quinta-feira, 22 de julho de 2010

XXXIII DOMINGO TEMPO COMUM

*  XXXIII DOMINGO



«Não é um Deus de mortos, mas de vivos»


LEITURA I – Mal 4,1-2

Há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há-de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação.

LEITURA II – 2Tes 7-12

Irmãos: Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós desordenadamente, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem.

EVANGELHO – Lc 21,5-19

Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-lhe: «Mestre, quando sucederá isso? Que sinal haverá de que está para acontecer?» Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: “sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim» Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.

REFLEXÃO

O discurso escatológico que Lucas nos traz é uma apresentação teológica onde aparecem, em pano de fundo, três momentos da história da salvação: a destruição de Jerusalém, o tempo da missão da Igreja e a vinda do Filho do Homem (que porá fim ao “tempo da Igreja” e trará a plenitude do “Reino de Deus”).
O texto começa com o anúncio da destruição de Jerusalém (vers. 5-6). Na perspectiva profética, Jerusalém é o lugar onde deve irromper a salvação de Deus (cf. Is 4,5-6; 54,12-17; 62; 65,18-25) e para onde convergirão todos os povos empenhados em ter acesso a essa salvação (cf. Is 2,2-3; 56,6-8; 60,3; 66,20-23). No entanto, Jerusalém recusou a oferta de salvação que Jesus veio trazer.
A destruição da cidade e do Templo significa que Jerusalém deixou de ser o lugar exclusivo e definitivo da salvação. A Boa Nova de Jesus vai, portanto, deixar Jerusalém e partir ao encontro de todos os povos. Começa, assim, uma outra fase da história da salvação: começa o “tempo da Igreja” – o tempo em que a comunidade dos discípulos, caminhando na história, testemunhará a salvação a todos os povos da terra.
Vem, depois, uma reflexão sobre o “tempo da Igreja”, que culminará com a segunda vinda de Jesus (vers. 7-19). Como será esse tempo? Como vivê-lo?
Em primeiro lugar, Lucas sugere que, após a destruição de Jerusalém, surgirão falsos messias e visionários que anunciarão o fim (o que é, aliás, vulgar em épocas de crise e de catástrofe). Lucas avisa: “não sigais atrás deles” (vers. 8); e esclarece: “não será logo o fim” (vers. 9). A destruição de Jerusalém no ano 70 pelas tropas de Tito deve ter parecido aos cristãos o prenúncio da segunda vinda de Jesus e alguns pregadores populares deviam alimentar essas ilusões… Mas Lucas (que escreve durante os anos 80) está apostado em eliminar essa febre escatológica que crescia em certos sectores cristãos: em lugar de viverem obcecados com o fim, os cristãos devem preocupar-se em viver uma vida cristã cada vez mais comprometida com a transformação “deste” mundo.
Em segundo lugar, Lucas diz aos cristãos o que acontecerá nesse “tempo de espera”: paulatinamente, irá surgindo um mundo novo. Para dizer isto, Lucas recorre a imagens apocalípticas (“há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino” – vers. 10, cf. Is 19,2; 2 Cr 15,6; “haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu” – vers. 11), muito usadas pelos pregadores populares da época para falar da queda do mundo velho – o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração – e do surgimento de um mundo novo… A questão é, portanto, esta: no tempo que medeia entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o “Reino de Deus” ir-se-á manifestando; o mundo velho desaparecerá e nascerá um mundo novo (recordemos que os discípulos não devem esperá-lo de braços cruzados, à espera que Deus faça tudo, mas devem empenhar-se na sua construção). É claro que a libertação plena e definitiva só acontecerá com a segunda vinda de Jesus.
Em terceiro lugar, Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós, pois Deus estará sempre presente; será com a força de Deus que eles enfrentarão os adversários e que resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão, até, resistir à dor de ser atraiçoados pelos próprios familiares e amigos… Quando Lucas escreve este texto, tem bem presente a experiência de uma Igreja que caminha e luta na história para tornar realidade o “Reino” e que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição e o martírio; as palavras de alento que ele aqui deixa – sobretudo a certeza de que Deus está presente e não abandona os seus filhos – devem ter constituído uma ajuda inestimável para esses cristãos a quem o Evangelho se destinava. O discurso escatológico define, portanto, a missão da Igreja na história (até à segunda vinda de Jesus): dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: Apocalipse 1,1-4; 2, 1-5ª

1Revelação de Jesus Cristo. Deus encarregou-o de manifestar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer e que Ele comunicou pelo anjo que enviou ao seu servo João, 2o qual atesta que tudo o que viu é Palavra de Deus e testemunho de Jesus Cristo. 3Feliz o que lê e os que escutam a mensagem desta profecia e põem em prática o que nela está escrito, porque o tempo está próximo. 4João saúda as sete igrejas da província da Ásia: graça e paz da parte daquele que é, que era e que há-de vir, da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono. 1Ao anjo da igreja de Éfeso, escreve: «Isto diz o que tem na mão direita as sete estrelas, o que caminha no meio dos sete candelabros de ouro: 2‘Conheço as tuas obras, as tuas fadigas e a tua constância. Sei também que não podes tolerar os malvados e que puseste à prova os que se dizem apóstolos - mas não o são - e os achaste mentirosos; 3tens constância, sofreste por causa de mim e não perdeste a coragem. 4No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primitivo amor. 5Lembra-te, pois, donde caíste, arrepende-te e torna a proceder como ao princípio.

Evangelho: Lucas 18, 35-43

Naquele tempo: 35Quando se aproximavam de Jericó, estava um cego sentado a pedir esmola à beira do caminho. 36Ouvindo a multidão que passava, perguntou o que era aquilo. 37Disseram-lhe que era Jesus de Nazaré que ia a passar. 38Então, bradou: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!» 39Os que iam à frente repreendiam-no, para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» 40Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Quando o cego se aproximou, perguntou-lhe: 41«Que queres que te faça?» Respondeu: «Senhor, que eu veja!» 42Jesus disse-lhe: «Vê. A tua fé te salvou.» 43Naquele mesmo instante, recobrou a vista e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, ao ver isto, deu louvores a Deus.

REFLEXÃO

Lucas situa o episódio da cura do cego nos arrabaldes de Jericó. Lá irá situar também o episódio de Zaqueu. Jericó, tal como Jerusalém, era uma cidade importante para o evangelista, porque evocava acontecimentos notáveis da história de Israel.
Há semelhanças entre os episódios da cura do cego e do encontro com Zaqueu: Jesus dá atenção ao cego, que jaz à beira da estrada (v. 40), mas a multidão tenta fazê-lo calar (v. 39ª); Jesus chama Zaqueu, que estava empoleirado no sicómoro (19, 5); a multidão murmura quando Ele se deixa acolher na casa de Zaqueu (19, 7).
O cego começa por chamar a Jesus «Filho de David» (v. 38) e pede-lhe «misericórdia»; depois, chama-o «Senhor» (v. 41) e pede-lhe um milagre. Há um amadurecimento da sua fé. Jesus fora-lhe apresentado apenas como «Jesus de Nazaré» (v. 37); mas ele acaba por reconhecê-lo como Messias e Senhor.
No final, depois de ter recebido o dom da vista, ouvirá Jesus dizer-lhe: «A tua fé te salvou» (v. 42). Só a fé nos permite reconhecer o mistério.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura: Apocalipse 3, 1-6. 14-22

1Ao anjo da igreja de Sardes, escreve: «Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: ‘Conheço as tuas obras; tens fama de estar vivo, mas estás morto. 2Sê vigilante e fortifica aquilo que está a morrer, pois não encontrei perfeitas as tuas obras, diante do meu Deus. 3Recorda, portanto, o que recebeste e ouviste. Guarda-o e arrepende-te. Pois se não estiveres vigilante, virei como um ladrão, sem que saibas a que hora virei ter contigo. 4No entanto, tens em Sardes algumas pessoas que não mancharam as suas vestes; esses caminharão comigo, vestidos de branco, pois são dignos disso. 5Assim, o que vencer andará vestido com vestes brancas e não apagarei o seu nome do livro da Vida, mas o darei a conhecer diante de meu Pai e dos seus anjos.’ 6Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» 14Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: «Isto diz o Ámen, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da Criação de Deus: 15Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. 16Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca. 17Porque dizes: ‘Sou rico, enriqueci e nada me falta’ - e não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um cego, um nu - 18aconselho-te a que me compres ouro purificado no fogo, para enriqueceres, vestes brancas para te vestires, a fim de não aparecer a vergonha da tua nudez e, finalmente, o colírio para ungir os teus olhos e recobrares a vista. 19Aos que amo, eu os repreendo e castigo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. 20Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.’ 21Ao que vencer, farei que se sente comigo no meu trono, assim como Eu venci e estou sentado com meu Pai, no seu trono. 22Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.»

Evangelho: Lucas 19, 1-10

Naquele tempo: 1Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. 2Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. 3Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. 4Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. 5Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» 6Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. 7Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador. 8Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais.» 9Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; 10pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.»

REFLEXÃO

Ao entrar em Jericó, Jesus encontra-se com Zaqueu, homem rico e chefe de publicanos (vv. 1s.). É útil darmos atenção ao itinerário de fé deste homem. «Procurava ver Jesus» (v. 3), mas não conseguia, seja devido à sua pequena estatura, seja à distância psicológica e espiritual que o afastava do Senhor. Mas era um homem à procura… Pelo que lemos no evangelho, procurava Jesus. Mas Jesus também procurava Zaqueu para lhe satisfazer o desejo. O encontro de ambos torna-se um momento de graça: «Hoje tenho de ficar em tua casa…Hoje veio a salvação a esta casa» (vv. 5.9). O termo “hoje” mostra-nos a realização da missão de Jesus, mas também a abertura de Zaqueu à salvação. A abertura ao hoje de Deus, a capacidade de se dar conta da sua presença no “hoje” da humanidade, é o segredo de quem está realmente disposto a seguir Jesus, que «veio pro¬curar e salvar o que estava perdido» (v. 10). Por isso, é oferecida a todos a oportunidade de O ver, de se encontrar com Ele, de O reconhecer como verdadeiramente é.


* 4ª FEIRA

Primeira leitura: Apocalipse 4, 1-11

1Depois disto, tive outra visão: havia uma porta aberta no céu e a voz que eu ouvira ao princípio, como se fosse de trombeta, falava comigo, dizendo: «Sobe aqui e vou mostrar-te o que deve acontecer depois disto.» 2Imediatamente, fui arrebatado em espírito: vi um trono no céu e sobre o trono havia alguém sentado. 3O que estava sentado era, no aspecto, semelhante à pedra de jaspe e de sardónica e uma auréola, de aspecto semelhante à esmeralda, rodeava o trono. 4Formando um círculo à volta do trono, vi que havia vinte e quatro tronos e sobre eles estavam sentados vinte e quatro anciãos vestidos de branco e com coroas de ouro na cabeça. 5Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões; sete lâmpadas de fogo ardiam diante do trono de Deus, as quais são os sete espíritos de Deus. 6Diante do trono havia também uma espécie de mar de vidro, transparente como cristal. No meio do trono e à volta do trono havia ainda quatro seres viventes cobertos de olhos por diante e por detrás: 7o primeiro vivente era semelhante a um leão; o segundo era semelhante a um touro; o terceiro tinha uma face semelhante à de um homem e o quarto era semelhante a uma águia em voo. 8Os quatro seres viventes tinham cada um seis asas cobertas de olhos por fora e por dentro. E não cessavam de cantar, de dia e de noite:«Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso, o que era, o que é e que há-de vir.» 9E, sempre que os seres viventes dão glória, honra e acção de graças ao que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos, 10os vinte e quatro anciãos prostram-se diante do que está sentado no trono e adoram ao que vive para sempre; e, lançando as suas coroas diante do trono, aclamam: 11«Digno és, Senhor e nosso Deus, de receber a glória, a honra e a força; porque criaste todas as coisas, por tua vontade foram criadas e existem.»

Evangelho: Lucas 19, 11-28

Naquele tempo, 11disse Jesus uma parábola, por estar perto de Jerusalém e por eles pensarem que o Reino de Deus ia manifestar se imediatamente. 12Disse, pois:«Um homem nobre partiu para uma região longínqua, a fim de tomar posse de um reino e em seguida voltar. 13Chamando dez dos seus servos, entregou-lhes dez minas e disse-lhes: ‘Fazei render a mina até que eu volte.’ 14Mas os seus concidadãos odiavam-no e enviaram uma embaixada atrás dele, para dizer: ‘Não queremos que ele seja nosso rei.’ 15Quando voltou, depois de tomar posse do reino, mandou chamar os servos a quem entregara o dinheiro, para saber o que tinha ganho cada um deles. 16O primeiro apresentou-se e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu dez minas.’ 17Respondeu-lhe: ‘Muito bem, bom servo; já que foste fiel no pouco, receberás o governo de dez cidades.’ 18O segundo veio e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.’ 19Respondeu igualmente a este: ‘Recebe, também tu, o governo de cinco cidades.’ 20Veio outro e disse: ‘Senhor, aqui tens a tua mina que eu tinha guardado num lenço, 21pois tinha medo de ti, que és homem severo, levantas o que não depositaste e colhes o que não semeaste.’ 22Disse-lhe ele: ‘Pela tua própria boca te condeno, mau servo! Sabias que sou um homem severo, que levanto o que não depositei e colho o que não semeei; 23então, porque não entregaste o meu dinheiro ao banco? Ao regressar, tê-lo-ia recuperado com juros.’ 24E disse aos presentes: ‘Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez minas.’ 25Responderam-lhe: ‘Senhor, ele já tem dez minas!’ 26Digo-vos Eu: A todo aquele que tem, há-de ser dado, mas àquele que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado. 27Quanto a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os cá e degolai-os na minha presença.» 28Dito isto, Jesus seguiu para diante, em direcção a Jerusalém.

REFLEXÃO

Nesta página do seu evangelho, Lucas quer ensinar-nos o que significa ser discípulos, e introduz o episódio do rei recusado. O primeiro ensinamento desenvolve o que já vem das páginas anteriores: o que é ser discípulo. O episódio do rei recusado introduz o tema das páginas seguintes. Mas importa dar atenção ao início desta parábola (v. 11), em que Lucas quer ilustrar o tema da iminência escatológica, ligando-se assim não só ao evento histórico da entrada de Jesus em Jerusalém, mas também com a questão «quando virá o reino de Deus» (cf. Lc 17, 20).
Do cruzamento de todos estes motivos, resulta uma interpretação múltipla e diferenciada da própria palavra, onde também se notam alguns retoques pessoais do evangelista. Por exemplo, a menção a «uma região longínqua» (v. 12), para onde foi o rei, é uma alusão ao longo espaço de tempo que ainda nos separa da segunda vinda de Jesus. Mais adiante, Lucas voltará a alertar-nos para possíveis erros de avaliação do tempo desse regresso (21, 8). Outro pormenor lucano tem a ver com a necessidade de fazer render as minas. Se o Senhor tarda em vir, também é certo que virá como juiz: importa ter frutos para Lhe apresentar, quando vier. Isto vale também para nós, hoje.


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: Apocalipse 5, 1-10

1Depois, vi na mão direita do que estava sentado no trono um livro escrito nas duas faces e selado com sete selos. 2Vi também um anjo forte que clamava com voz potente: «Quem é digno de abrir o livro e de quebrar os selos?» 3Mas ninguém, nem no céu nem na terra, nem debaixo da terra era capaz de abrir o livro nem de olhar para ele. 4E eu chorava copiosamente porque não fora encontrado ninguém digno de abrir o livro nem de olhar para ele. 5Então, um dos anciãos disse-me: «Não chores. Porque venceu o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David; Ele abrirá o livro e os seus sete selos.» 6Depois olhei e vi no meio do trono e dos quatro seres viventes e no meio dos anciãos, um Cordeiro. Estava de pé, mas parecia ter sido imolado. Tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra. 7Depois, o Cordeiro aproximou-se e recebeu o livro da mão direita do que estava sentado no trono. 8E, quando Ele recebeu o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma cítara e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. 9E cantavam um cântico novo, dizendo:«Tu és digno de receber o livro e de abrir os selos; porque foste morto e, com teu sangue, resgataste para Deus, homens de todas as tribos, línguas, povos e nações; 10e fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus; e reinarão sobre a terra.»

Evangelho: Lucas 19, 41-44

Naquele tempo, 41quando Jesus se aproximou de Jerusalém, ao ver a cidade chorou sobre ela e disse: 42«Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. 43Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; 44hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada.»

REFLEXÃO

Ao contrário de Marcos, que insiste na incredulidade do povo diante da pessoa e da mensagem de Jesus, Lucas, nesta página, acentua a sua lamentação e o seu choro sobre Jerusalém, estabelecendo um claro contraste com as aclamações e louvores que, pouco antes, lhe tinham sido dirigidos (cf. Lc 19, 38). O choro de Jesus revela-nos a sua humanidade autêntica e, ao mesmo tempo, a sua total participação no drama de uma humanidade que resiste a entrar no projecto salvífico de Deus. Jesus salva-nos com o seu poder divino; mas também com a sua fragilidade humana.
A lamentação de Jesus encerra um juízo e oferece uma motivação. O juízo está nas palavras: «Mas agora isto está oculto (por Deus) aos teus olhos» (v. 42). Estas palavras atribuem a Deus o que na realidade depende da livre opção humana. A motivação encontra-se nas palavras: «Se neste dia também tu tivesses conhe¬cido» (v. 42). Estas palavras correspondem a uma afirmação: Tu não conheceste nem queres conhecer. Mas o mais urgente é revelar dois elementos positivos que caracterizam a lamentação de Jesus: a paz e o tempo da visita.
A paz é o dom messiânico por excelência. Jesus veio proclamá-la e oferecê-la a todos. Mas é preciso acolhê-la para caminhar com Jesus até ao termo do seu itinerário. O tempo de que fala Jesus é o “tempo providencial” (kairós) em que Deus visita o seu o povo para o libertar e introduzir no Reino. São dois acenos que iluminam o seu martírio que está próximo.


* 6ª FEIRA

Primeira leitura: Apocalipse 10, 8-11

8Depois, a voz do céu, que eu tinha ouvido antes, falou-me de novo: «Vai, toma o livro aberto da mão do anjo que está de pé sobre o mar e sobre a terra.» 9Aproximei-me do anjo e pedi-lhe para me entregar o livrinho. Ele disse-me: «Toma e come-o. Ele vai amargar-te nas entranhas, mas, na tua boca, será doce como mel.» 10Tomei o livrinho das mãos do anjo e comi-o: na minha boca era doce como mel; mas, depois de o comer, as minhas entranhas encheram-se de amargura. 11Depois, disseram-me: «É necessário que continues a profetizar contra muitos povos, nações, línguas e reinos.»

Evangelho: Lucas 19, 45-48

Naquele tempo, 45Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os vendedores. 46E dizia-lhes: «Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» 47Ensinava todos os dias no templo, e os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, assim como os chefes do povo, procuravam matá-lo. 48Não sabiam, porém, como proceder, pois todo o povo, ao ouvi-lo, ficava suspenso dos seus lábios.

REFLEXÃO

Lucas começa por referir a palavra de Jesus contra os vendedores. Depois apresenta um resumo dos episódios que marcaram os últimos dias de Jesus na terra. «Está escrito: A minha casa será casa de oração», diz Jesus (v. 45). Jesus não reza só no templo, e chega a criticar o apego às instituições religiosas vistas apenas em perspectiva materialista. Mas o templo, enquanto casa de Deus, tem de ser respeitado, e não pode ser usado para outros fins que não sejam o culto de Deus. O templo não pode tornar-se «um covil de ladrões» (v. 46). «Está escrito»: não são apenas as profecias que determinam o comportamento de Jesus, mas é também o comportamento de Jesus que realiza em plenitude as profecias. A luz que ilumina os gestos de Jesus vem da sua mensagem profética, mas sobretudo da sua consciência messiânica.
«Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, assim como os chefes do povo, procuravam matá-lo» (v. 47): os poderosos permanecem na sua cegueira diante de Jesus e das suas palavras. Mas o povo simples, que reconhece a necessidade de um Salvador e de um Mestre, está suspenso dos seus lábios (v. 48).


* SÁBADO

Primeira leitura: Apocalipse 11, 4-12

4Estas duas testemunhas são as duas oliveiras e os dois candelabros que estão diante do Senhor da terra. 5Se alguém quiser fazer-lhes mal, sairá fogo da sua boca para devorar os seus inimigos; deste modo, se alguém tentar fazer-lhes mal, morrerá certamente. 6Eles têm o poder de fechar o céu para que a chuva não caia no tempo da sua profecia. E têm, igualmente, o poder de mudar as águas em sangue, de modo a provocar na terra toda a espécie de flagelos, sempre que o desejem fazer. 7E, quando terminarem de dar testemunho, a Besta que sobe do Abismo lutará contra eles, vencê-los-á e dar-lhes-á a morte. 8Os seus cadáveres ficarão na praça da grande cidade, que se chama, simbolicamente, Sodoma e Egipto, precisamente onde o seu Senhor foi crucificado. 9E, durante três dias e meio, homens de vários povos, tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não permitirão que sejam sepultados. 10Os habitantes da terra se felicitarão pela sua morte, farão festa e se presentearão mutuamente; porque eles, os dois profetas, tinham sido um tormento para a humanidade. 11Mas, depois desses três dias e meio, um sopro de vida, enviado por Deus entrou neles: puseram-se de pé e um grande terror caiu sobre os que os viram. 12Então, as duas testemunhas ouviram uma voz forte que vinha do céu e lhes dizia: ‘Subi para aqui’. E eles subiram ao céu numa nuvem, à vista dos seus inimigos.

Evangelho: Lucas 20, 27-40

Naquele tempo, 27Aproximaram-se alguns saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: 28«Mestre, Moisés prescreveu-nos que, se morrer um homem deixando a mulher, mas não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva, para dar descendência ao irmão. 29Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou-se e morreu sem filhos; 30o segundo, 31depois o terceiro, casaram com a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram sem deixar filhos. 32Finalmente, morreu também a mulher. 33Ora bem, na ressurreição, a qual deles pertencerá a mulher, uma vez que os sete a tiveram por esposa?» 34Jesus respondeu-lhes: «Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se; 35mas aqueles que forem julgados dignos da vida futura e da ressurreição dos mortos não se casam, sejam homens ou mulheres, 36porque já não podem morrer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus. 37E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. 38Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Ele, todos estão vivos.» 39Tomando, então, a palavra, alguns doutores da Lei disseram: «Mestre, falaste bem.» 40E já não se atreviam a interrogá-lo sobre mais nada.

REFLEXÃO

A pergunta dos saduceus manifesta uma mentalidade materialista e fechada à lógica do céu. Não se trata de levar ou não a mulher para a outra vida. A vida depois da morte será algo de completamente novo e inesperado. Jesus fala de imortalidade, coisa que não podemos experimentar desde já e que deve ser considerada um dom preciosos da vontade divina. As relações interpessoais na vida eterna serão de outra ordem: não nos fecharemos na relação com uma pessoa, mas estaremos abertos a todos e a Deus. Finalmente Jesus afirma que os ressuscitados serão «semelhantes aos anjos». Não se trata de uma expressão de desprezo pelo matrimónio, mas da afirmação de que a vida eterna será diferente da vida deste mundo: mais próxima de Deus a quem louvaremos e serviremos, como fazem os anjos.
Os vv. 39 e 40 mostram-nos que entre os escribas também havia pessoas que apreciavam a doutrina de Jesus, mas não tinham coragem para ser coerentes até às últimas consequências, isto é, até comprometer-se com Ele.

Ricardo Igreja




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