quinta-feira, 10 de junho de 2010

XII DOMINGO TEMPO COMUM

*  XII DOMINGO



«És o Messias de Deus. O Filho do homem tem de sofrer muito»


LEITURA I – Zac 12,10-11;13,1

Eis o que diz o Senhor: «Sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de piedade e de súplica. Ao olhar para Mim, a quem trespassaram, lamentar-se-ão como se lamenta um filho único, chorarão como se chora o primogénito. Naquele dia, haverá grande pranto em Jerusalém, como houve em Hadad-Rimon, na planície de Megido. Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jarusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza.

LEITURA II – Gal 3,26-29

Irmãos: Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes baptizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.

EVANGELHO – Lc 9,18-24

Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» Eles responderam: «Uns, João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».

Reflexão:

A cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus (vers. 18). É um dado típico de Lucas que põe sempre Jesus a rezar antes de um momento fundamental (cfr. Lc 5,16; 6,12; 9,28-29; 10,21; 11,1; 22,32.40-46; 23,34). A oração é o lugar do reencontro de Jesus com o Pai; depois de rezar, Jesus tem sempre uma mensagem importante – uma mensagem que vem do Pai – para comunicar aos discípulos. A questão importante que, no contexto do episódio de hoje, Jesus tem a comunicar, tem a ver com a questão: “quem é Jesus?” A época de Jesus foi uma época de crise profunda para o Povo de Deus; foi, portanto, uma época em que o sofrimento gerou uma enorme expectativa messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão trazia, o Povo de Deus sonhava com a chegada desse libertador anunciado pelos profetas – um grande chefe militar que, com a força das armas, iria restaurar o império de seu pai David e obrigar os romanos opressores a levantar o jugo de servidão que pesava sobre a nação. Na época apareceram, aliás, várias figuras que se assumiram como “enviados de Deus”, criaram à sua volta um clima de ebulição, arrastaram atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabaram, invariavelmente, chacinados pelas tropas romanas. Jesus é também um destes demagogos, em quem o Povo vê cristalizada a sua ânsia de libertação? Aparentemente, Jesus não é considerado pelas multidões “o messias”: o Povo identifica-o, preferentemente, com Elias, o profeta que as lendas judaicas consideravam estar junto de Deus, reservado para o anúncio do grande momento da libertação do Povo de Deus (vers. 19); talvez a sua postura e a sua mensagem não correspondessem àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor. Os discípulos, no entanto, companheiros de “caminho” de Jesus, deviam ter uma perspectiva mais elaborada e amadurecida. De facto, é isso que acontece; por isso, Pedro não tem dúvidas em afirmar: “Tu és o messias de Deus” (vers. 20). Pedro representa aqui a comunidade dos discípulos – essa comunidade que acompanhou Jesus, testemunhou os seus gestos e descobriu a sua ligação com Deus. Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecer nele esse “enviado” de Deus, da linha davídica, que havia de traduzir em realidade essas esperanças de libertação que enchiam o coração de todos. Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso e apressa-se a desfazer possíveis equívocos e a esclarecer as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida (vers. 22). No seu horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por amor, que Ele realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu Povo. A última parte do texto (vers. 23-24) contém palavras destinadas aos discípulos: aos de ontem, de hoje e de amanhã. Todos são convidados a seguir Jesus, isto é, a tomar – como Ele – a cruz do amor e da entrega, a derrubar os muros do egoísmo e do orgulho, a renunciar a si mesmo e a fazer da vida um dom. Isto não deve acontecer em circunstâncias excepcionais, mas na vida quotidiana (“tome a sua cruz todos os dias”). Desta forma fica definida a existência cristã.


*  2ª FEIRA

Primeira leitura: 2 Reis 17, 5-8.13-15ª.18

Naqueles dias, 5Salmanasar invadiu todo o país e pôs cerco a Samaria, durante três anos. 6No ano nono do reinado de Oseias, o rei da Assíria conquistou a Samaria e deportou os israelitas para a Assíria. Estabeleceu-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas cidades da Média. 7Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os tirara do Egipto e libertara da opressão do Faraó, rei dos egípcios. Adoraram outros deuses 8e seguiram os costumes das nações que o Senhor expulsara da frente dos filhos de Israel, e os que foram introduzidos pelos reis de Israel. 13O Senhor admoestara Israel e Judá pela boca dos seus profetas e videntes: «Desviai-vos dos vossos maus caminhos, guardai os meus mandamentos e preceitos, observai fielmente a lei que prescrevi a vossos pais e que vos transmiti pelos meus servos, os profetas.» 14Mas eles não o quiseram ouvir, e endureceram o seu coração, imitando seus pais, que se tornaram infiéis ao Senhor, seu Deus. 15Desprezaram os seus preceitos e a aliança que Ele estabeleceu com os seus pais, e as advertências que lhes tinha feito. 18Então, o Senhor indignou-se profundamente contra os filhos de Israel e lançou-os para longe da sua face. Só ficou a tribo de Judá.

Evangelho: Mateus 7, 1-5

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1«Não julgueis, para não serdes julgados; 2pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. 3Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista? 4Como ousas dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tendo tu uma trave na tua? 5Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás melhor para tirar o argueiro da vista do teu irmão.»

Reflexão:

Na base dos provérbios que o evangelho hoje nos apresente, e noutros semelhantes, está o princípio da retribuição, que se apoia numa norma de paridade: o mesmo que fizeres aos outros, te farão a ti. Desperta-nos a atenção o passivo dos verbos: «sereis julgados», «sereis medidos». Estamos perante o chamado passivo divino. O sujeito destes verbos é Deus. Na forma activa, diríamos: Deus vos julgará, vos medirá. Sendo assim, trata-se de uma verdadeira ameaça. Quem pode resistir ao julgamento ou à medida de Deus?
Se virmos bem, Jesus não nos proíbe julgar e medir os outros, mas ensina-nos como fazê-lo. A medida do juízo divino será igual à que usarmos nos nossos julgamentos humanos. Na antiguidade, a medida com que se media a cessação de um bem, era a mesma que assegurava a sua restituição. Os rabinos, por sua vez, ensinavam que Deus Se servia de um duplo critério de juízo: a justiça e a bondade.
O convite a não julgar forma como que uma espécie de refrão no Novo Testamento. O próprio Cristo Se apresenta como aquele que não vem julgar, mas salvar (Jo 3, 7; cf. Jo 8, 11; Lc 23, 34). Paulo também nos previne contra o risco de fazermos julgamentos: «ao julgares o outro, a ti próprio te condenas» (Rm 2, 1).


*  3ª FEIRA

Primeira leitura: 2 Reis 19, 9b,-11.14-21.31-35ª.36

Naqueles dias 9Senaquerib, rei da Assíria, enviou de novo mensageiros a Ezequias para lhe dizer: 10«Isto direis a Ezequias, rei de Judá: não te deixes enganar pelo teu Deus, no qual puseste a tua confiança, pensando que Jerusalém não será entregue nas mãos do rei da Assíria. 11Ouviste dizer como os reis da Assíria trataram todos os países e os devastaram. Só tu é que irias escapar? 14Ezequias recebeu a carta das mãos dos mensageiros, leu-a, depois foi ao templo, e abriu-a diante do Senhor. 15E orou diante dele, dizendo: «Senhor, Deus de Israel, que estás sentado sobre os querubins, só Tu és o Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste os céus e a terra. 16Inclina, Senhor, os teus ouvidos e ouve! Abre, Senhor, os teus olhos e vê! Ouve, Senhor, a mensagem que Senaquerib mandou, para blasfemar contra o Deus vivo! 17É verdade, Senhor, que os reis da Assíria destruíram as nações, devastaram os seus territórios, 18e atiraram ao fogo os seus deuses, pois eles não eram deuses, eram apenas objectos feitos pelas mãos do homem, objectos de madeira e de pedra. Por isso, foram destruídos. 19Mas Tu, Senhor, nosso Deus, salva-nos agora das mãos de Senaquerib, a fim de que todos os povos da Terra saibam que Tu, o Senhor, és o único Deus.» 20Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Eu ouvi a oração que me fizeste a respeito de Senaquerib, rei da Assíria. 21Eis o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele: "A virgem, filha de Sião, despreza-te e escarnece de ti; atrás de ti meneia a cabeça a filha de Jerusalém. 31De Jerusalém surgirá um resto, e do monte de Sião sobreviventes. Fará tudo isto o zelo do Senhor. 32Portanto, eis o que diz o Senhor sobre o rei da Assíria: Ele não entrará nesta cidade, nem atirará flechas contra ela, não a rodeará de escudos, nem a cercará de trincheiras. 33Mas voltará pelo caminho por onde veio, sem entrar na cidade - oráculo do Senhor! 34Pois defenderei esta cidade e salvá-la-ei por amor de mim e de David, meu servo.» 35Nessa mesma noite, o anjo do Senhor apareceu no acampamento dos assírios e feriu cento e oitenta e cinco mil homens. 36Senaquerib, rei da Assíria retirou-se, retomou o caminho de sua terra e ficou em Nínive.»

Evangelho: Mateus 7, 6.12-14

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 6«Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés e, acometendo-vos, vos despedacem.» 12«Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.» 13«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. 14Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!».

Reflexão:

Mateus apresenta-nos dois provébios de difícil compreensão, por várias razões: vêm logo depois de Jesus nos ter proibido julgar os outros e nos ter mandado aplicar a medida com moderação, compreensão e perdão; não encontramos provérbios paralelos na literatura judaica que nos ajudem a compreender estes; apenas lemos no Talmud: «não entregueis a um pagão as palavras da Lei» e «não coloqueis coisas santas em lugares impuros», mas não ajudam muito no nosso caso. Os sacrifícios oferecidos no templo eram chamados «santos»; as pérolas, sob o ponto de vista comercial, eram preciosas. As palavras «santo» e «pérolas» provavelmente indicavam o Evangelho, a Boa Nova. Os «cães» e os «porcos», por sua vez, não eram os pagãos, como alguns dizem, mas todas aqueles que, pagãos ou não, desprezavam a Boa Nova, tal como os porcos desprezam as pérolas.
O evangelista aponta, depois, a regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (v.12). Este princípio encontra-se noutras religiões, nomeadamente no judaísmo. Mas com uma diferença: no judaísmo é formulado negativamente: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a Ti» É uma diferença importante, porque, «não fazer» é sempre algo negativo. Mas a maior diferença é que Jesus eleva essa regra a princípio universal.
Depois, Jesus cita os provérbios das duas portas e do dois caminhos, usados entre os moralistas da época para indicar o caminho da virtude, estreito e difícil, e o do vício, espaçoso e fácil. Mas Jesus introduz uma mudança: a porta e o caminho estreitos, da renúncia, do seguimento, da cruz, levam à vida; a porta e o caminho espaçosos, da satisfação dos apetites desordenados, levam à perdição. Há que escolher.


*  4ª FEIRA

Primeira leitura: 2 Reis 22, 8-13; 23, 1-3

Naqueles dias, 8O Sumo Sacerdote Hilquias disse ao escriba Chafan: «Encontrei no templo do Senhor o Livro da Lei.» Hilquias entregou este livro ao escriba Chafan, 9o qual, depois de o ler, foi ter com o rei e prestou-lhe contas da missão que lhe fora confiada: «Teus servos juntaram o dinheiro que se encontrava na casa do Senhor e entregaram-no aos encarregados do templo do Senhor.» 10E acrescentou:«O Sumo Sacerdote Hilquias entregou-me um livro.» E leu-o na presença do rei. 11Ao ouvir as palavras do Livro da Lei do Senhor, o rei rasgou as suas vestes 12e ordenou ao sacerdote Hilquias, a Aicam, filho de Chafan, a Acbor, filho de Miqueias, ao escriba Chafan e ao seu oficial Asaías: 13«Ide e consultai o Senhor acerca de mim, do povo e de todo o Judá, sobre o conteúdo deste livro, que acaba de ser descoberto. A cólera do Senhor deve ser grande contra nós, porque nossos pais não obedeceram às palavras deste livro, nem puseram em prática o que nele se nos prescreve.» 1O rei mandou vir à sua presença todos os anciãos de Judá e de Jerusalém, 2e subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, sacerdotes, profetas e todo o povo, pequenos e grandes. Leu, então, diante de todos, as palavras do Livro da Aliança, descoberto no templo do Senhor. 3Pondo-se de pé sobre o estrado, o rei renovou a aliança na presença do Senhor, comprometendo-se a seguir o Senhor, a observar os seus mandamentos, as suas instruções e os seus preceitos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, e a cumprir todas as palavras da aliança contidas neste livro. Todo o povo concordou com esta aliança.

Evangelho: Mateus 7, 15-20

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. 16Pelos seus frutos, os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? 17Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. 18A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. 19Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. 20Pelos frutos, pois, os conhecereis.»

Reflexão:

Jesus não impôs a selecção dos seus seguidores. O convite é para todos. Por isso, a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, compõe-se de «bons e de maus». Naturalmente, não tardaram a surgir dificuldades na comunidade, e impôs-se o discernimento ou distinção dos espíritos.
Na Igreja, povo de Deus, surgiram profetas que gozaram de grande estima, mas também falsos profetas. Havia que saber distingui-los. O critério para essa distinção era o fruto que produziam. A imagem da árvore encontra-se noutros textos bíblicos, por exemplo, em Is 61, 3, Jr 2, 21, Mt 15, 3, Jo 15, 1-8. A árvore boa dá bons frutos; a árvore má dá maus frutos.


*  5ª FEIRA

Primeira leitura: 2 Reis 24, 8-17

8Joiaquin tinha dezoito anos quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. 9Fez o mal aos olhos do Senhor, tal como o seu pai. 10Foi nesse tempo que os homens de Nabucodonosor, rei da Babilónia, vieram sobre Jerusalém e a sitiaram. 11Nabucodonosor chegou à cidade, quando as suas tropas a sitiavam. 12Joiaquin, rei de Judá, saiu ao encontro do rei da Babilónia, com sua mãe, com os altos funcionários, com os oficiais e com os eunucos; e o rei da Babilónia prendeu-o. Isto aconteceu no oitavo ano do reinado de Nabucodonosor. 13E como o Senhor tinha anunciado, Nabucodonosor levou dali todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, e quebrou todos os objectos de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera para o santuário do Senhor. 14Levou cativa toda a corte de Jerusalém, todos os chefes e todos os notáveis, ao todo dez mil, com todos os ferreiros e artífices; deixou apenas os pobres do país. 15Deportou Joiaquin de Jerusalém para a Babilónia, com a sua mãe, as suas mulheres, os eunucos do rei e os grandes do país. 16Todos os homens de valor, aptos para a guerra, em número de sete mil, os ferreiros e os artífices, em número de mil, o rei da Babilónia levou-os cativos para a Babilónia. 17Em lugar de Joiaquin, o rei da Babilónia nomeou rei seu tio Matanias, cujo nome mudou para Sedecias.

Evangelho: Mateus 7, 21-29

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21«Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. 22Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ 23E, então, dir-lhes-ei: ‘Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.’» 24«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.» 28Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, 29porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei.

Reflexão:

Ao concluir o Sermão da Montanha, Jesus previne contra a presunção de se salvar apenas pela invocação do nome divino, ou em virtude de acções carismáticas, sem as acompanhar com uma vida coerente, com a prática da caridade, ainda que sejam expressão da própria fé. Não se pode ficar pelo «dizer»; há que «fazer». Notemos também que a referência, no juízo final, será sempre Cristo: «me dirão», «minhas palavras» (cf. Mt 25). Também é significativa a acentuação de «muitos»: «muitos me dirão…». «Então, dir-lhes-ei»: no texto original, lê-se: «Então declararei», numa clara alusão ao «dia do Senhor», ao dia do juízo. Quando Cristo declara que não conhece (como na parábola das virgens insensatas: Mt 25, 12) tais «tais praticantes da iniquidade» (cf. Mt 13, 14; 24, 12), onde encontramos o mesmo termo), utiliza a fórmula judaica de excomunhão do mestre, que implicava uma suspensão temporária do discípulo.
O Sermão da Montanha repõe o esquema de bênçãos e maldições diante das quais era colocado o povo da Aliança (Lv 26, Dt 28) e termina com a expressão «e grande foi a sua ruína» (Mt 7, 27), que contrasta com as palavras de abertura: «Felizes…» (Mt 5, 2ss.). Notemos também o paralelismo escondido nas palavras «rocha» (Cristo) e «casa» (Igreja).
Finalmente, Cristo fala de duas maneiras de escutar a Palavra: de modo superficial e descomprometido, ou de modo atento e eficaz. Fala também das consequências de escutar de um ou de outro modo.


*  6ª FEIRA

Primeira leitura: 2 Reis 25, 1-12

1No nono ano do reinado de Sedecias, no dia dez do décimo mês, Nabucodonosor marchou com todo o seu exército contra Jerusalém. Acampou diante da cidade e levantou trincheiras em redor dela. 2O cerco da cidade durou até ao décimo primeiro ano do reinado de Sedecias. 3No nono dia do quarto mês, como a cidade se visse apertada pela fome e a população não tivesse mantimentos, 4abriu-se uma brecha na muralha da cidade. Então o rei e todos os homens de guerra fugiram de noite pela porta que está entre os dois muros, junto do jardim do rei. Entretanto, os caldeus cercavam a cidade. Os fugitivos tomaram o caminho da planície do Jordão, 5mas o exército dos caldeus perseguiu o rei e alcançou-o na planície de Jericó. Então as tropas, que o acompanhavam, abandonaram-no e dispersaram-se. 6O rei Sedecias foi preso e conduzido a Ribla, diante do rei da Babilónia, que pronunciou a sentença contra ele. 7Degolou os filhos na presença de Sedecias, furou-lhe os olhos e levou-o para a Babilónia, ligado com duas cadeias de bronze. 8No sétimo dia do quinto mês, no décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilónia, Nebuzaradan, chefe da guarda e servo do rei da Babilónia entrou em Jerusalém. 9Incendiou o templo do Senhor, o palácio real e todas as casas da cidade, começando pelas casas dos mais importantes de Jerusalém. 10E as tropas que acompanhavam o chefe da guarda, destruíram o muro que cercava Jerusalém. 11Nebuzaradan, chefe da guarda, levou cativos para Babilónia, os que restavam da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei da Babilónia e o resto da população. 12O chefe da guarda só deixou ali alguns pobres para cultivarem as vinhas e os campos.

Evangelho: Mateus 8, 1-4

1Ao descer do monte, seguia-o uma enorme multidão. 2Foi, então, abordado por um leproso que se prostrou diante dele, dizendo-lhe: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» 3Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Quero, fica purificado!» No mesmo instante, ficou purificado da lepra. 4Jesus, porém, disse-lhe: «Vê, não o digas a ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés preceituou, para que lhes sirva de testemunho.»

Reflexão:

Depois de apresentar Jesus como Messias da palavra, no Sermão da Montanha, Mateus dá início a uma nova secção, onde nos apresenta o Messias das obras, o taumaturgo que vai ao encontro daqueles que sofrem. Os milagres de Jesus são prova da verdade das suas palavras.
O evangelho de hoje apresenta-nos três milagres, que aconteceram em Cafarnaúm, onde Cristo teve a sua primeira casa, durante a missão pelas povoações das margens do mar de Tiberíades. Jesus actua em favor de pessoas atingidas pela desgraça, sem se importar com as normas de precaução e defesa previstas na Lei: toca o leproso, entra em casa de um pagão, aperta a mão de uma mulher doente, pessoas marginalizadas pela sociedade hebraica do tempo.
O leproso pede para ser «purificado», pois sabia que a sua doença era considerada fruto do pecado e expressão de impureza legal. É por isso que Jesus manda o leproso ao sacerdote, que tem de verificar a cura. O gesto do leproso, que chama a Jesus «Senhor» e se prostra diante dele, significa simultaneamente reconhecimento da divindade e beijo da sua imagem. Não esqueçamos que este texto foi escrito depois da ressurreição, e à luz do mistério pascal. Encontramo-lo noutras páginas de Mateus (2, 2.8; 9, 18; 15, 25; 20, 20; 28, 9.17).


*  SÁBADO

Primeira leitura: Lamentações 2,2.10-14.18-19

2O Senhor arrasou, sem piedade, todas as moradas de Jacob. E, em seu furor, arruinou as fortificações da capital de Judá. Lançou por terra e amaldiçoou o reino e os seus príncipes. 10Os anciãos da cidade de Sião sentam-se por terra, emudecidos. Lançam cinza sobre as suas cabeças, vestem-se de saco. As virgens de Jerusalém inclinam a cabeça para a terra. 11Os meus olhos derretem-se em lágrimas; fremem as minhas entranhas. Por terra derrama-se o meu fígado, por causa da ruína do meu povo, enquanto vão desfalecendo os meninos e as crianças de peito nas ruas da cidade. 12Onde haverá pão e vinho? - perguntam eles às mães, enquanto, como feridos de morte, iam desfalecendo nas praças da cidade, exalando o seu último suspiro no regaço materno. 13A que coisa te hei-de assemelhar? A que te comparar ó Jerusalém? A que te igualarei, para te consolar, ó jovem capital de Sião? É imensa como o mar a tua ruína; quem poderá curar-te? 14Os teus profetas vaticinaram-te apenas coisas falsas e loucas. Não te revelaram as tuas iniquidades, a fim de mudar o teu destino. Anunciaram-te apenas oráculos falsos e enganadores. 18Clama com o coração ao Senhor, ó muralha da cidade de Sião! Faz correr em torrente as tuas lágrimas noite e dia! Não te dês descanso, não cessem os teus olhos de chorar! 19Levanta-te, grita durante a noite, no começo das vigílias; derrama o teu coração como a água perante a face do Senhor. Ergue para Ele as mãos, pela vida dos teus filhos que desfalecem de fome por todos os recantos das ruas.

Evangelho: Mateus 8, 5-17

Naquele tempo, 5entrando Jesus em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: 6«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» 7Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» 8Respondeu-lhe o centurião:«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 9Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 10Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! 11Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, 12ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.» 13Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado. 14Entrando em casa de Pedro, Jesus viu que a sogra dele jazia no leito com febre. 15Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a. E ela, levantando-se, pôs-se a servi-lo. 16Ao entardecer, apresentaram-lhe muitos possessos; e Ele, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam doentes, 17para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores.

Reflexão:

Este milagre, narrado por Mateus, também se encontra em Lucas e em João, com algumas diferenças. Enquanto Mateus fala da cura de um filho-servo (pais), Lucas da cura de um servo (dûlos) e João da cura de um filho (hyiós). Na realidade trata-se de um prodígio onde confluem o poder taumatúrgico de Cristo, que actua de modo imediato («naquela mesma hora»), mesmo à distância, e a fé do centurião elogiada pelo Mestre. Esta situação oferece a Cristo ocasião para estigmatizar a falta de fé dos seus conterrâneos e descrever as tristes consequências da mesma. As expressões «choro e ranger de dentes» são idiomáticas, indicando a enorme desespero daqueles que, no castigo, reconhecem as suas culpas. A cena do centurião é como que um prelúdio da missão ou anúncio do Evangelho aos pagãos.
Jesus detém-se em Cafarnaúm, na casa de Pedro, cuja sogra estava doente com febre. E Jesus toma a iniciativa de a curar, - caso único em Mateus -, tocando-lhe, como fizera com o leproso. Uma vez curada, a mulher põe-se a servir, tornando-se a primeira «diaconisa» da história cristã.
Os últimos versículos sintetizam a obra de Cristo em favor dos endemoninhados e dos doentes. Mateus aproveita para fazer uma releitura de Is 53, 4: enquanto o profeta fala de sofrimentos e dores, o evangelista fala de enfermidades e doenças. Trata-se de uma expiação libertadora, fruto da solidariedade de Cristo com os homens.

Ricardo  Igreja


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