segunda-feira, 14 de junho de 2010

XIII DOMINGO TEMPO COMUM

* XIII  DOMINGO



«Tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém. Seguir-Te-ei para onde quer que fores»

LEITURA I – 1 Re 19,16b.19-21

Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: «Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar». Elias pôs-se a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze juntas de bois e guiava a décima segunda. Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço.

LEITURA II – Gal 5,1.13-18

Irmãos: Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão. Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito e o Espírito desejos contrários aos da carne. São dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.

EVANGELHO – Lc 9,51-62

Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?» Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».

REFLEXÃO

Lucas começa por apresentar as “exigências” do “caminho”. O nosso texto apresenta, nitidamente, duas partes, dois desenvolvimentos.
Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da
hostilidade entre judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de convivência entre os dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” (junto da orla costeira), ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus encontros”.
A primeira lição de Jesus ao longo desta “caminhada” vai para a atitude que os discípulos devem assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta agressiva, “musculada”, que retribua na mesma moeda, face à hostilidade manifestada pelos samaritanos (a referência ao “fogo do céu” leva-nos ao castigo que Elias infligiu aos seus adversários – cf. 2 Re 1,10-12); mas Jesus avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, pela resposta violenta, pela prepotência (no seu horizonte próximo continua a estar apenas a cruz e a entrega da vida por amor: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão). Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em percorrer o “caminho” de Jesus.
Na segunda parte (vers. 57-62), Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse “caminho” que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação.
Que condições são essas?
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância (o dever de sepultar os pais é um dever fundamental no judaísmo), impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.
Não podemos ver estas exigências como normativas: noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5)…
O que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.


*  2ª FEIRA

Primeira leitura: Amós 2, 6-10. 13-16

6Assim fala o Senhor:«Por causa do triplo e do quádruplo crime de Israel, não revogarei o meu decreto. Porque vendem o justo por dinheiro e o pobre, por um par de sandálias; 7esmagam sobre o pó da terra a cabeça do pobre, desviam os pequenos do caminho certo. Porque o filho e o pai dormem com a mesma jovem, profanando o meu santo nome. 8Porque se estendem ao pé de cada altar sobre as roupas recebidas em penhor, e bebem no templo do seu Deus o vinho dos que foram confiscados. 9Fui Eu que, diante deles, exterminei os amorreus, que eram altos como cedros e fortes como os carvalhos. Destruí-lhes por cima os frutos e por baixo as raízes. 10Eu é que vos tirei da terra do Egipto, e vos conduzi, através do deserto, durante quarenta anos, a fim de vos dar a posse da terra dos amorreus. 13Pois bem! Eis que vos vou esmagar contra o solo como esmaga um carro bem carregado de feno. 14O homem ágil não poderá fugir, o forte em vão recorrerá à sua força, o valente não salvará a sua vida. 15O que maneja o arco não resistirá, nem o homem de pés ligeiros escapará, nem o cavaleiro salvará a sua vida. 16E o mais corajoso entre os valentes fugirá nu, naquele dia.

Evangelho: Mateus 8, 18-22

Naquele tempo, 18vendo Jesus em torno de si uma grande multidão, decidiu passar à outra margem. 19Saiu-lhe ao encontro um doutor da Lei, que lhe disse: «Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.» 20Respondeu-lhe Jesus: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» 21Um dos discípulos disse-lhe: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» 22Jesus, porém, respondeu-lhe: «Segue-me e deixa os mortos sepultar os seus mortos.»

REFLEXÃO

Jesus decide «passar à outra margem» (v. 18). Mas, antes de executar a sua decisão, ilustra as exigências requeridas a quem O quer seguir, as exigências da fé. Quem quiser seguir a Cristo, como o escriba, deve saber ao que se compromete, qual o modo de vida que o espera, quem é Aquele a quem escolheu. Sabendo isso, há-de estar disposto a aceitar os sofrimentos, as adversidades e a paixão como passagens obrigatórias. Foi esse o caminho do Senhor e Mestre, Jesus Cristo. A expressão «as raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» está construída em estilo oriental: depois de duas imagens positivas, vem uma negativa. Alguns exegetas vêem aqui uma alusão ao celibato de Jesus: não tem casa, não tem família. O expressão «Filho do Homem», que aparece pela primeira vez no evangelho, indica a precaridade de Jesus, o seu ser sem casa nem raiz, sem referência nem refúgio. A contraposição entre Jesus e «os mortos» indica a ruptura que «Aquele que vive» veio inserir na experiência dos homens. Aquele que é a Vida, aponta o Caminho: não ter onde reclinar a cabeça, para dormir e para morrer, é condição para que a vida seja restituída à sua verdade.


*  3ª FEIRA

Primeira leitura: Amos 3, 1-8; 4, 11-12

1Ouvi esta palavra que o Senhor pronuncia contra vós, filhos de Israel, contra toda a família que fez sair do Egipto: 2«De todas as nações da terra, só a vós conheci. Por isso vos castigarei, por todas as vossas iniquidades.» 3Porventura andarão dois homens juntos, sem se terem posto de acordo? 4Porventura rugirá o leão na floresta, sem ter achado uma presa? Gritará o leãozinho no covil, sem ter lançado a garra a alguma coisa? 5Cairá uma ave no laço posto na terra, se o laço não estiver armado? Irá levantar-se a armadilha da terra, antes de ter apanhado alguma coisa? 6Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se assuste? Acontecerá alguma calamidade numa cidade, sem ser por disposição do Senhor? 7Porque o Senhor Deus nada faz sem revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas. 8O leão ruge: quem não temerá? O Senhor Deus fala: quem não profetizará? 11Causei no meio de vós uma confusão enorme semelhante à de Sodoma e Gomorra. Ficastes como um tição que se tira do fogo. Mas não voltastes para mim - oráculo do Senhor. 12Portanto, eis como te vou tratar, ó Israel!E como é assim que te vou tratar, prepara-te para comparecer diante do teu Deus, ó Israel!

Evangelho: Mateus 8, 23-27

Naquele tempo, 23Jesus subiu para o barco e os discípulos seguiram-no. 24Levantou-se, então, no mar, uma tempestade tão violenta, que as ondas cobriam o barco; entretanto, Jesus dormia. 25Aproximando-se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!» 26Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?» Então, levantando-se, falou imperiosamente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma. 27Os homens, admirados, diziam: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

REFLEXÃO

De modo muito estilizado, Mateus refere o episódio da tempestade acalmada. O propósito de Mateus não é tratar o acontecimento em si, mas indicar o seu significado. A Igreja é uma barca em tormenta, onde está Jesus e os discípulos. «Os discípulos seguiram-no», diz-nos o texto (v. 23). Esta palavra traduz, para Mateus, o aspecto essencial do discipulado: «seguir» Jesus. De facto, o verbo «seguir» é utilizado unicamente quando se trata de Jesus. Indica a união do discípulo com o Jesus da história, a participação na sua vida, a entrada no Reino através da pertença a Cristo pela obediência e pela confiança. Dizer a Jesus: «Desperta, Senhor, porque dormes?» (Sl 44, 24) e «Senhor, salva-nos, que perecemos!», significa reencontrar-se como crentes, como fiéis, como discípulos, e encontrar Jesus como Senhor e Cristo. Na sua presença não há tempestade, não há paixão, não há morte que resistam. A sua auroridade e o seu poder restauram a ordem da graça. Os discípulos nem sempre correspondem com fé e confiança ao senhorio de Jesus. O sono de Jesus representa o drama da morte do Filho do homem, que desafia a Igreja à fé e à serena confiança no Pai como Aquele que «se fez obediente até à morte e morte de cruz» (Fl 2, 8).


*  4ª FEIRA

Primeira leitura: Amós 5, 14-15. 21-24

14Buscai o bem e não o mal, para que vivais, e o Senhor, Deus do universo, estará convosco, como vós dizeis. 15Detestai o mal, amai o bem, fazei reinar a justiça no tribunal. Talvez, então, o Senhor, Deus do universo, tenha compaixão do resto de José.» 21«Eu detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. 22Se me ofereceis holocaustos e oblações, não as aceito, nem ponho os meus olhos nos sacrifícios das vossas vítimas gordas. 23Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas. 24Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca.

Evangelho: Mateus 8, 28-34

Naquele tempo, 28quando Jesus chegou à outra margem, à região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. 29Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» 30Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. 31E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» 32Disse-lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas. 33Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. 34Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.

REFLEXÃO

Mais uma vez, Mateus retoma uma história do Evangelho de Marcos (Mc 5, 1-20), contando-a de modo mais sintético. Por exemplo, ao falar dos porcos, refere uma grande vara, e não de cerca de dois mil porcos, como diz Marcos (5, 2ss.). Mas também amplia pormenores. Por exemplo, em vez de um possesso, como faz Marcos, fala de dois.
Fundamentalmente, a cena pretende descrever um encontro de Jesus com os pagãos, dominados pelas forças do mal, como já aconteceu no episódio do centurião (Mt 8, 1-17). Mas, enquanto o centurião acreditou e aceitou Jesus, os habitantes de Gádara não crêem e rejeitam-no.
A imagem dos «sepulcros», a força de Jesus diante dos demónios e a sua «fraqueza» diante dos homens faz desta cena o claro reflexo de uma meditação sobre a paixão, incluindo a rejeição pelos homens, bem expressa no pedido dos gadarenos para que Jesus se retire da sua cidade. A expressão «antes do tempo» (v. 29) também indica a relação desta cena com a paixão, quando Jesus, ainda que expulso da cidade santa, irá vencer sobre a força negativa da morte, da dispersão da Igreja, abrindo passagem para que fosse possível «passar por aquele caminho» (v. 28). O poder de Jesus só se revela no mistério insondável da cruz.


*  5ª FEIRA

Primeira leitura: Amós 7, 10-17

Naqueles dias, 10Amacias, sacerdote de Betel, mandou dizer a Jeroboão, rei de Israel: «Amós conspira contra ti, no meio da casa de Israel. A terra não pode suportar mais os seus oráculos. 11Pois Amós disse o seguinte: ‘Jeroboão morrerá pela espada e Israel será deportado para longe da sua terra.’» 12Amacias disse, então, a Amós: «Sai daqui, vidente, foge para a terra de Judá e come lá o teu pão, profetizando. 13Mas não continues a profetizar em Betel, porque aqui é o santuário do rei e o templo do reino.» 14Amós respondeu a Amacias: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor e cultivava frutos de sicómoros. 15O Senhor pegou em mim, quando eu andava atrás do meu rebanho, e disse-me: ‘Vai, e profetiza ao meu povo de Israel’. 16Ouve, pois, agora, a palavra do Senhor: Tu dizes-me: ‘Não profetizes contra Israel, nem profiras oráculos contra a casa de Isaac.’ 17Por isso, diz o Senhor: ‘A tua mulher será desonrada na cidade, os teus filhos e as tuas filhas cairão à espada, e a tua terra será repartida a cordel; tu morrerás numa terra impura, e Israel será levado cativo para longe da sua terra!’»

Evangelho: Mateus 9, 1-8

Naquele tempo, 1Jesus subiu para um barco, atravessou o mar e foi para a sua cidade. 2Apresentaram-lhe um paralítico, deitado num catre. Vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados.» 3Alguns doutores da Lei disseram consigo: «Este homem blasfema.» 4Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: «Porque alimentais esses maus pensamentos nos vossos corações? 5Que é mais fácil dizer: ‘Os teus pecados te são perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda’? 6Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder para perdoar pecados - disse Ele ao paralítico: ‘Levanta-te, toma o teu catre e vai para tua casa.» 7E ele, levantando-se, foi para sua casa. 8Ao ver isto, a multidão ficou dominada pelo temor e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens.

REFLEXÃO

A cura do paralítico é-nos contada pelos três Sinópticos. Como em outros casos, também aqui Marcos está por detrás dos relatos de Mateus e de Lucas. Mateus, mais uma vez, estiliza a cena, reduzindo-a ao essencial. A chave para descobrirmos a intenção do evangelista está nas palavras: «Vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados» (v. 2). Jesus tem poder para perdoar os pecados. A cura do paralítico prova-o. Mas Jesus dá outra prova desse poder: sabe o que os escribas estavam a pensar, sem que ninguém lho tivesse dito. Por conseguinte, Jesus tem um poder sobre-humano, sobrenatural, concedido pelo Espírito. E assim se revela a sua dignidade única e se justifica o seu poder único, que Lhe permite perdoar pecados. A multidão compreende e dá glória a Deus «por ter dado tal poder aos homens» (v. 8).
O poder Jesus para perdoar pecados foi comunicado à Igreja e, dentro da Igreja, aos homens escolhidos por Ele para desempenharem directamente a missão do perdão. O poder de perdoar os pecados é inseparável da pessoa de Jesus e da sua Igreja.


*  6ª FEIRA

Primeira leitura: Amós 8, 4-6. 9-12

4Ouvi isto, vós que esmagais o pobre e fazeis perecer os desvalidos da terra, 5dizendo: «Quando passará a Lua-nova, para vendermos o nosso trigo, e o sábado, para abrirmos os nossos celeiros, diminuindo o efá, aumentando o siclo e falseando a balança para defraudar? 6Compraremos os necessitados por dinheiro e o pobre por um par de sandálias, e venderemos até as alimpas do nosso trigo.» 9Naquele dia - oráculo do Senhor meu Deus farei com que o Sol se ponha ao meio-dia,e em pleno dia cobrirei a terra de trevas. 10Converterei as vossas festas em luto e os vossos cânticos em lamentações. Porei o cilício sobre todos os rins, e a navalha sobre todas as cabeças. O luto será como o que se faz por um filho único, e o seu fim, um dia de amargura. 11Eis que vêm dias - oráculo do Senhor Deus em que lançarei fome sobre o país. Não será fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. 12Vaguearão de um mar a outro mar, indo à toa desde o Norte até ao Oriente, à procura da palavra do Senhor, e não a encontrarão.

Evangelho: Mateus 9, 9-13

Naquele tempo, 9Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. 10Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. 11Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?» 12Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. 13Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

REFLEXÃO

O autor do primeiro evangelho apresenta-nos uma catequese sobre o pecado e sobre a reconciliação, unificando duas narrativas originariamente diferentes: uma sobre a vocação de Mateus e outra sobre a discussão suscitada pelo comportamento de Jesus, que andava na companhia de pecadores e de publicanos. A vocação de Mateus é apresentada em duas pinceladas que resumem o essencial: Mateus estava sentado à mesa dos impostos, pelo que ficamos a saber que era publicano; e, depois, a sua obediência imediata à palavra de Jesus, que o manda segui-Lo. O centro de interesse do evangelista está na palavra exigente de Jesus: «Segue-me». O chamamento feito por Jesus tem o mesmo tom imperativo, que Javé usara no Antigo Testamento. Por isso, era indiscutível e irrecusável. Mateus responde generosamente com plena liberdade e obediência. A obediência da fé.
A pergunta dos fariseus aos discípulos traduzia o escândalo e o descrédito que as «más companhias» de Jesus suscitavam nos bem-pensantes. A resposta de Jesus é desconcertante. A partir dela poderíamos raciocinar assim: Já que Deus se preocupa mais com o pecador do que com o justo, sejamos pecadores. Paulo refere que havia quem assim pensasse (cf. Rm 6, 1). Mas Jesus não glorifica o pecado nem o pecador. Apenas o quer libertar, perdoar, e não considerá-lo inimigo, como faziam os teólogos da época. Quer reintegrá-lo na comunidade dos homens e na amizade de Deus.


*  SÁBADO

Primeira leitura: Amós 9, 11-15

Eis o que diz o Senhor: «Naquele dia, levantarei a cabana arruinada de David,repararei as suas brechas, restaurarei as suas ruínas, e hei-de reconstruí-la como nos dias antigos, 12para que conquistem o resto de Edom e de todas as nações sobre as quais o meu nome foi invocado - oráculo do Senhor, que cumprirá todas estas coisas. 13Eis que vêm dias - oráculo do Senhor em que o lavrador seguirá de perto o ceifeiro e o que pisa os cachos, seguirá o semeador. Os montes destilarão mosto; todas as colinas se derreterão. 14Restaurarei o meu povo de Israel. Hão-de reconstruir e habitar as cidades devastadas. Plantarão vinhas e beberão do seu vinho, cultivarão pomares e comerão dos seus frutos. 15Hei-de plantá-los na sua terra, e nunca mais serão arrancados da terra que lhes dei!» - diz o Senhor, teu Deus.

Evangelho: Mateus 9, 14-17

Naquele tempo, foram ter com Ele os discípulos de João, dizendo: «Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» 15Jesus respondeu-lhes: «Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão-de jejuar.» 16«Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo puxa parte do tecido e o rasgão torna-se maior. 17Nem se deita vinho novo em odres velhos; de contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho e estragam-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres novos; e, desta maneira, ambas as coisas se conservam.»

REFLEXÃO

Jesus apresenta-se como o Messias esperado. Na linguagem simbólica oriental, as bodas simbolizavam o tempo da salvação. A imagem de Deus-Esposo, e das bodas como tempo da salvação, é recorrente no Antigo Testamento, particularmente em Oseias e em Isaías. O que havia de realmente novo nas palavras de Jesus era que Ele se apresentasse, realizando na sua pessoa, o conteúdo de um símbolo utilizado por Deus para descrever a sua relação de amor com o povo eleito (cf. Os 2, 18-20; Is 54, 5-6). A esperança de que Deus se mostraria a Israel como esposo fiel, como verdadeiro marido, estava realizada em Jesus. O que agora importava era fazer parte dos amigos do noivo para se alegrarem nas suas bodas. O acto de comer já não podia ser conotado com renúncia, sacrifício, luto. Passara o que era velho. Chegara a plenitude dos tempos. Na presença de Jesus, o esposo ressuscitado da Igreja, o jejum, como sinal de luto, não é atitude conveniente. Se o cristão jejua, é para manifestar a sua espera confiante no regresso do Senhor. Aliás, a morte do Ressuscitado é celebrada, não no jejum, mas no comer o pão e beber o vinho, até que Ele volte!
A novidade introduzida no mundo por Jesus é ainda significada pelas imagens do pano novo e do vinho novo. A sua mensagem só pode ser recebida por um mundo novo, por homens novos, isentos de preconceitos, que se deixem moldar pelo Espírito.
Passou o que era antigo. Mas isso não queria dizer que tudo o que era antigo não tivesse valor. Por isso, Mateus acrescenta: «Desta maneira, ambas as coisas se conservam» (v. 17).

Ricardo Igreja
 
 
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