculos e para sempre. Nada se lhe pode acrescentar nem diminuir, nem necessita do conselho de ninguém. 22Quão amáveis são todas as suas obras! E todavia não podemos ver delas mais que uma centelha. 23Estas obras vivem e subsistem para sempre e, em tudo o que é preciso, todas lhe obedecem. 24Todas as coisas vão aos pares, uma corresponde à outra, e Ele nada fez incompleto. 25Uma contribui para o bem da outra, e quem se saciará de contemplar a sua glória?

Evangelho: Marcos 10, 46-52

Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. 47E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» 48Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» 49Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» 50E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. 51Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» - respondeu o cego. 52Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

Reflexão

A primeira leitura ensina-nos a ver mais além da beleza e da magnificência da Criação, para chegarmos ao mistério que ela esconde. Tudo o que existe é fruto da palavra de Deus e do seu amor providente que tudo mantém, regula e faz viver. A profissão da nossa fé começa pelo atributo de Deus Criador: «Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra». O Criador é Pai; a Criação é, sobretudo, obra do seu amor.
Como o cego Bartimeu, peçamos ao Senhor que nos abra os olhos para contemplarmos a beleza e a grandeza da criação e, por ela, chegarmos ao Criador, que é nosso Pai. A oração insistente do cego de Jericó fez-lhe recuperar a vista e, sobretudo, levou-o a descobrir a identidade profunda d´Aquele que o curou, levou-o à fé: «ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho» (v. 52).
Ver a luz é um enorme dom de Deus, que os homens sempre apreciaram. Nas antigas literaturas, ver era quase sinónimo de vida. O que mais assustava os antigos, quando pensavam na morte, era não poder ver a luz, era permanecer na região das trevas. Agradeçamos ao Senhor o dom da vista, que nos permite contemplar as suas obras. Mas peçamos também a luz da fé, para O louvarmos por elas: «Vai, a tua fé te salvou!» (v. 52).
O melhor comentário a esta frase do evangelho é a palavra de Jesus: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12). O cego que segue Jesus encontrou a verdadeira luz, a luz da vida. É o que já dizia o Sábio, ao recordar que só o Altíssimo conhece a ciência. Nós vemos as coisas, mas, se não estivermos unidos ao Senhor, vemo-las de modo superficial: «o Senhor conhece toda a ciência e contempla os sinais dos tempos futuros. Anuncia o passado e o futuro e descobre os vestígios das coisas ocultas. Nenhum pensamento lhe escapa» (vv. 18-20).
É na luz de Cristo que vemos a luz. Permaneçamos abertos à sua luz, para sermos pessoas iluminadas. Peçamos-Lhe que nos faça ver, cada vez mais, a sua luz, para louvarmos o Pai com todo o coração e atrairmos todos à sua luz.
A Criação é reflexo do Criador, manifesta a sua glória. Isto acontece particularmente no homem criado «à imagem e semelhança» de Deus, e chamado a ser à imagem e semelhança de «Cristo, imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15). Assim, a «glória de Deus que refulge no rosto de Cristo» (2 Cor 4, 6) refulge também no nosso rosto, irradia da nossa vida. Transformados à imagem de Cristo, devemos viver e comportar-nos como Ele, como filhos de Deus: «Resplandeça a vossa luz diante dos homens..., vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt 5, 6).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 44, 1.9-13

Louvemos os homens ilustres, nossos antepassados, segundo as suas gerações 9Outros há, cuja memória já não existe; pereceram como se não tivessem existido, nasceram como se não tivessem nascido, e da mesma maneira, os seus filhos, depois deles. 10Porém, aqueles foram homens de misericórdia, cujas obras de piedade não foram esquecidas. 11Na sua descendência permanecem os seus bens, e a sua herança passa à sua posteridade. 12Os seus descendentes mantiveram-se fiéis à Aliança, os seus filhos também, graças a eles. 13A sua posteridade permanecerá para sempre, e a sua glória não terá fim.

Evangelho: Marcos 11, 11-26

Naquele tempo, Jesus, depois de ser aclamado pela multidão, chegou a Jerusalém e entrou no templo. Depois de ter examinado tudo em seu redor, como a hora já ia adiantada, saiu para Betânia com os Doze. 12Na manhã seguinte, ao deixarem Betânia, Jesus sentiu fome. 13Vendo ao longe uma figueira com folhas, foi ver se nela encontraria alguma coisa; mas, ao chegar junto dela, não encontrou senão folhas, pois não era tempo de figos. 14Disse então: «Nunca mais ninguém coma fruto de ti.» E os discípulos ouviram isto. Chegaram a Jerusalém; e, entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas, 16e não permitia que se transportasse qualquer objecto através do templo. 17E ensinava-os, dizendo: «Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» 18Os sacerdotes e os doutores da Lei ouviram isto e procuravam maneira de o matar, mas temiam-no, pois toda a multidão estava maravilhada com o seu ensinamento. 19Quando se fez tarde, saíram para fora da cidade. 20Ao passarem na manhã seguinte, viram a figueira seca até às raízes. 21Pedro, recordando-se, disse a Jesus: «Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou!» 22Jesus disse-lhes: «Tende fé em Deus. 23Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá. 24Por isso, vos digo: tudo quanto pedirdes na oração crede que já o recebestes e haveis de obtê-lo. Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, 25para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas. 26Porque, se não perdoardes, também o vosso Pai que está no Céu não perdoará as vossas ofensas.»

Reflexão

A primeira leitura oferece-nos a possibilidade de meditar sobre as virtudes e os exemplos dos antepassados. O Sábio canta as suas glórias e aponta-os como modelos. Hoje, mais do que nunca, num mundo onde tudo passa vertiginosamente, onde tudo é relativizado, precisamos urgentemente de referências. O importante é saber onde estão as referências correctas, aquelas que nos podem ajudar a crescer humana e espiritualmente. Homens valorosos são aqueles que são fiéis a Deus, como os Santos. Por isso, não só os invocamos nas nossas necessidades e aflições, mas também procuramos imitá-los no seu grande amor a Deus e ao próximo.
Jesus, no evangelho de hoje, surpreende-nos. Estamos habituados a repetir as suas palavras: «aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). Hoje, porém, o Senhor parece-nos violento. De facto, o amor de Jesus não é mole. É um amor forte, que em certas ocasiões se manifesta de modo verdadeiramente violento: «Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas» (Mt 11, 12). O que o faz actuar é o seu amor pelo Pai e por nós. Quer purificar a casa do Pai que deve tornar-se «casa de oração para todos os povos», e não uma «covil de ladrões».
O episódio da figueira que não tem frutos ilumina este amor. A propósito desta árvore que, amaldiçoada por Jesus, seca, - gesto simbólico que mostra a necessidade de produzir frutos abençoados por Deus - Jesus faz o seguinte comentário: «Tende fé em Deus. Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá» (v. 23). Jesus, que está sempre em íntima comunhão com o Pai, conhece a sua generosidade. Por isso, convida-nos a esta oração confiante. E não se esquece do amor fraterno. Por isso, acrescenta: «Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas.» (vv. 24-25). O amor pelo Pai está intimamente unido ao amor pelos homens, os homens que Ele ama. Para estar unidos ao Pai, e crescer nessa união, é preciso abrir o coração aos outros, ainda que pecadores, ainda que nos tenham ofendido, como fez Jesus.
Peçamos ao Senhor uma vida cheia de fé, uma vida assente no amor, mesmo por aqueles que são contra nós. É assim que imitamos o Pai que está no céu. É assim que seguimos os bons exemplos dos Santos, e deixamos atrás de nós um rasto luminoso de bem. O seguimento de Jesus, na fidelidade e no amor, garante uma vida cheia de frutos que permanecem.

* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 51, 17-27 (gr. 12-20)

Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bendirei o nome do Senhor. 13Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração. 14Pedi-a a Deus, diante do santuário, e buscá-la-ei até ao fim. 15Na sua flor, como uva sazonada, o meu coração nela se alegrou; os meus pés andaram por caminho recto; desde a minha juventude tenho seguido os seus rastos. 16Apliquei um pouco o meu ouvido, e logo a percebi; encontrei em mim mesmo muita sabedoria. 17Nela fiz grandes progressos. Tributarei glória àquele que me deu a sabedoria, 18porque resolvi pô-la em prática; tive zelo do bem e não serei confundido. 19Lutou minha alma por ela e pus toda a atenção em observar a Lei. Levantei as minhas mãos ao alto e deplorei a minha ignorância acerca dela. 20Dirigi para ela a minha alma, e na pureza a encontrei. Graças a ela, adquiri inteligência desde o princípio; por isso nunca serei abandonado.

Evangelho: Marcos 11, 27-33

Naquele tempo, Jesus e os discípulos regressaram a Jerusalém e, andando Jesus pelo templo, os sumos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos aproximaram-se dele 28e perguntaram-lhe: «Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres?» 29Jesus respondeu: «Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: 30O baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me.» 31Começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se dissermos ‘do Céu’, dirá: ‘Então porque não acreditastes nele?’ 32Se, porém, dissermos ‘dos homens’, tememos a multidão.» Porque todos consideravam João um verdadeiro profeta. 33Por fim, responderam a Jesus: «Não sabemos.»E Jesus disse-lhes: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.»

Reflexão

A história da Salvação avança enriquecendo-se progressivamente, até desembocar no Novo Testamento. O Antigo Testamento alude, esboça e anuncia o Novo Testamento, que completa, realiza e leva a pleno cumprimento quanto foi aludido, esboçado, anunciado. A Sabedoria, por exemplo, começa por ser um facto da experiência e do bom senso humano. Mas, progressivamente, assume tons do Divino. Nos fins do Antigo Testamento, é mesmo um atributo divino, propriedade que emana de Deus e investe proveitosamente o mundo. O Sábio percebeu esse progressivo movimento de enriquecimento, e começa a dar-se conta e a comunicar que não se pode viver sem a Sabedoria, que, ao fim e ao cabo, é um dom de Deus. Sem ela, não temos contacto com o divino, e a vida perde sabor. Mas, com ela, tudo tem sentido.
O evangelho apresenta-nos os chefes do povo de Jerusalém que, indispostos, vão interrogar Jesus sobre os milagres que faz. O Senhor contra-ataca, fazendo perguntas que os deixam embaraçados, porque lhes fazem ver que não só não aceitaram o baptismo de João, não procuraram Jesus com pureza de coração, e nem sequer a verdade, mas unicamente os seus interesses mesquinhos. Por isso, acabam por responder: «Não sabemos». Não encontraram a Sabedoria. Pelo contrário, Maria, que sempre gostamos de recordar, particularmente em dia de sábado, é, para nós, modelo da busca da Sabedoria, porque procura a vontade de Deus com simplicidade e pureza de coração. Também ela fez uma pergunta ao anjo, na Anunciação: «Como será isso, se eu não conheço homem?» (Lc 1, 34). A pergunta de Maria não é má. A Virgem apenas pede um esclarecimento. Ouve respostas que não esclarecem tudo, mas lhe dizem que Deus tem um projecto onde Ela entra. E Maria aceita confiadamente participar nele. É o mesmo abandono e disponibilidade que Deus nos pede.
Muitas vezes, os nossos pedidos a Deus, na oração, não obtêm logo resposta. Essa chega-nos na vida, nos acontecimentos. É por isso que Maria observava o que se passa à sua com Jesus, guardando e meditando tudo no seu coração. Com humildade, paciência e constância, Maria procurava a sabedoria sobre o projecto de Deus, que se revelava pouco a pouco, e ao qual aderia de todo o coração. Assim há-de ser também a nossa atitude.

Ricardo Igreja

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