domingo, 4 de julho de 2010

XXIV DOMINGO TEMPO COMUM

*  XXIV  DOMINGO


«Haverá alegria entre os Anjos de Deus, por um só pecador que se arrependa»


LEITURA I – Ex 32,7-11.13-14

Naqueles dias, O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se. Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’». O Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação». Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo: «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos prometi’». Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.

LEITURA II – 1 Tim 1,12-17

Caríssimo: Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.

EVANGELHO – Lc 15,1-32

Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximaram-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar?
Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’.
Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar?
Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’.
Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um pecador que se arrependa».
Jesus disse-lhes ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: Enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’.
E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».

REFLEXÃO

As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a “lógica de Deus” em relação a esta questão.
A primeira parábola (vers. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o espalhafato criado à volta de um facto banal como é o reencontro com uma ovelha que se extraviou…
Nesses exageros e nessas reacções desproporcionadas revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola… O “deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida” mostra a preocupação de Deus com cada homem que se afasta da comunidade da salvação; o “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que necessitam de cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que se afastou da comunhão com Ele. A segunda parábola (vers. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. O amor misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do pecador que volta.
A terceira parábola (vers. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu orgulho e da sua autosuficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna. Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus e escribas (os “filhos mais velhos”) que, a propósito dos pecadores que tinham abandonado a “casa do Pai”, professavam uma atitude de intolerância e de exclusão. O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai… Preocupa-se com eles, vai ao seu encontro, solidariza-se com eles, estabelece com eles laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-se e faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus actuar em relação aos seus filhos, sem excepção; e é essa atitude de Deus que Jesus revela ao acolher os pecadores e ao sentar-se com eles à mesa. Por muito que isso custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os “filhos de Deus” devem acolher esta lógica e actuar da mesma forma.


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: 1 Coríntios 11, 17-26

Irmãos: 17 Não posso louvar-vos: reunis-vos, não para vosso proveito, mas para vosso dano. 18Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando vos reunis em assembleia, há divisões entre vós, e em parte eu acredito. 19É mesmo necessário que haja divisões entre vós, para que se tornem conhecidos aqueles que de entre vós resistem a esta provação. 20Quando, pois, vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, 21pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia; e enquanto um passa fome, outro fica embriagado. 22Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei-de louvar-vos? Nisto, não vos louvo. 23Com efeito, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão 24e, tendo dado graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». 25Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim.» 26Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.

Evangelho: Lucas 7, 1-10

Naquele tempo, 1Quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm. 2Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. 3Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo. 4Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, 5pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.» 6Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que 7nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 8Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 9Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» 10E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.

REFLEXÃO

Nesta narrativa, Lucas centra mais a sua atenção na fé, que alcança o milagre, do que no próprio milagre. A figura do centurião pagão assume um papel emblemático.
A fé do centurião compõe-se de humildade e confiança. Essas duas atitudes tornam-no aberto ao dom que está para receber e tornam aberta a comunidade dos discípulos de Jesus, que pode receber e incluir pessoas das mais diversas origens étnicas e sociais. Há um pormenor que suscita a nossa atenção, até pela sua actualidade. Enquanto os anciãos recomendam o centurião a Jesus por alguns méritos que, a seus olhos, tinha adquirido («Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga» (v. 4), o próprio centurião manda dizer a Jesus: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto» (v. 6). Naturalmente, para Jesus são mais importantes estas palavras, que indicam uma grande e sincera humildade, do que as dos anciãos interesseiros.
Lucas, como Mateus, considera este acontecimento um prelúdio da chegada dos pagãos à Igreja. Isso interessa-lhe ainda mais porque ele, e só ele, há-de sentir a necessidade de dedicar a segunda parte da sua obra, os Actos dos Apóstolos, a este grande evento. Vislumbra-se a dimensão universal da salvação trazida por Jesus.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura: 1 Coríntios 12, 12-14.27-31a

Irmãos: 12Como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo. 13De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito. 14O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos. 27Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro. 28E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, há o dom dos milagres, depois o das curas, o das obras de assistência, o de governo e o das diversas línguas. 29Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Fazem todos milagres? 30Possuem todos o dom das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? 31Aspirai, porém, aos melhores dons.

Evangelho: Lucas 7, 11-17

Naquele tempo, 11Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. 13Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» 14Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» 15O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. 16O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» 17E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.

REFLEXÃO

Lucas gosta de estabelecer relações entre Jesus e o profeta Elias (cf. 1 Re 17, 10-24), entre Jesus e o profeta Eliseu (2 Re 4, 18-37). O terceiro evangelista narra a ressurreição do filho único de uma certa mãe viúva, natural de Naim. Prodígios idênticos foram também realizados por Elias e Eliseu. Sabemos que Lucas também dá particular atenção às mulheres, no terceiro evangelho e nos Actos. Também a figura da mãe viúva que perdeu o seu filho único sensibiliza Jesus que, «Vendo a, se compadeceu¬ dela e lhe disse: «Não chores» (v. 13). Este episódio não nos revela só um aspecto da psicologia de Jesus, a sua sensibilidade, mas também, a sua opção em favor dos fracos e dos marginalizados. Aquela mulher, na sociedade a que pertencia, estava incluída nessas categorias de pessoas.
Finalmente, Jesus é aclamado como «um grande profeta» (v. 16). Para Lucas, este título tem especial significado: Jesus é profeta, não só pelo que “diz”, mas também pelo que “faz” (acções, gestos, milagres) e, sobretudo, pelo modo como se comporta: sente compaixão, comove-se interiormente e partilha a dor daquela mãe. Assim se manifesta Jesus como profeta no sentido mais integral do termo: não só traz a Palavra de Deus, mas também se coloca ao lado dos homens.


* 4ª FEIRA

Primeira leitura: 1 Coríntios 12, 31-13,13

Irmãos: 31Aspirai, porém, aos melhores dons.Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros. 1Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. 2Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. 3Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita. 4O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, 5nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. 6Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. 7Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil. 9Pois o nosso conhecimento é imperfeito e também imperfeita é a nossa profecia. 10Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. 11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança. 12Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido. 13Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor.

Evangelho: Lucas 7, 31-35

Naquele tempo, disse Jesus: 31«A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? 32Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas às outras, dizendo:‘Tocámos flauta para vós, e não dançastes! Entoámos lamentações, e não chorastes!’ 33Veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: ‘Está possesso do demónio!’ 34Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!’ 35Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.»

REFLEXÃO

Depois de estabelecer uma relação entre Jesus e o profeta Elias, Lucas compara-O a João Baptista. As diferenças entre os dois são evidentes e significativas. O objectivo de Lucas e sublinhar a simpatia com que o povo simples acolhe Jesus, em contraste com a atitude dos fariseus e doutores da lei. Por isso, é bom ler os vv. 29 ss. Que precedem esta página evangélica.
Jesus usa uma comparação que deixa transparecer o seu duro juízo acerca dos seus contemporâneos. A pergunta inicial é certamente retórica. Não se refere a todos os contemporâneos de Jesus, mas apenas àqueles que, não tendo prestado atenção ao Precursor, também agora O não querem ouvir. Essas pessoas são como as crianças que se recusam a participar tanto na alegria dos casamentos como na tristeza dos funerais. Parece tratar-se da obstinação com que alguns Judeus recusaram a Palavra de Deus, personificada em Jesus. Revelam um coração impermeável a todo e qualquer convite à penitência e à conversão.
Sob o ponto de vista histórico, demos atenção a duas expressões, uma dirigida a João: «Está possesso do demónio!» (v. 33) e outra dirigida a Jesus: «Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores!» (v. 34). Duas desculpas fáceis, que revelam uma mentalidade fechada e unicamente capaz de condenar sem piedade. A expressão final relativa à sabedoria que foi justificada «por todos os seus filhos» (Mt escreve «pelas suas obras») leva-nos a pensar noutra categoria de pessoas diametralmente oposta: aqueles que buscam a verdade e que se deixam interpelar por toda a verdadeira pregação, abrindo-se ao de espírito de Deus que actua nas palavras e nas obras de Jesus.


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 1-11

Irmãos: 1Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. 9É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça que me foi concedida, não foi estéril. Pelo contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles: não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11Portanto, tanto eu como eles, assim é que pregamos e assim também acreditastes.

Evangelho: Lucas 7, 36-50

Naquele tempo, 36Um fariseu convidou Jesus para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. 37Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. 38Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. 39Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» 40Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. 41«Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. 42Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» 43Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. 46Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. 47Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» 48Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» 49Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»

REFLEXÃO

No evangelho de hoje, cruzam-se dois temas de fundo: em tom polémico, a oposição de Jesus a um fariseu; em tom de proposta, a relação entre Jesus e a pecadora. Mas, observando melhor, vemos que os dois temas se cruzam e se iluminam mutuamente. Ao fariseu, Jesus quer ensinar que uma pessoa não se considera só a partir do exterior, ou das suas experiências passadas. Uma mulher, notoriamente pecadora, é sempre capaz de tomar um novo rumo. Precisa apenas de encontrar irmãos, não hipercríticos e invejosos, mas alguém que a compreenda e redima. Jesus veio para isso! À mulher, Jesus quer ajudar a compreender que a vida vale, não pela soma das experiências passadas, ainda por cima negativas e deletérias, mas pelo encontro central e decisivo com a Sua pessoa, que não é só capaz de compreender e de perdoar, mas também de resgatar e de renovar. Foi para isso que Ele veio!
A nós, destinatários do Evangelho, Jesus quer fazer-nos compreender que é a fé que nos salva: a fé n´Ele, verdadeiro homem, amigos dos homens, sobretudo dos pecadores, e verdadeiro Deus, feito homem, feito amigo dos publicanos, dos pecadores e das meretrizes, Deus capaz de remeter todos os nossos pecados, um Deus com uma palavra consoladora e eficaz para cada um de nós: «A tua fé salvou te. Vai em paz.» (v. 50).


* 6ª FEIRA

Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 12-20

Irmãos: 12Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? 13Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. 14Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. 15E resulta até que acabamos por ser falsas testemunhas de Deus, porque daríamos testemunho contra Deus, afirmando que Ele ressuscitou a Cristo, quando não o teria ressuscitado, se é que, na verdade, os mortos não ressuscitam. 16Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. 17E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados. 18Por conseguinte, aqueles que morreram em Cristo, perderam-se. 19E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.

Evangelho: Lucas 8, 1-3

Naquele tempo, 1Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze 2e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; 3Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.

REFLEXÃO

Ao terminar esta secção do seu evangelho (6, 20-8,3), Lucas dá-nos algumas informações sobre quem acompanhava Jesus no seu ministério público. Acompanhavam-no os Doze, como bem sabemos. Mas, segundo uma informação exclusiva de Lucas, acompanhava-no também «algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades» (v. 2). Lucas indica os nomes delas.
Estas notícias não devem espantar-nos. Lucas, como sabemos, devido à sua formação e à sua sensibilidade, dava grande atenção à presença das mulheres na vida de Jesus. Aqui, elas não são apenas ouvintes da sua Palavra ou destinatárias dos seus milagres: colaboram com Ele, apoiando o seu ministério. Isto tem grande interesse: Jesus sabia redimir e libertar algumas mulheres da sua situação espiritual negativa, atraindo-as para junto de si e confiando-lhes tarefas de assistência em relação a Ele e aos apóstolos.
Jesus soube, pois, valorizar a presença e o serviço de algumas mulheres durante a sua vida pública, o que provavelmente desencadeou a crítica e a malevolência de alguns seus contemporâneos, apenas habituados a instrumentalizar e a explorar as mulheres. Também sobre este aspecto, tão actual, Jesus é apresentado por Lucas como o libertador de que a humanidade precisava.


* SÁBADO

Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 35-37.42-49

Irmãos: 35Mas dir-se-á: Como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam? 36Insensato! O que semeias não volta à vida, se primeiro não morrer. 37E o que semeias não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão, por exemplo, de trigo ou de qualquer outra espécie. 42Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; 43semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; 44semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual. Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual. 45Assim está escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente e o último Adão, um espírito que vivifica. 46Mas o primeiro não foi o espiritual, mas o terreno; o espiritual vem depois. 47O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo vem do céu. 48Tal como era o terrestre, assim são também os terrestres; tal como era o celeste, assim são também os celestes. 49E assim como trouxemos a imagem do homem da terra, assim levaremos também a imagem do homem celeste.

Evangelho: Lucas 8, 4-15

Naquele tempo, 4Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: 5«Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. 6Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. 7Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. 8Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado.»Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!» 9Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. 10Disse-lhes: «A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» 11«O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. 12Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. 13Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. 14A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. 15E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.»

REFLEXÃO

Lucas transmite-nos abundantes ensinamentos de Jesus em parábolas. Aqui, apresenta-nos a primeira e, para ele, a mais importante: a parábola do bom semeador. Com maior rigor, diríamos: a “parábola da semente”. De facto, a atenção do narrador parece concentrar-se, não tanto nos gestos do semeador, mas no destino das sementes lançadas. O começo da parábola leva-nos também nessa linha: «A semente é a palavra de Deus» (v. 11).
Porque terá Jesus querido marcar o começo do seu ministério público com esta parábola? Já se teria dado conta da dificuldade dos seus contemporâneos em escutar a sua pregação? Parece que sim… Mas a parábola talvez tenha um alcance mais vasto: nos diferentes destinos da semente lançada, podemos entrever, não só os diferentes modos de reacção dos seus ouvintes à sua Palavra, mas também as diferentes atitudes com que, ao longo da história da salvação, a humanidade reagiu e reage à presença das testemunhas de Deus e à sua pregação. Lida assim, a parábola da semente prolonga a sua mensagem ao longo de todos os séculos, antes e depois de Cristo, e chega até nós.

Ricardo Igreja


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