sexta-feira, 25 de março de 2011

I DOMINGO DA QUARESMA


* DOMINGO


«Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus»


LEITURA I – Gen 2,7-9;3,1-7

O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais do campo que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: “Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do Jardim”?» A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: “Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis”». A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu o fruto e comeu-o; depois deu-o ao marido, que estava junto dela, e ele também comeu. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.

LEITURA II – Rom 5,12-19

Irmãos: Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só pereceram muitos, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a muitos homens. E esse dom não é como o pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação. Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornarão justos.

EVANGELHO – Mt 4,1-11

Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou se e disse lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus respondeu lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Demónio conduziu O à cidade santa, levou O ao pináculo do templo e disse Lhe: «Se és Filho de Deus, lança Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Demónio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu lhe Jesus: «Vai te, Satanás, porque esta escrito: ‘Adoraras o Senhor teu Deus e só a Ele prestaras culto’». Então o Demónio deixou O e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.

Reflexão

A catequese sobre as opções de Jesus aparece em três quadros ou “parábolas”.

A primeira “parábola” (vers. 3-4) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de realização material, de satisfação de necessidades materiais. É a tentação – que todos nós conhecemos muito bem – de fazer dos bens materiais a prioridade fundamental da vida. No entanto, Jesus sabe que “nem só de pão vive o homem” e que a realização do homem não está na acumulação egoísta dos bens. A resposta de Jesus cita Dt 8,3 e sugere que o seu alimento – isto é, a sua prioridade – não é um esquema de enriquecimento rápido, mas é o cumprimento da Palavra (isto é, da vontade) do Pai.

A segunda “parábola” (vers. 5-7) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espectaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões (sempre dispostas a deixarem-se fascinar pelo “show” mediático dos super-heróis). Jesus responde a esta tentação citando Dt 6,16, e sugere que não está interessado em utilizar os dons de Deus para satisfazer projectos pessoais de êxito e de triunfo humano. “Não tentar” o Senhor Deus significa, neste contexto, não exigir de Deus sinais e provas que sirvam para a promoção pessoal do homem e para que ele se imponha aos olhos dos outros homens.

A terceira “parábola” (vers. 8-10) sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. No entanto, Jesus sabe que a tentação de fazer do poder e do domínio a prioridade fundamental da vida é uma tentação diabólica; por isso, citando Dt 6,13, diz que, para Ele, só o Pai é absoluto e que só Ele deve ser adorado.
As três tentações aqui apresentadas não são mais do que três faces de uma única tentação: a tentação de prescindir de Deus, de escolher um caminho de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência, à margem das propostas de Deus. Mas, para Jesus, ser “Filho de Deus” significa viver em comunhão com o Pai, escutar a sua voz, realizar os seus projectos, cumprir obedientemente os seus planos. Ao longo da sua vida, diante das diversas “provocações” que os adversários Lhe lançam, Jesus vai confirmar esta sua “opção fundamental” e vai procurar concretizar, com total fidelidade, o projecto do Pai.
Israel, ao longo da sua caminhada pelo deserto, sucumbiu frequentemente à tentação de ignorar os caminhos e as propostas de Deus. Jesus, ao contrário, venceu a tentação de prescindir de Deus e de escolher caminhos à margem dos projectos do Pai. De Jesus vai nascer um novo Povo de Deus, cuja vocação essencial é viver em comunhão com o Pai e concretizar o seu projecto para o mundo e para os homens.

Ricardo Igreja

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