quinta-feira, 24 de março de 2011

VII DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO


 «Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito»



LEITURA I – Lv 19, 1-2.17-18

O Senhor dirigiu-Se a Moisés nestes termos: «Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos,porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo’. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor».

LEITURA II – 1 Cor 3, 16-23

Irmãos: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Ninguém tenha ilusões. Se alguém entre vós se julga sábio aos olhos do mundo, faça-se louco, para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, como está escrito: «Apanharei os sábios na sua própria astúcia». E ainda: «O Senhor sabe como são vãos os pensamentos dos sábios». Por isso, ninguém deve gloriar-se nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo e Pedro, o mundo, a vida e a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.

EVANGELHO – Mt 5, 38-48

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».

Reflexão

O primeiro exemplo que o Evangelho de hoje nos propõe (o quinto da lista) refere-se à chamada “lei de talião” (vers. 38-42). A “lei de talião”, consagrada na conhecida fórmula “olho por olho, dente por dente”, aparece em vários textos vétero-testamentários (cf. Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21). Em si, é uma lei razoável, destinada a evitar as vinganças excessivas, brutais, indiscriminadas…
Jesus, no entanto, não se dá por satisfeito com uma lei que apenas limita os excessos na vingança, e propõe uma lógica inteiramente nova. Na sua perspectiva, não chega manter a vingança dentro de fronteiras razoáveis, mas é preciso acabar com a espiral de violência de uma vez por todas; para isso, Jesus propõe que os membros do “Reino” sejam capazes de interromper o curso da violência, assumindo uma atitude pacífica, de não resistência, de não resposta às provocações.
Para tornar mais clara a sua proposta, Jesus apresenta quatro casos concretos. No primeiro (vers. 39), pede que não se responda com a mesma moeda àquele que nos agride fisicamente, mas que se desarme o violento oferecendo a outra face; no segundo (vers. 40), recomenda que, diante de uma exigência exorbitante (entrega da túnica, isto é, da peça de roupa mais fundamental, que não era tirada senão àquele que era vendido como escravo – cf. Gn 37,23), se responda entregando ainda mais (a entrega da capa, vestimenta que servia para proteger dos rigores da noite e que, por isso, a própria Lei não admitia que fosse retida, senão por um dia – cf. Ex 22,25; Dt 24,12-13); no terceiro (vers. 41), exige que se acompanhe por duas milhas aquele que quer forçar-nos a acompanhá-lo por uma (provavelmente, haverá aqui uma referência a uma prática frequente das patrulhas romanas que, desorientadas, requisitavam os habitantes da Palestina para que as guiassem durante algum tempo); no quarto (vers. 42), Jesus recomenda que não se ignore, nem se deixe sem atender aquele que pede dinheiro emprestado… Este conjunto de exemplos concretos aponta numa única direcção: os membros da comunidade de Jesus devem manifestar a todos um amor sem medida, que vai muito além daquilo que é humanamente exigido. Dessa forma, eles inauguram uma nova era de relações entre os homens.
O segundo exemplo que o Evangelho de hoje nos apresenta (o sexto da lista) refere-se ao amor aos inimigos (vers. 43-48). Jesus afirma que a Lei antiga recomendava: “ama o teu próximo e odeia o teu inimigo”… No entanto, embora haja na Lei antiga uma referência ao amor ao próximo (cf. Lv 19,18), não se refere, em lado nenhum, o ódio aos inimigos (o verbo “odiar” pode significar, nas línguas semitas, simplesmente “não amar”; no entanto, certos grupos contemporâneos de Jesus defendiam o ódio aos inimigos: a seita essénia de Qûmran, por exemplo, pregava o ódio contra os “filhos das trevas” – isto é, contra aqueles que não pertenciam à comunidade essénia e que estavam, portanto, entregues à vingança divina).
Em qualquer caso, o amor ao próximo recomendado pela Lei havia adquirido, na época de Jesus, um sentido muito restrito: era o amor a esse próximo mais chegado que, quando muito, chegava a incluir todos os israelitas mas que não atingia, em nenhum caso, os não membros do Povo eleito. Quando muito, o amor ao próximo atingia, na visão judaica, o compatriota, aquele que pertencia à comunidade do Povo de Deus.
O pedido de Jesus apresenta, portanto, uma verdadeira novidade e exige uma autêntica revolução das mentalidades. Para Jesus, não chega amar aquele que está próximo, aquele a quem me sinto ligado por laços étnicos, sociais, familiares ou religiosos; mas o amor deve atingir todos, sem excepção, inclusive os inimigos. Fica, assim, abolida qualquer discriminação; são abatidas todas as barreiras que separam os homens.
Qual o motivo desta exigência? É porque Deus também não faz discriminação no seu amor. Ele é o Pai que não distingue entre amigos e inimigos, que faz brilhar o sol e envia a chuva sobre bons e maus, que oferece o seu amor a todos, inclusive aos indignos (vers. 45). O amor universal de Deus é a razão do amor que os membros do “Reino” devem oferecer a todos os homens e mulheres que Deus coloca no seu caminho. “Ser filho de Deus” significa dar testemunho do amor de Deus e parecer-se com Deus no modo de agir.
A expressão final (“sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”) parafraseia o refrão da “lei da santidade” que encontramos na primeira leitura (“sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo”) e resume, de forma magnífica, o ensinamento que Mateus pretende apresentar à sua comunidade com estes seis exemplos (os quatro do passado domingo e os dois de hoje): viver na dinâmica do “Reino” exige a superação de uma perspectiva legalista e casuística, para viver em comunhão total com Deus, deixando que a vida de Deus, que enche o coração do crente, se manifeste na vida do dia-a-dia, inclusive nas relações fraternas. 


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 1, 1-10

Toda a sabedoria vem do Senhor e permanece junto dele para sempre. 2A areia dos mares, as gotas da chuva, os dias da eternidade, quem os poderá contar? 3A altura do céu, a extensão da terra, o abismo e a sabedoria, quem os poderá medir? 4A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, e a luz da inteligência, desde a eternidade. 5A fonte da sabedoria é a palavra de Deus nos céus; os seus caminhos são os mandamentos eternos. 6A quem foi revelada a raiz da sabedoria, e quem pode discernir os seus planos? 7A quem foi manifestada a ciência da sabedoria? E quem pode compreender a riqueza dos seus caminhos? 8Só há um sábio, sumamente temível: o que está sentado no seu trono. 9Foi o Senhor quem a criou, quem a viu e a mediu, e a difundiu sobre todas as suas obras, 10e por todos os homens, segundo a sua liberalidade, e a comunicou àqueles que o amam. O amor do Senhor é uma sabedoria gloriosa. Ele a comunica àqueles a quem se revela, para que o vejam.

Evangelho: Marcos 9, 14-29

Naquele tempo, tendo Jesus descido do monte, ia ter com os seus discípulos, quando viu em torno deles uma grande multidão e uns doutores da Lei a discutirem com eles. 15Assim que viu Jesus, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo. 16Ele perguntou: «Que estais a discutir uns com os outros?» 17Alguém de entre a multidão disse-lhe: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo. 18Quando se apodera dele, atira-o ao chão, e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram.» 19Disse Jesus: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» 20E levaram-lho.Ao ver Jesus, logo o espírito sacudiu violentamente o jovem, e este, caindo por terra, começou a estrebuchar, deitando espuma pela boca. 21Jesus perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu: «Desde a infância; 22e muitas vezes o tem lançado ao fogo e à água, para o matar. Mas, se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós.» 23«Se podes...! Tudo é possível a quem crê», disse-lhe Jesus. 24Imediatamente o pai do jovem disse em altos brados: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» 25Vendo, Jesus, que acorria muita gente, ameaçou o espírito maligno, dizendo: «Espírito mudo e surdo, ordeno-te: sai do jovem e não voltes a entrar nele.» 26Dando um grande grito e sacudindo-o violentamente, saiu. O jovem ficou como morto, a ponto de a maioria dizer que tinha morrido. 27Mas, tomando-o pela mão, Jesus levantou-o, e ele pôs-se de pé. 28Quando Jesus entrou em casa, os discípulos perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não pudemos expulsá-lo?» 29Respondeu: «Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração.»

Reflexão

Os livros sapienciais da Sagrada Escritura, como o Ben Sirá, apresenta-nos um caminho humano e espiritual que, partindo da realidade que somos e nos envolve, nos ensina a permanecer nela, mas a elevar-nos até Deus. Noutros tempos, era uma atitude bastante espontânea, também entre nós ocidentais. Hoje talvez não o seja tanto. Mas é uma atitude que continua a ser necessária e parece mesmo urgente num mundo vítima de convulsões, tal como o jovem de que nos fala o evangelho. Jesus indica-nos dois meios para sairmos da loucura das convulsões que nos agitam: a fé e a oração. A fé dá-nos um poder incrível, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, como podemos verificar na vida de tantos homens e mulheres ao longo da bimilenária história da Igreja. A fé permite-nos rezar de modo eficaz. A oração que, segundo Carlos de Foucauld, consiste em pensar em Deus amando-o, eleva-nos para o mesmo Deus, a partir de uma qualquer circunstância. Pode um aspecto da Natureza, que nos leva a apreciar a sabedoria do Criador, que tudo dispôs com ordem e beleza. Mas também pode ser um sofrimento provocado por grave doença, uma qualquer crise que nos perturba física e psiquicamente, a traição de um amigo, um insucesso profissional… Nestas circunstâncias pode ser mais difícil elevar-nos para Deus, dar-nos conta do amor com que continua a envolver-nos. Mas é possível, se tivermos a atitude do pai de que nos fala o evangelho. Em qualquer circunstância, sem descurar os meios humanos, há que dirigir-se ao encontro do Senhor e falar-Lhe com humildade e confiança. É a oração que nos permite abrir o cofre dos favores divinos, pois nos põe em contacto com o Deus vivo a quem, segundo o ensinamento de Jesus, dizemos: «Faça-se a tua vontade». Este abando a Deus é importante para nós, pois Ele sabe o que mais nos convém ou não convém. De qualquer modo, havemos de louvar, dar graças, pedir perdão, oferecer, suplicar em qualquer circunstância. Esta atitude sapiencial enche-nos de paz, ainda que o Senhor não nos dê exactamente o que pedimos, porque nos põe em sintonia e em comunhão com Deus. Rezar é, sobretudo, encontrar o acesso a Deus, a ligação entre a terra e o céu. 


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 2, 1-13 (gr. 1-11)

Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, prepara a tua alma para a provação. 2Endireita o teu coração e sê constante, não te perturbes no tempo do infortúnio. 3Conserva-te unido a Ele e não te separes, para teres bom êxito no teu momento derradeiro. 4Aceita tudo o que te acontecer, e tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação, 5porque no fogo se prova o ouro e os eleitos de Deus, no cadinho da humilhação. Nas doenças e na pobreza, confia nele. 6Confia em Deus e Ele te salvará,endireita os teus caminhos e espera nele. 7Vós que temeis o Senhor, esperai na sua misericórdia, e não vos afasteis, para não cairdes. 8Vós que temeis o Senhor, confiai nele, a vossa recompensa não vos faltará. 9Vós, que temeis o Senhor, contai com a prosperidade, a alegria eterna e a misericórdia, pois a sua recompensa é um dom eterno e jubiloso. 10Considerai as gerações antigas e vede: quem confiou no Senhor e foi confundido? Quem perseverou no temor do Senhor e foi abandonado? Quem o invocou e se sentiu desprezado? 11Porque o Senhor é compassivo e misericordioso, perdoa os pecados e salva no tempo da aflição. Ele é o protector dos que o procuram de coração sincero.

Evangelho: Marcos 9, 30-37

Naquele tempo, Jesus e os discípulos, partindo dali, atravessaram a Galileia, e Ele não queria que ninguém o soubesse, 31porque ia instruindo os seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão-de matar; mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará.» 32Mas eles não entendiam esta linguagem e tinham receio de o interrogar. 33Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus perguntou: «Que discutíeis pelo caminho?» 34Ficaram em silêncio porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. 35Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.» 36E, tomando um menino, colocou-o no meio deles, abraçou-o e disse-lhes: 37«Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou.»

Reflexão

Quando alguém se propõe servir a Deus, geralmente espera encontrar serenidade e receber logo, não talvez cem por um de quanto deu ao Senhor, mas, pelo menos, tranquilidade e paz. Mas Deus nem sempre permite que isso aconteça. Na primeira leitura de hoje avisa-nos mesmo: «Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, prepara a tua alma para a provação» (v. 1). Sendo assim, a provação não é um mal, mas um bem, um sinal do amor de Deus, a condição para crescermos no seu amor, para recebermos grandes graças. Por isso, continua: «tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação, porque no fogo se prova o ouro e os eleitos de Deus, no cadinho da humilhação.» (vv. 4-5). Deus sabe que levamos em nós algo de muito precioso. Submete-nos à provação para que esse tesouro se torne mais belo e agradável aos seus olhos. Da nossa parte, nada mais convém fazer senão abandonar-nos e apoiar-nos no Senhor: «Confia em Deus e Ele te salvará» (v. 6).
A vida dos que pretendem servir o Senhor há-de ser recta e unificada pelo amor de Deus. Deve decorrer, não no medo, mas no temor de Deus, isto é, num profundo respeito, permeado de amor por Ele: «Ai do coração pusilânime, e das mãos desfalecidas, e do pecador que segue dois caminhos!» (2, 12). O temor do Senhor é garantia dos favores divinos: «Vós, que temeis o Senhor, contai com a prosperidade, a alegria eterna e a misericórdia» (2, 9).
Jesus, o Servo de Deus por excelência, também passou pela provação. Quando se preparava para subir a Jerusalém, preparou os discípulos para não serem simples espectadores do que ia tão intensamente viver. Consciente das dificuldades, foi-os educando progressivamente a diversos valores: à escolha do último lugar, à renúncia a miragens demagógicas, ao acolhimento dos que não contam, como as crianças. Procura prepará-los para a cruz, que não hão-de apenas pelo seu lado negativo, mas como caminho de ressurreição. O mistério pascal nasce da combinação de paixão/morte e ressurreição. Os discípulos estavam sujeitos à tentação de pararem antes da chegada a Jerusalém, de arredarem caminho, de recorrem a atalhos ou caminhos mais largos. Era a provação dos discípulos há dois mil anos, e continua a sê-la também hoje. Se escutarmos o aviso do Ben Sirá - «Confia em Deus e Ele te salvará» - venceremos a provação e poderemos subir a Jerusalém para celebrar a sua e a nossa Páscoa. 


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 4, 12-22 (gr 11-19)

A sabedoria engrandece os seus filhos, toma sob a sua protecção aqueles que a buscam. 12Aquele que a ama, ama a vida, e os que madrugam por ela ficarão cheios de alegria. 13Aquele que a possuir terá a glória por herança, e o Senhor abençoará o lugar onde ele entrar. 14Os que a servem prestam culto ao Santo, e os que a amam são amados pelo Senhor. 15Aquele que a ouve julgará as nações, e o que lhe presta atenção permanecerá em segurança. 16O que nela confia há-de recebê-la em herança, e a sua posteridade beneficiará da sua posse. 17Ao princípio, ela poderá conduzi-lo por caminhos sinuosos; incutir-lhe-á temor e tremor, atormentá-lo-á com a sua disciplina; antes de confiar nele, pô-lo-á à prova com os seus preceitos. 18Então, virá a ele pelo caminho direito, fá-lo-á feliz, e desvendar-lhe-á os seus segredos. 19Porém, se ele se transviar, ela há-de abandoná-lo, e entregá-lo-á nas mãos da desgraça.

Evangelho: Marcos 9, 38-40

Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome, alguém que não nos segue, e quisemos impedi-lo porque não nos segue.» 39Jesus disse-lhes: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim. 40Quem não é contra nós é por nós».

Reflexão

As leituras de hoje apresentam-nos dois mestres excepcionais: a Sabedoria e Jesus. Estes dois mestres acabam por se identificar, porque a Sabedoria, em última análise, é o Verbo que, na plenitude dos tempos, assume carne humana da Virgem Maria. É Jesus.
Na primeira leitura a Sabedoria promete conduzir às fontes da alegria e do sucesso aqueles que a procuram, avisando que não se trata de uma tarefa fácil. É uma observação interessante para nós que queremos tudo “já” e “sem esforço”. Mas a própria vida nos ensina que, sem esforço, nada se alcança. Pensemos na vida dos atletas de alta competição! Mas a Sabedoria assegura a realização de quem a procura: «Os que amam a Sabedoria são amados pelo Senhor» (v. 14). Estar em sintonia com o Senhor é a máxima realização da existência.
No breve texto evangélico que hoje escutamos, os Apóstolos parecem sentir-se donos de Jesus e dos seus poderes. Por isso, não admitem que outros actuem em nome do Senhor: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome, alguém que não nos segue, e quisemos impedi-lo porque não nos segue» (v. 38). Para pertencer a Cristo, para seguir a Cristo, e agir em seu nome, é preciso estar com Ele. Por isso julgam-se no direito de impedir que outros, que não fazem parte do grupo, usem o nome e os poderes de Jesus em vantagem própria. Mas não é isso que Jesus pensa: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim» (v. 39). Mais tarde pode voltar atrás e dizer mal do Senhor. Mas, no momento em que actua em Seu nome, está no bom caminho, e Deus alegra-se com isso.
Os Apóstolos pertencem a Jesus. Mas não têm monopólio sobre Ele, nem sobre a sua graça. Em vez de se irritarem por outros fazerem o bem em nome de Cristo, devem alegrar-se por Deus se dignar agir por meio dessas pessoas e em lugares que não pertencem ao rebanho do Senhor. É uma tentação em que também nós, os católicos, que sabemos estar na verdade, podemos cair. Por vezes, temos dificuldade em admitir que Deus possa fazer o bem por meio de pessoas que não pertencem a Igreja e que até nem querem muito com ela. Mas Deus é livre de actuar onde, como e com quem quiser. Mais do que fechar-nos em ciúmes ou ressentimentos, há que abrir-nos à solidariedade: «Quem não é contra nós é por nós» (v. 40). Havemos de ter por amigos todos os que fazem o bem, ainda que em outras circunstâncias venham a falar mal de nós. Deus derrama a sua graça sobre bons e sobre maus, e cada vez que isso acontece, pode estar a abrir-se um caminho para Cristo. Alegremo-nos com o bem, com todo o bem, venha donde vier, porque, qualquer passo no bem, aproxima de Deus. Peçamos ao Senhor largueza de vistas e… de coração!
A Igreja, nas suas relações com o exterior, e também, à sua medida, a nossa Congregação, sente cada vez mais a exigência de partilhar os problemas do povo e luta, com todos os homens de boa vontade, para melhorar as condições de vida daqueles que a sociedade marginaliza, e daqueles que se afastaram de Deus, caindo na miséria moral e espiritual. Já não se trata apenas de conversão pessoal, mas de compromisso para transformar estruturas e instituições injustas e alienantes, que tornam os poucos ricos cada vez mais ricos e os muitíssimos pobres cada vez mais pobres, sufocados pela miséria. 


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 5, 1-10 (gr 1-8)

Não te fies nas tuas riquezas, e não digas: «Tenho suficiente para mim.» 2Não sigas os teus desejos e a tua força, indo atrás das paixões do coração. 3Não digas: «Quem terá poder sobre mim?», porque o Senhor te punirá certamente. 4Não digas: «Pequei, e que me aconteceu de mal?», porque o Senhor é lento em castigar. 5Não vivas confiado no perdão, acumulando pecado sobre pecado. 6Não digas: «A misericórdia do Senhor é grande, Ele terá compaixão da multidão dos meus pecados!», porque nele a misericórdia e a ira caminham juntas; e o seu furor cairá sobre os pecadores. 7Não tardes em te converter ao Senhor, não adies, de dia para dia, porque a ira do Senhor virá de repente, e Ele te fará perecer no dia do castigo. 8Não confies em riquezas injustas, pois de nada te servirão no dia da desventura.

Evangelho: Marcos 9, 41-50

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «quem for que vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.» 42«E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar. 43Se a tua mão é para ti ocasião de queda, corta-a; mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena, para o fogo que não se apaga, 44onde o verme não morre e o fogo não se apaga. 45Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o; mais vale entrares coxo na vida, do que, com os dois pés, seres lançado à Geena, 46onde o verme não morre e o fogo não se apaga. 47E se um dos teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o; mais vale entrares com um só no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena, 48onde o verme não morre e o fogo não se apaga. 49Todos serão salgados com fogo. 50O sal é coisa boa; mas, se o sal ficar insosso, com que haveis de o temperar? Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.»

Reflexão

O sábio da primeira leitura adverte-nos que não se pode brincar com a vida porque só temos uma. Há comportamentos que têm as suas consequências. Há caminhos sem regresso. Ben Sirá insiste numa educação preventiva: mostra o engano de certas opções e, indirectamente, aponta o caminho certo. A riqueza, por exemplo, não é um baluarte inexpugnável. Por isso, não convém pôr nela uma confiança cega e absoluta.
O discurso de Jesus, que escutamos no evangelho de hoje, não é menos severo. Se não devemos ser fundamentalistas, aplicando-o literalmente, não podemos menosprezar-lhe o conteúdo. Se não devemos lançar-nos ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço, se não devemos cortar à machada a mão ou o pé, ou arrancar um dos olhos, não podemos hesitar diante de algumas privações exigidas em vista do nosso progresso espiritual. A palavra de Jesus alerta-nos para a falta de coerência em que facilmente caímos, e lembra-nos a verdade do que lemos na Carta aos Hebreus: «a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração» (Heb 4, 12). A palavra de Deus é um verdadeiro bisturi. Como o médico o usa para salvar o seu doente, assim Jesus usa a sua palavra para salvar a nossa vida: «mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena» (v. 43). A intenção de Jesus, expressa em linguagem metafórica, é positiva: quer libertar-nos, quer dar-nos a vida! Cada um deve discernir o que precisa de cortar para “entrar na vida”. Para uns será uma relação ambígua, para outros certos espectáculos ou leituras, para outros ainda o modo como tentam ganhar espaço no campo da política, ou tentam acumular dinheiro… A estes últimos S. Tiago lembra que as riquezas podem constituir um grande perigo: «E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós» (Tg 5, 1-3ª.) O apóstolo chega mesmo ao sarcasmo: «Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança!» (Tg 5, 5).
Escutemos as palavras do Sábio, as palavras do Apóstolo e, principalmente, as palavras de Jesus. Não façamos como a avestruz que, ao ver o perigo, enterra a cabeça na areia.
Como religiosos, devemos dar um testemunho claro de pobreza afectiva e efectiva no nosso mundo tão marcado por uma mentalidade materialista e paganizante. Não é um testemunho fácil, porque não se reconhece o valor da pobreza evangélica. Mas é necessário. Sem ele, podem ficar ofuscados outros ideais evangélicos! Mais do que negar o valor das coisas, a nossa pobreza é uma afirmação do valor supremo que é Deus. «Só Deus», repetia Rafael Arnaiz, monge trapista recentemente canonizado. 


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 6, 5-17

Palavras amáveis multiplicam os amigos, a linguagem afável atrai muitas respostas agradáveis. 6Procura estar de bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil. 7Se queres ter um amigo, põe-no primeiro à prova, não confies nele muito depressa. 8Com efeito, há amigos de ocasião, que não são fiéis no dia da tribulação. 9Há amigo que se torna inimigo, que desvendará as tuas fraquezas, para tua vergonha. 10Há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça; 11na tua prosperidade mostra-se igual a ti, dirigindo-se com à vontade aos teus servos; 12mas, se te colhe o infortúnio, volta-se contra ti, e oculta-se da tua presença. 13Afasta-te daqueles que são teus inimigos, e está alerta com os teus amigos. 14Um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontrou, descobriu um tesouro. 15Nada se pode comparar a um amigo fiel, e nada se iguala ao seu valor. 16Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor acharão tal amigo. 17O que teme o Senhor terá também boas amizades, porque o seu amigo será semelhante a ele.

Evangelho: Marcos 10, 1-12

Naquele tempo, Jesus saindo dali, foi para a região da Judeia, para além do Jordão. As multidões agruparam-se outra vez à volta dele, e outra vez as ensinava, como era seu costume. 2Aproximaram-se uns fariseus e perguntaram-lhe, para o experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da mulher. 3Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» 4Disseram: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.» 5Jesus retorquiu: «Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito. 6Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. 7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, 8e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. 9Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» 10De regresso a casa, de novo os discípulos o interrogaram acerca disto. 11Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. 12E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.»

Reflexão

Para encontrar amigos, há que fazer um bom discernimento. O Sábio oferece-nos conselhos práticos para esse discernimento, lembrando que os verdadeiros amigos são poucos. Há os amigos de viagem, de restaurante, de jogo, de clube, de partido… O verdadeiro amigo manifesta-se nas situações difíceis, quando estamos fragilizados, em crise, quando nada podemos retribuir. É nesses amigos que podemos confiar e apoiar-nos. Muitas amizades são frágeis e superficiais, porque assentes em sentimentos passageiros ou em interesses que, uma vez satisfeitos, fazem esquecer quem os satisfez.
Um critério para avaliar os amigos é-nos oferecido pela fé: quem ama a Deus, procura alimentar a sua vida com valores que verifica com a vontade divina. Por isso, se pode presumir que também seja capaz de cultivar o valor da amizade. Quantas amizades nasceram e se desenvolveram à sombra da torre da igreja ou nos grupos eclesiais. Sem cair em discursos de “gueto”, verificamos que um sentimento religioso comum ajuda a fundar, construir e espalhar o valor da amizade.
Pode acontecer que andemos convencidos de que amar é sempre algo de agradável. Por isso, quando uma amizade se torna difícil, parece-nos que já não existe amor. Jesus, implicitamente, ensina-nos que o amor traz consigo o sacrifício, a capacidade de suportar o outro. É clara a regra que oferece para o matrimónio: Deus estabeleceu que a união esponsal é indissolúvel. Só por causa da «dureza do coração» humano é que Moisés permitiu passar o «documento de repúdio e divorciar-se» (v. 4).
Os discípulos também acharam muito duras as palavras de Jesus e, por isso, disseram-Lhe: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» (Mt 19, 10). Mas é dele que vem a força, se formos dóceis à sua vontade, para amar de modo verdadeiro e fiel, com paciência e misericórdia. Parece-nos lógico que os outros tenham de ter paciência connosco. Mas nem sempre estamos dispostos a suportar os defeitos dos outros. «Não vos queixeis uns dos outros», recomenda S. Tiago (Tg 5, 9). Deus não se queixa de nós. Ama-nos porque é «rico em misericórdia e compaixão» (Ef 5, 9).
Muitas comunidades cristãs, e mesmo religiosas, tornam-se ambientes onde se vive como estranhos uns ao lado dos outros, se passa uns ao lado dos outros, mergulhados nas próprias preocupações, nos próprios problemas, sem nos comunicarmos as riquezas, as alegrias, o amor que há em nós. Com este tipo de atitudes, faltam condições para que surjam amizades e possam ser cultivadas. 


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Ben Sirá 17, 1-13 (gr 1-15)

O Senhor criou os homens a partir da terra, e a ela de novo os faz voltar. 2Determinou-lhes um tempo e um número de dias, e deu-lhes domínio sobre tudo o que há na terra. 3Revestiu-os de força como a si mesmo e fê-los à sua própria imagem. 4Fê-los temidos de todo o ser vivo, e impôs o seu domínio sobre os animais e as aves. 5Eles receberam o uso dos cinco poderes do Senhor; como sexto foi-lhes dada a participação da inteligência, e como sétimo, a razão, intérprete dos seus poderes. 6Dotou-os de inteligência, língua e olhos, de ouvidos e dum coração para pensar. 7Encheu-os de saber e de inteligência, e mostrou-lhes o bem e o mal. 8Pôs o seu olhar sobre os seus corações, a fim de lhes mostrar a grandeza das suas obras. 9E lhes concedeu que celebrassem eternamente as suas maravilhas. 10Louvarão o nome de Deus Santo, publicando a magnificência das suas obras. 11Concedeu-lhes a ciência, e deu-lhes em herança a lei da vida. 12Concluiu com eles uma Aliança eterna, e revelou-lhes os seus decretos. 13Viram com os próprios olhos a grandeza da sua glória, os seus ouvidos escutaram a majestade da sua voz. 14Disse-lhes: «Guardai-vos de toda a iniquidade» e impôs a cada um deveres para com o próximo. 15Os seus caminhos estão sempre diante dele, não poderão ficar ocultos aos seus olhos.

Evangelho: Marcos 10, 13-16

Naquele tempo, apresentaram a Jesus uns pequeninos para que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os haviam trazido. 14Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles. 15Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.» 16Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os, impondo-lhes as mãos.

Reflexão

A primeira leitura e o evangelho celebram o valor do homem. Vêm, pois, ao encontro da mentalidade que se impôs na sociedade moderna, que proclama os direitos humanos, realça a dignidade do homem e defende a sua liberdade. Infelizmente, na prática, nem sempre assim acontece, pois são ainda demais os atropelos a esses direitos. Na sociedade em que vivemos há pessoas oprimidas e exploradas, que vivem em condições incompatíveis com a dignidade humana: situações de pessoas singulares, de famílias, de grupos. Devemos lutar, conforme as nossas possibilidades, a fim de que a justiça se realize, afim de que o pecado social seja eliminado.
Mas o autor sagrado está interessado em apresentar o homem, não tanto em geral, mas na sua relação com Deus. Na lectio, notámos que o sujeito de quase todos os verbos é Deus. Como vemos também no Sl 8, é Deus que confere nobreza ao homem e o coloca no vértice da criação. A nobreza do homem é, pois, um dom recebido e não um fruto de sua conquistada. Tudo o que o homem é, tudo o que o homem tem, é dom do amor generoso e gratuito de Deus: a inteligência, língua e olhos, os ouvidos e o coração para pensar, a ciência… O Senhor, acima de tudo, «concluiu com eles uma Aliança eterna e revelou-lhes os seus decretos» (v. 12). O Sábio fala evidentemente da aliança com Moisés e da Lei das duas tábuas. Maior razão temos nós para nos espantarmos diante da bondade divina, ao pensarmos na Nova Aliança selada com o sangue de Cristo e na Nova Lei escrita nos nossos corações, que nos faz viver no Espírito Santo como filhos de Deus.
No evangelho, Jesus repete a este homem tão grande, por causa dos dons de Deus, que saiba acolher o Reino de Deus com a simplicidade de uma criança. Para sermos “crianças”, em sentido evangélico, temos um caminho: ser filhos de Maria. Ela soube ser pequena e estar contente com essa situação: «O meu espírito exulta em Deus, porque olhou para a humildade da sua serva» (cf. Lc 1, 46-48). É difícil sermos felizes com as nossas limitações. O segredo consiste em ser humildes e magnânimos. Por isso, é que Maria pôde falar de si em termos de grandeza e de humildade.
Maria foi adulta na fé. Como diz o Sábio, soube usar o discernimento para raciocinar. Fez perguntas essenciais ao Anjo da Anunciação para obter respostas precisas. Mas também foi pequena, dócil e confiante para se abandonar a Deus e ao seu projecto, mesmo sem perceber tudo.
Agradeçamos ao Senhor por nos ter dado Maria por Mãe e modelo, que nos ajuda a compreender a necessidade da pequenez e a crescer nela para recebermos as graças divinas.

Ricardo Igreja


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