domingo, 20 de junho de 2010

XVIII DOMINGO TEMPO COMUM

* XVIII  DOMINGO


«O que preparaste, para quem será?»


LEITURA I – Co (Ecle) 1,2; 2,21-23

Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.

LEITURA II – Col 3,1-5.9-11

Irmãos: se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho com as suas acções e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escavo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.

EVANGELHO – Lc 12,13-21

Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?» Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei-de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».

REFLEXÃO

Jesus escusa-se, delicadamente, a envolver-se em questões de direito familiar e a tomar posição por um irmão contra outro (“amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?” – vers. 14). O que estava em causa na questão era a cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo ao dinheiro (talvez por parte dos dois irmãos em causa). A conclusão que Jesus tira (vers. 15) explica porque é que Ele não aceita meter-se na questão: o dinheiro não é a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas do homem, não conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do “Reino” não é a lógica de quem vive para os bens materiais; quem quiser viver na dinâmica do Reino deverá ter isto presente.
A parábola que Jesus vai apresentar na sequência (vers. 16-21) ilustra a atitude do homem voltado para os bens perecíveis, mas que se esquece do essencial – aquilo que dá a vida em plenitude. Apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador (que até podíamos admirar e louvar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os bens que lhe asseguram tranquilidade e bem-estar material (e nisso, já não o podemos louvar e admirar). Esse homem representa, aqui, todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo tudo o resto – inclusive Deus, a família e os outros; representa todos aqueles que vivem uma relação de “circuito fechado” com os bens materiais, que fizeram deles o seu deus pessoal e que esqueceram que não é aí que está o sentido mais fundamental da existência. A referência à acção de Deus, que põe repentinamente um ponto final nesta existência egoísta e sem significado, não deve ser muito sublinhada: ela serve, apenas, para mostrar que uma vida vivida desse jeito não tem sentido e que quem vive para acumular mais e mais bens é, aos olhos de Deus, um “insensato”.
O que é que Jesus pretende, ao contar esta história? Convidar os seus discípulos a despojar-se de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? Não. O que Jesus pretende é dizer-nos que não podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa mais importante da nossa vida. A preocupação excessiva com os bens, a busca obsessiva dos bens, constitui uma experiência de egoísmo, de fechamento, de desumanização, que centra o homem em si próprio e o impede de estar disponível e de ter espaço na sua vida para os valores verdadeiramente importantes – os valores do Reino. Quando o coração está cheio de cobiça, de avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um combate obsessivo pelo “ter”, quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de acumular, o homem torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e autosuficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino. Atenção: esta parábola não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas destina-se a todos aqueles que (tendo muito ou pouco) vivem obcecados com os bens, orientam a sua vida no sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua vida e o seu agir.


* 2ª FEIRA

Primeira leitura: Jeremias 28, 1-17

1Naquele mesmo ano, no início do reinado de Sedecias, rei de Judá, ou seja, no quinto mês do quarto ano, Hananias, filho de Azur, profeta de Guibeon, no templo do Senhor e na presença dos sacerdotes e de todo o povo, falou-me nos seguintes termos: 2«Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: 'Vou quebrar o jugo do rei da Babilónia! 3Dentro de dois anos, farei voltar a este lugar todos os objectos do templo do Senhor, que Nabucodonosor, rei da Babilónia, levou daqui e transportou para a Babilónia. 4Para este lugar farei voltar Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá e todos os exilados de Judá que foram para a Babilónia, porque vou quebrar o jugo do rei da Babilónia'» - oráculo do Senhor. 5O profeta Jeremias respondeu ao profeta Hananias, na presença dos sacerdotes e do povo que se aglomerava no templo do Senhor: 6«Assim seja! Que o Senhor o permita! Realize o Senhor a tua profecia e traga de volta para este lugar o tesouro do templo, e todos os exilados cativos da Babilónia. 7Contudo, ouve o que te vou dizer, a ti e a todo o povo: 8Os profetas que nos precederam a mim e a ti, anunciaram a numerosos países e a poderosos reinos, guerra, fome e peste. 9Quanto ao profeta que profetiza a paz, somente quando se realizar o seu oráculo é que se poderá saber se ele é realmente um enviado do Senhor.» 10Então, o profeta Hananias retirou o jugo do pescoço do profeta Jeremias e, partindo-o, 11exclamou na presença de todo o povo: «Oráculo do Senhor: 'Assim, decorridos dois anos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilónia e retirá-lo-ei do pescoço de todas as nações!'» Então, o profeta Jeremias retirou-se. 12Depois que o profeta Hananias quebrou e retirou o jugo do pescoço de Jeremias, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 13«Vai dizer a Hananias: Isto diz o Senhor: 'Quebraste jugos de madeira, mas, em vez deles, farei jugos de ferro.' 14Porque isto diz o Senhor do universo: 'Eu ponho um jugo de ferro ao pescoço de todas estas nações, a fim de que se submetam a Nabucodonosor, rei da Babilónia. Ficar-lhe-ão submetidas, e até lhe darei poder sobre os animais selvagens.'» 15E Jeremias acrescentou, dirigindo-se ao profeta Hananias:«Escuta a minha voz, Hananias! O Senhor não te enviou. És tu que levas o povo a crer na mentira! 16Por isso, eis o que diz o Senhor: 'Vou retirar-te da face da terra. Morrerás ainda este ano, porque pregaste a revolta contra o Senhor!'» 17E o profeta Hananias morreu naquele ano, no sétimo mês..

Evangelho: Mateus 14, 13-21

Naquele tempo, 13quando Jesus ouviu dizer que João Baptista tinha sido morto, retirou-se dali sozinho num barco, para um lugar deserto; mas o povo, quando soube, seguiu-o a pé, desde as cidades. 14Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de misericórdia para com ela, curou os seus enfermos. 15Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Este sítio é deserto e a hora já vai avançada. Manda embora a multidão, para que possa ir às aldeias comprar alimento.» 16Mas Jesus disse-lhes: «Não é preciso que eles vão; dai-lhes vós mesmos de comer.» 17Responderam: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.» 18«Trazei-mos cá» - disse Ele. 19E, depois de ordenar à multidão que se sentasse na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e pronunciou a bênção; partiu, depois, os pães e deu-os aos discípulos, e estes distribuíram-nos pela multidão. 20Todos comeram e ficaram saciados; e, com o que sobejou, encheram doze cestos. 21Ora, os que comeram eram uns cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

REFLEXÃO

A notícia da morte de João Baptista leva Jesus a afastar-se da multidão, para escapar à presumível tentativa de O matarem, também a Ele, já alvo de conjura por parte dos fariseus. Mas, fiel à missão que o Pai Lhe confiou, responde com amor à multidão, que Lhe pede gestos de salvação (vv. 13-14): cura os doentes, que Lhe são apresentados, e sacia a fome dos que O seguem. Mas exige a participação dos discípulos, que são chamados a dar-se a si mesmos, e a pôr em comum o que têm (vv. 16s.).
A narrativa deste milagre antecipa, na intenção do evangelista, o da instituição da Eucaristia (cf. Mt 26, 26). Os discípulos serão ministros, distribuindo aos outros o pão que Jesus lhes dá (v. 19). Do mesmo modo que sobrou pão, quando Eliseu, com vinte pães saciou cem pessoas (cf. 2 Rs 4, 42-44), assim também, e de modo ainda mais significativo, sobraram doze cestos, depois da refeição miraculosa oferecida por Jesus (v. 20). Tinham chegado os dias messiânicos. Jesus, o Messias, satisfazia todas as necessidades humanas, fazendo curas e saciando os que tinham fome. Na comunidade escatológica, fundada por Jesus, desaparecem toda a doença e toda a necessidade.


* 3ª FEIRA

Primeira leitura: Jeremias 30, 1-2.12-15.18-22

1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias nestes termos: 2«Assim fala o Senhor, Deus de Israel: 'Escreve num livro todas as palavras que Eu te disser. 12Assim fala o Senhor: «A tua ferida é incurável, maligna é a tua chaga. 13Ninguém quer tomar a tua defesa para curar o teu mal, para o qual não há remédio. 14Todos os teus amantes te esqueceram, não se preocupam contigo, porque te feri, como se fere um inimigo, com cruel castigo, por causa da gravidade da tua falta e do número dos teus pecados. 15Porque choras sobre a tua ferida? A tua chaga é incurável. Por causa da gravidade da tua falta e do número dos teus pecados é que Eu assim procedi. 18Mas, eis o que diz o Senhor: «Restaurarei as tendas de Jacob, e terei compaixão das suas moradas. A cidade será reconstruída das suas ruínas, e os palácios reedificados no seu lugar. 19Deles sairão cânticos de louvor e gritos de alegria. Multiplicá-los-ei e não mais diminuirão. Exaltá-los-ei, e não mais serão humilhados. 20Os seus filhos serão como eram outrora, a sua assembleia será restabelecida diante mim, mas castigarei todos os seus opressores. 21Dela surgirá o seu chefe, dela sairá o seu soberano. Mandarei buscá-lo e ele se aproximará de mim. Pois quem arriscaria a sua vida, aproximando-se de mim? - oráculo do Senhor. 22Vós sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus.» 23Eis que a tempestade do Senhor, o seu furor impetuoso, qual tormenta se desencadeia e está prestes a cair sobre a cabeça dos ímpios.

Evangelho: Mateus 14, 22-36

22Depois de ter saciado a fome à multidão, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. 23Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E, chegada a noite, estava ali só. 24O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. 26Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo. 27No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais!» 28Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» 29«Vem» - disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. 30Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e, começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» 31Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» 32E, quando entraram no barco, o vento amainou. 33Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus, dizendo: «Tu és, realmente, o Filho de Deus!» 34Após a travessia, pisaram terra em Genesaré. 35Ao reconhecerem-no, os habitantes daquele lugar espalharam a notícia por toda a região. Trouxeram-lhe todos os doentes, e pediam que os deixasse tocar ao menos na orla do seu manto. E quantos lhe tocaram foram completamente curados.

REFLEXÃO

Mateus coloca a narrativa da tempestade acalmada no contexto dos episódios orientados para a formação do grupo dos discípulos (Mt 14, 13-16, 20) e antes do grande “Discurso sobre a comunidade” (c. 18). Este facto confere ao texto uma particular caracterização eclesiológica.
O evangelista já tinha narrado uma tempestade que surpreendera os discípulos enquanto o Mestre dormia (8, 23-27). Nessa ocasião, Jesus revelou-se como “Senhor do mar”, o que suscitou a pergunta sobre a sua identidade mais profunda. Jesus aproveitou para reafirmar a necessidade da fé para quem O quisesse seguir (cf. 9, 19s.). No episódio de hoje, a tempestade surge quando os discípulos avançam sozinhos pelo mar, enquanto Jesus tinha ficado a «orar na solidão» (v. 23). A sua chegada milagrosa gera nos discípulos perturbação e medo (v. 26). Mas a sua palavra serena-os e dá-lhes coragem (v. 27). Pedro até se atreve a imitar o Mestre, descendo ao mar e tentando caminhar sobre as ondas (vv. 28ss). Mas a sua fé hesita, e Jesus tem de lhe estender a mão, e mostrar-lhe que, só apoiado n´Ele, pode chegar à salvação (vv. 30ss.). A mesma experiência de salvação é feita por todos aqueles que contactam com Jesus, que assim reconhecem a sua verdadeira identidade, e podem dizer, como Pedro: «Tu és, realmente, o Filho de Deus!» (v. 32).


* 4ª FEIRA

Primeira leitura: Jeremias 31, 1-7

1«Naquele tempo, - diz o Senhor - Eu serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo» - oráculo do Senhor. 2Assim fala o Senhor:«Encontrou graça no deserto o povo que tinha escapado à espada. Israel caminha para o seu repouso. 3De longe, o Senhor se lhe manifestou: Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo. 4Hei-de reconstruir-te, e serás restaurada, ó donzela de Israel! Ainda te hás-de adornar dos teus tamborins e participar em alegres danças. 5De novo plantarás vinhas nas colinas da Samaria, e os cultivadores recolherão os frutos, 6porque há-de chegar o dia em que as sentinelas gritarão sobre os montes de Efraim: 'Levantai-vos! Subamos a Sião, ao Senhor, nosso Deus.'» 7Porque isto diz o Senhor: «Soltai gritos de júbilo por Jacob. Aclamai a primeira das nações! Fazei ressoar louvores, exclamando: 'Ó Senhor salva o teu povo, o resto de Israel'.

Evangelho: Mateus 15, 21-28

Naquele Tempo, 21Jesus partiu dali e retirou-se para os lados de Tiro e de Sídon. 22Então, uma cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio.» 23Mas Ele não lhe respondeu nem uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-lhe com insistência: «Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.» 24Jesus replicou: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.» 25Mas a mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: «Socorre-me, Senhor.» 26Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.» 27Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.» 28Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.» E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada.

REFLEXÃO

A mulher cananeia, de que nos fala o texto, é designada por «siro-fenícia» em Marcos (7, 24-30). O que ambos os evangelistas pretendem indicar é que se trata de uma mulher pagã, não judia. A cena, sob o ponto de vista literário, está construída no esquema pedido-recusa, num crescendo que, partindo do silêncio de Jesus à primeira interpelação da mulher, continua com a referência à sua missão, que teria por alvo unicamente o povo judeu, e culmina com a distinção brutal entre filhos e cachorrinhos. Tanto Mateus como Marcos coincidem em que a missão de Jesus, durante o seu ministério terreno, se limitou ao povo judeu. Mas também coincidem em que Jesus, neste caso, abriu uma excepção. Para Mateus, a razão da excepção foi a grande fé da mulher, o que é omitido por Marcos. O encontro entre Jesus e a mulher cananeia anuncia, e já realiza, o encontro entre a salvação e o paganismo. Sem negar a escolha preferencial de Israel, «filho primogénito» (v. 24; cf. Os 11, 1; Mt 10, 5ss.), a missão salvífica de Jesus é dirigida a todos os povos. Será, também essa, a característica da acção da Igreja, por mando específico do seu Senhor e Mestre (cf. Mt 28, 18-20). A luta que a mulher cananeia trava com Jesus, para alcançar o que pede, é um exemplo concreto do que Jesus mandou: «Pedi… procurai… batei…» (cf. Lc 11, 9).


* 5ª FEIRA

Primeira leitura: Jeremias 31, 31-34

31Dias virão, diz o Senhor, em que firmarei uma nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá - oráculo do Senhor. 32Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora Eu fosse o seu Deus - oráculo do Senhor. 33Esta será a Aliança que estabelecerei, depois desses dias, com a casa de Israel - oráculo do Senhor: Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu irmão, dizendo: 'Aprende a conhecer o Senhor!' Pois todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, porque a todos perdoarei as suas faltas, e não mais lembrarei os seus pecados» - oráculo do Senhor.

Evangelho: Mateus 16, 13-23

Naquele tempo, 13Jesus ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» 14Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» 15Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» 16Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» 17Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. 19Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» 20Depois, ordenou aos discípulos que a ninguém dissessem que Ele era o Messias. 21A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. 22Tomando-o de parte, Pedro começou a repreendê-lo, dizendo: «Deus te livre, Senhor! Isso nunca te há-de acontecer!» 23Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!»

REFLEXÃO

Quem é este homem a quem o vento e o mar obedecem? Quem é Jesus? Quem dizem os homens que Ele é? E, vós, quem dizeis que Eu sou? Pedro toma a palavra e responde em nome da comunidade dos discípulos: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (v. 16). Verificada a compreensão que os discípulos têm de Jesus, o Evangelho de Mateus dá uma volta decisiva. Se as obras e as palavras de Jesus tinham revelado a sua missão messiânica, de modo que o povo acreditasse n´Ele (vv. 13ss.), à excepção dos nazarenos (cf. 13, 53-58), os discípulos pela boca de Pedro, reconhecem também a sua natureza divina (v. 16). Pedro assume grande relevo nesta cena: se, por um lado, professa a fé no Filho de Deus, por outro lado recusa que Ele seja o Servo Sofredor (v. 21); se primeiro recebe de Jesus plena autoridade sobre a comunidade dos discípulos (vv. 18ss.), logo depois é chamado «Satanás» porque o seu ponto de vista se opõe ao de Deus, e é obstáculo para Jesus cumprir a vontade do Pai (v. 23).
As contradições que assinalam o discipulado de Pedro (cf. Mc 14, 26-31) evidenciam a obra da graça divina na fragilidade humana: é o mistério da Igreja, cujo chefe é tal, não por mérito próprio, mas porque Deus lhe confia o serviço que o faz referência para os irmãos. Só Deus é garantia de salvação da comunidade na luta do mal e da morte contra o bem e a vida (v. 18). A comunidade pode confiar em Pedro, porque as suas decisões serão assumidas por Deus (v. 19). Mas a salvação e a glória terão de passar pela cruz (v. 21).


* 6º FEIRA

Primeira leitura: Naum 2, 1.3; 3, 1-3.6s.

1Eis sobre os montes os pés do mensageiro que traz notícias de paz. Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque o ímpio não passará mais pela tua terra; está completamente destruído. 3Porque o Senhor restabelece o esplendor de Jacob, assim como o esplendor de Israel; pois os saqueadores despojaram e destruíram os seus sarmentos. 1Ai da cidade sanguinária, cheia de fraude, de violência e de contínuas rapinas! 2Ruído de chicotes, barulho de rodas, cavalos a galope, movimento de carros! 3Ginetes ao assalto, espadas que reluzem, lanças que cintilam, multidão de feridos! Mortos em massa, cadáveres sem fim! Tropeça-se nos seus cadáveres. 6Cobrir-te-ei de imundície e de infâmia, hei-de expor-te como espectáculo. 7Todos os que te virem, fugirão de ti, dizendo: «Nínive está devastada! Quem se compadecerá dela? Onde irei buscar quem te reconforte?»

Evangelho: Mateus 16, 24-28

Naquele tempo, então, 24Jesus disse aos discípulos: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 25Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. 26Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que poderá dar o homem em troca da sua vida? 27Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme o seu procedimento. 28Em verdade vos digo: alguns dos que estão aqui presentes não hão-de experimentar a morte, antes de terem visto chegar o Filho do Homem com o seu Reino.»

REFLEXÃO

Depois da confissão de Pedro, Jesus confirmou a sua identidade de Messias e de Filho de Deus, e indicou o carácter doloroso do seu messianismo (cf. Mt 16, 16-17.21). Agora fala dos que O pretendem seguir. A sorte dos discípulos não será diferente da do Mestre (cf. 10, 24s.). E toda a atitude e toda a opção do discípulo terá sentido na sua relação com o Mestre. A escala de prioridades e valores é definida pela relação com Jesus, cujo percurso histórico marcado pelo sofrimento vivido no amor, será assumido pelo discípulo (v. 24). Este experimentará o paradoxo de «perder para encontrar», de «morrer para viver» (v. 25). As suas obras hão-de manifestar a opção por Jesus como centro da sua existência. Tal opção será recompensada no dia do juízo (v. 27). De facto, o Messias Sofredor é também o Juiz escatológico. O Messias humilhado é também o Rei glorioso.


* SÁBADO

Primeira leitura: Habacuc 1, 12-2, 4

12Não és Tu, Senhor, desde o princípio, o meu Deus e o meu santo? Nós não morreremos. Tu estabeleceste, Senhor, os caldeus para exercerem a justiça, como uma rocha, Tu os constituíste para castigar. 13Os teus olhos são demasiado puros para ver o mal, não podes contemplar a opressão. Porque contemplas, em silêncio, os traidores, quando devoram os que são mais justos do que eles? 14Tratas os homens como peixes do mar, como répteis que não têm dono. 15Eles pescam-nos a todos no anzol, arrastam-nos com a sua rede, recolhem-nos em seu cesto e depois alegram-se e exultam. 16Por isso, oferecem sacrifícios às suas artes de pesca, e incenso à sua rede, porque, graças a elas, recolhem gordas porções e suculentos manjares. 17Continuarão eles a esvaziar a sua rede, massacrando povos sem piedade? 1Vou ficar de pé no meu posto de guarda, vou colocar-me sobre a muralha, vou ficar à espreita para ver o que Ele me diz, que resposta dá à minha queixa. 2Então o Senhor respondeu-me: «Escreve a visão, grava-a em tabuínhas, para que possa ser lida facilmente. 3Porque é uma visão para um tempo fixado: ela aspira pelo seu termo e não falhará. Se tardar, espera por ela igualmente; que ela cumprir-se-á, com toda a certeza não falhará. 4Eis que sucumbe o que não tem a alma recta,mas o justo viverá pela sua fidelidade.»

Evangelho: Mateus 17, 14-20

Naquele tempo, 14 aproximou-se de Jesus um homem, ajoelhou-se a seus pés e 15disse-lhe: «Senhor, tem piedade do meu filho. Ele tem ataques e está muito mal. Cai frequentemente no fogo e muitas vezes na água. 16Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo.» 17Disse Jesus: «Geração descrente e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» 18Jesus falou severamente ao demónio, e este saiu do jovem que, a partir desse momento, ficou curado. 19Então, os discípulos aproximaram- se de Jesus e perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não fomos capazes de expulsá-lo?» 20Disse-lhes Ele: «Pela vossa pouca fé. Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: ‘Muda-te daqui para acolá’, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível.

REFLEXÃO

Mateus está agora preocupado em transmitir os ensinamentos de Jesus aos seus discípulos. Mas não deixa de contar mais um milagre, inserindo aqui a narrativa da cura de um epiléptico. É mais um sinal do poder de Jesus. Mas as dificuldades, que, por vezes, encontravam os exorcistas da Igreja nascente, também podem explicar esta inclusão. O pedido do pai, para obter a cura do filho epiléptico, dá ocasião a Jesus para mais uns ensinamentos sobre a necessidade de acreditar n´Ele. Os discípulos não conseguem realizar o milagre porque o poder taumatúrgico não é deles. Pertence unicamente ao Mestre, que o concede àqueles que participam na sua missão (cf. 10, 1). Estes, que são os discípulos, devem aderir a Ele pela fé (cf. v. 20).
«Geração descrente e perversa!» Esta expressão de Jesus manifesta a resistência que os seus contemporâneos, duros de coração, Lhe opõem. Em união com Ele, os discípulos podem fazer maravilhas e comunicar a salvação oferecida por Deus. Mas, a falta de fé, que os separa da união com Jesus, torna-lhes impossível essa missão.

Ricardo Igreja

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