quarta-feira, 20 de julho de 2011

XVI DOMINGO TEMPO COMUM

* DOMINGO
 
  
 «Quem tem ouvidos, oiça»


LEITURA I – Sab 12,13.16-19

Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. O vosso poder é o princípio da justiça e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omnipotência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento.

LEITURA II - Rom 8,26-27

Irmãos: O Espírito Santo vem em auxilio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, sabe que Ele intercede pelos santos em conformidade com Deus.

EVANGELHO – Mt 13,24-43

Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: “O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio? Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’“. Jesus disse-lhes outra parábola: “O reino dos Céus pode comparar-se a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as hortaliças e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos”. Disse-lhes outra parábola: “O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado”. Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: “Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo”. Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: “Explica-nos a parábola do joio no campo”. Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Demónio. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça”.

REFLEXÃO

A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio (vers. 24-30). Trata-se de um quadro da vida quotidiana: há um “senhor” que semeia boa semente no seu campo, um “inimigo” que semeia o joio (nome de uma erva gramínea que nasce entre o trigo e o danifica) e “servos” dedicados, preocupados com o futuro da colheita. Tudo parece normal; o anormal é a reacção do “senhor” à “crise”: dá ordens para que deixem crescer trigo e joio lado a lado e que só na altura da ceifa seja feita a selecção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é para guardar nos celeiros.
A parábola deve ser entendida no contexto do ministério de Jesus. Ele conviveu com os pecadores, com os marginais, com os que levavam vidas moralmente condenáveis. Sentou-se à mesa com gente desclassificada, deixou-se tocar por pecadoras públicas, convidou um publicano a integrar o seu grupo de discípulos… Com esse comportamento “escandaloso”, Ele quis dizer a todos esses que a religião oficial excluía, que Deus os amava e que os convidava a fazer parte da sua família, a integrar a comunidade da salvação, a serem membros de pleno direito da comunidade do “Reino”.
Os fariseus consideravam inaceitável a atitude de Jesus. Para eles, quem não cumpria a Lei tinha de ser excluído do Povo santo de Deus e não tinha o direito de fazer parte do “campo” de Deus. A “lógica” dos fariseus condiz com a “lógica” de Deus?
Nesta parábola, Jesus pretende dar-nos uma lição sobre a “lógica” de Deus. Sugere que a “lógica” de Deus não é uma “lógica” de destruição, de segregação, de exclusão, mas é uma “lógica” de amor, de misericórdia, de tolerância. O Deus de Jesus Cristo é um Deus paciente e misericordioso, lento para a ira e rico de misericórdia, que dá sempre ao homem todas as oportunidades para refazer a existência e para integrar plenamente a comunidade do “Reino”. Ele tem um plano de salvação e de graça que oferece gratuitamente a todos os homens, bons e maus; depois, no tempo oportuno, ver-se-á quem são os maus e quem são os bons. De resto, não é muito fácil separar o bom e o mau, porque as duas realidades coexistem em todos os “campos”, em todos os corações.
O “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá ao homem todas as oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Os “servos” com excesso de zelo são os crentes (que trabalham no campo do “senhor”) rígidos e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração dos homens com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus.
O “campo” é o mundo e a história, onde coexistem o trigo (os sinais de esperança, de vida, de amor que tornam este mundo mais belo e mais feliz) e o joio (os sinais de morte, responsáveis pelo sofrimento, pela opressão, pela escravidão). É também o coração de cada homem e de cada mulher, capaz de opções de vida e capazes de opções de morte.
Jesus garante: os métodos de Deus não passam pelo castigo imediato, pela intolerância face às opções dos homens, pela incompreensão dos erros dos seus filhos; os métodos de Deus passam por deixar os homens crescer em liberdade, integrando a comunidade dos filhos de Deus.
Nos vers. 36-43, temos a aplicação que Mateus faz da parábola do trigo e do joio à vida da sua comunidade.
Nesta “explicação”, o eixo central da parábola original passa a ser outro. A problema já não é se na “lógica” de Deus o trigo e o joio podem crescer juntos, mas é a questão do “juízo” que espera bons e maus: Mateus insiste que, no “dia da colheita” (imagem que, nos profetas, se identifica com o dia do “juízo de Deus” sobre os homens e o mundo), os bons receberão a recompensa e os maus receberão o castigo.
Estamos nos finais do séc. I (década de 80). Já passou o entusiasmo dos primeiros anos; a vida das comunidades cristãs é marcada pela monotonia, pela falta de entusiasmo e empenho, pela mediocridade, pelo laxismo. Os cristãos aburguesaram-se e nem sempre vivem de forma empenhada e comprometida a sua fé. Como despertar de novo nos crentes o entusiasmo inicial?
Mateus vai usar os métodos dos pregadores do seu tempo… Recorrendo à linguagem e aos símbolos da apocalíptica, Mateus lembra aos cristãos da sua comunidade o juízo futuro de Deus. Os símbolos utilizados (o joio queimado no fogo, a fornalha ardente, o choro e o ranger de dentes) destinam-se a impressionar os crentes, a obrigá-los a inflectir os seus esquemas de vida e a voltar à fidelidade ao Evangelho. Portanto, não temos aqui uma descrição de como será o “fim do mundo”; o que temos aqui é um convite urgente e emocionado à conversão, ao aprofundamento do compromisso com Jesus e com o Evangelho.
O Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do grão de mostarda (vers. 31-32) e a parábola do fermento (vers. 33). São duas parábolas muito semelhantes, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma.
Numa e noutra, o quadro é o mesmo: sublinha-se a desproporção entre o início e o resultado final. O grão de mostarda é uma semente muito pequena, que no entanto pode dar origem a um arbusto de razoáveis dimensões; o fermento apresenta um aspecto perfeitamente insignificante, mas tem a capacidade de fermentar uma grande quantidade de massa. Estas duas comparações servem para apresentar o dinamismo do “Reino”. O “Reino” anunciado por Jesus compara-se ao grão de mostarda e ao fermento: parece algo insignificante, que tem inícios muito modestos e humildes, mas contém potencialidades para encher o mundo, para o transformar e renovar. Trata-se de um dinamismo de vida nova que começa como uma pequena semente lançada à terra numa província obscura e insignificante do império romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir história dos homens e potenciar o aparecimento de um mundo novo.
Com estas parábolas, Jesus responde às objecções daqueles que não acreditavam que da mensagem de um carpinteiro de Nazaré, pudesse surgir uma proposta de vida, capaz de fermentar o mundo e a história. Ele garante-nos que o “Reino” é uma realidade irreversível, que veio para ficar e para transformar o mundo. Escutar estas parábolas é receber uma injecção de ânimo e de esperança, capaz de levar a um compromisso mais sério e mais exigente com o “Reino”.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Êxodo 14, 5-18

Naqueles dias, 5foram anunciar ao rei do Egipto que o povo fugira, e o coração do faraó e dos seus servos mudou para com o povo, e disseram: «Que fizemos, pois deixámos partir Israel do nosso serviço?» 6O faraó atrelou o seu carro de guerra e tomou o seu povo consigo. 7Tomou seiscentos carros de guerra escolhidos e todos os carros de guerra do Egipto com três combatentes em cada um. 8O Senhor endureceu o coração do faraó, rei do Egipto, e ele perseguiu os filhos de Israel, e os filhos de Israel saíram de mão erguida. 9Os egípcios perseguiram-nos e alcançaram-nos quando acampavam junto do mar; todos os cavalos e carros de guerra do faraó, os seus cavaleiros e o seu exército estavam junto de Pi-Hairot, diante de Baal-Safon. 10Quando o faraó se aproximou, os filhos de Israel ergueram os olhos, e eis que os egípcios acampavam atrás deles, e os filhos de Israel tiveram muito medo e clamaram ao Senhor. 11Disseram a Moisés: «Foi por falta de túmulos no Egipto que nos trouxeste para morrermos no deserto? O que é isto que nos fizeste, fazendo-nos sair do Egipto? 12Não foi isto que te dissemos no Egipto, quando dizíamos: ‘Deixa-nos! Queremos estar ao serviço do Egipto, porque é melhor para nós servir o Egipto do que morrer no deserto’?» 13Moisés disse ao povo: «Não tenhais medo. Permanecei firmes e vede a salvação que o Senhor fará para vós hoje. Pois vós vistes os egípcios hoje, mas nunca mais os tornareis a ver. 14O Senhor combaterá por vós. E vós ficai tranquilos!» 15O Senhor disse a Moisés: «Porque clamas por mim? Fala aos filhos de Israel e manda-os partir. 16E tu, levanta a tua vara e estende a mão sobre o mar e divide-o, e que os filhos de Israel entrem pelo meio do mar, por terra seca. 17E eis que Eu vou endurecer o coração dos egípcios para que venham atrás deles, e serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército, dos seus carros de guerra e dos seus cavaleiros, 18e os egípcios saberão que Eu sou o Senhor, quando for glorificado por meio do faraó, dos seus carros de guerra e dos seus cavaleiros.»

Evangelho: Mateus 12, 38-42

Naquele tempo, 38 intervieram, então, alguns doutores da Lei e fariseus, que lhe disseram: «Mestre, queremos ver um sinal feito por ti.» 39Ele respondeu-lhes: «Geração má e adúltera! Reclama um sinal, mas não lhe será dado outro sinal, a não ser o do profeta Jonas. 40Assim como Jonas esteve no ventre do monstro marinho, três dias e três noites, assim o Filho do Homem estará no seio da terra, três dias e três noites. 41No dia do juízo, os habitantes de Nínive hão-de levantar-se contra esta geração para a condenar, porque fizeram penitência quando ouviram a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é maior do que Jonas! 42No dia do juízo, a rainha do Sul há-de levantar-se contra esta geração para a condenar, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Ora, aqui está alguém que é maior do que Salomão!»

REFLEXÃO

As leituras de hoje falam-nos da cegueira, do fechar do coração e da mente, diante das obras maravilhosas de Deus. Tanto no caso dos hebreus, como no dos escribas e fariseus, há um voluntário esquecimento, um fechar do coração diante daquilo que Deus e Jesus fizeram de extraordinário pelo povo. Trata-se de uma atitude de soberba, de auto-suficiência, de recusa do modo de agir de Deus, nem sempre em sintonia com as normas definidas pela mente humana. O homem é sempre tentado de aprisionar a Deus, de Lhe retirar a liberdade, e de apenas aceitar o que vê e sente.
Os hebreus, encurralados entre o mar e o exército egípcio, entram em pânico e começam a dizer coisas tresloucadas: «Foi por falta de túmulos no Egipto que nos trouxeste para morrermos no deserto?... Não foi isto que te dissemos no Egipto, quando dizíamos: ‘Deixa-nos! Queremos estar ao serviço do Egipto, porque é melhor para nós servir o Egipto do que morrer no deserto’?» (vv. 11-13). Nas suas mentes não há solução para o terrível impasse em que se encontram. Mas Deus encontra essa solução: «O Senhor disse a Moisés: «Porque clamas por mim? Fala aos filhos de Israel e manda-os partir» (v. 15). A solução não está em voltar atrás, mas em avançar, em continuar a marcha, confiando em Deus.
Também no nosso caminho encontramos obstáculos, dificuldades graves e, por vezes, somos tentados a render-nos, a voltar atrás. Mas não é esse o pensamento de Deus. «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus», diz Jesus (Lc 9, 62). A solução não está em voltar atrás, ao mais cómodo, ao menos arriscado, mas em pedir ao Senhor que nos faça encontrar a sua solução. Pode ser uma solução inesperada. Mas será sempre na direcção do caminho que, por obediência à sua vontade, iniciámos. E não devemos exigir «sinais», como fizeram os fariseus de que nos fala o evangelho. Deus deu aos Israelitas, no deserto, sinais estrepitosos. Também os pode dar no nosso tempo, se tal for do seu agrado. Mas não nos compete exigi-los. Pedir sinais é, muitas vezes, um alibi para a nossa preguiça, para a nossa pouca vontade de acolher e realizar o projecto de Deus.
A liturgia da palavra dá-nos uma lição de coragem e de confiança. Deus é forte e fiel. Ele chama-nos a avançar com Ele, que é capaz de transformar as dificuldades em ocasiões para «mostrar a sua glória», a sua presença vitoriosa. «Eu sou o Senhor», diz Deus a Moisés. De nós, apenas pretende confiança total, abandono, tal como os pedia ao povo de Israel para lhe dar a Terra prometida. A soberba, e a dureza de coração, foram praga constante em Israel, foram a cruz carregada por todos os profetas, a começar por Moisés. Cristo é o último destes enviados de Deus. A sua palavra ultrapassa imensamente a de todos os profetas anteriores. Procuremos ouvi-la para fortalecermos a nossa fé, renovarmos a nossa confiança e alcançarmos a salvação.


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Êxodo 14, 21-15, 1

Naqueles dias, 21Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez recuar o mar com um vento forte de oriente toda a noite, e pôs o mar a seco. As águas dividiram-se, 22e os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, por terra seca, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. 23Os egípcios perseguiram-nos, e todos os cavalos do faraó, os seus carros de guerra e os seus cavaleiros, entraram atrás deles para o meio do mar. 24E aconteceu que, na vigília da manhã, o Senhor olhou da coluna de fogo e de nuvem, para o acampamento dos egípcios, e lançou a confusão no acampamento dos egípcios. 25Ele desviou as rodas dos seus carros de guerra, e eles conduziam com dificuldade. Os egípcios disseram: «Fujamos diante de Israel, porque o Senhor combate por eles contra o Egipto.» 26O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão sobre o mar, e que as águas voltem sobre os egípcios, sobre os seus carros de guerra e sobre os seus cavaleiros.» 27Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar voltou ao seu leito normal, ao raiar da manhã, e os egípcios a fugir foram ao seu encontro. E o Senhor desfez-se dos egípcios no meio do mar. 28As águas voltaram e cobriram os carros de guerra e os cavaleiros; de todo o exército do faraó que entrou atrás deles no mar, não ficou nenhum. 29Os filhos de Israel caminharam em terra seca, pelo meio do mar, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. 30O Senhor salvou, naquele dia, Israel da mão do Egipto, e Israel viu os egípcios mortos à beira do mar. 31Israel viu a mão poderosa com que o Senhor actuou contra o Egipto, o povo temeu o Senhor e acreditou nele e em Moisés, seu servo. 1Então, Moisés cantou, e os filhos de Israel também, este cântico ao Senhor. Eles disseram: «Cantarei ao Senhor que é verdadeiramente grande: cavalo e cavaleiro lançou no mar.

Evangelho: Mateus 12, 46-50

Naquele tempo, 46estava Ele ainda a falar à multidão, quando apareceram sua mãe e seus irmãos, que, do lado de fora, procuravam falar-lhe. 47Disse-lhe alguém: «A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te.» 48Jesus respondeu ao que lhe falara: «Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?» 49E, indicando com a mão os discípulos, acrescentou: «Aí estão minha mãe e meus irmãos; 50pois, todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»

REFLEXÃO

A palavra de Deus apresenta-nos, hoje, duas páginas importantes: numa, faz-nos ver a acção maravilhosa de Deus; noutra, revela-nos a verdadeira família de Jesus.
A impressionante página do Êxodo, que relata a passagem do Mar Vermelho, ajuda-nos a compreender as maravilhas realizadas por Deus para nos salvar. A libertação dos Hebreus, com mão forte e poderosa, apesar da força dos inimigos, é figura da nossa própria libertação do pecado. Fomos libertados do poder do maligno pela morte e pela ressurreição de Jesus Cristo. Por isso, devemos fazer nossos os sentimentos de Israel: «Israel viu a mão poderosa com que o Senhor actuou contra o Egipto, o povo temeu o Senhor e acreditou nele» (v. 31). O temor de Deus é sumo respeito, inteira obediência, completo amor.
A passagem do Mar Vermelho, salvação para os Hebreus e morte para os Egípcios, mostra como a mesma realidade pode servir à vida e servir à morte, e tudo pode servir para o bem, se estivermos unidos a Cristo. Para os Israelitas, o mar foi caminho seguro, protecção maravilhosa, «um muro à sua direita e à sua esquerda» (v. 22); para os Egípcios, foi água de perdição. O mesmo sucederá durante a travessia do deserto: as serpentes serão instrumento de morte para os Hebreus; mas a serpente erguida num madeiro, torna-se instrumento de vida, etc. Tudo isto nos ajuda a tomar consciência do poder da fé. Tudo pode servir para o bem e para o mal. Mas o essencial é aderir a Deus. Pedro caminhará sobre a água, enquanto tiver confiança em Jesus. Quando hesitar, começará a afundar-se…
Jesus transformou a água amarga da sua paixão em água viva para nossa salvação. A morte e a vida cruzam-se: a morte do Filho Unigénito dará vida aos filhos adoptivos de Deus. Permaneçamos firmes na fé. A vitória que vence o mundo é a nossa fé.


* 4ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Êxodo 16, 1-5.915

Naqueles dias, 1partiram de Elim e toda a comunidade dos filhos de Israel chegou ao deserto de Sin, que está entre Elim e o Sinai, no décimo quinto dia do segundo mês, após a sua saída da terra do Egipto. 2Toda a comunidade dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Aarão no deserto. 3Os filhos de Israel disseram-lhes: «Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egipto, quando estávamos descansados junto da panela de carne, quando comíamos com fartura! Mas vós fizestes-nos sair para este deserto para fazer morrer de fome toda esta assembleia!» 4O Senhor disse a Moisés: «Eis que vou fazer chover do céu pão para vós. O povo sairá e recolherá em cada dia a porção de um dia. Isto é para o pôr à prova e ver se andará, ou não, na minha lei. 5No sexto dia, quando prepararem o que tiverem trazido, haverá o dobro daquilo que recolhem em cada dia.» 9Moisés disse a Aarão: «Diz a toda a comunidade dos filhos de Israel: ‘Aproximai-vos do Senhor, porque Ele ouviu as vossas murmurações.’» 10Enquanto Aarão falava a toda a comunidade dos filhos de Israel, eles voltaram-se para o deserto, e eis que a glória do Senhor apareceu na nuvem. 11O Senhor falou a Moisés, dizendo: 12«Ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Fala-lhes, dizendo: ‘Ao crepúsculo comereis carne, e pela manhã saciar-vos-eis de pão, e conhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus.’» 13À tardinha caíram tantas codornizes que cobriram o acampamento, e pela manhã havia uma camada de orvalho ao redor do acampamento. 14A camada de orvalho levantou, e eis que à superfície do deserto havia uma substância fina e granulosa, fina como geada sobre a terra. 15Os filhos de Israel viram e disseram uns aos outros: «Que é isto?», pois não sabiam o que era aquilo. Disse-lhes Moisés: «Isto é o pão que o Senhor vos deu para comer.

Evangelho: Mateus 13, 1-9

1Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar. 2Reuniu-se a Ele uma tão grande multidão, que teve de subir para um barco, onde se sentou, enquanto toda a multidão se conservava na praia. 3Jesus falou-lhes de muitas coisas em parábolas: «O semeador saiu para semear. 4Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho: e vieram as aves e comeram-nas. 5Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra: e logo brotaram, porque a terra era pouco profunda; 6mas, logo que o sol se ergueu, foram queimadas e, como não tinham raízes, secaram. 7Outras caíram entre espinhos: e os espinhos cresceram e sufocaram-nas. 8Outras caíram em terra boa e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; e outras, trinta. 9Aquele que tiver ouvidos, oiça!»

REFLEXÃO

Os Israelitas tinham iniciado a marcha através do deserto havia cerca de dois meses. A situação era cada vez mais precária, e o povo murmurava contra Moisés e contra Aarão: «Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egipto, quando estávamos descansados junto da panela de carne, quando comíamos com fartura! Mas vós fizestes-nos sair para este deserto para fazer morrer de fome toda esta assembleia!» (v. 3). Mas Deus não abandona o seu povo, e vai mostrar, a ele e a nós, que o seu modo de agir, a sua providência e a sua salvação não falham. Além disso, mostra também a sua paciência e a sua generosidade. Vai enviar, com abundância, o maná: «vou fazer chover do céu pão para vós» (v. 4). Mas também vai pôr o povo à prova. Por isso, diz a Moisés: «Isto é para o pôr à prova e ver se andará, ou não, na minha lei» (v. 4).
Esta página do Êxodo ajuda-nos a conhecer melhor o coração de Deus, a conhecer as insondáveis riquezas da sua providência, muito distante da nossa mesquinhez e dos nossos cálculos egoístas. O que nos ensina o texto de hoje será uma constante ao longo de toda a história bíblica, destinada a revelar-nos a infinita bondade de Deus. Basta confiar em Deus e ter fé n´Ele… Esta confiança e esta fé brotam geralmente de corações que procuram ser-Lhe fiéis, agradar-Lhe em tudo, como aconteceu com Jesus.
O evangelho alude a provações, ainda mais duras, à fidelidade daqueles a quem é dirigida a «palavra do Reino». Há pássaros que a comem, terras pedregosas onde seca, terra coberta de ervas que a abafam. Cada provação é um convite a aprofundar as raízes em direcção da água abundante, escondida sob a aridez do terreno. O Senhor quer dar-nos essa água, mas deseja que lha peçamos na oração insistente, humilde, fatigante, mas fiel… É a água viva da sua vontade. E, para que tenhamos a força necessária para a procurar, dá-nos o pão do céu, dá-Se a Si mesmo: «Eu sou o Pão vivo descido do céu» (Jo 6, 51).
Ambas as leituras tratam do agir misericordioso de Deus para aqueles que O conhecem e amam, e em ambas se revela a resposta da parte do homem. A parábola do evangelho, particularmente, revela-nos que Deus tem um Reino neste mundo, que nada tem a ver com a política ou a economia dos homens. É o Reino da salvação, da entrada do homem na atmosfera de Deus. É o Reino da sua presença, descoberta e acreditada, da sua bondade experimentada, da sua proximidade sentida e agradecida. É o Reino ao qual todos somos chamados.


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Êxodo 19, 1-2.9-11.16-20

Na terceira Lua-nova depois da saída dos filhos de Israel da terra do Egipto, naquele mesmo dia, chegaram ao deserto do Sinai. 2Partiram de Refidim e chegaram ao deserto do Sinai e acamparam no deserto. Israel acampou lá, diante da montanha. 9O Senhor disse a Moisés: «Eis que Eu venho ter contigo no coração da nuvem, para que o povo oiça quando Eu falar contigo e também acredite em ti para sempre.» E Moisés transmitiu ao Senhor as palavras do povo. 10O Senhor disse a Moisés: «Vai ter com o povo, e fá-los santificar hoje e amanhã; que eles lavem as suas roupas. 11Que estejam prontos para o terceiro dia, porque no terceiro dia o Senhor descerá aos olhos de todo o povo sobre a montanha do Sinai. 16E eis que, no terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e um som muito forte de trombeta, e todo o povo que estava no acampamento tremia. 17Moisés fez sair o povo do acampamento ao encontro de Deus, e colocaram-se no sopé da montanha. 18A montanha do Sinai estava toda coberta de fumo, porque o Senhor tinha descido sobre ela no fogo; e o seu fumo subia como o fumo de um forno, e toda a montanha tremia muito. 19O som da trombeta era cada vez mais forte. Moisés falava, e Deus respondia-lhe no trovão. 20O Senhor desceu sobre a montanha do Sinai, no cimo da montanha. O Senhor chamou Moisés ao cimo da montanha, e Moisés subiu.

Evangelho: Mateus 13, 10-17

Naquele tempo, 10aproximando-se de Jesus, os discípulos disseram-lhe: «Porque lhes falas em parábolas?» 11Respondendo, disse-lhes:«A vós é dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não lhes é dado. 12Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. 13É por isso que lhes falo em parábolas: pois vêem, sem ver, e ouvem, sem ouvir nem compreender. 14Cumpre-se neles a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis; e, vendo, vereis, mas não percebereis. 15Porque o coração deste povo tornou-se duro, e duros também os seus ouvidos; fecharam os olhos, não fossem ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, compreender com o coração, e converter-se, para Eu os curar. 16Quanto a vós, ditosos os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. 17Em verdade vos digo: Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver, e não viram, e ouvir o que estais a ouvir, e não ouviram.»

REFLEXÃO

As leituras Deus de hoje mostram-nos que Deus tem vários modos de Se revelar e de manifestar a sua vontade. No Sinai, manifesta-se na fúria da natureza, em «trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e um som muito forte de trombeta» (v. 16). Era neste cenário que «Moisés falava, e Deus respondia» (v. 19).
No evangelho, Jesus fala de modo muito simples e humano, uma vezes explicitamente e outras em parábolas, conforme os ouvintes. Verdadeiramente, como diz o autor da Carta aos Hebreus, «muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho» (Heb 1, 1-2). Mas, como quer que a voz de Deus se faça ouvir, é fundamental estar atentos, e acolher a Palavra com docilidade: a esses «é dado conhecer os mistérios do Reino do Céu» (v. 11). Mas, os que fechas os ouvidos à Palavra, os que lhe resistem, estão condenados, porque «fecharam os olhos, não fossem ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, compreender com o coração, e converter-se, para Eu os curar», diz o Senhor. É fácil fazer ouvidos surdos ao Senhor, quando outras vozes nos agradam mais. Mas não passam de vozes, de ar em movimento!
A essência de Deus e da manifestação da sua vontade pertencem ao mundo divino, sobrenatural. Com as nossas forças, com a nossa razão, não podemos compreender ou ter uma ideia sobre a realidade divina. Precisamos da iluminação de Deus, que nos permite ver mais além do que a nossa razão humana. Vem em nossa ajuda a fé, a capacidade dada por Deus ao homem, que lhe permite acolher com humildade e reconhecimento tudo quanto Deus lhe queira revelar.


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Êxodo 20, 1-17

Naqueles dias, 1Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: 2«Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão. 3Não haverá para ti outros deuses na minha presença. 4Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. 5Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, 6mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos. 7Não usarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão. 8Recorda-te do dia de sábado, para o santificar. 9Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. 10Mas o sétimo dia é o sábado consagrado ao Senhor, teu Deus. Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais, o estrangeiro que está dentro das tuas portas. 11Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que está neles, mas descansou no sétimo dia. Por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e santificou-o. 12Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te dá. 13Não matarás. 14Não cometerás adultério. 15Não roubarás. 16Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa. 17Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.»

Evangelho: Mateus 13, 18-23

Naqueles dias, disse Jesus aos seus discípulos: 18«Escutai, pois, a parábola do semeador. 19Quando um homem ouve a palavra do Reino e não compreende, chega o maligno e apodera-se do que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente à beira do caminho. 20Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe, de momento, com alegria; 21mas não tem raiz em si mesmo, é inconstante: se vier a tribulação ou a perseguição, por causa da palavra, sucumbe logo. 22Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra que, por isso, não produz fruto. 23E aquele que recebeu a semente em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende: esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta.»

REFLEXÃO

Na primeira leitura escutamos os dez mandamentos dados por Deus ao seu povo no Sinai. É uma página de grande utilidade também para nós, homens do século XXI, pois nos lembra o que devemos fazer e as prioridades com que havemos de agir. Os três primeiros mandamentos são os mais expostos à crítica e aos ataques de muitos homens do nosso tempo. É fácil menosprezá-los, esquecê-los, talvez até para sublinhar uma presumida maior importância de outros.
Dar o primeiro lugar a Deus, voltar-se para Ele, em atitude de fé e de oração, buscando a sua intimidade é algo de muito necessário e urgente. O mundo paganizado em que vivemos esquece Deus e o seu serviço. Precisamos de reviver estas grandes verdades da nossa fé. Podem ajudar-nos alguns pensamentos do Papa João Paulo II, expressos na alocução que pronunciou no mosteiro de Santa Catarina do Sinai, a 26 de Fevereiro de 2000. Dizia o Papa: «Os Dez Mandamentos não são imposição arbitrária de um Senhor tirânico. Eles foram escritos na pedra, mas, antes, foram escritos no coração do homem como lei moral universal, válida em todo o tempo e em todo o lugar. Hoje, como sempre, as Dez Palavras da Lei oferecem a única base autêntica para a vida dos indivíduos, das sociedades e das nações. Hoje como sempre, elas são o único futuro da família humana. Salvam o homem da força destrutiva do egoísmo, do ódio e da mentira. Evidenciam todas as falsas divindades que o reduzem à escravidão: o amor de si mesmo até à exclusão de Deus, a avidez do poder e do prazer que subverte a ordem da justiça e degrada a nossa dignidade humana e a do nosso próximo… Observar os Mandamentos significa ser fiéis a Deus, mas significa também ser fiéis a nós mesmos, à nossa autêntica natureza e às nossas mais profundas aspirações. O vento que ainda hoje sopra no Sinai recorda-nos que Deus deseja ser honrado nas suas criaturas e no seu crescimento: a glória de Deus é o homem vivo…».
O evangelho apresenta-nos um texto muito conhecido, o que pode gerar em nós a ideia de que se trata de coisa repetida e sabida, com a sensação de algum aborrecimento. É uma verdadeira tentação contra a Palavra de Deus, que havemos de afastar. A Palavra de Deus não é objecto de curiosidade, mas palavra de vida. É uma semente, disse Jesus. Mas não podemos acolhê-la com a atitude de um naturalista que a observa, secciona, examina ao microscópio e que, satisfeita a sua curiosidade, a deita fora. A semente da Palavra tem por objectivo suscitar vida.
Também os Mandamentos não são palavra para estudar, simples leis morais, mas semente de vida, de vida de relação e de comunhão com Deus, vida de relação harmoniosa com os outros homens, nossos irmãos.
Acolher a Palavra de Deus é viver unidos a Ele, é tomar a sério a vida, oferecendo com simplicidade a nossa vida para que seja fecunda para todos.


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Êxodo 24, 3-8

Naqueles dias, 3Moisés veio e relatou ao povo todas as palavras do Senhor e todas as normas, e todo o povo respondeu a uma só voz, e disse: «Poremos em prática todas as palavras que o Senhor pronunciou.» 4Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. Levantou-se de manhã cedo e construiu um altar no sopé da montanha, e doze estelas pelas doze tribos de Israel. 5E enviou os jovens dos filhos de Israel, e ofereceram holocaustos e sacrificaram ao Senhor novilhos como sacrifícios de comunhão. 6Moisés tomou metade do sangue e colocou-o em bacias, e metade do sangue espalhou-o sobre o altar. 7Tomou o Livro da Aliança e leu-o na presença do povo, que disse: «Tudo o que o Senhor disse, nós o faremos e obedeceremos.» 8Moisés tomou o sangue e aspergiu com ele o povo, dizendo: «Eis o sangue da aliança que o Senhor concluiu convosco, mediante todas estas palavras.»

Evangelho: Mateus 13, 24-30

Naquele tempo, 24Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. 26Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. 27Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ 28‘Foi algum inimigo meu que fez isto’ - respondeu ele. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancá-lo?’ 29Ele respondeu: ‘Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. 30Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.’»

REFLEXÃO

No momento solene da conclusão da Aliança, é revelada a intenção de Deus em estabelecer comunhão com o seu povo. Os Israelitas, por seu lado, manifestam intenção de ser dóceis à iniciativa de Deus: «Tudo o que o Senhor disse, nós o faremos e obedeceremos» (v. 7). Depois desta afirmação, Moisés aspergiu o povo com o sangue dos holocaustos, símbolo do dom total, dizendo: «Eis o sangue da aliança que o Senhor concluiu convosco» (v. 8).
Jesus irá retomar estas palavras na Última Ceia: «Este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados» (Mt 26, 28). É o sangue de quem está para se entregar, de quem aceitou a morte para haja comunhão definitiva entre Deus e o homem. Jesus concluirá na cruz a «nova» aliança, de que a sinaítica era apenas figura. Também esta aliança inclui o mandamento novo, o mandamento do amor: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei» (Jo 13, 34)
A palavra de Deus, em síntese, lembra-nos hoje importantes atitudes para a nossa vida e para o nosso comportamento de crentes. Em primeiro lugar, mostra-nos a importância de acolher a vontade de Deus. Essa vontade revela-se, não só nos mandamentos, mas em todas as outras disposições divinas, que dizem respeito ao nosso bem, tal como o seu projecto sobre nós, a nossa vocação e missão pessoais, correspondidas com obediência fiel a tudo quanto o Senhor dispõe sobre nós. Outra atitude é a de aliança, a de nos sentirmos unidos a Deus por laços de afecto e de amizade, ter um sentido de pertença e de devoção que torne espontânea, natural e confiante a nossa relação com Deus.
O evangelho também sugere uma atitude importante para a nossa vida de cristãos: a tolerância, o saber esperar, para não condenarmos sumariamente ninguém. Se havemos de defender-nos do mal, temos que habituar-nos a conviver com ele, mesmo correndo o risco de também cairmos nele. Só a Deus pertence julgar o mal. Para nós, o mal deverá ser como o cadinho onde deixamos purificar a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade. A pressa, a impaciência, o puritanismo, trouxeram muitos e grandes males à Igreja e aos fiéis.

Ricardo Igreja

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