sexta-feira, 16 de julho de 2010

XXIX DOMINGO TEMPO COMUM

* XXIX DOMINGO


«Deus fará justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam»


LEITURA I – Ex 17,8-13ª

Naqueles dias, Amalec veio a Refidim atacar Israel. Moisés disse a Josué: «Escolhe alguns homens e amanhã sai a combater Amalec. Eu irei colocar-me no cimo da colina, com a vara de Deus na mão». Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. Quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec. Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas, trouxeram uma pedra e colocaram-no por debaixo para que ele se sentasse, enquanto Aarão e Hur, um de cada lado, lhe seguravam as mãos. Assim se mantiveram firmes as suas mãos até ao pôr do sol e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.

LEITURA II – 2 Tim 3,14-4,2

Caríssimo: Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina. 

EVANGELHO – Lc 18,1-8

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha Ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre esta terra?»

REFLEXÃO

O nosso texto consta de uma parábola e da sua aplicação teológica.
Os personagens centrais da parábola (vers 2-5) são uma viúva e um juiz. A viúva, pobre e injustiçada (na Bíblia, a “viúva” é o protótipo do pobre sem defesa, vítima da prepotência dos ricos e dos poderosos), passava a vida a queixar-se do seu adversário e a exigir justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”, não lhe prestava qualquer atenção… No entanto, o juiz – apesar da sua dureza e insensibilidade – acabou por fazer justiça à viúva, a fim de se livrar definitivamente da sua insistência importuna.
Apresentada a parábola, vem a sua aplicação teológica (vers. 6-8). Se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus (que não é, nem de perto nem de longe, um juiz prepotente e sem coração) não iria escutar os “seus eleitos que por Ele clamam dia e noite e iria fazê-los esperar muito tempo?”
Naturalmente, estamos diante de uma pergunta retórica. É evidente que, se até um juiz insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência, com muito mais motivo Deus – que é rico em misericórdia e que defende sempre os débeis – estará atento às súplicas dos seus filhos.
Dado o contexto em que a parábola aparece, é certo que Lucas pretende dirigir-se a uma comunidade cristã cercada pela hostilidade do mundo, que começava a ver no horizonte próximo o espectro das perseguições e que estava desanimada porque, aparentemente, Deus não escutava as súplicas dos crentes e não intervinha no mundo para salvar a sua Igreja. A resposta que Lucas deixa aos seus cristãos é a seguinte: ao contrário do que parece, Deus não abandonou o seu Povo, nem é insensível aos seus apelos; Ele tem o seu projecto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir…
Aos crentes resta moderar a sua impaciência e confiar em que Ele não deixará de intervir para os libertar.
Que é que tudo isto tem a ver com a oração? Porque é que esta é uma parábola sobre a necessidade de rezar (“Jesus disse-lhes uma parábola sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar” – vers. 1)? Lucas pede aos cristãos a quem a mensagem se destina que, apesar do aparente silêncio de Deus, não deixem nunca de dialogar com Ele. É nesse diálogo que entendemos os projectos e os ritmos de Deus; é nesse diálogo que Deus transforma os nossos corações; é nesse diálogo que aprendemos a entregar-nos nas mãos de Deus e a confiar n’Ele. Sobretudo, que nada (nem o desânimo, nem a desconfiança perante o silêncio de Deus) nos leve a desistir de uma verdadeira comunhão e de um profundo diálogo com Deus.


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: Efésios 2, 1-10

Irmãos: 1Vós estáveis mortos pelas vossas faltas e pecados, 2aqueles em que vivestes outrora, de acordo com o curso deste mundo, de acordo com o príncipe que domina os ares, o espírito que agora actua nos rebeldes... 3Como eles, todos nós nos comportámos outrora: entregues aos nossos desejos mundanos, fazíamos a vontade dele, seguíamos os seus impulsos, de tal modo que estávamos sujeitos por natureza à ira divina, precisamente como os demais. 4Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, 5precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo - é pela graça que vós estais salvos - 6com Ele nos ressuscitou e nos sentou no alto do Céu, em Cristo. 7Pela bondade que tem para connosco, em Cristo Jesus, quis assim mostrar, nos tempos futuros, a extraordinária riqueza da sua graça. 8Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; 9não vem das obras, para que ninguém se glorie. 10Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos.

Evangelho: Lucas 12, 13-21

Naquele tempo, 13alguém do meio multidão disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» 14Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» 15E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» 16Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. 17E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: ‘Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?’ 18Depois continuou: ‘Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. 19Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ 20Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ 21Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»

REFLEXÃO

Ao contar o episódio do pedido que alguém faz a Jesus para que resolva uma questão familiar, Lucas introduz a parábola do homem rico cujo campo produzira com abundância. Esse homem decide demolir os celeiros, construir outros e, depois de recolher todos os bens, pensa viver muitos anos sossegado a usufruir deles sozinho. Mas Deus não aceita a sua insensatez, fazendo-lhe ver que é Ele o senhor da vida e que, de um momento para o outro (sempre muito em breve!), o rico avarento será chamado a dar contas dela.
O texto termina com uma afirmação sapiencial muito forte: «Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus» (v. 21). Quem pensa acumular bens para enriquecer unicamente em vista de si mesmo é insensato; diante de Deus só se enriquece vivendo o preceito do amor. Só quem dá se torna verdadeiramente rico, recebendo o amor de Deus e a vida eterna.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura: Efésios 2, 12-22

Irmãos: 12No tempo em que éreis pagãos, vós estáveis sem Cristo, excluídos da cidadania de Israel e estranhos às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. 13Mas em Cristo Jesus, vós, que outrora estáveis longe, agora, estais perto, pelo sangue de Cristo. 14Com efeito, Ele é a nossa paz, Ele que, dos dois povos, fez um só e destruiu o muro de separação, a inimizade: na sua carne, 15anulou a lei, que contém os mandamentos em forma de prescrições, para, a partir do judeu e do pagão, criar em si próprio um só homem novo, fazendo a paz, 16e para os reconciliar com Deus, num só Corpo, por meio da cruz, matando assim a inimizade. 17E, na sua vinda, anunciou a paz a vós que estáveis longe e paz àqueles que estavam perto. 18Porque, é por Ele que uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai. 19Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, 20edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. 21É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.

Evangelho: Lucas 12, 35-38

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 35«Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. 36Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. 37Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. 38E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles.

REFLEXÃO

«Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpa¬das» (v. 35). Este convite do Senhor é seguido de uma bem-aventurança: «Felizes aqueles servos» (v. 37). Esta bem-aventurança está colocada entre duas parábolas: a dos servos que esperam o seu senhor, e a do senhor que, ao regressar, em vez de se alimentar e descansar, convida os servos para a mesa e os serve. Ele mesmo!
E vem o tema da vigilância tão frequente no ensino de Jesus. A imagem das lâmpadas lembra a parábola das 10 virgens (Mt 25, 1-13) e tem o seu contraponto no sono de Pedro, Tiago e João no jardim das Oliveiras. Eles dormiam porque «os seus olhos estavam pesados» (Mc 14, 40). O convite de Jesus: «Vigiai e orai, para não cederdes à tentação» (Mc 14, 38) tinha caído em saco roto.
Os cintos apertados e as lâmpadas acesas indicam a atitude de estar prontos a permanecer ou a partir, conforme as ordens do senhor. Inspirando-se nos costumes da sua terra, Jesus aponta a vigilância espiritual como uma atitude importante para o cristão. Lucas regista outro convite de Jesus: «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão» (Lc 21, 34). A devassidão entorpece os olhos do coração, dificulta o crescimento e ilude a vida. O torpor espiritual faz perder o sentido da vida actual e futura. A certa altura o cristão já não sabe por que razões viver a sua fé… O que é dramático!


* 4ª FEIRA

Primeira leitura: Efésios 3, 2-12

Irmãos: 2Com certeza, ouvistes falar da graça de Deus que me foi dada para vosso benefício, a fim de realizar o seu plano: 3que, por revelação, me foi dado conhecer o mistério, tal como antes o descrevi resumidamente. 4Lendo-o, podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, 5que, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito: 6os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho. 7Dele me tornei servidor, pelo dom da graça de Deus que me foi dada, pela eficácia do seu poder. 8A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas 10para que agora, por meio da Igreja, seja dada a conhecer, aos Principados e às Autoridades no alto do Céu, a multiforme sabedoria de Deus, 11de acordo com o desígnio eterno que Ele realizou em Cristo Jesus Senhor nosso. 12Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança.

Evangelho: Lucas 12, 39-48

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 39Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. 40Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» 41Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» 42O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? 43Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. 44Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. 45Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’ e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. 47O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. 48Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»

REFLEXÃO

Esta parábola alerta-nos para o perigo de vivermos uma vida adormentada, não tendo em consideração que não seremos avisados da hora em que o Senhor Jesus há-de vir pedir-nos contas. É, mais uma vez, o tema da vigilância. Pedro, em vez de se deixar provocar positivamente, pergunta se a parábola é para os discípulos ou também para todos. Parece insinuar que os que seguem Jesus, os crentes e praticantes, possam viver tranquilos. Porque, então, dirigir-lhes um discurso tão inquietante? Pedro parece não ter gostado nada das palavras de Jesus.
Em vez de lhe responder, Jesus, como noutras ocasiões, faz outra pergunta: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente?» (v. 42). Jesus é um provocador! E conta mais uma parábola em que manifesta a satisfação do senhor (que é o “Senhor!”) que, ao regressar, encontra os servos a cumprir fielmente os seus deveres. Premeia-os generosamente (vv. 43s.). Mas os servos infiéis aos seus deveres, malcomportados e violentos, serão castigados severamente (vv. 45s.). E a maior severidade será para aqueles que, conhecendo melhor o Senhor e a sua vontade, em vez de a cumprirem amorosamente, se comportam de modo infiel (vv. 47s.).


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: Efésios 3, 14-21

Irmãos: 14Eu dobro os joelhos diante do Pai, 15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus. 20Àquele que pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder que eficazmente exerce em nós, 21a Ele a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos! Ámen.

Evangelho: Lucas 12, 49-53

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 49«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! 50Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! 51Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. 52Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; 53vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»

REFLEXÃO

Se a oração de Paulo nos levasse a um espiritualismo aéreo, o texto do evangelho encarregar-se-ia de nos fazer aterrar. Não estamos “naturalmente” prontos para acolher «toda a plenitude de Deus». Tal não acontece por uma dilatação espontânea do nosso coração às dimensões da vocação cristã. Só pelo combate espiritual se chega a tal plenitude. Jesus, que se declarou pela paz, é contra o pacifismo, aquele pacifismo falso e filho do equívoco, da confusão, da vilania e da tristeza.
Vim estabelecer «a divisão» (v. 51). Como é possível? Não foi Jesus que, na última ceia, rezou para que todos tivessem «um só coração e uma só alma»? (cf. Jo 17). Não de trata de uma contradição mas de um aprofundamento. Para abrir o coração e o meio em que vive à paz de Cristo, o discípulo deve dissociar-se de todos quantos, na mente e no coração, pertencem ao mundo que «jaz sob o poder do Maligno» (1 Jo 5, 19). «Não é possível servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24). Jesus usa o termo «mamona» que não significa só o dinheiro, mas todo e qualquer ídolo, anichado na mente e no coração de quem O quer seguir e fazer parte do Reino de Deus, fonte de paz e de amor.


* 6ª FEIRA

Primeira leitura: Efésios 4, 1-6

Irmãos: 1Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; 2com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, 3esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; 5um só Senhor, uma só fé,um só baptismo; 6um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos.

Evangelho: Lucas 12, 54-59

Naquele tempo dizia Jesus às multidões: 54«Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: ‘Vem lá a chuva’; e assim sucede. 55E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai haver muito calor’; e assim acontece. 56Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?» 57«Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo? 58Por isso, quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te na prisão. 59Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último centavo.»

REFLEXÃO

Jesus repreende os seus contemporâneos, que sabem distinguir os sinais meteorológicos, mas não o sinal que Ele mesmo é: o Filho unigénito enviado pelo Pai para salvação de todos. Compreender o tempo que vivemos é compreender as intenções de Deus que, em todo o tempo, sobretudo pelo mistério da Igreja e dos sacramentos, torna actual o mistério de Jesus com toda a sua eficácia salvífica.
Saber fazer previsões do tempo, analisando os dados da meteorologia, implica uma atenção interessada. Se não estivermos realmente interessados e atentos para nos darmos conta da importância do tempo como tempo para exercer a justiça e a caridade, corremos sério risco. Há que reconciliar-se radialmente com aqueles com que estamos em conflito. Caso contrário, podemos cair no remoinho do não-perdão, donde não sairemos indemnes. É como se Jesus apontasse o sinal do tempo por excelência, que é Ele mesmo, como sinal de salvação, mas só para quem se compromete a viver como reconciliado, isto é, na paz, na justiça e na bondade.


* SÁBADO

Primeira leitura: Efésios 4, 7-16

Irmãos: 7A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. 8Por isso se diz: Ao subir às alturas, levou cativos em cativeiro, deu dádivas aos homens. 9Ora, este «subiu» que quer dizer, senão que também desceu às regiões inferiores da terra? 10Aquele que desceu é precisamente o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, a fim de encher o universo. 11E foi Ele que a alguns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, 12em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, 13até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. 14Assim, deixaremos de ser crianças, batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina, ao sabor do jogo dos homens, da astúcia que maliciosamente leva ao erro; 15antes, testemunhando a verdade no amor, cresceremos em tudo para aquele que é a cabeça, Cristo. 16É a partir dele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de toda a espécie de articulações que o sustentam, segundo uma força à medida de cada uma das partes, realiza o seu crescimento como Corpo, para se construir a si próprio no amor.

Evangelho: Lucas 13, 1-9

Naquele tempo: 1apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. 2Respondeu-lhes:«Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? 3Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. 4E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.» 6Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. 7Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ 8Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. 9Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’»

REFLEXÃO

Jesus aproveita dois acontecimentos ocorridos em Jerusalém para dar alguns ensinamentos: Pilatos mandou matar alguns Galileus enquanto ofereciam sacrifícios no templo; cerca de 18 pessoas morreram devido à queda da torre de Siloé. Perante tais factos, conhecidos por todos, Jesus aponta a urgência da conversão (vv. 3-5). Caso contrário, é a perdição. Mas também ensina que Deus não é uma espécie de vigilante sempre à coca de qualquer falta da nossa parte para nos castigar. Não podemos, pois, ler as calamidades da vida – nossa ou dos outros – como punições divinas. O tempo da nossa vida é aquele que é. Não sabemos quando irá terminar. Portanto, é sempre tempo de dar frutos de boas obras… enquanto tivermos tempo.
A parábola do dono que procura frutos na figueira plantada na sua vinha, completa o ensinamento sobre a conversão, evidenciando outro aspecto muito importante: a paciência de Deus, a sua imensa misericórdia e vontade de salvação. A figueira é certamente uma alusão a Israel que, afastando-se continuamente de Deus, não dá os frutos esperados (cf. Is 5, 1-7; Jr 8, 13). Mas o adiamento em abatê-la e os cuidados amorosos para ver se dá frutos expressam a mediação de salvação realizada por Jesus, com a sua intercessão junto do Pai. Esta acção de Jesus não é só em favor de Israel, mas de todos nós, hoje.

Ricardo Igreja


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