segunda-feira, 21 de março de 2011

BAPTISMO DO SENHOR

* DOMINGO


«Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».




LEITURA I – Is 42,1-4.6-7

Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».

LEITURA II – Actos 10,34-38

Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele».

EVANGELHO – Mt 3,13-17

Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e veio ter com João Baptista ao Jordão, para ser baptizado por ele. Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso de ser baptizado por Ti, e Tu vens ter comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi baptizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».

Reflexão

Para Mateus, o baptismo é um momento privilegiado da manifestação de Jesus aos homens: antes de começar a sua actividade, Jesus define-Se e apresenta-Se… A passagem tem duas partes: o diálogo entre João e Jesus (vers. 14-15) e a manifestação de Jesus como Filho de Deus (vers. 16-17). O diálogo entre João e Jesus (vers. 14-15) explica porque é que Jesus vem ao encontro de João para ser baptizado… Pela resposta de Jesus, fica claro que o seu baptismo é um passo necessário para que se cumpra o desígnio salvador de Deus (“convém que assim cumpramos toda a justiça”… O cumprimento da “justiça” equivale, no contexto da teologia mateana, ao cumprimento da vontade de Deus – cf. Mt 5,6.10.20;6,1.33;21,32). Jesus apresenta-Se, assim, como “Filho”, que cumpre rigorosa e absolutamente a vontade do Pai (na cultura semita, a obediência era aquilo que definia a relação entre um filho e um pai… “Cumprir a justiça” em relação ao Pai era, para um filho, obedecer-lhe incondicionalmente). Que é que este baptismo tem a ver com o projecto salvador do Pai para os homens? Ao receber este baptismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos homens para os ajudar a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projecto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente. Na segunda parte (vers. 16-17), temos uma reflexão sobre a identidade de Jesus e sobre a sua missão. Para isso, Mateus recorre a três elementos simbólicos muito expressivos: os céus abertos, o Espírito que desce em forma de pomba e a voz do céu. A abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do Povo interrompeu. Desta forma, Mateus anuncia que a actividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens. O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da actividade que Jesus vai iniciar. Temos, finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is 42,1)… Sugere-se, dessa forma, que Jesus é o Filho de Deus… Mas acrescenta-se, para que não haja equívocos: a sua missão não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3). A cena do baptismo de Jesus revela, portanto, essencialmente que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projecto de libertação em favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da actividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade. Além desta catequese sobre Jesus, o Filho de Deus, o texto sugere outras duas linhas importantes quanto à definição da identidade de Jesus. Uma delas apresenta Jesus como o novo libertador: o baptismo de Jesus no Jordão recorda a passagem do Mar Vermelho e estabelece um novo paralelo entre Jesus e Moisés… Jesus é o novo Moisés, revestido do Espírito de Deus, para conduzir o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade. A outra linha torna-se patente no diálogo entre João e Jesus: se João reconhece humildemente a sua inferioridade e a sua condição de percursor, é porque Jesus é esse Messias esperado, da descendência de David.


* 2ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Hebreus 1, 1-6

1Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. 2Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. 3Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, 4tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança. 5Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei? E ainda: Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho? 6E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus.

Evangelho: Mc 1, 14-20

Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» 16Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» 18Deixando logo as redes, seguiram-no. 19Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. 20E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele.

Reflexão

O magnífico exórdio da Carta aos Hebreus apresenta-nos Cristo como Aquele que herdou um nome bem diferente do nome dos Anjos. Que nome é esse? À primeira vista, tendo em conta a liturgia hodierna, parece ser o de Filho de Deus. Mas, se tivermos em consideração a primeira parte da carta, não é apenas esse. É verdade que Cristo é Filho de Deus. Mas aqui trata-se de Cristo glorificado na glorificação pascal. Filho de Deus, e glorificado no seu mistério pascal, Cristo é também irmão dos homens, como veremos amanhã. Como Filho é superior aos Anjos; como irmão dos homens é menor que os Anjos. Como Filho está mais próximo de Deus; como irmão está mais próximo de nós. Estes dois aspectos podem sintetizar-se no nome de Sumo Sacerdote, perfeito Mediador, por meio do qual entramos na intimidade da Trindade. O seu nome é, portanto, misterioso, profundo, motivo de esperança e de confiança. Por meio do seu Filho, diz a carta, «Deus falou-nos, nestes dias, que são os últimos» (v. 2). No começo do tempo comum, a Igreja põe diante de nós uma palavra de Jesus: «Vinde comigo» (v. 17). Esta palavra obtém uma dupla resposta: «seguiram-no» (v. 20). É o caso de Simão e André, de Tiago e de João. Também nós somos convidados a seguir Jesus durante este ano. Somos chamados a segui-lo na humildade, no sacrifício e na renúncia, mas, sobretudo, a estar com Ele, a partilhar a sua vida e a sua missão. É o mais importante. Para seguir Jesus, temos de renunciar a escolher, nós mesmos, o nosso caminho, o que muitas vezes implica sofrimento, porque exige abandonar o que mais espontaneamente nos agrada. Custa renunciar à orientação da nossa vida, conforme nos apraz, para aceitarmos ser conduzidos por Outro, talvez para onde não queiramos. Já S. Pedro ouviu da boca de Jesus: «outro te há-de levar para onde não queres» (Jo 21, 18). Mas há também o aspecto positivo da resposta ao convite «Segui-me» que é estar com Jesus, não estar sós, não estar nas trevas mas na luz, porque Jesus disse: «Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12). «Seguir» Jesus é condição para viver no amor. Quem marca o seu próprio caminho não vive no amor, mas na solidão. Quem, pelo contrário, segue Jesus, está sempre com Ele, seu irmão e Senhor, e experimenta uma grande alegria. Reflictamos: «Quem estou a seguir, agora»? Peçamos ao Senhor que acenda em nós o desejo de O seguirmos toda a nossa vida. Os profetas antigos anunciaram as coisas de Deus, mas hoje, é pelo Filho que Deus nos fala. É Ele a Palavra poderosa e criadora. É Ele quem nos revela o Deus que jamais alguém viu. É a sua imagem perfeita, a sua glória irradiante, o seu Filho muito amado. O nosso seguimento de Cristo há-de ser feito segundo o nosso carisma dehoniano. Nos números 19 a 21 das Constituições, um verdadeiro hino cristológico, e no seu contexto (nn. 16-25) o seguimento de Cristo, típico da vida religiosa (cf. PC 2b), é expresso com uma terminologia especificamente dehoniana: unidos a Cristo no seu amor e na sua oblação ao Pai (p. II, parágrafo 3); união com Cristo, no seu amor pelo Pai e pelos homens (n. 17); descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração (n. 17); na disponibilidade e no amor para com todos... viveremos a nossa união a Cristo (n. 18); O Pai... constituiu-O Senhor, Coração da humanidade e do mundo (n. 19); Com S. João, vemos no Lado aberto do Crucificado (n. 21); Contemplando o Coração de Cristo, somos fortalecidos na nossa vocação (n. 21); Oferecer-nos ao Pai como oblação viva, santa e agradável (n. 22); A reparação... acolhimento do Espírito... resposta ao amor de Cristo por nós... comunhão no seu amor pelo Pai... cooperação com a sua obra redentora... (n. 23); Ele nos chama a viver a nossa vocação reparadora, como estímulo do nosso apostolado... (n. 23).


* 3ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Hebreus 2, 5-12

Deus não submeteu aos anjos o mundo futuro de que falamos. 6Mas alguém, em certo lugar, atesta, dizendo: Que é o homem, para que te recordes dele, ou o filho do homem para que cuides dele? 7Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos, coroaste-o de honra e de glória, 8submeteste tudo aos seus pés.Ora, ao submeter-lhe tudo, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Contudo, ainda não vemos que tudo lhe esteja sujeito. 9Vemos, porém, Jesus, que foi feito por um pouco inferior aos anjos, coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu, a fim de que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em favor de todos. 10Convinha, com efeito, que aquele por quem e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação. 11De facto, tanto o que santifica, como os que são santificados, provêm todos de um só; razão pela qual não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12dizendo: Anunciarei o teu nome aos meus irmãos, no meio da assembleia te louvarei.

Evangelho: Marcos 1, 21-28

Jesus e os discípulos entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, Jesus veio à sinagoga e começou a ensinar. 22E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. 23Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: 24«Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» 25Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» 26Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 27Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» 28E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

Reflexão

Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como nos ensinam as Escrituras. Nos primeiros tempos da Igreja, insistia-se em que era verdadeiro Deus. Depois da heresia de Ário, realçou-se que era verdadeiro homem. Mas a Igreja sempre insistiu sobre as duas naturezas, a divina e a humana, numa só pessoa, a do Filho único de Deus. A carta aos Hebreus sublinha os dois aspectos. O texto que escutamos hoje insiste no humano: «Que é o homem, para que te recordes dele, ou o filho do homem para que cuides dele? Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos, coroaste-o de honra e de glória, submeteste tudo aos seus pés» (vv. 6-8). Jesus é o homem ideal. N´Ele, a vocação do homem ao domínio do universo, realiza-se perfeitamente. O Génesis diz-nos que Deus constituiu o homem senhor de todas as criaturas. Mas, no estado actual das coisas, não é possível realizar perfeitamente essa vocação. Só Cristo, pela sua morte e ressurreição, alcançou uma humanidade renovada e pode ter autoridade sobre toda a criação. «Autoridade» significa capacidade de fazer «crescer» (do latim: augere) os outros. Essa autoridade vem-lhe, não por ser superior ao anjos, mas por ter aceitado o desígnio de Deus, obedecendo até à morte e morte de cruz: «Vemos Jesus, que foi feito por um pouco inferior aos anjos, coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu» (v. 9), escreve o autor da Carta aos Hebreus. Jesus é amor que deu a vida para nos libertar e unir a Si. Assumiu a fragilidade da nossa natureza porque, só carregando sobre Si o peso esmagador do nosso mal, Deus podia salvar-nos. Jesus usou para connosco uma com-paixão sem reservas. Foi com uma luta de morte que venceu o autor do pecado, causa do sofrimento e da morte. A sua vitória apresenta-se como uma completa derrota. Mas foi assim que nos santificou e nos reconduziu à sua própria origem, ao Pai. O aniquilamento de Jesus confunde-nos e interroga-nos. A indiferença não é possível. Jesus vem iluminar as nossas trevas, e introduzir-nos na verdade. Podemos rebelar-nos e tentar sufocar a sua voz com o ruído que levamos dentro de nós. Mas também podemos fazer silêncio, acolher a Palavra que tem autoridade para nos libertar da nossa maldade e da nossa preguiça, porque desceu a resgatar-nos pagando as respectivas consequências. Deus tornou-se companheiro do sofrimento e da morte do homem para o conduzir, livre, à salvação, à glória, ao abraço do amor. A obediência ao Pai explica toda a vida de Jesus: «Pai..., Eu Te glorifiquei..., realizando a obra que Me confiaste... Consagro-Me (sacrifico-Me) por eles...» (Jo 17, 1.4.19). Faz tudo de modo tão completo e perfeito que a última palavra na cruz será: «Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito» (Jo 19, 30). Por isso é que Paulo pode elevar o seu hino a Cristo: «Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo tomando a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens. Tido pelo aspecto como homem, humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz. Por isso é que Deus O exaltou...» (Fil 2, 6-9). Na obediência de Jesus, observamos os seguintes aspectos fundamentais: reconhecimento de Deus-Pai como o Absoluto; comunhão profunda com o Pai de Quem tudo recebeu e a Quem tudo entrega, por amor; esta oferta, por amor, ao Pai, é também oferta por amor aos homens; é despojamento amoroso que O leva à máxima glorificação (cf. Fl 2, 9-11). Assim, também nós, seguindo a Cristo, e permitindo ao Espírito despojar-nos, esvaziar-nos de tudo aquilo que não é Cristo, para o transformar n´Ele, tornamo-nos participantes da perfeição de Cristo e da Sua glorificação.


* 4ª FEIRA - Anos ímpares

Primeira leitura: Hebreus 2, 14-18

Uma vez que os filhos dos homens têm a mesma carne e o mesmo sangue, também Jesus partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. 16Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. 17Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.

Evangelho: Marcos 1, 29-39

Naquele tempo, 29Jesus saiu da sinagoga e foi para casa de Simão e André, com Tiago e João. 30A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. 31Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. 32À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, 33e a cidade inteira estava reunida junto à porta. 34Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era. 35De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. 36Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. 37E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» 38Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» 39E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.

Reflexão

A Carta aos Hebreus afirma que Jesus é «um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus» (v. 17). É «fiel» pela relação única que existe entre Ele e Deus. É «misericordioso» para com os homens, particularmente para com os pecadores, porque veio tirar os pecados, veio dar aos homens a vitória nas provações, «porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova» e,por isso «pode socorrer os que são postos à prova» (v. 18). Segundo a carta aos Hebreus, o objectivo da vida de Jesus na terra é levar à perfeição, no seu coração, a abertura aos outros, a misericórdia, a união com Deus, que o torna «fiel». A carta aos Hebreus apresenta-nos uma nova concepção do sacerdócio. Enquanto, no Antigo Testamento, se acentuava a separação – o sacerdote era separado dos homens para estar da parte de Deus -, Jesus, Sumo Sacerdote, pôs-Se ao nosso lado, assumindo a nossa carne e o nosso sangue, com os nossos sofrimentos, as nossas provações, a nossa morte, para nos poder ajudar como somos e estamos. Ele alcança misericórdia pela sua união com Deus. É a grande revelação da Encarnação. O evangelho que escutamos evidencia estas duas dimensões da vida de Jesus na terra: a sua misericórdia e a sua união com Deus. Revela-se primeiro a sua misericórdia. O Senhor aproxima-se de todas as misérias, de todos os sofrimentos, para lhes levar remédio. Esse remédio começa por ser a compaixão e o interesse. Jesus deixa que os doentes lhe tomem todo o tempo: «À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta» (v.32). Toma os doentes pela mão: é o seu corpo que comunica a cura de Deus. Mas Jesus também se retira do meio das multidões. Logo de madrugada, vai para «um lugar solitário» (v.35), a fim de rezar. É a outra dimensão da sua existência humana, a busca do Pai. Ele deve tratar das coisas do Pai, deve estar unido a Deus e, por isso, reza demoradamente. Todavia, o desejo da união com Deus não Lhe impede de Se entregar aos outros. Quando vêm procurá-l´O, não diz: «deixem-me em paz, porque devo rezar». Pelo contrário ordena: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim» (v. 38). A oração aumenta-Lhe a misericórdia e a bondade, porque vai procurá-las no coração do Pai, fonte do amor que deve transmitir aos homens. Tudo isto nos conforta: o Senhor está sempre perto de nós no sofrimento e nas dificuldades. Com Ele, estas situações não são obstáculo mas meios para nos unirmos cada vez mais a Ele e ao Pai, e para irmos ao encontro dos irmãos que sofrem. A nossa comunidade-comunhão está reunida à volta do Sumo Sacerdote, que também é vítima, Cristo Jesus. Em força do Baptismo, participamos do sacerdócio de Cristo e do Seu estado de vítima (cf. Heb 10, 14). Nós, oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus, participamos de modo especial, como testemunhas do sacerdócio e do sacrifício de Cristo na Igreja e no mundo, pelo nosso carisma e pela nossa profissão religiosa (cf. Cst 22.24). Cristo, sacerdote e vítima é o centro da nossa comunidade-comunhão, que nos faz sentir, segundo o desejo e a oração de Cristo uma só coisa: «que sejam uma só coisa» (Jo 17, 21), é o Espírito de amor, o Espírito Santo, que realiza a promessa de Jesus: «Ele há-de ensinar-vos todas as coisas e há-de recordar-vos tudo aquilo que eu vos disse» (Jo 14, 26); «Há-de guiar-vos para a verdade perfeita... Ele há-de glorificar-me, porque tomará do que é Meu e vo-lo anunciará» (Jo 16, 13-14).


* 5ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Hebreus 3, 7-14

Irmãos, 7como diz o Espírito Santo: Hoje, se escutardes a sua voz, 8não endureçais os vossos corações, como no tempo da revolta, no dia da tentação no deserto, 9quando os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, depois de verem as minhas obras, 10durante quarenta anos. Por isso me indignei contra esta geração e disse: ‘Erram sempre no seu coração; não conheceram os meus caminhos.’ 11Assim, jurei na minha ira: ‘Não entrarão no meu repouso.’ 12Tende cuidado, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau, a ponto de a incredulidade o afastar do Deus vivo. 13Exortai-vos, antes, uns aos outros, cada dia, enquanto dura a proclamação do «hoje», a fim de que não se endureça nenhum de vós, enganado pelo pecado. 14De facto, tornamo-nos companheiros de Cristo, desde que mantenhamos firme até ao fim a confiança inicial.

Evangelho: Marcos 1, 40-45

Naquele tempo, 40um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» 41Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» 42Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. 43E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: 44«Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» 45Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

Reflexão

«Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações» (v. 7-8). Tal como Israel, tal como os primeiros judeo-cristãos, também nós contemplámos as maravilhas de Deus, e também nós corremos o risco de «endurecer» os nossos corações, preferindo escutar outras vozes, que não a voz de Deus. A voz do Senhor não é, em primeiro lugar, uma voz que ordena, mas uma voz que promete. Não podemos fechar o coração às promessas de Deus, como fizeram os Israelitas quando estavam às portas de Terra prometida. Os exploradores trazem notícias sobre a prosperidade da Terra, sobre os seus habitantes e as suas cidades. Deus diz-lhe «É vossa, Eu vo-la dou!» Mas os Israelitas não quiseram escutar a voz de Deus, preferindo a voz da incredulidade: «É demasiadamente belo para ser verdade; Deus não no-la dá; não conseguiremos tomar posse dela», pensavam. Os exploradores, depois de terem descrito as maravilhas da terra, ajudaram à incredulidade do povo, afirmando: «Não podemos atacar esse povo, porque é mais forte do que nós… a terra que atravessámos para a explorar é terra que devora os seus habitantes e todo o povo que nela vimos é gente de grande estatura. Até lá vimos os gigantes, filhos de Anac, da raça dos gigantes; parecíamos gafanhotos diante deles e eles assim nos consideravam.»(Nm 13, 31ss.). O povo fiou-se mais nos exploradores do que em Deus e revoltou-se: «Antes tivéssemos morrido na terra do Egipto ou mesmo neste deserto. Porque nos fez sair o Senhor para esta terra a fim de nos matar à espada? As nossas mulheres e as nossas crianças serão humilhadas. Não nos seria melhor voltar para o Egipto?» (Nm 14, 2ss.). Deste modo, os Israelitas tentaram a Deus, irritaram-n´O com a sua incredulidade, afastaram-se d´Ele, não acreditaram na promessa. O autor da Carta aos Hebreus evoca estes acontecimento para nos exortar: «Tende cuidado, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau, a ponto de a incredulidade o afastar do Deus vivo. Exortai-vos, antes, uns aos outros, cada dia, enquanto dura a proclamação do «hoje», a fim de que não se endureça nenhum de vós, enganado pelo pecado»(v. 12-13), isto é, por esta outra voz que sempre insinua em nós que não é possível acreditar na promessa de Deus, que é uma promessa irreal, demasiadamente difícil de realizar, que Deus não está realmente disposto a dar-nos o que está escrito no Evangelho. Efectivamente, nós somos «participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho» (Ef 3, 6). Já não é Moisés que vai à nossa frente, mas Cristo. Com Ele realizamos o nosso êxodo, atravessamos o deserto e avistamos a Terra Prometida. Há que permanecer firmes na fé, para não incorrermos na ira divina e ouvirmos o terrível juramento: «Não entrarão no meu repouso» (v. 11). Esta ameaça divina é, afinal, um gesto de amor com que pretende libertar-nos de tudo aquilo que em nós é medo. As reais dificuldades da vida não devem induzir-nos à incredulidade. Pelo contrário, permaneçamos cheios de alegria e, nas dificuldades, façamos como o leproso do evangelho: aproximemo-nos do Senhor e digamos-Lhe: «Se queres, podes curar-me!» (v. 40). A esperança de sermos firmes na fé e na fidelidade ao Senhor e às suas promessas, baseia-se na própria fidelidade do Senhor para connosco. Toda a história da salvação está centrada na fidelidade de Deus ao Seu amor pelos homens. Em Jesus, nós contemplamos esta fidelidade encarnada, que se dá a nós até à morte de cruz (cf. Fl 2, 6-8), que se faz nosso alimento e nossa bebida na Eucaristia (cf. 1 Cor 11, 23-29) e pede a resposta da nossa fidelidade. Devemos converter-nos continuamente a esta fidelidade de amor. Deste modo, testemunhamos que Jesus é para nós «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6), é a «Pedra angular» (1 Pe 2, 6) da nossa fé, é a razão de ser da nossa existência: «Para mim viver é Cristo» (Fl 1, 21), especialmente para nós Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus, «porque, com um só sacrifício (oblação), (Cristo) tornou perfeitos (como sacerdotes e vítimas) para sempre os que foram santificados» (Heb 10, 14).


* 6ª FEIRA - Anos Ímpares

Primeira leitura: Hebreus 4, 1-5.11

Irmãos, 1embora permanecendo a promessa de entrar no seu repouso, temamos que algum de vós seja considerado excluído. 2Porque, a nós como a eles, foi anunciada a Boa-Nova; porém, a eles, a palavra escutada não valeu de nada, pois não permaneceram unidos na fé aos que a tinham escutado. 3Quanto a nós, os que acreditámos, entraremos no descanso, como Ele disse: Tal como jurei na minha ira, não entrarão no meu repouso.No entanto, as suas obras estavam realizadas desde a fundação do mundo, 4pois diz-se em qualquer parte, a propósito do sétimo dia: Deus repousou no sétimo dia, de todas as suas obras; 5e ainda, neste passo: Não entrarão no meu repouso. 11Apressemo-nos, então, a entrar nesse repouso para que ninguém caia no mesmo tipo de desobediência

Evangelho: Marcos 2, 1-12

Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. 2Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. 3Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. 5Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» 6Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: 7«Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» 8Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? 9Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega no teu catre e anda’? 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, 11Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» 12Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»

Reflexão

A fé é um caminho para o repouso de Deus. É talvez um caminho difícil. Percorremo-lo no deserto. Mas a Terra Prometida está diante de nós. Há que enfrentar o cansaço e o sofrimento, sem desanimar. Espera-nos o Coração de Deus, onde encontrará repouso o nosso próprio coração. Mas tudo isto não é só futuro. Os que acreditamos, podemos entrar, desde já, no repouso de Deus (cf. v.3): «Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu», diz ainda o autor da Carta aos Hebreus (6, 19). A «âncora segura» é a fé. Temos a esperança de que havemos de ser recompensados pelos nossos esforços de fidelidade, mas, na fé, vemos, já agora, os dons de Deus. O cristão sabe que, no meio das dificuldades, das preocupações, dos sofrimentos da vida, Deus nos convida a «entrar no seu repouso», a estar com Ele em paz, tranquilos e alegres. O evangelho mostra-nos a eficácia imediata da fé: «Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados» (v. 5). O Senhor não disse: «serão perdoados», mas «estão perdoados», por causa da fé daqueles homens. A fé alcança o dom de Deus, mesmo que as circunstâncias pareçam contrárias. A fé é posse antecipada das coisas que se esperam. Também nós, tantas vezes, paralíticos do espírito, inertes aos estímulos da graça ou amarrados por compromissos stressantes, talvez assumidos para encher, pelo activismo, o nosso vazio interior, nos sentimos incapazes de dar um passo em frente. Mas a Palavra de Deus encoraja-nos a permanecer unidos às testemunhas da fé, e a deixar-nos conduzir na obediência. A confiança na comunhão eclesial é já um passo, muito importante, no caminho da fé. Ainda que nos sintamos impotentes, amarrados pelos laços do pecado, a Palavra de Deus mostra-nos como é decisivo deixar-nos conduzir a Cristo pela fé dos irmãos. A experiência do perdão vai repor-nos em marcha. Quando celebramos a Eucaristia, escutamos as palavras: «Felizes os convidados para a ceia do Senhor». A ceia do Senhor, em certo sentido, está no futuro, é o banquete celeste. Mas noutro sentido, em cada eucaristia, já participamos na fé nesse banquete celeste, no amor de Deus, na paz de Deus. Em cada momento e em cada situação do nosso dia, podemos escutar o convite do Senhor: «Entra no meu repouso». E é sempre possível entrar nesse repouso. No episódio dos três jovens lançados à fornalha ardente (Dn 3, 1ss), diz-se que, por entre as chamas, soprava «uma brisa matinal» (Dn 3, 50) e que, no martírio, estavam como que no céu. Por isso, cantavam: «Bendito e louvado sejas, Senhor, Deus dos nossos pais! Que o teu nome seja glorificado pelos séculos!» (Dn 3, 28).


* SÁBADO - Anos Ímpares

Primeira leitura: Hebreus 4, 12-16

Irmãos, a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração. 13Não há nenhuma criatura oculta diante dele, mas todas as coisas estão a nu e a descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas.14Uma vez que temos um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a fé que professamos. 15De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado. 16Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna.

Evangelho: Marcos 2, 13-17

Naquele tempo, 13Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os. 14Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus. 15Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que o seguiam. 16Mas os doutores da Lei do partido dos fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?» 17Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

Reflexão

A mensagem da liturgia hodierna pode resumir-se em duas ou três palavras: verdade e misericórdia, que levam à liberdade. «A palavra de Deus é viva, eficaz», diz-nos o autor da Carta aos Hebreus. Essa palavra é Jesus, que conhece o mais íntimo do nosso coração, e nos convida: «Segue-me!». A sua palavra é «mais afiada que uma espada de dois gumes» porque, com a verdade, penetra a nossa mentira e com a misericórdia corta o nosso orgulho. Na verdade, Jesus faz-nos tomar consciência da nossa condição de pecadores, mas, logo de seguida, envolve-nos no manto da sua compaixão, reveste-nos de santidade. Quantas vezes nos sentimos amarrados por maus hábitos e por inclinações para o mal, que não queremos admitir ou travestimos de virtudes. Podemos mentir a nós mesmos, e aos outros, mas não mentimos ao Senhor, a quem deveremos «prestar contas» (v. 13). Todavia, o juiz verdadeiro vem sentar-se à mesa connosco. Se Lhe quisermos abrir o coração e a casa, a sua liberdade liberta-nos, a sua plenitude de vida fará de nós ressuscitados, a sua amizade tornar-se-à em nós fonte de alegria para muitos. Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça»(v. 16), onde Cristo está sentado junto ao Pai e nos prepara um lugar, pois nos quer participantes no banquete eterno, na festa da misericórdia. O Médico encarregou-se das nossas enfermidades, e «pelas suas chagas fomos curados» (Is 52, 5). Para isso, aceita aproximar-se dos pecadores e comer com eles, enfrentado as duras críticas dos fariseus e dos escribas. A autoridade, que Lhe vem do facto de ser «um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus» (v. 14), é posta ao serviço dos pecadores. Os fariseus não recorriam à misericórdia de Jesus porque julgavam não precisar dela. Mas nós, cristãos, reconhecemos essa necessidade e, por isso, aproximamo-nos d´Ele para alcançarmos «misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna» (v. 16). O Pe. Dehon recebeu o dom e a graça de fazer esta experiência de misericórdia e de graça, alcançada no Coração de Jesus. Dessa experiência nasceu um típico estilo de vida dehoniano. Devemos reflectir frequentemente sobre ele e converter-nos sempre a ele, para também nós experimentarmos essa misericórdia e essa graça, e as podermos partilhar com os irmãos pecadores.

Ricardo Igreja

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