sexta-feira, 20 de agosto de 2010

FESTA - 09 de Novembro

* DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE SÃO JOÃO DE LATRÃO



LEITURA I – Ez 47,1-2.8-9.12

Naqueles dias, o Anjo reconduziu-me à entrada do templo. Depois do limiar da porta saía água em direcção ao Oriente, pois a fachada do templo estava voltada para o Oriente. As águas corriam da parte inferior, do lado direito do templo, ao sul do altar. O Anjo fez-me sair pela porta setentrional e contornar o templo por fora, até à porta exterior que está voltada para o Oriente. As águas corriam do lado direito. O Anjo disse-me: «Esta água corre para a região oriental, desce para Arabá e entra no mar, para que as suas águas se tornem salubres. Todo o ser vivo que se move na água onde chegar esta torrente terá novo alento e o peixe será mais abundante. Porque aonde esta água chegar tornar-se-ão sãs as outras águas e haverá vida por toda a parte aonde chegar esta torrente. À beira da torrente, nas duas margens, crescerá toda a espécie de árvores de fruto; a sua folhagem não murchará, nem acabarão os seus frutos. Todos os meses darão frutos novos, porque as águas vêm do santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas de remédio».

LEITURA II – 1 Cor 3,9c-11.16-17

Irmãos: Vós sois edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, coloquei o alicerce e outro levanta o edifício. Veja cada um como constrói: ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo.

EVANGELHO – Jo 2,13-22

Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

REFLEXÃO

Os profetas de Israel tinham, em diversas situações, criticado o culto sacrificial que Israel oferecia a Deus, considerando-o como um conjunto de ritos estéreis, vazios e sem significado, uma vez que não eram expressão verdadeira de amor a Jahwéh; tinham, inclusive, denunciado a relação do culto com a injustiça e a exploração dos pobres (cfr. Am 4,4-5; 5,21-25; Os 5,6-7; 8,13; Is 1,11-17; Jer 7,21-26).

As considerações proféticas acabaram por consolidar a ideia de que a chegada dos tempos messiânicos implicaria a purificação e a moralização do culto prestado a Jahwéh no Templo. Nesta linha, o profeta Zacarias chegou a ligar explicitamente o "dia do Senhor" (o dia em que Deus vai intervir na história e construir um mundo novo, através do Messias) com a purificação do culto e a eliminação dos comerciantes que desenvolviam a sua actividade comercial "no Templo do Senhor do universo" - Zac 14,21).

O gesto que o Evangelho deste Domingo nos relata, deve entender-se neste enquadramento. Quando Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, deita por terra os trocos dos banqueiros e derruba as mesas dos cambistas (vers. 14-16), está a revelar-se como "o messias" e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos messiânicos.
No entanto, Jesus vai bem mais longe do que os profetas vétero-testamentários. Ao expulsar do Templo também as ovelhas e os bois que serviam para os ritos sacrificiais que Israel oferecia a Jahwéh (João é o único dos evangelistas a referir este pormenor), Jesus mostra que não propõe apenas uma reforma, mas a abolição do próprio culto. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era, antes de mais, algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus... Mas, além disso, o culto celebrado no Templo era algo de nefasto: em nome de Deus esse culto criava exploração, miséria, injustiça e, por isso, em lugar de potenciar a relação do homem com Deus, afastava o homem de Deus. Jesus, o Filho, com a autoridade que lhe vem do Pai, diz um claro "basta" a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a pactuar: "não façais da casa de meu Pai casa de comércio" (vers. 16).

Os líderes judaicos ficam indignados. Quais são as credenciais de Jesus para assumir uma atitude tão radical e grave? Com que legitimidade é que ele se arroga o direito de abolir o culto oficial prestado a Jahwéh?
A resposta de Jesus é, à primeira vista, estranha: "destruí este Templo e eu o reconstruirei em três dias" (vers. 19). Recorrendo à figura literária do "mal-entendido" (propõe-se uma afirmação; os interlocutores entendem-na de forma errada; aparece, então, a explicação final, que dá o significado exacto do que se quer afirmar), João deixa claro que Jesus não se referia ao Templo de pedra onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos (vers. 20), mas a um outro "Templo" que é o próprio Jesus ("Jesus, porém, falava do Templo do seu corpo" - vers. 21). O que é que isto significa? Jesus desafia os líderes que o questionaram, a suprimir o Templo que é ele próprio; mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra vez erigido no meio dos homens.
Jesus alude, evidentemente, à sua ressurreição. A prova de que Jesus tem autoridade para "proceder deste modo" é que os líderes não conseguirão suprimi-lo. A ressurreição garante que Jesus vem de Deus e que a sua actuação tem o selo de garantia de Deus.
No entanto, o mais notável, aqui, é que Jesus se apresenta como o "novo Templo". O Templo representava, no universo religioso judaico, a residência de Deus, o lugar onde Deus se revelava e onde se tornava presente no meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde se encontra com os homens e onde se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai oferece aos homens o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer - estabelecer relação entre
Deus e os homens - é Jesus que, a partir de agora, o faz.

Ricardo Igreja

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