domingo, 4 de julho de 2010

XXV DOMINGO TEMPO COMUM

*  XXV  DOMINGO


«Não podeis servir a Deus e ao dinheiro»


LEITURA I – Am 8,4-7

Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».

LEITURA II – 1 Tim 2,1-8

Caríssimo: Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre dos gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.

EVANGELHO – Lc 16,1-13

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei-de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei-de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’.
Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’. O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’.
A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas, também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

REFLEXÃO

A mensagem essencial aqui apresentada gira, portanto, à volta da sábia utilização dos bens deste mundo: eles devem servir para garantir outros bens, mais duradouros.
Na primeira parte do nosso texto (vers. 1-9) apresenta-se a parábola de um administrador sagaz. A parábola conta-nos a história de um homem que é acusado de administrar de forma incompetente (possivelmente desonesta) os bens do patrão.
Chamado a contas e despedido, este homem tem a preocupação de assegurar o futuro. Chama os devedores do patrão e reduz-lhes consideravelmente as quantias em dívida. Dessa forma – supõe ele – os devedores beneficiados não esquecerão a sua generosidade e, mais tarde, manifestar-lhe-ão a sua gratidão e acolhê-lo-ão em sua casa. Como justificar o proceder deste administrador, que assegura o futuro à custa dos bens do seu senhor? Porque é que o senhor, prejudicado nos seus interesses, não tem uma palavra de reprovação ao inteirar-se do prejuízo recebido?
Como pode Jesus dar como exemplo aos discípulos as aldrabices de um tal administrador?
Estas dificuldades desaparecem se entendemos esta história tendo em conta as leis e costumes da Palestina nos tempos de Jesus. O administrador de uma propriedade actuava em nome e em lugar do seu senhor; como não recebia remuneração, podia ressarcir-se dos seus gastos a expensas dos devedores.
Habitualmente, ele fornecia um determinado número de bens, mas o devedor ficava a dever muito mais; a diferença era a “comissão” do administrador. Deve ser isso que serve de base à nossa história… Dos cem “baths” de azeite (uns 3.700 litros) consignados no recibo (vers. 6), só uns cinquenta haviam sido, na realidade, emprestados; os outros cinquenta constituíam o reembolso dos gastos do administrador e a exorbitante “comissão” que lhe devia ser paga pela operação.
Provavelmente, o que este administrador sagaz fez foi renunciar ao lucro que lhe era devido, a fim de assegurar a gratidão dos devedores: renunciou a um lucro imediato, a fim de assegurar o seu futuro. Este administrador (se ele é chamado “desonesto” – vers. 8 – não o é por este gesto, mas pelos actos anteriores, que até levaram o patrão a despedi-lo) é um exemplo pela sua habilidade e sagacidade: ele sabe que o dinheiro tem um valor relativo e troca-o por outros valores mais significativos – a amizade, a gratidão. Jesus conclui a história convidando os discípulos a serem tão hábeis como este administrador (vers. 9): os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro (o que, na lógica de Jesus, tem a ver com os valores do “Reino”).
Na segunda parte do texto (vers. 10-13), Lucas apresenta-nos uma série de “sentenças” de Jesus sobre o uso do dinheiro (originariamente, estas “sentenças” não tinham nada a ver com o contexto desta parábola). No geral, essas “sentenças” avisam os discípulos para o bom uso dos bens materiais: se sabemos utilizá-los tendo em conta as exigências do “Reino”, seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos definitivamente com o Senhor ressuscitado. O nosso texto termina com um aviso de Jesus acerca da deificação do dinheiro (vers. 13): Deus e o dinheiro representam mundos contraditórios e procurar conjugá-los é impossível… Os discípulos são, portanto, convidados a fazer a sua opção entre um mundo de egoísmo, de interesses mesquinhos, de exploração, de injustiça (dinheiro) e um mundo de amor, de doação, de partilha, de fraternidade (Deus e o “Reino”). Onde é que estão, aqui, os valores eternos e duradouros?


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: Provérbios 3, 27-35

Meu filho: 27Não negues um benefício a quem dele precisa, se estiver nas tuas mãos oder concedê-lo. 28Não digas ao teu próximo: «Vai, e volta depois, amanhã te darei», quando o puderes logo atender. 29Não maquines o mal contra teu próximo, quando ele deposita confiança em ti. 30Não litigues contra ninguém, sem motivo, quando não te fez mal algum. 31Não invejes o homem violento, nem adoptes o seu procedimento, 32porque o Senhor abomina o homem perverso, mas reserva para os rectos a sua intimidade. 33A maldição do Senhor cai sobre a casa do ímpio, mas Ele abençoa a morada dos justos. 34Ele escarnece dos escarnecedores, mas concede a sua graça aos humildes. 35A glória será a herança dos sábios, mas os insensatos suportarão a ignomínia.

Evangelho: Lucas 8, 16-18

Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 16«Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. 17Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz. 18Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.»

REFLEXÃO

A perícopa que escutamos inclui três pequenas unidades, recolhidas por Lucas, e incluídas numa sessão (8, 4-21) que tem por tema a Palavra de Deus. É nesta perspectiva que as lemos.
A primeira unidade (v. 16) parece temer o risco do anonimato: não se põe a luz debaixo da cama. É uma advertência aos cristãos que – por medo ou porque julgam inútil fazê-lo – não se expõe publicamente. A Palavra é pública e visível: escondê-la é fazê-la morrer. A segunda unidade (v. 17) parece temer o risco do segredo. É uma advertência aos grupos de cristãos que se fecham em si mesmos, anunciando a Palavra em segredo, apenas aos iniciados. Mas a Palavra é para todos, pela sua natureza missionária. A terceira unidade (v. 18) é mais difícil. É certo que chama a atenção para a importância da escuta, ou para o modo como se escuta: «Vede, pois, como ouvis». Há quem não escuta, mas também há quem escuta mal. Que significa a expressão: «porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser lhe á tirado mesmo o que julga possuir»? E que significa o “porque”? (v. 18) que condiciona o crescimento ou a perda da palavra? Significa talvez que é preciso escutar bem, porque é a escuta que enriquece. Quem não escuta ou escuta mal, empobrece. Não só não cresce, mas também perde o que julga possuir. A escuta da Palavra é, pois, o caminho necessário para crescer na fé. Se falta a escuta, a fé definha e morre.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura Provérbios 21, 1-6.10-13

1O coração do rei é como água corrente nas mãos do Senhor,Ele o dirigirá para onde quiser. 2Os caminhos do homem parecem-lhe sempre rectos, mas é o Senhor quem pesa os corações. 3A prática da justiça e da equidade é mais agradável ao Senhor que os sacrifícios. 4Olhares altivos, coração soberbo: a lâmpada dos ímpios é o pecado. 5Os projectos do homem diligente têm êxito, mas quem se precipita cai certamente na ruína. 6Os tesouros adquiridos pela mentira são vaidade passageira e laço de morte. 10A alma do ímpio deseja o mal; não terá compaixão do seu próximo. 11Com o castigo do insolente, o ingénuo ficará mais sábio; quando se adverte o sábio, ele adquire mais saber. 12O justo está atento à família do ímpio, e precipita os maus na desventura. 13Aquele que se faz surdo ao clamor do pobre, também um dia clamará e não será ouvido.

Evangelho: Lucas 8, 19-21

Naquele tempo, 19sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. 20Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» 21Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.»

REFLEXÃO

Lucas apresenta-nos um quadro de rara finura e profundidade. Não denota polémica em relação à família de Jesus, como acontece nos textos paralelos de Mateus e de Marcos. A atenção de Lucas vai para aquilo que, de facto, interessa: a escuta e a prática da Palavra, que criam e definem o verdadeiro sentido de família de Jesus.
Um dia, «Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele» (v. 19). Lucas usa um verbo que exprime o desejo de ver Jesus. A forma singular realça a figura da Mãe, que é o sujeito. Para o evangelista, a vinda dos familiares é uma ocasião que permite a Jesus pronunciar a sentença sobre os seus verdadeiros parentes: a escuta e a prática da Palavra cria laços mais fortes do que os do sangue. Esta possibilidade, todavia, não exclui os parentes que vieram visitá-l´O. Lucas exalta a família gerada pela Palavra. Mas não menospreza os laços com a família de sangue.


* 4ª FEIRA

Primeira leitura Provérbios 30, 5-9

5Toda a palavra de Deus é provada ao fogo, é um escudo para aqueles que confiam ele. 6Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso. 7Peço-te duas coisas, não mas negues antes da minha morte: 8Afasta de mim a falsidade e a mentira, não me dês pobreza nem riqueza, concede-me o pão que me é necessário, 9para que, saciado, não te renegue, e não diga: «Quem é o Senhor?» Ou, empobrecido, não roube e não profane o nome do meu Deus.

Evangelho: Lucas 9, 1-6

Naquele tempo, Jesus, 1tendo convocado os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curarem doenças. 2Depois, enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os doentes, 3e disse-lhes: «Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. 4Em qualquer casa em que entrardes, ficai lá até ao vosso regresso. 5Quanto aos que vos não receberem, saí dessa cidade e sacudi o pó dos vossos pés, para servir de testemunho contra eles.» 6Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia, anunciando a Boa-Nova e realizando curas por toda a parte.

REFLEXÃO

Jesus pregou a conversão, expulsou demónios e curou os doentes. Essa é também a tarefa do discípulo missionário (v. 1s.).
Antes de mais nada, Jesus ordena ao missionário que leve consigo apenas o estritamente necessário, e nada mais (v. 3). É um convite à pobreza entendida como liberdade (deixar para seguir) e fé (o próprio Senhor tomará conta dos seus discípulos). Depois, vem uma norma de bom senso: o discípulo itinerante não ande de casa em casa, mas escolha uma casa digna e hospitaleira, ficando nela o tempo necessário (v. 4). Finalmente, uma sugestão sobre o comportamento em caso de recusa. A recusa está, de facto, prevista: é confiado ao discípulo uma missão; mas não lhe é garantido o sucesso. Diante da recusa, deve comportar-se como Jesus: quando é recusado num lugar, vai para outro (v. 5). «Sacudir o pó» é um gesto de juízo, não de maldição: serve para sublinhar a gravidade da recusa, da ocasião perdida.


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: Eclésiastes 1, 2-11

2Ilusão das ilusões - disse Qohélet- ilusão das ilusões: tudo é ilusão. 3Que proveito pode tirar o homem de todo o esforço que faz debaixo do Sol? 4Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre. 5O Sol nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar. 6O vento vai em direcção ao sul, depois ruma ao norte; e gira, torna a girar e passa, e recomeça as suas idas e vindas. 7Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche. Para onde sempre correram, continuam os rios a correr. 8Todas as palavras estão gastas, o homem não consegue já dizê-las. A vista não se sacia com o que vê, nem o ouvido se contenta com o que ouve. 9Aquilo que foi é aquilo que será; aquilo que foi feito, há-de voltar a fazer-se: e nada há de novo debaixo do Sol! 10Se de alguma coisa alguém diz: «Eis aí algo de novo!», ela já existia nas eras que nos precederam. 11Não há memória das coisas antigas; e também não haverá memória do que há-de suceder depois; nem ficará disso memória entre aqueles que hão-de vir mais tarde.

Evangelho: Lucas 9, 7-9

Naquele tempo, 7o tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que se passava; e andava perplexo, pois alguns diziam que João ressuscitara dos mortos; outros, 8que Elias aparecera, e outros, que um dos antigos profetas ressuscitara. 9Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar, mas quem é este de quem oiço dizer semelhantes coisas?» E procurava vê-lo.

REFLEXÃO

Herodes está perplexo: quem é Jesus de quem todos falam? Fazem-se diversas conjecturas: é João ressuscitado, é Elias, é um profeta. O povo apercebe-se da grandeza de Jesus. Mas erra ao compará-lo com figuras do passado. Jesus é uma novidade absoluta. Para compreendê-lo é preciso olhar para Ele, e mais ninguém.
Herodes é um homem culto e prático. Quer encontrar Jesus e dar-se pessoalmente conta da sua identidade. Se fosse movido por boas intenções, como no caso de Zaqueu (cf. Lc 19, 3), seria uma atitude positiva. Mas não era esse o caso. Já o confessar a si mesmo, cinicamente e sem remorsos, ter matado João Baptista, para calar a sua voz incómoda, mostra como a sua vontade de ver Jesus era apenas curiosidade superficial. Tudo isso ficará claro na narrativa da paixão (cf. Lc 23, 8-10). Herodes representa o homem curioso que não quer tornar-se discípulo de Jesus, mas apenas quer ver fenómenos extraordinários, talvez até realizados por Jesus. É o prurido de ouvir novidades, que também Paulo condenará.


* 6ª FEIRA

Primeira leitura: Eclésiastes 3, 1-11

1Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: 2tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, 3tempo para matar e tempo para curar, tempo para destruir e tempo para edificar, 4tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar e tempo para dançar, 5tempo para atirar pedras e tempo para as ajuntar, tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço, 6tempo para procurar e tempo para perder, tempo para guardar e tempo para atirar fora, 7tempo para rasgar e tempo para coser, tempo para calar e tempo para falar, 8tempo para amar e tempo para odiar, tempo para guerra e tempo para paz. 9Que proveito tira das suas fadigas aquele que trabalha? 10Eu vi a tarefa que Deus impôs aos filhos dos homens para que dela se ocupem. 11Todas as coisas que Deus fez, são boas a seu tempo. Até a eternidade colocou no coração deles, sem que nenhum ser humano possa compreender a obra divina do princípio ao fim.

Evangelho: Lucas 9, 18-22

18Um dia, quando Jesus orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» 19Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.» 20Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.»

REFLEXÃO

Lucas apresenta-nos um dos relatos mais centrais da tradição cristã. Para isso, retoma o tema do evangelho de ontem. A pergunta é idêntica. Agora, porém, é o próprio Jesus que a faz aos discípulos. Quem é Jesus? A resposta do povo é variada: anda no ar a suspeita de um qualquer “mistério”, mas não há quem consiga sair dos esquemas religiosos comuns. Também os discípulos respondem de modo incompleto: pelo menos, a sua resposta pode ser mal entendida; por isso, Jesus lhes proíbe falar cf. V. 21). De facto, não é suficiente reconhecer Jesus como Messias. Que Messias? Só a cruz afastará qualquer mal-entendido. «O Filho do Homem tem de sofrer muito» (v. 22): a cruz não foi um acidente de percurso, mas de querido, de planeado por Deus. É esta a novidade inesperada e que escandalizará tanta gente. A presença de Deus manifestou no caminho da cruz, isto é, no dom de Si mesmo, não por uma qualquer imposição, mas por um amor que aceita ser contradito e derrotado. Se esse dom de Si tivesse sido inútil e definitivamente derrotado, não seria certamente um sinal de Deus. Mas a ressurreição fez dele esse sinal. É no dom de Si mesmo, que não recua perante o sofrimento e a morte, que está encerrada a vitória de Deus.


* SÁBADO

Primeira leitura: Eclésiastes 11, 9-12,8

9Jovem, regozija-te na tua mocidade e alegra o teu coração na flor dos teus anos. Segue os impulsos do teu coração e o que agradar aos teus olhos, mas sabe que, de tudo isso, Deus te pedirá contas. 10Lança fora do teu coração a tristeza, poupa o sofrimento ao teu corpo: também a meninice e a juventude são ilusão. 1Lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude, antes que venham os dias maus e cheguem os anos, dos quais dirás: «Não sinto neles prazer algum»; 2antes que escureçam o Sol e a luz, a Lua e as estrelas, e voltem as nuvens depois da chuva; 3quando os guardas da tua casa começarem a tremer, e os homens robustos, a vergar; quando as mós deixarem de moer por serem poucas, e se escurecer a vista dos que olham pela janela; 4quando se fecham as portas da rua, quando enfraquece a voz do moinho, quando se acorda com o piar de um pássaro e emudecem as canções. 5Então, também haverá o medo das subidas, e haverá sobressaltos no caminho, enquanto a amendoeira abre em flor, o gafanhoto engorda, e a alcaparra perde as suas propriedades. Então, o homem encaminha-se para a sua casa da eternidade, e as carpideiras percorrem as ruas; 6antes que se rompa o cordão de prata e se quebre a bacia de oiro; antes que se parta a bilha na fonte, e se desenrole a roldana sobre a cisterna. 7Então o pó voltará à terra de onde saiu e o espírito voltará para Deus que o concedeu. 8Ilusão das ilusões - disse Qohélet - tudo é ilusão.

Evangelho: Lucas 9, 43b-45

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: 44«Prestai bem atenção ao que vou dizer-vos: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.» 45Eles, porém, não entendiam aquela linguagem, porque lhes estava velada, de modo que não compreendiam e tinham receio de o interrogar a esse respeito.

REFLEXÃO

O povo, e os próprios discípulos, estão admirados com as maravilhas que Jesus faz. Mas Ele interrompe a euforia dos mais próximos, os Apóstolos, para lhes falar novamente da cruz que O espera. A diferença é clamorosa: o que deve interessar aos discípulos não é a glória do Mestre, mas o seu «ser entregue nas mãos dos homens» (v. 44). É isso que devem compreender, sob pena de não perceberem correctamente a identidade de Jesus e a verdade da sua revelação. Compreender a cruz significa compreender o lado mais luminoso, novo e imprevisível do rosto de Deus revelado em Jesus. Não se trata de um qualquer pormenor, mas do centro, do essencial.

Ricardo Igreja


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